sábado, 31 de dezembro de 2011

Feliz 2012!

A todos, meu abraço de um Ano Novo feliz, com saúde, paz e felicidades. Obrigado 2011! Seja bem-vindo 2012!

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Bragança vai sentir saudades de...

Marly Eugênia Limão Silva +30.01.2011

Maria Graciete da Silva Barroso +18.02.2011

Waldomira de Souza Clemente +02.03.2011

Izomar Monteiro da Silva +06.03.2011

Agnelo da Silveira Amorim Filho +14.04.2011

Hélio da Mota Gueiros +15.04.2011

Cabalen Casseb +17.04.2011

Paulo César Figueiredo +02.05.2011

Joaquim Borges Gonçalves +19.05.2011

Bermilla Coutinho Amorim (Dona Bia) +24.05.2011

Lázaro José Pio +05.06.2011

Fabíola Stael dos Reis Castro +23.06.2011

Maria de Nazaré Alonso de Sousa +25.06.2011

José Luirino Ferreira +11.07.2011

Maria do Carmo Sodré do Rosário +23.07.2011

Geraldo José Melo da Silva +25.08.2011

João Pereira de Macêdo +21.09.2011

Angelina Silva (Tamateua) +20.10.2011

Marilda Athayde Bordallo da Silva +26.10.2011

José da Silva Mota +03.11.2011

Arsênio Pereira Sales +05.12.2011

Hélio Fernandes de Oliveira +10.12.2011

Carmem Lúcia Risuenho de Quadros Santos +16.12.2011

Célia Serra Alencar +28.12.2011

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

2012 segundo a NASA (Revista INFO On-line)

SÃO PAULO – Por meio de um relatório, a Agência Espacial Americana esclarece as dúvidas dos internautas e afirma: o mundo não acaba com o fim do calendário Maia.

O aviso foi dado depois que um site mantido pela NASA foi inundado de perguntas de internautas a respeito de um misterioso planeta chamado Nibiru e do fim do mundo programado para 21 de dezembro de 2012.

A página em questão se chama “Ask an Astrobiologist”, e é mantida por David Morrison como parte de seus trabalhos como Cientista Sênior do Instituto de Astrobiologia da NASA. Nela, o público pode perguntar o que quiser e, ultimamente, foram mais de mil e-mails voltados para as previsões apocalípticas.

Na internet os boatos mais recentes do apocalipse entrelaçam uma complexa trama de provas e evidências que levam a crer que o fim dos tempos será no dia 21 de dezembro de 2012 – ou, mais precisamente, o fim do calendário Maia.

A civilização pré-colombiana surgiu no México há mais de três mil anos, e é conhecida por suas habilidades astronômicas, incluindo a divisão do calendário em 365 dias e a previsão de eventos como eclipses.

A causa dessa destruição prevista nos atuais boatos espalhados na internet seria Nibiru, também chamado de Planeta X, um corpo celeste que teria sido descoberto pelos sumérios. O impacto com a Terra seria precisamente na data em que o calendário Maia termina (numa analogia ao “fim dos tempos”) – e o fato estaria sido mantido em segredo pelo governo.

O que parece ter alimentando mais ainda alguns boatos é o lançamento de um filme de Hollywood chamado de “2012”, que deve estrear nos Estados Unidos em novembro. Como parte da campanha de lançamento, a Columbia Pictures criou um site de uma suposta organização para a continuação da humanidade, que reúne evidências de que o mundo realmente acabará em três anos.

Para tentar esclarecer essas especulações, o Dr. Morrison rastreou as origens do que chama de mitos e respondeu aos internautas em seu site. As dúvidas mais freqüentes foram publicada pela Associação Astronômica do Pacífico.

Segundo ele, o boato de Nibiru teve sua origem com Zecharia Sitchin, autor de livros de ficção sobre as antigas civilizações mesopotâmicas. Em algumas de suas obras, entre elas “The Twelfth Planet” publicado em 1976, ele afirma ter encontrado e traduzido documentos sumérios que identificavam o planeta orbitando o Sol a cada 3.600 anos. Essas fábulas incluíam histórias de antigos astronautas que visitavam a Terra, vindos de uma civilização alienígena chamada Anunnaki.

Em paralelo, uma auto-declarada psíquica chamada Nancy Lieder alegou ter um canal com os ETs. Ela escreveu em seu site Zetatalk que os habitantes de um suposto planeta ao redor da estrela Zeta Reticuli a avisaram de que a Terra corria perigo de ser atacada pelo Planeta X, ou Nibiru. A catástrofe foi inicialmente prevista para maio de 2003, mas quando nada aconteceu, a data foi mudada para dezembro de 2012.

Segundo Dr. Morison, apenas recentemente essas duas fábulas foram ligadas ao fim do calendário Maia, no solstício de inverno de 2012.

O cientista esclarece também que as fotos ou evidências apresentadas na internet são falsas. Uma das imagens mais populares do que seria Nibiru se trata, na verdade, de uma nebulosa de gás fora do sistema solar fotografada pelo telescópio espacial Hubble.

Quanto aos Maias, Morison afirma que a sociedade realmente desenvolveu calendários bastante complexos, mas que, apesar do interesse histórico que possamos ter, eles não se comparam a habilidade moderna de contagem do tempo, ou à precisão dos calendários modernos. E, o mais importante: estes instrumentos não podem prever o futuro.

Quanto ao fim do calendário estar ligado ao fim do mundo, ele faz uma comparação: o calendário de mesa de qualquer pessoa termina muito antes de 21 de dezembro de 2012 – ele acaba em 31 de dezembro de 2009. Mas ninguém interpreta isso como uma previsão do Armageddon – é apenas o começo de um novo ano.

