quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Feliz Ano Novo... 2010 chegando/chegou!

Se existe "alguém" que recebe promessas é o Ano Novo.

Sempre fazemos votos de que tudo será melhor, diferente. Fazemos muitas promessas a nós mesmos, aos outros e a Deus. Parece que tudo vai mudar no ano que vem num passe de mágica.

Mas a realidade nua e crua é: O ano é novo, mas nós continuamos os mesmos. Não é novidade para ninguém que um ano novo, um carro novo, um companheiro novo, ou uma companheira nova, não tornam ninguém novo, nem diferente. Doce ilusão, mas puro sonho! Que bom, que beleza que pode ser assim, desse jeito, sempre! Sonhar e conquistar, certamente...

Mudanças em nosso ser não dependem de calendário, mas de atitude, paciência e fé. Se magoei alguém, não é a noite da virada que trará perdão e a reconciliação, mas o pedir perdão. E isso não se anota na agenda. E eu fiz questão de não anotar isso. Mudemos, todos, agora... hoje... amanhã! Acredito nisso e confio na mudança.

A mudança de mente, operada por Deus em nós, não pode estar presa ao reveillon, ao "ano que vai nascer". Afinal, dizem que no Brasil o ano só começa depois do carnaval. Em Bragança, o Ano Novo começa com um belo presente: Jesus, dos braços de São Benedito, seja na igreja, seja nas ruas dessa velha cidade.

A mudança da vida, operada por nós em sociedade, sim, essa está presa em nós. Então procuremos imitar bons modelos e seguir bons propósitos em 2010. Seja aqui em Bragança, seja pelo mundo afora. E contemos com a nossa família, berço de nossa existência, que estão sempre ao nosso lado, na subida ou no tropeço. E com os nossos amigos, aquelas pessoas com quem dividimos as nossas vidas e cujo laço de amizade foi feito com nó cego, que nunca desamarra.

E não podemos esperar tudo isso para ter mudanças significativas em nossa vida. Temos muito a fazer, muito a transformar em nós e por nós, no mundo a nossa volta. Sem perder de vista quem nos ama de verdade (Deus, família, amigos, amores, etc.).

Então desejo a você um Feliz Ano Novo, e adeus "homem/mulher" velho/a... Mas, lembre-se, mudanças significativas podem acontecer a qualquer momento. Feliz 2010 pra você, de coração pra coração!

Dário Benedito Rodrigues & Família

Bragança vai sentir saudades de...

Josafá Matos da Silva (+09.02.2009) Bethânia Macêdo (+11.02.2009) Dr. José Maria Maia (+22.03.2009) Irmã Helga Maria (+18.05.2009) Clara Silva Martins (+21.05.2009) Osvaldo Gardunho Martins (+28.05.2009) Zelina Gonçalves (+28.05.2009) Joelson Sousa Corrêa (+08.08.2009) Irmã Meire Gomes (+21.08.2009) Paulo César da Conceição (+27.08.2009) Margarida Maria Lima (+29.08.2009) Francisco Canindé Fernandes da Rocha (+29.11.2009) Regina Sousa (+09.12.2009) Wellington Araújo (+15.12.2009) José Fernandes Corrêa da Costa (+19.12.2009) Messias Monteiro Júnior (+22.12.2009) Marcelo Oleto Júnior (+23.12.2009)

E a nossa cultura em 2009?

