terça-feira, 31 de julho de 2012

Um abraço de saudades a meu avô, Manoel Paes Rodrigues, o vovô Baixeira...

Meu avô, Manoel Paes Rodrigues - Manoel Baxeira (in memoriam), que realmente cumpriu mais que a sua função de avô na minha vida, após o falecimento do meu pai Jocelino, nasceu nessa data no ano de 1916.
Hoje, recordo com muitas saudades, sua memória, sua vida e renovo, publicamente, minha gratidão por tudo o que ele fez por nós, por ter nos protegido (à minha mãe, a mim e a meus irmãos) de quem nos ameaçou dividir, de ter sido corajoso e enfrentar tantas dificuldades, do seu jeito e com a sua personalidade forte e decidida.
Meu avô sempre foi muito atento, observador e disciplinador com seus filhos e também conosco, seus netos. Ficou dele, além dos aspectos físicos e morais, o espelho de um pai que não deixou nada faltar à sua família, que se esmerou por tudo o que ela representava, mesmo com as limitações que teve.
Seus ensinamentos eram bem silenciosos, baseados muitas vezes, no olhar e na observância ao respeito e à postura diante da vida. Eu só posso agradecer por exatamente tudo o que ele fez, ensinou, cobrou e compartilhou em nossa vida.
Desde 1998 não o temos mais conosco, mas como ele está presente, na sua casa, na nossa devoção familiar a São Benedito em Bragança, no meu coração de neto e segundo filho e até mesmo no meu nome (que ele escolheu quando nasci = Benedito).
Deixou-nos em 07 de abril de 1998, quando faleceu, em Belém, numa sexta-feira. Seu velório aconteceu na Igreja de São Benedito e seu sepultamento no outro dia no Cemitério Santa Rosa de Lima, na sepultura de n.º 01, pertencente à nossa família.
Onde estiver, continue a zelar pela nossa família (de todos os seus 14 filhos e seus inúmeros netos e bisnetos) e a olhar por nós. Amo você, vovô, hoje e sempre! Esteja em paz com Deus.
Teu neto, Dário Benedito Rodrigues.
Foto: Acervo pessoal.

domingo, 29 de julho de 2012

Há 30 anos, faleceu Dom Eliseu Maria Coroli (*09.02.1900, +29.07.1982)

Por Dário Benedito Rodrigues*

Nascido na província de Castelnuovo, Piacenza, na Itália, em 1900, Eliseu Ferdinando Coroli absorveu os preceitos religiosos de sua família, especialmente de sua mãe, Maria Molinari de forma profunda, tanto que aos seis anos de idade a surpreendeu com um questionamento inusitado de ser missionário e tornar-se sacerdote.
Para muitos de seus contemporâneos e biógrafos, talvez nesse momento iniciou a vida religiosa de expoente na história recente de Bragança (século XX).
Sendo considerado pelos seus companheiros da Ordem dos Clérigos Regulares de São Paulo (Barnabitas) como um “intrépido e incansável arauto do Evangelho”, o italiano se tornou uma das figuras mais importantes da recente história de Bragança, como um marco balizador de empreendimentos que são considerados atualmente como exemplos nas áreas de Educação, Saúde e Religiosidade.

Foto 01: Dom Eliseu Maria Coroli, com cerca de 80 anos. Fonte: Acervo IST

O início...
No início do século XX, no dia 09 de fevereiro de 1900, nasce Elias Eliseu Ferdinando Coroli, em Castelnuovo, pequena povoação da província de Piacenza, na Itália. Quinto filho do casal de camponeses Anacleto Ludovico Coroli e Maria Molinari, que trabalhavam no campo. Seus pais, mesmo proprietários de terras, viviam humildemente e necessitavam garantir alimentos em grande quantidade para uma extensa prole. Plantavam quase tudo e só compravam o que não podiam cultivar.
Depois de concluir o quinto ano primário, Eliseu foi para o seminário. Seu pai o conduziu à Escola Apostólica São Bartolomeu dos Armânios, em Gênova, da Congregação dos Padres Barnabitas (Congregação religiosa e missionária fundada por Santo Antônio Maria Zaccaria inspirada na obra do missionário São Paulo, conhecida pela sigla CRSP – Clérigos Regulares de São Paulo), por engano, pois seu intento era conduzi-lo a uma escola de formação diocesana e não específica de uma congregação religiosa. Mesmo assim, entregou-o nessa instituição em 11 de outubro de 1911. Foi uma maneira de vê-lo inserido naquilo que o menino Eliseu mais desejava: tornar-se sacerdote.