Imagem: NASA/JPL-Caltech

Texto: Paula Rothman, de INFO Online (Quarta-feira, 21 de outubro de 2009 - 11h26)

Fonte: http://info.abril.com.br/noticias/ciencia/nasa-desmente-fim-do-mundo-em-2012-21102009-17.shl

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

À memória de Célia Serra Alencar

Comunico, com imenso pesar, o falecimento da querida amiga Célia Serra Alencar, esposa de nosso Prof. Elsen Alencar, ocorrido hoje, 28 de dezembro, às 08h20 no Hospital Geral de Bragança.

Seu corpo está sendo velado no Salão da Sociedade Beneficente Artística Bragantina, à rua Treze de Maio, Centro, próximo à antiga Casa da Cultura, esquina da Trav. Sen. José Pinheiro. Seu sepultamento está marcado para as 16h no Cemitério Campo da Saudade, no bairro da Vila Sinhá, em Bragança.

Nossas sinceras condolências à sua família, ao esposo Elsen Alencar, à sua mãe Elza, a seus filhos Roberto, Adrian e Thais (meus ex-alunos) e nossa gratidão à memória de nossa amiga Célia, que muito contribuiu para o Campus da Universidade Federal do Pará em Bragança, com seu amável e inconfundível sorriso, além da sua presença alegre e sempre disposta.

Célia nos deixa uma enorme saudade! Que Deus a receba em sua merecida acolhida e que conforte toda a sua família!

Prof. Dário Benedito Rodrigues & Família.

domingo, 25 de dezembro de 2011

E vem São Benedito, tradução e alma de Bragança

Prof. Dário Benedito Rodrigues*

No início do mês de dezembro, quando quase tudo para em respeito ao Natal ou ao feriado de Nossa Senhora da Conceição (Iemanjá, para alguns), Bragança, pequena cidade do Nordeste paraense, vira um amontoado humano. As ruas do Centro histórico respiram ares de uma religiosidade marcante. O largo em frente à Orla da cidade e as palmeiras imperiais testemunham experiências impressionantes de devoção e cultura. O coração pulsa ao som do tambor “negróide” e os pés, que andam e dançam, caminham no mesmo rumo. É São Benedito, cidadão mais ilustre de Bragança, que reúne a tantos e a muitos em torno da fé e da bragantinidade.

Com mais de cem mil habitantes, o lugar recebe, todos os anos, entre 35 e 50 mil devotos e peregrinos que vêm seguindo o “chamado” do Santo Negro, de vários cantos do Brasil e do Pará, para fazer e pagar promessas, reverenciar sua imagem e reconfirmar o prestígio de São Benedito, o Negro, nascido italiano e filho de escravos etíopes, morto há mais de quatrocentos anos, benfeitor, co-padroeiro e, sobretudo, tradução e alma de Bragança.

Mais do que uma festa popular como tantas outras, o que ocorre em Bragança é um espetáculo de fé, resistência, crença e esperança. É impressionante, quase inacreditável, principalmente se considerarmos quem são essas pessoas, o modo como elas chegam e expressam sua devoção. De maneira geral, se identificam pelas práticas culturais em comum e por uma fé inquebrantável no poder intercessor de São Benedito. Às vezes sem dinheiro ou sem perspectiva, os devotos vêm de lugares afastados e até de outros países para rezar, acreditando nos milagres e na resolução de problemas através do “pedido” de São Benedito.

Os humildes não pedem nem fama nem fortuna. A maioria, mais de 80 por cento dos romeiros e devotos, reza por saúde, para que as pernas não cansem, para que a cabeça pare de doer, que os braços voltem a funcionar, para que o filho sare, pela unidade da família, para alcançar um emprego ou para que a vida melhore.

Uma das maiores atrações locais é a Igreja de São Benedito, em frente do rio Caeté, de herança jesuítica e indígena e construída no século XVIII, onde são depositados centenas de velas, pés de madeira, cabeças de cera, seios de gessos, braços de mentira, casas em miniatura, potes de barro, bonecos de pano e até cabelos, que representam partes do corpo ou instrumentos de promessa que tiveram a ajuda e graça por intermédio de São Benedito, isso sem falar no dinheiro daqueles que tiveram seus pedidos atendidos.

Nem todos os devotos têm alguma coisa a dar em troca dos favores do Santo Negro. A única moeda que possuem para retribuir a graça alcançada é o próprio corpo. Por isso, pagam suas promessas vestindo-se apropriadamente de marujo ou maruja, indumentária símbolo de Bragança, espremendo-se no barracão para dançar, na procissão para acompanhar a efígie do Santo ou em frente ao seu andor para conversar com seu protetor, algo profundamente simples, mas que, às vezes, como acender uma vela, implica em vencer a pé e sozinho uma etapa da vida, representada na procissão.

A cada ano, em oito meses, a Igreja Católica e três comitivas organizam o processo de Esmolação com três imagens diferentes de São Benedito, arrecadando víveres, esmolas, dinheiro e a fé dos comunitários do interior e “pagando” esses esmoladores que deixaram suas famílias em casa. Estima-se que circule uma importância significativa nos comércios da cidade por causa da venda de bugigangas e dos presentes de Natal. E por que não dizer, dos artefatos que compõem a indumentária característica do período.

Nos dias da festividade, cada espaço do largo de São Benedito é ocupado por barracas e pessoas que vendem de tudo: artesanato, bijouteiras, lembrancinhas, estátuas de santo, especialmente de São Benedito, quinquilharias, chapéus de marujo e maruja e, presença constante em quase todas as festas, objetos de uso religioso como terços, escapulários entre outros.

Como há uma “multidão” que vem à Bragança no período da festividade, emigrando de vários lugares para estender suas mãos em direção ao Santo Negro, os hotéis da cidade não são suficientes para abrigar tanta gente e, de qualquer modo, os lares bragantinos são os locais por onde toda essa gente passa os dias do ciclo de São Benedito, entre os parentes e agregados, para “passar” o período que vai do Natal ao Ano Novo e viver a emoção do dia 26 de dezembro, feriado local.

