segunda-feira, 26 de abril de 2010

O nome do Cemitério Santa Rosa de Lima está certo?

É ditado popular que não podemos "legislar em causa própria", no que eu concordo plenamente. Porém, aqui cabe um esclarecimento sobre o nome do Cemitério Santa Rosa de Lima, em Bragança. Nossa função de historiadores/as é revelar alguns pedaços do passado e nisso, às vezes, apresentar pontos divergentes do que se conhece como a história oficial.
Lendo um texto sobre prédios e logradouros públicos bragantinos, percebi um equívoco acerca do nome do Cemitério Santa Rosa de Lima, inaugurado no dia 23 de junho de 1888, na administração do Intendente Cel. Antônio Pedro da Silva Pereira, que governou Bragança em vários períodos entre 1887 a 1890, no período imperial e republicano. Na entrada do Cemitério consta a inscrição Volta ao teu logar (como era escrito à época), uma tradução literal do latim Revertere ad locum tuum.
No Cemitério Santa Rosa de Lima estão sepultadas diversas e importantes personalidades da vida pública, social e cultural do Município de Bragança. Era costume comum da oficialidade, e quase letra legal, que o nome do cemitério fosse definido a partir da primeira pessoa nele sepultada, com a adição da invocação de um nome de santo/a ligado/a ao nome do/a falecido/a.
Contradizendo o texto que recebi, o Cemitério Santa Rosa de Lima não se deve ao nome da primeira pessoa nele sepultada, mas provavelmente a circunstâncias econômicas e políticas da época, em se colocar o nome de uma santa em referência a uma senhora falecida da família Mártyres, que tinha grande influência política e social.
Esclareço. A primeira pessoa e mulher sepultada no Cemitério era a minha trisavó (aqui, um neologismo), a senhora Ana Leopoldina Ribeiro Rodrigues, esposa de Mariano da Costa Rodrigues, pais de meu bisavô Raimundo da Costa Rodrigues. O documento público de enterramento (termo utilizado à época) cujo registro é o de número 001, encontra-se com a nossa família Rodrigues há muitos anos, o que confirma o fato e garante maior veracidade à informação aqui apresentada.
Para ilustrar ainda mais essa afirmação, uma amiga minha da turma de História da UFPA Bragança 1997, a Prof.ª M.Sc. Érika Amorim da Silva (Mestre em História pela PUC/SP) escreveu a Monografia de Graduação intitulada Ritos e Atitudes frente à Morte e aos Mortos, em que que utilizou basicamente testamentos, compromissos de irmandades, termos de óbitos e legislação pertencente ao final do século XIX, e que cita o mesmo documento de enterramento de n.º 01, que nomeia e confirma a minha trisavó Ana Leopoldina Ribeiro Rodrigues (*10.05.1852, +12.10.1888) como a primeira pessoa a ser sepultada no Santa Rosa de Lima.
Mas, como a História de Bragança está permeada de mistérios ainda inssolúveis e outros por pesquisar e escrever, o nome do Cemitério foi uma referência à senhora Rosa Martins Mártyres (+27.10.1888), primeira esposa do Prof. José Paulino dos Santos Mártyres, pais de Luiz Paulino dos Santos Mártyres, ex-prefeito de Bragança, em 1935, talvez a segunda pessoa a ser sepultada no Santa Rosa de Lima, falecida quinze dias depois de Ana Leopoldina Ribeiro Rodrigues.
Fui constatar então o erro e fotografei as duas sepulturas, fotos que encontram-se em abaixo, cuja verificação das datas já responde a esse histórico equívoco de quinze dias de contagem errada e um pouco de política. Veja você mesmo e analise... é por esses e outros motivos que a História deve ser escrita por historiadores/as. E por causa disso, somente por meros 15 dias, o Cemitério não se chama hoje Santa Ana (Sant'Ana).

2 comentários:

  1. Nossa Dário, que equivoco histórico hein!!!???? Muito interessante saber sobre o processo de nomeação dos cemitérios. Aproveito para parabenizar voce sobre seu blog.Suas opiniões,críticas e sua visão histórica sobre os assuntos de uma forma geral, e em especial sobre nossa querida Bragança enriquecem ainda mais a nossa cultura e enchem de orgulho nós bragantinos, por termos um filho tão devotado a elucidação dos fatos e conservação da memória de uma terra e de um povo. Parabéns!!

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  2. Olá Terezinha, espero que muitos outros equívocos não sejam cometidos em Bragança, no porvir. Como dar nome de pessoas vivas a ruas, prédios, conjuntos e logradouros públicos diversos. Isso é o fim!!!

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