Encerrou-se 2009. E com ele um fim de ano cheio de muitos solavancos.
Cabe-nos refletir de forma retrospectiva sobre o que se fez por nossa cultura histórica, patrimonial e arquitetônica em desmonte durante todo esse ano que ora termina. Esperava-se mais muito mais dos gestores estaduais e municipais, assim como dos orçamentos para com a cultura e patrimônio histórico de Bragança, pelo meio aonde circulei e por todos se dizerem incontestavelmente pessoas de sensibilidade cultural e muito mais ainda responsáveis pela cultura oficial bragantina. As nossas festas populares tiveram um melhor aspecto, na medida que trouxeram de volta a recuperação da memória popular bragantina, como o Carnaval (da Nega do Time Negra e Dona Aspázia), mas pecam ainda por não ter uma identidade temática, que vá além da programação, ornamentação e publicidade ao cerne da questão cultural, que é educativa, sobremaneira. No mais, um projeto feliz foi o lançamento do cd de Júnior Soares com as cantigas e folias das comitivas de esmolação de São Benedito (praias, campos e colônias), finalizado com o magnífico "Hino a São Benedito", que ficou lindíssimo. Outro, os pontos de cultura estão aí. O Grêmio Musical Nazeazeno Ferreira e a Irmandade da Marujada de São Benedito foram conquistas importantes. E isso devemos comemorar. O que dizer então da restauração completa da imagem de São Benedito? Ficou primoroso! Lamento por algumas obras que se divulgaram sérias e tão inéditas serem publicadas e não corrigirem, mesmo em errata post scriptum, problemas sérios quanto à técnica da escrita da história, dados e fontes históricas.
A reforma da Casa da Cultura, prédio do município, nada ainda, só projeto, pelo menos. É difícil, eu sei, eu entendo, eu aceito as dificuldades, mas a situação é lamentável. E ficou só nisso, infelizmente. O prédio da prefeitura foi fechado em 31 de março de 2009, e o acervo do arquivo documental se acabando nos depósitos, sendo devorado pela traça, pelo traslado de lá pra cá e até mesmo pelo descaso.
Desde 08 de fevereiro, a primeira parte da Praça de Eventos Armando Bordallo da Silva foi concluída. E todos podem achar agora que a obra está completa, mesmo ainda não retomada. O povo bragantino parece se acostumar com isso.
Em algumas oportunidades, a memória da cidade foi jogada ao relento, como a Escola Monsenhor Mâncio Ribeiro, que pode não restar peça em madeira alguma para refazer aquilo que se perdeu, apesar dos justos e silenciosos protestos dos alunos da querida escola, que jaz num prédio igualmente aos pedaços no bairro do Riozinho.
Apesar de todos os esforços desse governo municipal, os prédios incluídos nos decretos de tombamento de patrimônio histórico de Bragança, que poderiam ser mais respeitados, não o foram por completo. Nenhuma providência séria foi tomada contra a continuação da dilapidação gradativa da casa da família de Raymundo Nazeazeno Ferreira, não por falta de orientação, de trabalho educativo, de legislação específica e fiscalização por parte da prefeitura, mas por punição mesmo.
Em Bragança, não se criou ainda uma política cultural participativa, mas sim uma “cultura política”. Todos devem participar! Eu percebo que não foi ainda sequer cumpridos pontos fundamentais para o registro da cultura, como o Plano Diretor nessa área. Os artistas e as entidades culturais foram chamados, alguns foram ouvidos, outros nem fizeram questão de participar, lamentavelmente. Mas nada de gestão democrática... ainda. Aguardamos para ver em 2010, ano de eleições...
O fundo municipal de cultura não existe de fato, só de retórica e suposição, para que os artistas e grupos pudessem ter seus projetos financiados, sem precisar mendigar de pires na mão e sem apadrinhamentos políticos. As promessas de construir, de reformar, de criar um arquivo público municipal, entre tantas outras foram apenas promessas que não saíram do papel, mesmo com a insistência de tantos setores do próprio governo, como o que eu fiz parte. E ainda, não se pode falar muita coisa, para não causar melindres em alguns. O prédio identitário que foi a residência de José Paulino dos Santos Mártyres e depois sede da ACREB e da Fundação Cultural Bragantina tem uma memória, mas pode virar Casa da Juventude. Nada contra a juventude, de forma alguma, mas tudo em favor da história que aquelas paredes abrigaram. Nenhum programa inovador, no sentido de sua consistência, se teve para servir a uma cidade de tradição cultural. Alguns destaques vieram à tona. Infelizmente a cada tempo que passa parece que as coisas tem piorado... e quem vem salvando a cultura de Bragança são justamente os grupos e artistas que divulgam o nome de nossa terra e realizam coisas brilhantes em favor da nossa arte e da nossa gente. Exemplo disso são as gincanas culturais (algumas delas religiosas e escolares), que demonstram certo nível de discussão cultural sobre Bragança. Nenhuma obra literária de peso foi publicada como acervo documental ou cartilha para auxiliar os/as nossos/as professores/as.