Um lugar como este, no entanto, atrai turistas incautos. Para os bragantinos, essa química inefável de fé e cultura dá a impressão de funcionar como chamariz ao fervor de tantos que “atendem o chamado”. Na Igreja, depois de atravessar seus quase cinquenta metros de marujos e marujas, durante a missa solene e retransmitida pelo rádio, há uma imagem preciosíssima de São Benedito num altar-mor ornada de flores.

Após a procissão, basta ali algo entre dez minutos para assistir a pungentes e comoventes demonstrações de fé. Em sinal de respeito tiram seus chapéus e disputam espaço para terem a honra de tocar a imagem de São Benedito, beijar sua fita, enquanto rezam, fazem seus pedidos ou agradecem os milagres recebidos. Nos olhos de todos cintila um brilho de certa esperança, numa demonstração rascante de uma crença inabalável. De novo, para os incautos, é uma cena inconcebível: a fé em estado bruto e sólido, palpável e indelével, contra os riscos que sofrem tantos pelo hedonismo e pelos contra-valores da sociedade “dita” moderna e civilizada.

Depois de passar quase dois dias inteiros pagando suas promessas, vestidos ou não com a roupa da Marujada, os devotos encerram sua festa com a procissão pelas ruas de Bragança, com todos os sujeitos da festividade, do padre ao tocador de rabeca, do juiz da festa ao músico da Furiosa, que encerram o dia com uma missa campal em frente à Igreja, patrimônio histórico e principal local dos festejos beneditinos de Bragança. Nesse vinte e seis de dezembro, e em horário indefinido, todos se reúnem para ouvir as palavras acalentadoras do discurso longo do padre. Diante de milhares de pessoas, as humildes e as humilhadas, que dificilmente entenderiam o significado do conceito de manipulação de massas, ele abençoa os fieis que reviraram suas vidas para visitar a cidade e começa sua preleção com a seguinte explanação:

“- O que acontece é uma legítima demonstração de fé, de amor a Jesus Cristo, por São Benedito!” E só depois de ouvir essas duas palavras – “são” e “Benedito” – é que marujos e marujas, ao som das canções beneditinas e caboclas, desfranzem a testa e tiram seus chapéus deixando de lado aquela expressão de quem não está entendendo nada para trocá-la por urras, vivas e palmas ao nome que mais lhe cala no peito: o do Glorioso São Benedito.

* Dário Benedito Rodrigues é historiador, pesquisador e docente da Faculdade de História da Universidade Federal do Pará, em Bragança.

Referências:

BORDALLO DA SILVA, Armando. Contribuição ao Estudo do Folclore Amazônico na Zona Bragantina. Belém: Falangola Editora, 1981.

MORAES, Maria José Pinto da Costa de. ALIVERTI, Mavilda. SILVA, Rosa Maria Mota da. Tocando a Memória – Rabeca. Belém: Instituto de Artes do Pará, 2006.

NONATO DA SILVA, Dário Benedito Rodrigues. A Essência Beneditina: Escravidão e Fé na Irmandade de São Benedito de Bragança, do século XVIII ao XIX. (Monografia de Conclusão do Curso de Licenciatura e Bacharelado em História). Bragança: UFPA, 2002.

REVISTA VER-O-PARÁ (AMAZÔNIA), n.º 11. “Bragança, 200 anos de Marujada”. Belém: Agência VER Editora, 1998.

ROSÁRIO, Ubiratan. Saga do Caeté: folclore, história, etnografia e jornalismo na cultura amazônica da Marujada, Zona Bragantina, Pará. Belém: Cejup, 2000.

SILVA, Dedival Brandão da. Os Tambores da Esperança: um Estudo Antropológico sobre a Construção da Identidade na Irmandade do Glorioso São Benedito de Bragança. Belém: Falangola Editora, 1997.

Fotos: Acervo pessoal.

Marujada "in blue"... Bragança linda de azul, vestida de maruja e de marujo

Feliz Natal a todos!

sábado, 24 de dezembro de 2011

Uma entrevista publicada em O Liberal (Cartaz, 25.01.2004)

Publico o texto integral da entrevista que concedi ao jornal O Liberal, em 25 de janeiro de 2004, à jornalista e amiga Esperança Bessa, que trabalhava nessa editoria Cartaz. Foi a primeira vez que falei a um veículo de comunicação desse porte. E devo essa inserção ao convite do Instituto Arraial do Pavulagem (leia-se Júnior Soares e Ronaldo Silva), que me convidaram para abordar o tema de minha monografia de Graduação em História (UFPA Bragança, 2002) no Seminário Cultura e Meio Ambiente, promovido em Belém, de 22 a 23 de janeiro de 2004, realizado no Instituto de Artes do Pará.

Pesquisador teme descaracterização da Marujada (Esperança Bessa, da Editoria de Cartaz)

O auditório do Instituto de Artes do Pará lotou no primeiro seminário “Cultura e Meio Ambiente”, organizado pela Comitiva do Arraial do Pavulagem em parceria com o Instituto, quarta e quinta-feira passadas. Entre os palestrantes estavam Vicente Salles e João de Jesus Paes Loureiro, que falaram sobre o tema central do evento. Mas foi um historiador, o professor Dário Benedito Rodrigues, quem mais chamou a atenção do público durante as explanações. Ele, que nasceu Bragança e é integrante da Irmandade de São Benedito, marujo de carteirinha e membro da diretoria da festa dedicada ao santo no mês de dezembro (marujo é a denominação daqueles que compõem a Irmandade, que promove a tradicional festa em conjunto com a igreja católica) falou sobre o que mais entende: história do santo e a relação de fé do povo bragantino com São Benedito.