Foto 02: Eliseu Coroli criança. Fonte: Acervo IST
 
Ficou interno na Escola Apostólica para estudos religiosos e cursou o equivalente ao ginásio, no Colégio Vittorino de Feltre, ambos dos padres Barnabitas. O objetivo desta última escola era a formação integral do homem, propondo estudos que congregavam a educação física, moral, estética e intelectual. Foi uma das primeiras escolas particulares da Itália de orientação laica.
Vaias anotações de Dom Eliseu, pertencente ao Arquivo Coroli relatam essas experiências com a Escola Vittorino de Feltre, como o caderno de n.º 24 onde Eliseu relembrou detalhes, nomes e ambientações de sua escola na Itália, quase um perfil do lugar, enfatizando algumas de suas características: a alegria na formação de adolescentes, a eficácia do aprendizado, a rigidez da disciplina e da conduta moral recebidos dos Padres Barnabitas.
Eliseu ainda relembra passagens desse tempo, quando foi considerado a “peste” do convento, no sentido figurado do termo, por seu despojamento e envolvimento com as atividades escolares.
“quando eu jogava bola era pra vencer! E não admitia um colega em meu time que não se esforçasse pela vitória... Jogava-se como se tivéssemos fogo nas pernas e, como é natural, no jovem, há o desejo de soberba; de acusar os outros quando perde, e querer desforrar-se”. (Cf. COLARES, Terezinha. O Missionário Feliz. Paragominas: Gráfica e Editora São Marcos: 1997. p. 13).
Concluídos os cinco anos de ginásio na Escola Apostólica de São Bartolomeu, Eliseu pediu aos pais permissão para entrar no noviciado em Monza, passando o ano em provas e, em seguida, admitido à profissão dos votos perpétuos em 22 de novembro de 1916. Este foi o último ano em que a Igreja Católica concedeu fazer-se a profissão perpétua nesta idade.
Em suas anotações pessoais encontram-se escritos sobre o que para ele representou a Escola Apostólica, um lugar de aprendizado profundo e rigoroso, mas cheio de alegria e prosperidade. Anos depois foi enviado a Lodi para fazer o curso Liceu (equivalente ao 2º grau), mas teve que interrompê-lo para servir ao Exército em 21 de abril de 1918.
Segundo a Ir. Terezinha Colares, religiosa da Congregação fundada por ele e de suas principais biógrafas, “o padre Marino Conti, dialogando sobre D. Eliseu, diz que ele pertenceu a uma geração forjada nas dificuldades da guerra, saindo revigorado, com alma de escola”.
Terminada a Primeira Guerra Mundial em 1919, continuou com seus estudos e conseguiu a maturidade clássica (equivalente ao vestibular atual) em junho de 1920 no Liceu, de Pietro Verri, em Lodi, seguindo para Roma onde ingressaria no estudantado.

Foto 03: Santa Teresinha do Menino Jesus, aos 23 anos. Fonte: Acervo IST
 
Em uma de suas raras visitas à família, conheceu o livro “Conselhos e Lembranças”, com os pensamentos de Teresinha de Lisieux (Francisca Teresa Martin, santa católica, nascida na França, religiosa da Congregação das Carmelitas descalças, do carmelo de Lisieux é mundialmente venerada pelos ensinamentos dispostos em sua autobiografia denominada “História de uma alma”), que se tornaria um modelo de espiritualidade. Imitando a santa francesa, se adaptou o método particular de registros em um caderno, acerca de seus propósitos pessoais e pensamentos. Seus cadernos encontram-se na posse das Irmãs Missionárias de Santa Teresinha, cuidadosamente conservados e analisados pela Igreja Católica para o seu processo de beatificação, iniciado em 10 de agosto de 1996 por Dom Luís Ferrando, atual bispo diocesano de Bragança.

Vinda para o Brasil
Com o término do curso de Teologia e Filosofia, foi ordenado sacerdote em 15 de março de 1924, se dispondo às missões, no que foi atendido por seus superiores e enviado ao Brasil para o Colégio dos Barnabitas, no Rio de Janeiro.
Chegou ao Porto de Santos em 22 de dezembro de 1924 e apresentou-se a seu superior no Colégio Zacarias, no dia 24 do mesmo mês, na Rua do Catete, 113, onde permaneceu como Vigário (pároco) Coadjutor na Paróquia de Nossa Senhora de Lorêto, em Jacarepaguá, subúrbio do Rio de Janeiro, assim como em atendimento a capelas distantes. Sendo o mais novo naquela comunidade, transparecia grande vitalidade e ânsia pela missão assumida em terras estrangeiras, pois “por aqueles trabalhos coadjutorias, mostrou que seria capaz de empreendimentos de máxima envergadura”, como declarou para a irmã Terezinha Colares o padre José Meireles Sisnando, um de seus alunos em Jacarepaguá e contemporâneo de Eliseu.

Foto 04: O jovem padre Eliseu Coroli (o último em pé, à direita) e padres Barnabitas em viagem para o Brasil. Fonte: Acervo IST
 
Chegada ao Pará, em Bragança e sua missão
Depois de estabelecer-se no Rio de Janeiro, por cinco anos, trabalhando no Colégio Apostólico e com a criação da Prelazia de Nossa Senhora da Conceição do Gurupi, que ficou sob a administração dos Barnabitas, em 14 de abril de 1928, pelo Papa Pio XI, com território desmembrado da Arquidiocese de Belém, Eliseu é destinado à Amazônia.
Interinamente, até a sua chegada ao território da recém-organizada prelazia, o Arcebispo Dom Irineu Jofylli, assume a administração da nova área de evangelização. Daí em diante, padre Eliseu Coroli chega ao Pará em 22 de dezembro de 1929.
O também padre Aldo Fernandes, sem eu texto de 29 de julho de 2010, publicado no site da Diocese de Bragança nos diz que “chegado a Ourém na primeira fraternidade barnabítica da então Prelazia do Guamá, acompanhando Monsenhor Francisco Richard, padre Ângelo Moretti e padre Roque Carenzi, o padre Eliseu Coroli foi mostrando sua dedicação apaixonada por Cristo e pelos nativos, pela cultura e pelo sofrimento daquela gente (...) Eram os primeiros anos da Prelazia do Guamá, que lhe seria confiada pelo Papa, após sua ordenação episcopal a 13 de outubro de 1940”.
As dificuldades que encontraram em muitas, dentre elas o analfabetismo, a ignorância religiosa, a dispersão da população e a falta de catequistas, fatores que o levaram a iniciar um trabalho missionário nesta região e um desafio para o qual organização e estratégia eram fundamentais.
Segundo o padre José Ramos das Mercês, no artigo “Barnabitas 450 anos”, publicado na página 3 do jornal Voz de Nazaré (da Arquidiocese de Belém), de 22 de janeiro de 1984, os direcionamentos dos trabalhos dos Barnabitas “não poderiam ser continuados sem que houvesse um espaldar com a participação das forças locais, que trabalhassem junto aos missionários”.