Graças a uma iniciativa do governo federal, a 1ª Conferência Municipal de Cultura de Bragança foi realizada, sem uma participação tão grande, já que muitos grupos e entidades não acreditam nessa estratégia de controle social e de definição de políticas. Veremos se as metas e proposições aprovadas serão ao menos indicadas no Orçamento.
A Semana da Pátria foi bacana. O aniversário da cidade, nem tanto. Virou festa política. O Mirante de São Benedito quase não ficou pronto, pelas chuvas. Mas bem que a imagem poderia ficar um tantinho mais bem feita. O Festival de Música da Associação Cultura Musical Bragantina foi de excelente nível, mas parte da população ainda não gosta e nem está habituada à boa música. Infelizmente!
Os sites de Bragança deram um show à parte. Cobriram indistintamente vários eventos sociais e culturais e por isso merecem uma menção respeitosa e que se congratule com as pessoas que os coordenam, sem disputas nem predileções, mas felicitações. Mas uma coisa é de suma importância. Bragança terá, se Deus quiser e São Benedito der aquela força, o melhor PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) das Cidades Históricas, elaborado por outra secretaria, em boa hora, para dar uma organização, uma oxigenada e apontar um rumo. Talvez este seja um projeto que sabe dialogar com a memória da cidade, com as pessoas, com os que pensam a cultura e a história, além de estar aberto para recuperar Bragança, ouvindo sugestões e críticas diagnósticas. Desejo que o PAC Cidades Históricas possa ser realizado totalmente para enfrentar os desafios de gerir uma cidade tão grande, complexa e culturalmente privilegiada como Bragança. Se ele conseguir desmanchar o clima de politicagem e de partidarismo, que tomou conta de vários órgãos e fizer um terço do que se propõe, terá cumprido uma missão importante e será aplaudido. O Curso de História (regular) da UFPA é uma conquista real, que vai ajudar a pensar a cultura e melhorar as pesquisas sobre História local. Isso é fato!
De forma alguma estou afirmando verdades incontestáveis, apenas expondo meus pontos de vista. Quiçá possam servir a muitos para a reflexão e tomada de atitude, pois o que a cultura de Bragança precisa em 2010 é de atitude. Como a de ser, plenamente, uma política pública, com status de secretaria própria e com recursos para gerenciar e realizar.
Atitude, por exemplo, para coibir a cultura da exorbitância dos volumes em carros-som que passam das sete às sete, sem respeitar o povo, escolas, igrejas, templos, ou de ter a liberdade de denunciar isso e saber que os veremos sentir o peso da lei. Quem dera!
E ainda, tem cara na mídia (?) que deveria apurar melhor os fatos e não apenas repetir mentiras, fofocas ou boatos, ainda mais quando usa de coisas de ordem pessoal para tentar atacar pessoas por aí, sem ouvi-las e ainda dar de ombros e/ou fingir depois que nada aconteceu. Ou ainda dos que se dizem amar Bragança, defendê-la, divulgá-la, mas usam a cultura bragantina agora como seu palco pessoal. Não queremos mais esse tipo de cultura fechada em micro círculos, mas ampla, irrestrita, do povo, sem deixar de ter bom senso, gosto, cheiro e cor do povo bragantino.
Esse pensamento não faz parte da natureza cultural do povo bragantino e por respeito não o comentarei nem o utilizarei em nenhum outro argumento. Por isso posso dizer com tranquilidade que sou apenas uma voz, não a voz. Quero ser apenas mais um responsável e mais um a se comprometer, mesmo agora no âmbito federal, com a história da minha cidade. Não precisei de "jeitinho" nem de "empurrãozinho". E estou dando, assim como muitos, atenção redobrada e contribuição honesta à história da minha querida Bragança, já que meu cordão umbilical está aqui. Não esqueço disso.
E como diria um amigo meu, de longe e de longas datas, "vermes não fazem história, apenas são pisoteados por ela". Depois, quem sabe, eu conte o resto.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Nossa grande missão: viver!