Dário, que é professor do campus da UFPA em Bragança, fundamentou sua palestra na pesquisa “Essência Beneditina: Escravidão e fé na Irmandade de São Benedito de Bragança - Do século XVIII e XIX”, que vem trabalhando desde 1998 e será base para sua tese de mestrado. Ele diz que não poderia se dedicar a outra fonte de pesquisa, e confessa que se sente preocupado com a “folclorização” de um evento que deve ter seu caráter religioso em primeiro lugar. “Sou bragantino, Benedito de nome em homenagem ao santo - fruto de uma promessa - e a ligação familiar com a religiosidade é muito grande. Minha história se confunde com essa pesquisa, e temo que as pessoas esqueçam do caráter religioso da festa para só ressaltar o aspecto cultural. A marujada tem ligação com a religião, não é só estética”, diz.

Como foi fundada a Irmandade de São Benedito?

A Irmandade foi fundada em 3 de setembro de 1798, por 14 irmãos negros constituidores e outra centena que foi por eles reunida. Na época, Igreja e os senhores de escravos permitiram a criação da Irmandade, até como forma de manter o controle sobre o culto. Padres e senhores brancos viam nessa sociedade uma forma de ter controle sobre o imaginário do negro, enquanto que os negros viam ali um meio de fugir dos problemas da escravidão. Mas a Igreja não tinha controle sobre a irmandade. O padre ia a Bragança para celebrar Cinzas, Quaresma, Páscoa e Natal, só. No dia 25 de dezembro celebrava o Natal para os brancos, e no dia 26, dia de São Benedito, para os negros.

E por que os negros escolheram, dentro da religião católica, São Benedito para cultuar?

Ele era negro, filho de escravos que foram morar na Itália, e entre seis irmãos foi o único liberto. Aos 18 anos ele teve a vocação para a vida eremita, e foi viver isolado. Aos 21 anos recebeu o convite para integrar o convento de Santa Maria, da Ordem dos Franciscanos. Lá foi trabalhar na cozinha, porque era analfabeto. Só que ele foi de cozinheiro a guardião do convento, posto que nenhum outro negro na face da Terra em todos os tempos conseguiu assumir. São Benedito foi canonizado em 1807, mas antes nem era santo e já era cultuado como beato. Foi considerado santo vivo ainda na sua época. Padres, duques e até cardeais corriam ao convento para ouvir seus conselhos.

Mas sabe-se que ele sofreu muito preconceito dentro do convento também, não foi?

Ele sofria preconceito porque era negro, mas porque também aquela aglomeração de pessoas à porta do convento irritava os outros franciscanos. São Benedito tirava pão de lá e dava aos pobres. Um dos milagres dele foi ter transformado pão em flores, numa ocasião em que um frei mandou ele mostrar o que tinha escondido na roupa. Ele carregava pão, mas dizia que eram flores. Quando foi obrigado a mostrar o que escondia, havia flores. Outro milagre que pessoas contaram na época do processo de sua canonização foi que, durante uma cerimônia de Corpus Christi, levitou enquanto carregava o ostensório. Há também um sobre uma visita do bispo ao convento. Quando o convidado chegou, os padres foram até a cozinha e viram que não havia nada pronto. Procuraram por ele, que estava na capela, rezando. Ele disse que não precisavam se preocupar, que dentro de poucos minutos tudo estaria pronto e realmente foi o que aconteceu. Todos ficaram surpresos, e alguns frades viram a imagem de dois homens brancos ajudando o cozinheiro.

Voltando à criação da Irmandade, como começou efetivamente a atuar em Bragança?

A imagem do santo fazia esmolação pelas praias, campos e colônias, recolhendo dinheiro, víveres e bens para leiloar. Toda renda ia para a construção da igreja de São Benedito. Primeiro eles construíram uma capela de palha ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, até que em meados de 1850 conseguiram o dinheiro e a autorização para construí-la. Negros foram alugados para o trabalho. Quando os padres e senhores viram o tamanho da igreja, tomaram-na, e hoje ela é a Catedral de Bragança, dedicada a Nossa Senhora do Rosário. A antiga igreja da santa - herança jesuíta construída em 1753 por negros e índios - passou a ser a igreja de São Benedito. Essa igreja, inclusive, precisa urgente de patrocínio para a restauração. Temos um projeto arquivado na Secult.

Como a Irmandade conseguiu unir os elementos da cultura afro dos negros e a cultura dos brancos no culto ao santo?

A Irmandade nasce em ambiente de fé e escravidão, e fez simbiose não só da cultura africana e sua relação com a branca, mas também teve a cultura cabocla nesse meio. O violino, conhecido como rabeca, foi colocado ao lado dos tambores africanos. As castanholas nos dedos dos homens são de origem espanhola. A reza em latim é de influência católica, e as roupas lembram a influência negra. Antes a roupa era uma saia para mulheres e calças para homens, todos com estampas. A roupa vermelha (cor oficial de São Benedito) e branca (em homenagem ao Natal) foi adotada como uma forma de uniformizar os integrantes da Irmandade. O chapéu utilizado até hoje é no molde original.

E essa convivência entre igreja, brancos e negros, apesar de manipulada pelos dois primeiros grupos, era pacífica?

Houve uma briga séria no século XX. Em 1947 a Irmandade virou uma entidade civil. Os leigos (fiéis católicos) quiseram tomar conta do dinheiro do santo, e a igreja conseguiu tomar posse da festa. Em 1969 a igreja entrou na justiça, alegando que aquela era uma festa da igreja e que tinha gente usando em favor próprio. Em 1988 saiu a sentença final, depois de ter passado por todas as três instâncias - municipal, estadual e federal. A Igreja ganhou nas três.

Como ficou a situação depois dessa sentença?

Em 1988 eu era ainda pequeno, e me lembro de toda a movimentação social, os comentários das pessoas pelas ruas, dizendo que o controle da festa tinha voltado para a Igreja. As farpas foram sendo aparadas durante dez anos, até 1998, quando se celebrou os 200 anos da festa. O orgulho dos leigos foi diminuindo, as acusações de ambas as partes também, finalmente um padre bragantino assumiu a paróquia e convidou a todos para purificar o caráter profano. Agora a convivência está harmoniosa e em 2003 chegou ao ápice. Todo mundo ficou feliz, e essa alegria pode ser perpetuada e crescente.