Foto 05: Padre Eliseu Coroli em missão. Fonte: Acervo IST
 
Em 03 de fevereiro de 1934, um decreto anexa definitivamente mais três paróquias à prelazia (São Miguel do Guamá, São Domingos do Capim e Santana do Capim) e o encarregado dos trabalhos, Monsenhor Richard, nomeia o padre Eliseu Coroli, o responsável por essas três paróquias. Este decreto mudou também o nome, a sede e a padroeira da prelazia, passando a se chamar Prelazia de Nossa Senhora do Rosário do Guamá, com sede em Bragança.
Não obstante a facilidade de seu diálogo com as instituições políticas e de governo da época, Eliseu Coroli começou a trabalhar e a requerer ajuda de outra congregação missionária, agora feminina, para o trabalho em Bragança. Em 30 de junho de 1937, em uma de suas viagens à Itália quando esteve doente, junto com o padre Idelfonso Maria Clerici, visitaram a Madre Geral das Irmãs do Preciosíssimo Sangue, conhecidas por seu zelo e trabalho na Educação, expondo condições da prelazia e solicitando a coadjutoria das freiras, o que foi bem recebido pela madre e analisado mais tarde.
No dia 9 de dezembro de 1937, o Vaticano nomeou padre Eliseu Coroli como Administrador Apostólico da Prelazia de Nossa Senhora do Rosário do Guamá (nova denominação da Prelazia do Gurupi), tomando posse no dia 30 de dezembro do mesmo ano. Foi sagrado bispo em 13 de outubro de 1940.

Foto 06: Sagração episcopal de Dom Eliseu Coroli. Fonte: Acervo IST
 
Eliseu Coroli e sua primeira obra – o Instituto Santa Teresinha
Foi por intermédio do prefeito municipal Augusto Corrêa e do juiz de Direito, que padre Eliseu resolveu iniciar o processo de fundação de uma Escola Normal. Ele visitou o interventor federal do Pará, José Carneiro da Gama Malcher, solicitando a equiparação dos cursos Primário e Normal do pequeno Colégio Santa Teresinha às escolas do Estado, obtendo resposta positiva.
No dia 23 de novembro de 1938, o interventor Gama Malcher assinou o decreto de fundação do Colégio Santa Teresinha, equiparado à condição de Escola Normal, notícia festivamente recebida pelos bragantinos, que antes enviavam seus filhos para a capital do Estado para os estudos. Três dias depois, Eliseu enviou carta a várias famílias noticiando a fundação da escola e solicitando apoio dos bragantinos à obra educacional, fato noticiado no Jornal O Bragantino, de 11 de dezembro de 1938.

Foto 07: Prédio onde funcionou primeiramente o Instituto Santa Teresinha, na Praça da Catedral, em Bragança. Fonte: Acervo IST

O Colégio Santa Teresinha era a terceira Escola Normal do Pará, depois da de Belém e de Santarém. Logo após a equiparação, ele comprou móveis, utensílios e materiais para o funcionamento do colégio e, para isso, organizou um internato.
Algumas professoras dos cursos primários foram as primeiras colaboradoras diretas de Eliseu, no Colégio Santa Teresinha, como Theodomira Raimunda da Silva Lima e Isabel Ribeiro de Almeida, professoras conceituadas pela disciplina e rigor técnico, que trabalharam para ele sem nenhuma remuneração.

Foto 08: Chegada das irmãs Preciosinas em Bragança em 1939. Fonte: Acervo IST
 
O Prelado conseguiu depois junto à madre das Irmãs Preciosinas na Itália, o envio de cinco delas para a Amazônia, vindo com ele e sendo recebidas em Bragança com grande festa no dia 12 de agosto de 1938. Essas colaboradoras seriam responsáveis pelas chamadas gremistas de Santa Teresinha, pelos doentes, pelos estudos da Língua Portuguesa, pelos serviços de cozinha, além de aulas de pintura e bordado com as alunas internas do recém-fundado Colégio Santa Teresinha (hoje Instituto Santa Teresinha).
No dia 1º de dezembro de 1939, uma reunião dos padres Barnabitas decidiu pela edificação do prédio próprio para sediar o colégio, conforme registros documentais. Para isso, Eliseu Coroli iniciou a compra dos terrenos no quadrilátero onde se situa atualmente o Instituto Santa Teresinha, entre a Praça da Bandeira à frente, travessa Padre Gerosa por trás, avenida Nazeazeno Ferreira à direita e rua Treze de maio à esquerda, no centro de Bragança.
Em 1940, Eliseu Coroli encontrou na sua congregação de origem o apoio para a construção do Colégio, firmando um convênio interno que especificava que a prelazia concedeu aos Barnabitas a responsabilidade de construir um colégio na cidade de Bragança. Mesmo apoio encontra na sociedade bragantina, pelo seu fácil entrosamento com autoridades e famílias.
O lançamento da pedra fundamental do Instituto Santa Teresinha foi realizado numa celebração no dia 05 de julho de 1940, com a participação do prefeito Augusto Corrêa em uma vasta programação, que foi inicialmente um de seus apoiadores.

