segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Relógio de contagem regressiva aos 400 anos de Bragança será inaugurado hoje!



Estou bem satisfeito e compartilho com todos! Um projeto idealizado por mim tornou-se realidade. O prefeito de Bragança Edson Oliveira (2006-2008 e 2009-2012) inaugura hoje o relógio de contagem regressiva até os 400 anos de Bragança!
O objetivo é mobilizar e marcar a data no quotidiano dos bragantinos e daqueles que nos visitam em períodos turísticos, como sinalizador dessa festa grandiosa a ser comemorada em 2013, além de marcar horário e temperatura. O design e a execução da obra ficaram por conta de Rafael Costa e equipe da Metalúrgica São Rafael, com motivos inspirados nas cores da Marujada de São Benedito de Bragança, com uma forma de chapéu de marujo.
Faço votos de que seja mantido pela próxima gestão municipal de João Nelson Pereira Magalhães (2013-2016). Isso é por Bragança! A partir de hoje faltam 189 dias para os 400 anos de Bragança.
 Fotos: Rafael Costa, Edson Oliveira, Wallailson Guimarães e Dário Benedito Rodrigues na orla de Bragança, conferindo detalhes do relógio antes da inauguração.
Fonte: Acervo pessoal (2012).



Bragança sentirá saudades de...


Entre tantos anônimos, conhecidos, amigos e personalidades falecidos em 2012, Bragança sentirá saudades de todos. Aqui, alguns dos que sentiremos saudades...

Manoel Moisés das Chagas Pessoa +02.01.2012
Alzira Maria Brito +17.01.2012
José Maria Gomes +04.02.2012
Pedro da Costa Marques +01.03.2012
João Alcântara de Oliveira +05.03.2012
Fernanda Melíssia Ferreira da Silva +07.03.2012
Raimunda de Lima Blanco +08.03.2012
Maria de Nazaré Brito Rodrigues +21.03.2012
Francisco Maia Osterne (Chico Osterne) +30.03.2012
Luís Américo de Sales Pereira +01.04.2012
José Amorim +08.04.2012
Teresinha Galvão Silva +09.04.2012
Maria Saturnina Brito +20.04.2012
Rachel Florinda Braun Sarmento +25.04.2012
Raimundo Nonato Maria Mota +01.05.2012
Zenaide Castro de Jesus +14.05.2012
Janice da Costa Ribeiro +15.06.2012
José Alves Cavalcante +17.06.2012
Luís Henrique Gonçalves de Quadros +22.06.2012
Sebastiana Sufia Formento Leite +23.06.2012
Kelli Cristina Miranda de Sousa +09.07.2012
Benedito Coutinho da Silva (Mestre Zito) +15.07.2012
Maria Sales da Silva +23.07.2012
Maria de Fátima de Lima Lhamas +30.07.2012
Eliza Turiel do Nascimento +07.08.2012
Maria das Dores Antunes Torres +09.08.2012
Mons. Aderson Sabino Neder (Igreja Jovem) +16.08.2012
Milton Monte +23.08.2012
Maria Borges da Costa +07.09.2012
José Antônio de Oliveira Reis +22.09.2012
Benedita Menezes de Macêdo +05.10.2012
João dos Santos Siva +13.10.2012
Alessandra Pereira Meiga +16.10.2012
José Weliomar Lima Quadros +19.10.2012
Luís Fernando (taxista) +22.10.2012
Pe. Severino Maria Ferrari (Pe. Severo) +23.10.2012
Sebastião Ferreira Reis +27.10.2012
Álvaro Luiz Teixeira de Araújo +02.11.2012
Roberto Cézar de Sousa Fernandes (Betão) +12.11.2012
Brasília de Sousa Lima (maruja Brasília) +13.11.2012
Benedita Nazaré de Souza (Benezinha) +17.11.2012
Valter Sousa de Oliveira +18.11.2012
Maria Paula da Silva +27.11.2012
Ir. Graça Santana +21.12.2012
Benedito Simeão Siqueira Morais +29.12.2012
Susumo Hoshino +30.12.2012