Você se diz muito preocupado com a descaracterização da Festa de São Benedito, e com a sobreposição da importância do aspecto cultural e profano sobre o religioso. A partir de quando começa a se observar essas alterações na forma de ver a festa?

A partir dos estudos de antropologia dedicados ao assunto. Não que eu ache isso prejudicial, mas as pessoas que vivem aquilo ali de dentro não podem deixar se influenciar e perder a essência. A imprensa também é muito responsável pela divulgação exclusiva do caráter cultural da festa. Quando se começa a divulgar o lado profano, aí é prejudicial. Não pode haver uma inversão de valores, a religião está em primeiro lugar, todos que dançam não estão ali por acaso, mas pagando uma promessa. A essência dos escravos continua, os mais humildes da comunidade são os elementos principais da festa. Quando o capitalismo põe o dedo, também distorce. Que me desculpem meus irmãos do Amazonas, mas quando a Coca-cola botou o dedo em Parintins, virou show, e temo que o mesmo ocorra um dia em Bragança. A globalização transforma folclore em folclorismo, que não é o folclore bom. Por isso o meu esforço para mostrar a importância histórica daquela celebração. Sou o único que tem nível superior na Irmandade, e me sinto no dever de tentar explicar esse valor que as pessoas sentem, mas não percebem os perigos externos se aproximando. As pessoas só defendem o que amam, e só amam o que conhecem.

Fonte: http://201.59.48.71/oliberal/arquivo/noticia/cartaz/n25012004default3.asp

A história do Natal e seus símbolos

A humanidade comemora essa data bem antes do nascimento de Jesus. Conheça o bolo de tradições que deram origem à Noite Feliz.

Roma, século 2, dia 25 de dezembro. A população está em festa, em homenagem ao nascimento daquele que veio para trazer benevolência, sabedoria e solidariedade aos homens. Cultos religiosos celebram o ícone, nessa que é a data mais sagrada do ano. Enquanto isso, as famílias apreciam os presentes trocados dias antes e se recuperam de uma longa comilança.

Mas não. Essa comemoração não é o Natal. Trata-se de uma homenagem à data de “nascimento” do deus persa Mitra, que representa a luz e, ao longo do século 2, tornou-se uma das divindades mais respeitadas entre os romanos. Qualquer semelhança com o feriado cristão, no entanto, não é mera coincidência.

A história do Natal começa, na verdade, pelo menos 7 mil anos antes do nascimento de Jesus. É tão antiga quanto a civilização e tem um motivo bem prático: celebrar o solstício de inverno, a noite mais longa do ano no hemisfério norte, que acontece no final de dezembro. Dessa madrugada em diante, o sol fica cada vez mais tempo no céu, até o auge do verão. É o ponto de virada das trevas para luz: o “renascimento” do sol. Num tempo em que o homem deixava de ser um caçador errante e começava a dominar a agricultura, a volta dos dias mais longos significava a certeza de colheitas no ano seguinte. E então era só festa. Na Mesopotâmia, a celebração durava 12 dias. Já os gregos aproveitavam o solstício para cultuar Dionísio, o deus do vinho e da vida mansa, enquanto os egípcios relembravam a passagem do deus Osíris para o mundo dos mortos. Na China, as homenagens eram (e ainda são) para o símbolo do yin-yang, que representa a harmonia da natureza. Até povos antigos da Grã-Bretanha, mais primitivos que seus contemporâneos do Oriente, comemoravam: o forrobodó era em volta de Stonehenge, monumento que começou a ser erguido em 3100 a.C. para marcar a trajetória do sol ao longo do ano.

A comemoração em Roma, então, era só mais um reflexo de tudo isso. Cultuar Mitra, o deus da luz, no 25 de dezembro era nada mais do que festejar o velho solstício de inverno – pelo calendário atual, diferente daquele dos romanos, o fenômeno na verdade acontece no dia 20 ou 21, dependendo do ano. Seja como for, esse culto é o que daria origem ao nosso Natal. Ele chegou à Europa lá pelo século 4 a.C., quando Alexandre, o Grande, conquistou o Oriente Médio. Centenas de anos depois, soldados romanos viraram devotos da divindade. E ela foi parar no centro do Império.

Mitra, então, ganhou uma celebração exclusiva: o Festival do Sol Invicto. Esse evento passou a fechar outra farra dedicada ao solstício. Era a Saturnália, que durava uma semana e servia para homenagear Saturno, senhor da agricultura. “O ponto inicial dessa comemoração eram os sacrifícios ao deus. Enquanto isso, dentro das casas, todos se felicitavam, comiam e trocavam presentes”, dizem os historiadores Mary Beard e John North no livro Religions of Rome (“Religiões de Roma”, sem tradução para o português). Os mais animados se entregavam a orgias – mas isso os romanos faziam o tempo todo. Bom, enquanto isso, uma religião nanica que não dava bola para essas coisas crescia em Roma: o cristianismo.

Solstício cristão

As datas religiosas mais importantes para os primeiros seguidores de Jesus só tinham a ver com o martírio dele: a Sexta-Feira Santa (crucificação) e a Páscoa (ressurreição). O costume, afinal, era lembrar apenas a morte de personagens importantes. Líderes da Igreja achavam que não fazia sentido comemorar o nascimento de um santo ou de um mártir – já que ele só se torna uma coisa ou outra depois de morrer. Sem falar que ninguém fazia idéia da data em que Cristo veio ao mundo – o Novo Testamento não diz nada a respeito. Só que tinha uma coisa: os fiéis de Roma queriam arranjar algo para fazer frente às comemorações pelo solstício. E colocar uma celebração cristã bem nessa época viria a calhar – principalmente para os chefes da Igreja, que teriam mais facilidade em amealhar novos fiéis. Aí, em 221 d.C., o historiador cristão Sextus Julius Africanus teve a sacada: cravou o aniversário de Jesus no dia 25 de dezembro, nascimento de Mitra. A Igreja aceitou a proposta e, a partir do século 4, quando o cristianismo virou a religião oficial do Império, o Festival do Sol Invicto começou a mudar de homenageado. “Associado ao deus-sol, Jesus assumiu a forma da luz que traria a salvação para a humanidade”, diz o historiador Pedro Paulo Funari, da Unicamp. Assim, a invenção católica herdava tradições anteriores. “Ao contrário do que se pensa, os cristãos nem sempre destruíam as outras percepções de mundo como rolos compressores. Nesse caso, o que ocorreu foi uma troca cultural”, afirma outro historiador especialista em Antiguidade, André Chevitarese, da UFRJ.