Foto 09: Benção da pedra fundamental do prédio do Instituto Santa Teresinha, em 1940, em Bragança. Fonte: Acervo IST
 
Eliseu Coroli e a saúde
Em 1945, o coronel Aluízio Ferreira acompanhado do então prefeito Joaquim Lobão da Silveira propuseram a dom Eliseu Coroli a criação de uma maternidade a ser construída com auxílios particulares e do Governo ficando, a mesma, de propriedade da então Prelazia do Guamá. Com a aceitação do bispo, Aluízio Ferreira doou o terreno e encaminhou a dom Eliseu 100 mil cruzeiros, mil sacas de cimento para a construção e comprometeu-se a angariar outras ofertas para a obra.
No início do ano de 1946, o bispo remeteu ao Departamento Nacional da Criança, o projeto da maternidade para aprovação e visando conseguir algum auxílio. No dia do aniversário do presidente da República general Eurico Gaspar Dutra, em 18 de maio de 1946, foi lançada a pedra fundamental da maternidade em homenagem a esse chefe de Estado. Desde 1948, em reunião com seus padres consultores, Eliseu Coroli explicou que a construção da maternidade seria gradativa, conforme a obtenção de verbas e que o já deputado federal Aluízio Ferreira insistia para que a Prelazia também se encarregue da construção de um hospital. Para isso, o político pleiteou junto ao Governo recursos no orçamento federal para a sua realização.
Eliseu escreveu então um ofício ao Ministério da Educação e Saúde, confirmando o compromisso de construir em Bragança um hospital com vinte e oito leitos, segundo o que recomendava o ministério, porém com o auxílio anteriormente ofertado pelo Governo Federal. Ainda nesse mesmo ano, o contrato para liberação de recursos e construção do prédio foi assinado por Aluízio Ferreira, no ministério, de acordo com o que ele mesmo solicitou.

Foto 10: Maternidade Nsa. Sra. da Divina Providência e Hospital Sto. Antônio Ma. Zaccaria, em Bragança. Fonte: Acervo IBGE
 
A Prelazia se comprometeu em prestar contas da aplicação da verba recebida com a apresentação regular de relatórios e documentos. Porém, em janeiro de 1952, as obras foram paralisadas devido ao corte de parte dos auxílios federais referentes ao ano anterior.
Mediante a crise econômica vigente, os padres consultores concordaram em colocar em funcionamento os dois prédios destinados à área de saúde sob os cuidados das recém-organizadas irmãs Missionárias de Santa Teresinha, de forma provisória, sem contrato ou pagamento algum.
Em julho de 1952, dom Eliseu enviou a Belém para treinamento de enfermagem as irmãs Ângela Rigamonti (prima do padre Miguel Giambelli), Amélia Torres e a postulante Antônia Albuquerque. Em seu retorno, em outubro de 1952 e mesmo precariamente, iniciaram os trabalhos da Maternidade Nossa Senhora da Divina Providência, com a parturiente Jarina Fonseca. Ela foi a primeira mulher a dar à luz o seu primeiro filho, que recebeu o nome de Antônio Maria, em homenagem a Santo Antônio Maria Zaccaria, patrono do hospital e fundador dos Barnabitas.
Mas somente em 06 de novembro de 1952, foram inaugurados a Maternidade e o Hospital, com o objetivo de trabalhar com a saúde em uma área desprovida desses recursos. O primeiro médico do hospital foi Pascoal Pontrandolf, que veio de Belém para trabalhar como clínico e cirurgião, de forma intermitente, sem residir em Bragança. A partir de 1954, o hospital começou a formar o seu quadro clínico residente na cidade. Em 1955, chegaram à cidade três médicos italianos, Caetano Scalese, Mário Lordi e Alberto.
E no dia 19 de março de 1955, dedicado na Igreja Católica a São José, esposo de Maria, foi inaugurado oficialmente o Hospital Santo Antônio Maria Zaccaria, hoje parte das Obras Sociais da Diocese de Bragança.

Eliseu Coroli e a comunicação
A Rádio Educadora de Bragança contou com o empenho particular de Eliseu Coroli, com o apoio inconteste do também barnabita padre Miguel Giambelli. Inaugurada em 12 de novembro de 1960, transmitiu primeiramente o Círio de Nazaré em Bragança, evento pioneiro na comunicação da região. A entidade contou com os trabalhos de importantes nomes do rádio paraense e se tornou um marco na comunicação de Bragança, por diversos trabalhos, entre eles o educacional e o esportivo.

Foto 11: Prédio da Fundação Educadora de Comunicação em Bragança. Fonte: Acervo Fila.com
 
A partir da fundação da Rádio Educadora foi criado o SERB, em parceria com o padre Miguel Giambelli, que se tornou seu primeiro diretor. O Sistema Educativo Radiofônico de Bragança teve sua origem em 27 de janeiro de 1958, quando os padres da Prelazia do Guamá, numa reunião plenária em que examinaram os vários aspectos do assunto, aprovaram por unanimidade a organização do sistema. Naquela oportunidade foi escolhido o padre Miguel Giambelli para coordenar todas as iniciativas necessárias à realização do empreendimento.
Com a fiel colaboração de Giambelli, Eliseu coordenou os primeiros trabalhos do Sistema Educativo Radiofônico a partir de 1961. Cada paróquia da prelazia se prontificou a dar uma parte de suas economias para possibilitar a aquisição do equipamento da Rádio Educadora e dos primeiros 150 receptores cativos, destinados às escolas radiofônicas.
Para conhecer melhor seu novo compromisso, o padre Miguel Giambelli realizou vários estágios, entre os quais merece um destaque especial o de Natal/RN, onde teve oportunidade para estudar a eficiente organização das rádios-escola pelo então cônego Eugênio Sales.
Em dia 17 de setembro de 1960, o padre Miguel compôs a primeira Equipe Central do SERB, a qual se dedicou a organizar cursos para monitores nas várias paróquias da Prelazia. A primeira aula radiofônica ocorreu no dia 17 de abril de 1961, voltada para 1.508 alunos, distribuídos em 107 rádios-postos.
Eliseu Coroli participou, em 21 de março de 1961, juntamente com dom José Távora de Araújo, dom Eugênio Sales e dom Alberto Ramos, da assinatura do Decreto n.º 50.370, do presidente Jânio Quadros, que cria o Movimento de Educação de Base – MEB. Naquela época, o SERB era o Sistema pioneiro de toda a Amazônia Legal atuando em tele-educação.
No início de 1962, o SERB começou a receber ajuda do MEB, sobretudo com receptores cativos Philips, que nos permitiram ampliar nossa rede de escolas radiofônicas, tanto que, naquele ano, chegamos a ter 362 rádios-postos, com 6200 alunos.
Em janeiro de 1965, o padre Giambelli deixa a direção executiva do SERB – embora permanecendo presidente jurídico – para transferir-se a Belém como vigário da Basílica de Nazaré, na qual permaneceu até o dia 19 de abril de 1971, data em que reassumiu o executivo da residência do SERB.
Durante os seis anos em que o padre Miguel esteve afastado do SERB, surgiram, na equipe do MEB nacional, elementos políticos e ideológicos contrários aos princípios que norteavam o sistema. As divergências ideológicas foram sentidas, ao ponto de dom Eliseu, no ano de 1970, desligar oficialmente o SERB do MEB "pelo tempo em que continuar na direção do MEB a atual equipe nacional", como disse textualmente o prelado de Bragança, em seu ofício a dom José Távora, Presidente Nacional do MEB.
Em 12 de julho de 1971, o SERB renovou o convênio com o MEB, este sob a presidência de dom Luciano José Cabral Duarte, que proclamou em alto e bom som seguir uma orientação totalmente diferente da administração anterior, a qual causara o desligamento entre os dois segmentos. Foram mantidos seus 34 funcionários, dentre os quais 19 estavam ligados ao MEB nacional, circunstância que fez do sistema bragantino o legítimo representante do MEB na região. A escola conta hoje com alcance em ondas média e onda tropical e reúne mais de 100.000 alunos em toda a sua história.