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

“O Sonho do Serapião”, por Benedito Cezar Pereira (1963)

 
Serapião Manoel da Mota, era um preto velho muito estimado por toda Bragança. Nunca fora escravo, porque seu nascimento ocorrera depois da Lei Imperial do “Ventre Livre”.
Dedicou-se a domar pôdros, transformando esses cavalos novos em verdadeiros animais de sela, esquiadores, na época em que as magnatas do comércio, industrias e da política partidária, aos domingos, feriados e dia santificados, à tarde, transformavam as nossas vias públicas em pistas de corridas, aparelhados com outros companheiros, todos com seus cavalos vistosos, bem encilhados, ajaezado com bonitos arrêios e selim, vindos da Inglaterra, ou aqui mesmo, caprichosamente, confeccionados, pois nesses remotos tempos o Pará não sabia o que era um jeep, camionete e nem automóvel.
Cada senhor respeitável possuía seu cavalo de sela, bem tratados, na cocheira de Serapião, para seu passeio e corridas domingueiras.
Serapião era muito devoto de São Benedito e fazia parte da Irmandade desse santo tão querido do nosso povo. Na procissão beneditina, envergava, com orgulho a roupa parda dessa irmandade, como também, tomava arte da “Marujada”, ou tocando o tambor, ou também, rodopiando com os demais, tanto nas ruas da cidade, quando a “Marujada” ia para as casas dos juizes da festa, ou vinham para o arraial da Igreja, como na barraca dançava o “lundú”, o “chorado” e o “retumbão”.
Um certo dia de janeiro de 1925, depois da festa do Santo Moreno, que terminava a 26 de dezembro, quando éramos Oficial do Registro Civil de Nascimento, entrou em nosso Cartório, o Serapião. Notamos, ele, pensativo e sério, quando sempre o víamos risonho...
Dando o “bom-dia” costumeiro, o Serapião pediu “um particular”. Queria falar, a sós, conosco. Fomos para o interior do Cartório onde a Serapião explicou-se:
- Tivera, na noite anterior, um sonho. São Benedito apareceu-lhe, abençoou-o e disse: “Serapião, eu gosto muito de ti. Tu és o mais devoto dos meus crentes. Gosto de te vêr na minha “Marujada”. Como tu sabes dançar bem, e como cantas bonito tocando o tambor! Serapião, muda teu nome para Benedito. Olha, a família que tiver um filho com o meu nome, será sempre feliz, porque eu protegerei essa família”.
E São Benedito desapareceu. Serapião afirmou que viu o Santo, já não estava mais dormindo, e que rezou o resto da madrugada toda!
Queria, o Serapião, que nós registrássemos novamente, ele, com o nome de Benedito. Estivera com o Padre Borges de Sales, Vigário da Paróquia, e não conseguira uma retificação no seu batistério, mas, lembrara-se, que nós poderíamos no Registro Civil, atendê-lo nesse seu grande desejo.
Explicamos ao Serapião, abrindo o velhíssimo livro de Termos de Nascimento, que a Lei, considerava imutável o prenome, o que queria dizer: não pode ser mudado. Mas, no assento do nascimento dele, de vez, que, antigamente, eram os registros feitos somente com o prenome de registrando, não sendo exigido o nome sobrenome, ele poderia requerer ao juiz de Direito, não retificação, mas que mandasse averbar, no termo de Nascimento dele, para que figurasse depois do prenome Serapião, o nome Benedito e o sobrenome Mota, não usando mais o nome de Manoel.
Alegremente, pediu que fizéssemos a petição e está assinada e junta a certidão onde constava somente o prenome Serapião, ele mesmo levou ao Juiz, Dr. Borborema, que deferiu.
Depois de averbado no Termo a adoção do nome Benedito e sobrenome Mota, o Serapião já sorridente, levou a certidão onde já constava o que ele queria e também a São Benedito:
Serapião Benedito da Mota!
- E, de fato, foi sempre feliz, na sua humildade de preto velho, o Serapião Benedito da Mota que criou seu filho Hilário Benedito da Mota, no mesmo ofício de domador de pôbro, ensinando cavalo chotão a esquipador.