Não dá para dizer ao certo como eram os primeiros Natais cristãos, mas é fato que hábitos como a troca de presentes e as refeições suntuosas permaneceram. E a coisa não parou por aí. Ao longo da Idade Média, enquanto missionários espalhavam o cristianismo pela Europa, costumes de outros povos foram entrando para a tradição natalina. A que deixou um legado mais forte foi o Yule, a festa que os nórdicos faziam em homenagem ao solstício. O presunto da ceia, a decoração toda colorida das casas e a árvore de Natal vêm de lá. Só isso.

Outra contribuição do norte foi a idéia de um ser sobrenatural que dá presentes para as criancinhas durante o Yule. Em algumas tradições escandinavas, era (e ainda é) um gnomo quem cumpre esse papel. Mas essa figura logo ganharia traços mais humanos.

Nasce o Papai Noel

Ásia Menor, século 4. Três moças da cidade de Myra (onde hoje fica a Turquia) estavam na pior. O pai delas não tinha um gato para puxar pelo rabo, e as garotas só viam um jeito de sair da miséria: entrar para o ramo da prostituição. Foi então que, numa noite de inverno, um homem misterioso jogou um saquinho cheio de ouro pela janela (alguns dizem que foi pela chaminé) e sumiu. Na noite seguinte, atirou outro; depois, mais outro. Um para cada moça. Aí as meninas usaram o ouro como dotes de casamento – não dava para arranjar um bom marido na época sem pagar por isso. E viveram felizes para sempre, sem o fantasma de entrar para a vida, digamos, “profissional”. Tudo graças ao sujeito dos saquinhos. O nome dele? Papai Noel.

Bom, mais ou menos. O tal benfeitor era um homem de carne e osso conhecido como Nicolau de Myra, o bispo da cidade. Não existem registros históricos sobre a vida dele, mas lenda é o que não falta. Nicolau seria um ricaço que passou a vida dando presentes para os pobres. Histórias sobre a generosidade do bispo, como essa das moças que escaparam do bordel, ganharam status de mito. Logo atribuíram toda sorte de milagres a ele. E um século após sua morte, o bispo foi canonizado pela Igreja Católica. Virou são Nicolau.

Um santo multiuso: padroeiro das crianças, dos mercadores e dos marinheiros, que levaram sua fama de bonzinho para todos os cantos do Velho Continente. Na Rússia e na Grécia Nicolau virou o santo nº1, a Nossa Senhora Aparecida deles. No resto da Europa, a imagem benevolente do bispo de Myra se fundiu com as tradições do Natal. E ele virou o presenteador oficial da data. Na Grã-Bretanha, passaram a chamá-lo de Father Christmas (Papai Natal). Os franceses cunharam Pére Nöel, que quer dizer a mesma coisa e deu origem ao nome que usamos aqui. Na Holanda, o santo Nicolau teve o nome encurtado para Sinterklaas. E o povo dos Países Baixos levou essa versão para a colônia holandesa de Nova Amsterdã (atual Nova York) no século 17 – daí o Santa Claus que os ianques adotariam depois. Assim o Natal que a gente conhece ia ganhando o mundo, mas nem todos gostaram da idéia.

Natal fora-da-lei

Inglaterra, década de 1640. Em meio a uma sangrenta guerra civil, o rei Charles 1º digladiava com os cristãos puritanos – os filhotes mais radicais da Reforma Protestante, que dividiu o cristianismo em várias facções no século 16.

Os puritanos queriam quebrar todos os laços que outras igrejas protestantes, como a anglicana, dos nobres ingleses, ainda mantinham com o catolicismo. A idéia de comemorar o Natal, veja só, era um desses laços. Então precisava ser extirpada.

Primeiro, eles tentaram mudar o nome da data de “Christmas” (Christ’s mass, ou Missa de Cristo) para Christide (Tempo de Cristo) – já que “missa” é um termo católico. Não satisfeitos, decidiram extinguir o Natal numa canetada: em 1645, o Parlamento, de maioria puritana, proibiu as comemorações pelo nascimento de Cristo. As justificativas eram que, além de não estar mencionada na Bíblia, a festa ainda dava início a 12 dias de gula, preguiça e mais um punhado de outros pecados.

A população não quis nem saber e continuou a cair na gandaia às escondidas. Em 1649, Charles 1º foi executado e o líder do exército puritano Oliver Cromwell assumiu o poder. As intrigas sobre a comemoração se acirraram, e chegaram a pancadaria e repressões violentas. A situação, no entanto, durou pouco. Em 1658 Cromwell morreu e a restauração da monarquia trouxe a festa de volta. Mas o Natal não estava completamente a salvo. Alguns puritanos do outro lado do oceano logo proibiriam a comemoração em suas bandas. Foi na então colônia inglesa de Boston, onde festejar o 25 de dezembro virou uma prática ilegal entre 1659 e 1681. O lugar que se tornaria os EUA, afinal, tinha sido colonizado por puritanos ainda mais linha-dura que os seguidores de Cromwell. Tanto que o Natal só virou feriado nacional por lá em 1870, quando uma nova realidade já falava mais alto que cismas religiosas.