Eliseu Coroli e suas obras religiosas
Auxiliado por seu irmão, padre Paolo Coroli, construiu e organizou o Seminário Santo Alexandre Sauli, fundado em 20 de maio de 1962 para a formação dos futuros padres e que homenageou o bispo barnabita e italiano Alexander Sauli, uma referência de vocação ao sacerdócio entre os barnabitas.

Foto 12: Prédio do Seminário Santo Alexandre de Sauli em Bragança. Fonte: Acervo Fila.com
 
Atento às necessidades da religiosidade e da ausência sentida de suas primeira colaboradoras (da Congregação do Preciosíssimo Sangue, chamadas de irmãs Preciosinas), Eliseu Coroli também fundou a Congregação das Irmãs Missionárias de Santa Teresinha em 25 de março de 1954, para colaborar com os padres na assistência religiosa e na Educação. Essa congregação tem sede em Bragança e como superiora Geral a Ir. Raimunda Alves de Sousa. As Missionárias estão espalhadas por diversas residências pelo Brasil e no exterior, com destaque às missões em território africano.

Foto 13: Dom Eliseu e Missionárias de Santa Teresinha quando da fundação da congregação. Fonte: Acervo IST
 
Morte
Após uma longa trajetória, que lhe rendeu cansaços e agruras físicas, dom Eliseu Coroli morreu às 16h30 de uma quinta-feira, dia 29 de julho de 1982, na unidade de tratamento intensivo da Clínica SOCOR em Belém, depois de cinco dias de diversas complicações devido à idade, uma forte insuficiência e infecção renal, além da parada cardiorrespiratória que lhe ceifou a vida. Junto a seu leito de morte estavam diversas missionárias de Santa Teresinha, como a primeira, Irmã Edith Almeida de Souza, que acompanhou seus instantes finais.
Muitos de seus ex-alunos, religiosos e religiosas, bispos, padres colaboradores e amigos estiveram na clínica para verificar o estado de saúde e testemunhas os últimos momentos da vida do bispo Coroli. No hospital, quatro dias antes, recebeu o sacramento da unção dos enfermos das mãos do então arcebispo coadjutor dom Vicente Joaquim Zico. Seu corpo foi preparado e colocado numa urna especial às 18h daquele mesmo dia. No caixão, haviam desenhos que representavam liras e vários ramos de trigo, símbolos que coincidentemente faziam parte da espiritualidade do bispo Coroli. Às 20h30 horas, o carro com seu corpo partiu de Belém em direção a Bragança, enfrentando uma chuva torrencial no percurso, segundo os relatos das missionárias que estavam presentes, as irmãs Maria Janete Torres e Maria do Carmo Mazzoni.
Na chegada do ataúde a Bragança, pelas ruas e avenidas uma grande multidão aguardava o carro com o corpo de dom Eliseu Coroli, aglomerada próximo ao prédio do Instituto Santa Teresinha e da Catedral de Nossa Senhora do Rosário, cujos sinos badalavam de forma fúnebre. Uma sirene do antigo DER (Departamento de Estradas e Rodagens) do Pará anunciou a chegada do corpo. Primeiramente, foi à capela do Instituto Santa Teresinha para um velório privativo das irmãs Missionárias de Santa Teresinha, seguidas de centenas de pessoas que prestaram suas homenagens ao bispo falecido. Enquanto isso, na Rádio Educadora, de meia em meia hora, era lida a biografia de dom Eliseu Maria Coroli, seguida de uma programação fúnebre, como é de costume na emissora.

Foto 14: Velório de dom Eliseu Coroli, no Ginásio do IST. Fonte: Acervo IST
 
Às seis horas da manhã do dia 30 de julho de 1982, sexta-feira, a primeira missa de corpo presente foi realizada, na capela do colégio. Em seguida seu caixão foi levado à Catedral de Nossa Senhora do Rosário, quando dom Miguel Giambelli concelebrou com inúmeros sacerdotes mais uma missa de corpo presente. Varias celebrações litúrgicas foram feitas na Catedral, uma delas celebrada por dom Alberto Ramos, arcebispo metropolitano de Belém. Até as 15h, seu corpo permaneceu na Catedral, sendo levado depois para o Ginásio Santa Teresinha, em mais uma missa presidida por dom Miguel. Na celebração, deram seus testemunhos e prestaram suas homenagens o padre Luciano Brambilla, representando os padres Barnabitas e a irmã Oneide Rotterdam, pelas missionárias de Santa Teresinha.
Seu enterro foi realizado em seguida, no local onde foi construída a capela mortuária no interior da Catedral de Nossa Senhora do Rosário, ao lado esquerdo (visão de frente) do presbitério e do sacrário. Somente religiosas e sacerdotes assistiram a esse momento.