Há horas em nossa vida que somos tomados por uma enorme sensação de inutilidade, de vazio. Questionamos o porquê de nossa existência e nada parece fazer sentido. Concentramos nossa atenção no lado mais cruel da vida, aquele que é implacável e a todos afeta indistintamente: As perdas do ser humano.

Ao nascer, perdemos o aconchego, a segurança e a proteção do útero. Estamos, a partir de então, por nossa conta. Sozinhos. Começamos a vida em perda e nela continuamos.

Paradoxalmente, no momento em que perdemos algo, outras possibilidades nos surgem. Ao perdermos o aconchego do útero, ganhamos os braços do mundo. Ele nos acolhe: nos encanta e nos assusta, nos eleva e nos destrói. E continuamos a perder e seguimos a ganhar.

Perdemos primeiro a inocência da infância. A confiança absoluta na mão que segura nossa mão, a coragem de andar na bicicleta sem rodinhas porque alguém ao nosso lado nos assegura que não nos deixará cair... E ao perdê-la, adquirimos a capacidade de questionar. Por quê? Perguntamos a todos e de tudo. Abrimos portas para um novo mundo e fechamos janelas, irremediavelmente deixadas para trás.

Estamos crescendo. Nascer, crescer, adolescer, amadurecer, envelhecer, morrer.

Vamos perdendo aos poucos alguns direitos e conquistando outros. Perdemos o direito de poder chorar bem alto, aos gritos mesmo, quando algo nos é tomado contra a vontade. Perdemos o direito de dizer absolutamente tudo que nos passa pela cabeça sem medo de causar melindres.

Receamos dar risadas escandalosamente com a maior naturalidade do mundo e ainda falar bem alto sobre o assunto. Estamos crescidos e nos ensinam que não devemos ser tão sinceros. E aprendemos. E vamos adolescendo, ganhamos peso, ganhamos seios, ganhamos pelos, ganhamos altura, ganhamos o mundo.

Neste ponto, vivemos em grande conflito. O mundo todo nos parece inadequado aos nossos sonhos ah! Os sonhos! Ganhamos muitos sonhos. Sonhamos dormindo, sonhamos acordados, sonhamos o tempo todo.

Aí, de repente, caímos na real! Estamos amadurecendo, todos nos admiram. Tornamo-nos equilibrados, contidos, ponderados. Perdemos a espontaneidade. Passamos a utilizar o raciocínio, a razão acima de tudo. Mas não é justamente essa a condição que nos coloca acima dos outros animais? A racionalidade, a capacidade de organizar nossas ações de modo lógico e racionalmente planejado?

E continuamos amadurecendo, ganhamos um carro novo, um companheiro, ganhamos um diploma. E desgraçadamente perdemos o direito de gargalhar, de andar descalço, tomar banho de chuva, lamber os dedos e soltar pum sem querer.

Mas perdemos peso! Já não pulamos mais no pescoço de quem amamos e tascamos-lhe aquele beijo estalado, mas apertamos as mãos de todos, ganhamos novos amigos, ganhamos um bom salário, ganhamos reconhecimento, honrarias, títulos honorários e a chave da cidade. E assim, vamos ganhando tempo, enquanto envelhecemos.

De repente percebemos que ganhamos algumas rugas, algumas dores nas costas (ou nas pernas), ganhamos celulite, estrias, ganhamos peso. e perdemos cabelos. Nos damos conta que perdemos também o brilho no olhar, esquecemos os nossos sonhos, deixamos de sorrir. perdemos a esperança. Estamos envelhecendo.

Não podemos deixar pra fazer algo quando estivermos morrendo. Afinal, quem nos garante que haverá mesmo um renascer, exceto aquele que se faz em vida, pelo perdão a si próprio, pelo compreender que as perdas fazem parte, mas que apesar delas, o sol continua brilhando e felizmente chove de vez em quando, que a primavera sempre chega após o inverno, que necessita do outono que o antecede.

Que a gente cresça e não envelheça simplesmente. Que tenhamos dores nas costas e alguém que as massageie. Que tenhamos rugas e boas lembranças. Que tenhamos juízo mas mantenhamos o bom humor e um pouco de ousadia. Que sejamos racionais, mas lutemos por nossos sonhos. E, principalmente, que não digamos apenas eu te amo, mas ajamos de modo que aqueles a quem amamos, sintam-se amados mais do que saibam-se amados.

Afinal, o que é o tempo? Não é nada em relação a nossa grande missão.

E que missão! Fiquemos em Paz! Para sempre.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Homilia de Padre Nelson Magalhães na chegada da Procissão de São Benedito em 26.12.2009

Assista o vídeo.