Tio Patinhas

Londres, 1846, auge da Revolução Industrial. O rico Ebenezer Scrooge passa seus Natais sozinho e quer que os pobres se explodam “para acabar com o crescimento da população”, dizia. Mas aí ele recebe a visita de 3 espíritos que representam o Natal. Eles lhe ensinam que essa é a data para esquecer diferenças sociais, abrir o coração, compartilhar riquezas. E o pão-duro se transforma num homem generoso.

Eis o enredo de Um Conto de Natal, do britânico Charles Dickens. O escritor vivia em uma Londres caótica, suja e superpopulada – o número de habitantes tinha saltado de 1 milhão para 2,3 milhões na 1a metade do século 19. Dickens, então, carregou nas tintas para evocar o Natal como um momento de redenção contra esse estresse todo, um intervalo de fraternidade em meio à competição do capitalismo industrial. Depois, inúmeros escritores seguiram a mesma linha – o nome original do Tio Patinhas, por exemplo, é Uncle Scrooge, e a primeira história do pato avarento, feita em 1947, faz paródia a Um Conto de Natal. Tudo isso, no fim das contas, consolidou a imagem do “espírito natalino” que hoje retumba na mídia. Quer dizer: quando começar o próximo especial de Natal da Xuxa, pode ter certeza de que o fantasma de Dickens vai estar ali.

Outra contribuição da Revolução Industrial, bem mais óbvia, foi a produção em massa. Ela turbinou a indústria dos presentes, fez nascer a publicidade natalina e acabou transformando o bispo Nicolau no garoto-propaganda mais requisitado do planeta. Até meados do século 19, a imagem mais comum dele era a de um bispo mesmo, com manto vermelho e mitra – aquele chapéu comprido que as autoridades católicas usam. Para se enquadrar nos novos tempos, então, o homem passou por uma plástica. O cirurgião foi o desenhista americano Thomas Nast, que em 1862, tirou as referências religiosas, adicionou uns quilinhos a mais, remodelou o figurino vermelho e estabeleceu a residência dele no Pólo Norte – para que o velhinho não pertencesse a país nenhum. Nascia o Papai Noel de hoje. Mas a figura do bom velhinho só bombaria mesmo no mundo todo depois de 1931, quando ele virou estrela de uma série de anúncios da Coca-Cola. A campanha foi sucesso imediato. Tão grande que, nas décadas seguintes, o gorducho se tornou a coisa mais associada ao Natal. Mais até que o verdadeiro homenageado da comemoração. Ele mesmo: o Sol.

Para saber mais:

Religions of Rome (Mary Beard, John North; Cambridge, EUA, 1998).

Santa Claus: A Biography (Gerry Bowler, McClelland & Stewart, EUA, 2005).

www.candlegrove.com/solstice.html - Como várias culturas comemoram o solstício de inverno.

Fonte: Revista Superinteressante

Textos: Thiago Minami e Alexandre Versignassi

A valorização da gastronomia bragantina

A convite, participei de uma noite de degustação da gastronomia bragantina, resultado de uma oficina de culinária promovida pela Sociedade Beneficente Artística Bragantina, que ajuda na coordenação da Festividade de São Benedito, com o apoio da Angel Eventos (leia-se Prof. Álvaro do Espírito Santo). O evento aconteceu no Trópico's Restô e Eventos, ontem, 22 de dezembro de 2011.

A proposta da oficina de culinária foi incentivar a produção de pratos novos e releituras a partir da inserção de sabores e produtos da região bragantina, como mariscos e ervas, para nós já bastante conhecidos e consumidos quotidianamente, como o tucupi, o arubé entre outros. Antes da degustação dos pratos, foi apresentado um documentário de divulgação do trabalho de Ophir Oliveira no exterior e no Brasil, com ênfase à participação do nosso chef bragantino em diversos eventos e cursos pelo mundo.

A oficina foi ministrada pelo chef Ophir Oliveira e chef Fabio Scilia, que apresentaram em conjunto uma entrada chamada "Bragançinha", com tomates italianos, queijos e biju (sim, biju de Bragança!), depois uma massa com mariscos denominada "Ajuruteua" (para os atrevidos, com farinha!) e o delicioso "Peixe à Capitoa", prato de sucesso do chef Ophir. A sobremesa foi uma releitura do brownie, inventado nos Estados Unidos e que se tornou bem bragantino com o sorvete de bacuri e uma pequena dose de geleia de groselha, intitulado "Bacuriteua". Tudo estava uma delícia!

Foram homenageados personalidades da gastronomia bragantina como o Sr. Manoel “Boca de Bagre” (Ajuruetua) e a querida Dona Vitória (Restaurante Vitória), que fazem história com os seus pratos e delícias elogiadas pelos chefs presentes.

Entre os diversos convidados, dirigentes da Festividade, da Marujada de São Benedito, autoridades políticas, professores e juízes da Festividade desse ano. A grata surpresa foi reencontrar minha querida amiga Luana Sousa de Oliveira, mestre em Turismo, Juíza da Festividade de 2008 (comigo), filha de Ophir e Telma Oliveira e passar esta noite na companhia de Nazaré Freitas (titular SECULD/SETUR), Rosa Helena Oliveira (Coord. UFPA Bragança), Gilberto Oliveira (titular SEPLAN/SEGAB), Clemente Schwartz (jornal Folha do Atlântico) e Vanessa Ribeiro (rep. Dep. Simone Morgado).