Fonte: CEZAR PEREIRA, Benedito. Sinopse da História de Bragança.
Belém: Imprensa Oficial, 1963. p. 221-223.
Foto: Acervo de pesquisa.

“O Esperado”, por Joaquim Lobão da Silveira (1952)



Faz um mês que os tans-tans dos tambores e o ruído da onça avisam que São Benedito está nas esmolas. E o ruído desses instrumentos atravessa rios, corta estradas, penetra lares, na prática que o tempo não consegue destruir. Vão passando os promesseiros na sua missão. Arrecadam aquilo que a boa vontade da nossa gente lhes dá. Tudo vem. A galinha gorda e o pato roliço. O peru avantajado e o franguinho que muda as primeiras penas.
No dia 25, véspera do Santo Preto, virá mais. O molho de fumo preparado com todo carinho da melhor folha. O poldro, que escapou da peste e o garrote que não morreu de sede. A farinha gostosa feita da mandioca amarelinha. O pé de cravo que vem das praias, o crisântemo ou monsenhor, cultivado no paneirinho do girau do lado do poço, a catinga de mulata e as pitombas, as deliciosas pitombas que aparecem sempre nesse tempo. Tudo é esmola. Tudo tem valor. Tudo é dado de bom gosto. E, por isso tudo dá dinheiro. Ninguém regateia preço, é p’ra São Benedito.
E as marujas se enfeitam. Saias encarnadas e azuis. Blusinhas brancas, de rendas. Chapéus de fitas das mais variadas cores, penas de garça e de guará, miçangas e vidrilhos, espelhos e contas. Tudo matizado, tudo alegre. O retumbão se ensaia. A capitoa comanda a turma. Reminiscência do passado. Santa ingenuidade que não faz mal a ninguém. O intuito vale tudo. É a homenagem a São Benedito. E elas vão passando, a viola tocando, a cuíca roncando, girando, volteiando, tudo para agradar São Benedito. Resto de africanismo. Bragança negróide, disse o poeta Heimar Tavares, um pedaço gostoso do passado. A única tradição que nos resta do passado, desse passado que era tão bom e que sangra saudades no coração da gente.
A civilização acha que devemos acabar com isso. Não achamos. Devemos manter. A civilização com seus modernismos faz muito maior mal à humanidade do que a pobre marujada. Por que, pois, não acabar com os modernismos que a civilização criou e tão prejudiciais são? Porque? Por que ninguém se bate contra certas novidades tão maléficas? Viva, pois, o passado. Vivam as nossas tradições, viva a marujada, viva São Benedito! São Benedito é o grande esperado. P’ra ele toda esta festa, toda esta alegria, todas essas marujas que levam o ano todo juntando os centavos para a grande festa do grande esperado: São Benedito.
Vinte e seis de dezembro é dia grande. Dia grande de verdade. Dia de festa. Feriado sem lei. Não precisa. Todo o mundo sabe. Todo o bragantino deixa de trabalhar. A folhinha não é encarnada. Não precisa. Encarnada é a fita que as marujas trazem nos chapéus. Encarnado é o coração de toda aquela gente cheia de fé e de tanta devoção. Encarnada é a folhinha que não existe, mas é, porque está no coração.
E o grande Esperado, que é São Benedito, está no coração encarnado de toda essa gente que mora e trabalha, luta e sofre no grande vale do Rio Caeté. Quem quiser venha ver, quem não quiser também venha. Aqui existe um feriado que ninguém decretou, que o governo não manda cumprir. É o feriado do coração. O povo foi que decretou.
“26 de dezembro” – O dia do grande Esperado – São Benedito.

Fonte: SILVEIRA, Joaquim Lobão da. “O Esperado”.
In: Bragança Ilustrada. Bragança (PA). n. 9/10, 1952. p. 78
Foto: Dário Benedito Rodrigues. Fonte: Acervo pessoal (2009)