Antiga festa popular paraense em louvor a São Benedito vira patrimônio cultural

Texto reproduzido na íntegra de http://www.pa.gov.br/, da Secretaria de Comunicação do Governo do Estado, de 24.12.2009, 12h13.
Bragança tem mais um motivo para comemorar a Marujada, este ano. A governadora Ana Júlia Carepa assinou, no dia 5 de dezembro, o decreto que estabelece a tradicional festividade de São Benedito como patrimônio cultural do povo paraense. Festa com 210 anos de tradição, a Marujada guarda consigo espetáculos emocionantes. As comemorações ocorrem nos dias 25 e 26 de dezembro, no município de Bragança, região do Rio Caeté.
A festividade envolve todos os quase 110 mil habitantes da cidade, além dos que chegam dos municípios vizinhos e outros visitantes. Dezembro é considerado pelos empresários e comerciantes da região como o mês da grande temporada. Entretanto, os preparativos começam oito meses antes, quando os fiéis (esmoleiros) se preparam para a festividade. Eles recolhem donativos dos devotos do santo em localidades próximas do território do município, que mede 2.033 quilômetros de extensão.

Cada grupo é formado por 14 homens, muitos deles com promessa a pagar. Os esmoleiros viajam a pé o tempo inteiro, consolados pela força e pela fé do grupo, reforçada pela companhia de uma imagem do Santo Preto (como também é chamado), que cada grupo carrega. Cada casa que recebe a imagem tem direito a uma ladainha em homenagem ao santo, cantada e tocada pelo grupo. A família oferece almoço, jantar ou lanche aos esmoleiros, que ficam hospedados na casa.

Os festejos da Marujada continuam nos dias 31 de dezembro e 1º de janeiro, quando juiz e juíza passam o bastão para os novos promesseiros, que ficam inscritos numa lista de espera como pretendentes ao cargo até 2017. Um dos eventos mais concorridos da festividade é a Cavalhada, que ocorre na tarde do dia 25.

Restauração - Este ano, a imagem de São Benedito passou por um processo de restauro que durou sete meses e envolveu oito profissionais da equipe do Sistema Integrado de Museus e Memoriais (SIM) da Secretaria de Estado de Cultura (Secult). A equipe é a mesma que participou da restauração das peças da Catedral Metropolitana de Belém, inaugurada no dia 1º de setembro deste ano.

Durante os festejos do dia 29 de novembro de 2009, em homenagem a São Benedito, a imagem seguiu pelas principais ruas de Bragança. Em cima do carro de Bombeiros, por onde passou, o santo foi saudado e emocionou a multidão que aguardava por suas bênçãos em cada esquina. Todos queriam observar o resultado do restauro da imagem.

História - A data de 3 de setembro de 1798 marca a fundação da Irmandade de São Benedito. Para o historiador Dário Benedito Rodrigues, entretanto, a Marujada pode ter iniciado antes dessa data. A irmandade começou com 14 irmãos escravos, que no dia de Natal eram dispensados de suas obrigações pelos seus senhores e podiam fazer a festa. Nesse dia, eles recebiam dos senhores as sobras dos banquetes de Natal e ficavam livres para cantar, rezar e orar pelo santo de sua devoção.

São Benedito é considerado o santo mais popular entre todos e é conhecido como "Santo dos Pobres". Além do culto ao santo preto, os 14 irmãos decidiram que fundariam uma igreja para São Benedito. Foi assim começou o movimento de esmolação. Segundo Dário Rodrigues, eles chamavam esse processo de "arrecadação de joias", uma expressão simbólica para os donativos.

Na história também há informação de que a igreja construída pela irmandade para ser de São Benedito era a que é hoje a de Nossa Senhora do Rosário. E que a matriz, de Nossa Senhora do Rosário, ficou de 1753 a 1872, na igreja de São Benedito. Os historiadores falam de uma troca, que teria sido feita sem conflitos, ou seja, de comum acordo entre a igreja católica e os membros da irmandade de São Benedito.

Os elementos da tradição se mantém originais na Marujada, entre eles as danças, os pés descalços, os almoços ofertados por quem está em posição de destaque na hierarquia, como no início, em que o almoço da festa era doado pelos senhores aos escravos. A esmolação, hoje, continua, mas não com a mesma finalidade de construir igreja e, sim, de garantir a festividade, a homenagem e o agradecimento a São Benedito.

Secom

Uma tradição cultural que muda a cara de uma cidade

Texto reproduzido na íntegra de www.pa.gov.br, da Secretaria de Comunicação do Governo do Estado do Pará, de 26.12.2008, 19h59

Ao amanhecer no dia 26 de dezembro na Pérola do Caeté, das casas e ruas de todas as comunidades dessa bela cidade, no nordeste paraense, na região Caeté, saem pelo menos uma maruja ou um marujo de cada família para agradecer e homenagear São Benedito de Bragança. É assim mesmo que o Santo é conhecido, como também é reconhecido o co-padroeiro dos bragantinos, ao lado de Nossa Senhora do Rosário.