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Academia de Letras e Artes de Bragança promove Exposição "Bragança, Nossa Terra, Nossa Gente"

Recebo e compartilho o convite da Academia de Letras e Artes de Bragança (ALAB) para a Exposição "Bragança, Nossa Terra, Nossa Gente" que será realizada de 23 a 30 de dezembro de 2011, no anexo do Restaurante Benquerença, localizado no Largo de São Benedito, na orla de Bragança, com horário de abertura às 20h. Participem todos! Agradeço a lembrança, o convite e os votos de Boas Festas encaminhandos, em nome do Prof. José Ribamar Gomes de Oliveira, atual presidente da Academia de Letras e Artes de Bragança.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Historiadora apresenta estudo na UFPA Bragança sobre o líder comunitário Tio Biléu e sua influência na Educação de Açaiteua, Viseu (PA)

No último dia 19 de dezembro, a Prof.ª Deuzimeire de Oliveira Costa Oliveira, historiadora (UFPA, turma 1990), minha amiga e orientanda, apresentou ao Curso de Especialização em Saberes Culturais e Educação na Amazônia (Faculdade de Educação, UFPA Bragança) a monografia “Liderança Política e a Influência na Educação: o caso do Tio Biléu em Açaiteua, Viseu (PA) no século XX” como requisito final para obtenção do título de Especialista.

Foto 1: Pedro Laurentino de Lima (Tio Biléu), aos 93 anos, na atualidade. Fonte: Acervo de pesquisa (2011)

O estudo, dividido em dois capítulos, pautou-se no recolhimento e na análise comparativa das memórias de sujeitos da localidade de Açaiteua sobre a liderança política do Sr. Pedro Lauretino de Lima, popularmente conhecido por Tio Biléu, que coordenou importantes obras que deram um novo impulso à comunidade de Açaiteua, interior do município de Viseu, entre 1946 e 2008, ano em que se afastou dos trabalhos políticos. No estudo, Deuzimeire Oliveira lançou mão de diversos autores da historiografia que se debruçam sobre os estudos da memória e da construção de fontes a partir de relatos orais.

Foto 2: Pedro Laurentino de Lima (Tio Biléu), aos 93 anos, em Açaiteua, em Viseu, concedendo entrevista à autora deste trabalho em 2011. Fonte: Acervo de pesquisa (2011)

Na defesa, Deuzimeire Oliveira teve como examinadores os professores Letícia Souto Pantoja e Francisco Pereira de Oliveira, ambos da Faculdade de Educação do Campus Universitário de Bragança e recebeu elogios pela pesquisa e pela escrita da monografia.

Açaiteua – lócus da pesquisa: Açaiteua, em Viseu (PA) tem uma formação social baseada na chegada de migrantes nordestinos vindos do Ceará, no início do século XX. Possui aproximadamente 3.900 pessoas distribuídas em 751 famílias (segundo fontes recentes). Entre os Vários significados do nome Açaiteua, Deuzimeire encontrou dois em especial, a partir do relatos de pessoas do lugar, identificando o local com “açaí em abundância” (“açaí” + “teua” = lugar que tem muito açaí) como para designar uma conversa entre indígenas com “toma teu” + “açaí” = “açaí” + “teu”).

Além disso, recolheu as características sociais e culturais da localidade, a forte presença religiosa, as relações de trabalho e econonia, as práticas culturais e a estrutura dos serviços existentes e logradouros públicos, além de personalidades (pessoas velhas).

Tio Bileú: Pedro Laurentino de Lima, ou Tio Biléu, com 93 anos (18 de janeiro de 1918), é filho de migrantes cearenses que vieram para a localidade de Açaiteua entre o final do século XIX e início do século XX em busca de melhor qualidade de vida e moradia. Entre as suas memórias, destacam-se os relatos da infância, juventude, trabalho, casamento, família, interesses pessoais e o início de sua atuação política como líder comunitário, a sua relação com aspectos da construção do lugar, do trabalho, da vida comunitária, assim como a sua vivência, seus valores e a sua memória.

Foto 3: Casa de Pedro Laurentino de Lima (Tio Biléu), na década de 1950, em Açaiteua. Fonte: Acervo de pesquisa (2011)

A trajetória política de Tio Biléu começou com o seu entrosamento na política e com as lutas políticas entre famílias do lugar, o que acabou na tomada de poder pelo grupo onde Tio Biléu participava, tornando-o “chefe do lugar”. Ele influenciou a Educação em Açaiteua com um interesse pelo crescimento da oferta do serviço educacional através de escolas, alcançando postos de trabalho para seus correligionários políticos, deixando um legado que é memória recorrente nas falas de diversos sujeitos entrevistados pela pesquisadora, como os recursos para reforma da Escola Reunida de Açaiteua, em 1978, o seu pedido para a construção da Escola Themístocles Ramos Bogéa, em 1991 e o seu relacionamento com as autoridades políticas da época. Entre as entrevistadas, estavam as professoras Julieta Reis, Maria Juvenil Leitão e Maria Aldenora Cunha que falaram sobre seu relacionamento político e de amizade com Tio Biléu.

Foto 4: O então governador Jader Barbalho com Pedro Laurentino de Lima (Tio Biléu) quando da inauguração da Escola Municipal Themístocles Ramos Bogéa, de Açaiteua, em Viseu. Fonte: Acervo de pesquisa (2011)

A pesquisa: o trabalho monográfico de Deuzimeire Oliveira se dá na interseção entre a história e a memória, a partir da história oral, por meio de relatos de Tio Biléu e de outros sujeitos da pesquisa, entrelaçando-se com fontes documentais, numa contribuição impar para a constituição de pesquisas em história do tempo presente e de história social.

Foto 5: Aspecto do prédio da Escola Themístocles Ramos Bogéa, na atualidade. Fonte: Acervo de pesquisa (2011)

Tio Biléu representou um exemplo de líder comunitário que influenciou a vida do lugar e a memória recorrente de pessoas que ainda hoje se referem a ele como uma baliza no tempo, açaiteua antes e depois de seu trabalho como líder político, mesmo com a escassez de documentos escritos.

Foto 6: Deuzimeire Oliveira e seu orientador, Prof. Dário Benedito Rodrigues.

Foto 7: Deuzimeire Oliveira entre seus examinadores, Prof.ª Letícia Pantoja e Prof. Francisco Pereira.