Após a morte de Eliseu Coroli
Após o sepultamento, começaram diversas peregrinações, com pessoas rezando e pedindo graças através do bispo, como se dá em vários exemplos de tradição católica. Porém, “somente a Igreja pode proclamar a autenticidade das virtudes heróicas praticadas por aqueles que partiram desta vida, deixando aos que ficam o testemunho de uma vida santa”, como afirma a irmã Marilda Teixeira, hoje responsável pelo memorial de dom Eliseu Coroli, no gabinete n bispo, dentro do Instituto Santa Teresinha.
Em 1994, seu sucessor na administração da já rebatizada Diocese de Bragança, dom Miguel Giambelli, enviou à Sagrada Congregação da Causa dos Santos, no Vaticano (Roma), alguns escritos, livros e documentários que comprovam a vida de santidade de Dom Eliseu. Após estudos e análises da sede da Igreja Católica em Roma, recebeu a declaração de que poderia ser aberto um processo de canonização do já então declarado Servo de Deus dom Eliseu Maria Coroli.
Em 10 de agosto de 1996, o atual bispo de Bragança dom Luís Ferrando, fez a abertura da fase diocesana do processo de beatificação de Eliseu Coroli. Para isso, foi nomeado um tribunal para ouvir testemunhas, analisar escritos, fazer pesquisas sobre a vida e virtudes do bispo italiano.
Os trabalhos foram concluídos, em nível diocesano, no dia 29 de julho de 2004, quando se deu por encerrado o processo diocesano e os estudos foram encaminhados à Sagrada Congregação da Causa dos Santos, no Vaticano. Os textos do processo foram traduzidos para o Italiano, organizados em livros e analisados por especialistas.
Em oitenta e dois anos de vida, cinquenta e dois deles dedicados à Região Bragantina, Eliseu Coroli construiu o que chamamos hoje de “patrimônio Coroli”, não só físico como demonstram suas obras, mas também espiritual, o propósito de sua missão na Amazônia e sua vida e obra marcaram para sempre a cidade, a memória e a história de Bragança no século XX.

Foto 15: Página de artigo agosto de 1982, de autoria Antonio Coutinho de Campos, sobre a morte de dom Eliseu Coroli. Fonte: Romyel Cecim
 
* Dário Benedito Rodrigues é bragantino, ex-aluno e ex-professor do Instituto Santa Teresina. Historiador, pesquisador e docente da Faculdade de História na Universidade Federal do Pará, em Bragança.
Observação importante: Qualquer publicação desse material sem a prévia consulta ao autor não está autorizada e se constitui em crime sujeito às penalidades da legislação brasileira.

Referências:
- BARNABITAS NO BRASIL 100 Anos. Belém, SOBRAC – Sociedade Brasiliense de Ação e Cultura (Província dos Barnabitas do Norte); Agência Ver Editora, 2003. 140 p.
- BRAMBILLA, Luciano; MEIRELES, Vera Maria de Barros; SILVA, Leida Almeida da. Vocação. Belém: s.e., 2003.
- COLARES, Terezinha. O Missionário Feliz. Paragominas: Gráfica e Editora São Marcos, 1997.
- DOM ELISEU MARIA COROLI: Fundador da Congregação das Irmãs Missionárias de Santa Teresinha. Bragança, 11 mai. 1997. 110 p. mimeo.
- RAMOS, D. Alberto Gaudêncio. Cronologia Eclesiástica da Amazônia. Manaus: Tipografia Fênix, 1952.
- NONATO DA SILVA, Dário Benedito Rodrigues. Configuração Histórica do Período de fundação da Congregação das Irmãs Missionárias de Santa Teresinha. Artigo para a semana jubilar das Missionárias de Santa Teresinha. Bragança, 25. dez. 2003. mimeo.
- OLETO, Leila S. Rotterdan. Eliseu Coroli, o Educador de Educadores. (Monografia). Trabalho de Conclusão de Curso em Pedagogia. UFPA: Bragança, 2004.
- FERNANDES, Aldo. Contributo de Dom Eliseu Maria Coroli para o Sistema Educacional em Bragança-PA.  (Monografia). Trabalho de Conclusão de Curso de Ciências da Religião. Universidade Estadual Vale do Acaraú: Belém, 2003.
- MERCÊS, José Maria Ramos das. Barnabitas 450 anos. (artigo) Voz de Nazaré, Belém, 22 jan. 1984.
- O ALPHABETO e a palavra de Deus nas selvas brasileiras. Jornal A Tarde, Rio de Janeiro, 22 ago. 1939.
- OS CINQÜENTA ANOS do Instituto Santa Teresinha. Bragança, 1988. 106 p. mimeo.
- TRADUÇÃO DOS ESCRITOS DE DOM ELISEU recolhido do Arquivo da Cúria Generalícia dos Padres Barnabitas, em Roma, pelo Irmão Gianfranco – Bta. Bragança, 2001. 131 p. mimeo.
- UMA DATA MEMORAVEL PARA OS BRAGANTINOS. 5 de julho – Lançamento da Pedra do Colégio Santa Teresinha – As Solenidades – Entusiasmo e Regosijo – Teatro de amadores. Jornal O Bragantino. Bragança, 14 jul. 1940. n. 97.

sábado, 28 de julho de 2012

Prefeitura de Bragança apresentou o projeto de restauração do Mercado Municipal (de 1911) nesta manhã de 28 de julho

            Hoje pela manhã, no interior do prédio do Mercado Municipal, foi apresentado o projeto técnico de restauração do prédio e de revitalização do seu entorno, pelo prefeito de Bragança Edson Oliveira e pelo arquiteto responsável pelo projeto Wallace Almeida.
            Estiveram presentes no evento autoridades, secretários municipais, imprensa, equipe da empresa que está trabalhando na restauração, os operários que atuam na obra e alguns convidados, reunidos num café da manhã oferecido pela Administração Municipal.
            Após intensa pesquisa anterior e levantamento de dados, foram disponibilizadas várias informações sobre a história da edificação, cores, padrões iniciais, reformas realizadas, constando no projeto a restauração do imóvel e deo quadrilátero da Praça Silva Santos onde ele está localizado, com a reforma e disponibilização de um espaço interno multiuso, a recuperação do telhado, a alocação de serviços na parte interna do prédio e a única intervenção com a construção de banheiros para atender a demanda do local.
            Uma peculiaridade é a manutenção, em alguns pontos destacados pelo arquiteto, de espaços para compra e venda, especificidade da memória desta edificação que data de 1911 e é uma das obras importantes do período da administração do Intendente Antônio da Costa Rodrigues, inaugurado no dia 07 de setembro daquele ano após querelas que envolveram a luta pelo terreno.
            No entorno foram previstas melhorias, adequações do espaço, arborização e jardinagem ornamental, além de espaços para alimentação. A previsão para a conclusão da obra pode ser entre os meses de setembro e outubro, segundo expectativas do prefeito e do arquiteto. Lembro que o prédio se encontra tombado pelo Patrimônio Histórico do Município de Bragança, Decreto n.º 010/2088, de 15 de janeiro de 2008, Artigo 1º , ítem V do documento.
            Abaixo, algumas fotos que fiz e detalhes da reforma já iniciada do prédio do Mercado Municipal de Bragança.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Bolívar Bordallo da Silva (*25.09.1907, +23.07.1973)

            Sendo o filho após Armando, Bolívar Bordallo da Silva não foi tão conhecido como seu antecessor, até porque o seu tempo de vida não permitiu inserções outras no campo dos estudos históricos que empreendia. Sua maior contribuição para a sociedade em geral, fruto de suas observações foi, com certeza o livro Cronologia Bragantina – um capítulo na História da Amazônia, que ficou sem lançamento e continua inédito.

Foto 1: Armando e Bolívar Bordallo da Silva, ainda crianças.

            Há mais de trinta anos, ao ter seu nome escolhido para ser uma das maiores escolas públicas do Pará, muitas pessoas devem ter ficado surpresas por não terem ouvido falar sobre Bolívar Bordallo da Silva, ou mesmo não o conhecessem, nem soubessem de sua trajetória como professor, sua dedicação à educação e ao conhecimento.
            Bolívar, como muitos outros, não só por ter lutado pelos interesses econômicos, culturais e educacionais da região Bragantina, mas por ter sido professor em muitas instituições de ensino de sua época, exerceu o ofício de advogado, e também historiador, garimpando em variados registros as informações necessárias para escrever uma parte interessante história de Bragança, como um atento observador.
            A história de Bolívar começa em 25 de setembro de 1907, filho de Sebastião José da Silva e de Maria do Céu Bordallo da Silva, assim como Armando e a irmã Almira. Com a família recebeu a mesma base: uma boa formação escolar com as professoras de Bragança e, em seguida, em Belém no Colégio Progresso Paraense. Mas, tudo isso aconteceu graças à visão ampla de seu pai Sebastião José da Silva, que, apesar de ter concluído apenas o primário, era um autodidata que amava os livros e o saber. Sebastião, que era dono de uma casa comercial no bairro da Aldeia e era também poeta e escrevia artigos para diversos jornais em Bragança e Belém, sabia do valor da educação na vida do indivíduo. Assim, ele quis que todos os seus filhos viessem continuar seus estudos em Belém.

Foto 2: Bolívar Bordallo da Silva, na foto de sua formatura.

            Antes de se formar Bolívar, foi convidado a ser professor do Colégio Progresso Paraense lecionando inicialmente Matemática e, posteriormente, Direito Comercial, Geografia Geral e Corografia do Brasil.
            Em 1932 foi convidado pelo Dr. João Dias da Silva, diretor do Ginásio Paraense, para o cargo de secretário desse ginásio, onde permaneceu por 08 (oito) anos de total dedicação. Mas, ainda assim encontrou forças e empenho para, no ano de 1936 organizar o primeiro Curso Ginasial Noturno de Belém que funcionou na Rua Gaspar Viana, escolhendo cuidadosamente desde o edifício, o mobiliário a ser utilizado, à orientação pedagógica e professores que comporiam seu quadro docente.
            Em 1939 apresentou a tese “Gênese da Ideologia Republicana no Brasil” para concurso de Docente-Livre de História da Civilização no Ginásio Paraense “Paes de Carvalho”, nomeado em abril do mesmo ano e, em 1945, novo concurso, desta vez para Professor Catedrático de História Geral. Para tal, apresentou a tese “Fatores dos Descobrimentos e das Conquistas no Século XV”, tendo sido o primeiro bragantino a pertencer ao quadro oficial deste renomado colégio, fato que o deixou, sem dúvida, muito orgulhoso.
            Em 1949, Bolívar foi convidado para lecionar História da América na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Belém, ainda em organização. Porém, não pôde aceitar o convite por se encontrar impossibilitado de locomoção pela doença que o estava deixando paralítico desde 1947. Assim, encerrou suas atividades em todos os estabelecimentos de ensino onde lecionava: Colégio Paes de Carvalho, Escola Técnica do Comércio da Fênix Caixeiral Paraense, Curso de Ciências e Letras, do Ginásio Santa Catarina, Ginásio Pará-Amazonas, Escola Técnica de Comércio do Pará, Faculdade de Ciências Econômicas e Colégio Nossa Senhora do Carmo.
            Bolívar dedicou-se por vinte e dois anos consecutivos ao Magistério. E, mesmo após esses anos todos, não ficou totalmente desligado da Educação, pois ainda trabalhou como secretário no Colégio Nossa Senhora do Rosário de Fátima que pertencia à sua irmã Almira Bordallo e que funcionava na casa onde moravam na Avenida 14 de março, em Belém, até o ano de 1972 quando a escola foi fechada.
            Esta foi a sua atividade profissional, mas, não podemos esquecer que ainda como estudante, Bolívar, Armando e outros amigos bragantinos, fundaram em 07 de janeiro de 1928 o Centro Social Estudantino, em Belém sendo o seu primeiro orador. Os estatutos da entidade foram publicados na Revista Bragantina de 01 de janeiro de 1929.
            No mesmo percurso, em 19 de março de 1933, ele e seus contemporâneos fundaram o Grêmio Social Bragantino, que pugnava os interesses da cidade de Bragança, onde Bolívar assumiu diversos cargos e ainda foi responsável pela criação e execução da Revista Bragantina e do Almanaque, que traz em seus números uma preocupação pela Educação. Através de carta escrita ao Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio em 1929, o Centro Social, requereu a criação de um Patronato, escola agrícola, destinado aos agricultores da região. O Grêmio, participando da Cruzada Nacional da Educação, fundou em 29 de setembro de 1935 a Escola José Paulino no Chumucuí.

Foto 3: Da esquerda para a direita Franco Mátyres, Armando Bordallo da Silva, Bolívar Bordallo da Silva e Luiz Paulino Mártyres.

            No mesmo ano, em 10 de dezembro, o Grêmio Bragantino reuniu diversas autoridades e personalidades na Prefeitura Municipal de Bragança para lançar as bases do que viria a se tornar a Associação Comercial de Bragança, formando uma Comissão de Organização da futura entidade, com João da Cruz Pacheco (não aceitando a indicação, foi substituído por Filenilo da Silveira Ramos), Carivaldo Ribeiro, José Cardoso Pereira, Mário Antunes da Silva, Severiano Maia, Julião Risuenho e Juvenal Oliveira. A apresentação dos motivos foi feita pelo Prof. Dr. Bolívar Bordallo da Silva, secretário do Grêmio Bragantino, à época.
            Duas atividades do Grêmio Bragantino ganharam importância pela abrangência quando foram realizadas. Em 15 de abril de 1934, a inauguração da Escola de Aprendizes Artífices de Bragança, de acordo com o Caeté Jornal dessa data e em 13 de maio de 1936, numa integração à Campanha Nacional de Educação e por iniciativa da entidade, que participava da Cruzada Bragantina de Educação, a construção e inauguração da Escola Professor José Paulino dos Santos Mártyres, próximo ao rio Chumucuí.
            Bolívar era membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Belém, tendo sido seu orador por quatro anos, entre 1940 a 1944, deixando inúmeros discursos. Junto com Armando e outros intelectuais de Belém, foi membro fundador do Instituto de Antropologia e Etnologia do Pará que funcionava no Museu Paraense Emílio Goeldi em 1947, além de membro da fundação da Comissão Paraense de Folclore em 1950, também criada no museu.

Foto 4: Capa do livro “Fatôres dos Descobrimentos e Conquistas do Século XV”, de Bolívar Bordallo da Silva, publicado em 1946, em Belém.

            Muitos ainda desconhecem de quem os irmãos Armando e Bolívar Bordallo da Silva promoveram em sua residência na capital do Estado, no dia 14 de outubro de 1950, uma reunião para tratar da constituição de uma sociedade rádio difusora que seria chamada de Rádio Bragança Ltda. Segundo informações da família e do acervo Bordallo, dessa reunião foi marcada outra, para o dia 28 de outubro do mesmo ano, quando foram examinados os orçamentos e propostas apresentadas pela Philips do Brasil S/A para o fornecimento e montagem da emissora. Devido não ter reunidos os trinta sócios pensados para o projeto da rádio, a ideia foi abandonada.
            Sua vida foi dedicada à Educação e à produção do conhecimento, tendo Bolívar assumido com fervor a tarefa de educar, como missão pessoal, a fim de promover e elevar a condição cultural, social e econômica das pessoas, especialmente de Bragança. Mas, o conhecimento, o amor aos livros e à História, era algo que ele passava a todos sem distinção, além da sua gentileza e tratamento da família em ocasiões onde estava com irmãos, sobrinhos e parentes.
            A sua condição de saúde levou-o a uma aposentadoria imposta. A deficiência o deixou totalmente incapaz para o trabalho. Apesar da dificuldade, Bolívar continuou suas pesquisas sobre a cultura e sobre a História de Bragança, nos legando um registro que vai desde a conquista e posse do Brasil, até o ano de 1954, já que sua obra era alusiva comemoração do 2° Centenário da fundação da Nova Vila de Bragança em 1754 e do 1° Centenário de sua elevação à categoria de cidade em 1854.
            Faleceu aos 65 anos, no dia 23 de julho de 1973, em Belém, cidade onde desenvolveu a maior parte de seu trabalho. Suas obras, seus textos e seus livros são patrimônios bem guardados, com muito zelo no Acervo Bordallo, pela Prof.ª Mariana Thereza Athayde Bordallo da Silva. Desta maneira, na linguagem da história, o fato se torna uma marca da impressão do tempo, manifestando-se e convivendo com o presente. Já seus autores permanecem ancorados no passado preenchido exatamente pelo que nos legaram, sua vida e sua obra.

Fonte e Fotos: Acervo Bordallo.