Este é o grande dia de São Benedito, para quem nasceu em Bragança ou se tornou bragantino no tempo. São 210 romarias ao longo da história como canta uma música em louvor ao “Santo Preto”, que teria chagado na cidade pelas águas do rio Caeté, também como reza a cultura musical e religiosa local.

O vermelho e o branco das indumentárias de marujas e marujos colorem as ruas nas caminhadas e romaria, e no barracão, na hora dos bailes ao som de rabecas, banjos e tambores. Instrumentos que embalam as gingas das danças ao ritmo do retumbão, chorado, mazurca, xote, lundu e roda. “Todos os caminhos levam a São Benedito”, como disse um bragantino modesto, que prefere o anonimato.

O dia começa com um café da manhã na casa do presidente da marujada. Em seguida marujas e marujos vão buscar juíza e juiz, nas casas deles, e seguem para a missa, na igreja de são Benedito.

Da igreja para o barracão, da louvação ao retumbão, sempre com São Benedito no coração e pés descalços. Rima fácil, pobre, simples, mas capaz de narrar a profundidade expressiva dessa cultura original bicentenária, iniciada pelos escravos e mantida por descendentes e aderentes brancos, pardos e mestiços promesseiros e encantados.

O orgulho se reflete no brilho dos olhos, rostos e vozes, sorrisos e gestos. Falar sobre essa cultura para um bragantino é um prazer. Muita história existe pra contar e ouvir, a respeito da marujada, o lado profano da festividade.

A irmandade de São Benedito de Bragança foi fundada em 03 de setembro de 1798, como conta o professor e historiador Dário Benedito Rodrigues, consertando com palavras um erro histórico impresso em uma plaqueta na fachada da igreja, onde se lê a data “18 de dezembro de 1798”.

Dário é ainda o juiz da marujada (2008), cargo anual conquistado por promessa após a espera em longa lista e que tem como devoção participar de toda a programação e ofertar almoço para marujas e marujos. A mesma obrigação da juíza, a jovem mestranda em Turismo Luana de Sousa Oliveira, que ofereceu almoço no dia 26 (2008).

Antes da comida, Luana agradeceu aos familiares o apoio a sua missão e à imprensa, governo do Estado e ao município pelo apoio ao evento e ainda pediu aos devotos de São Benedito que lutem “sempre” pela manutenção da tradição. “Independente de conflitos políticos e religiosos, devemos todos lutar por esta cultura maravilhosa”, resumiu.

A juíza e o juiz passam o bastão no primeiro dia do ano. “A Luana é filha de uma promessa”, comentou o pai, o chefe de cozinha e artista plástico Ofir Oliveira que está com 19 telas sobre óleo em exposição em Bragança. Segundo Ofir, um compadre fez a promessa ao Santo para que a esposa dele engravidasse. E após o tempo certo, nasceu Luana, orgulhosa defensora da marujada e da festividade de São Benedito.

Além das autoridades de juiz e juíza, na marujada também existem os cargos de capitão para os marujos e capitoa para as marujas. Esses cargos são vitalícios, mas são constituídos após eleição em assembléia da irmandade. Uma vez constituídos somente a morte para abrir eleição.

Teodoro Fernandes Ribeiro, como diz, não pode mais fazer o que fazia, passou seu cargo para o vice, José Maria Santiago da Silva, de 52 anos. Teodoro foi quem solicitou sua substituição, já está com 95 anos. “Sempre trabalhei com a diplomacia, quando alguém chegava queimado (bebido) pedia para se acalmar ou se afastar, para não apalhaçar (expressão dele) a brincadeira”, afirmou.

José Silva fala das dificuldades em comandar os marujos. “Para uns somos boas pessoas, para outros somos antipáticos”, declara, explicando que por ser a marujada a parte profana da festa, muitos querem dançar e outros se esbaldar e extrapolam, fazendo “besteira”. Segundo ele, o capitão tem que controlar e harmonizar o grupo, para não prejudicar a marujada. “Essa festa bonita deve ser mantida com irmandade, pois como diz o ditado, boi solto se lambe todo”, ensina.

Aracilda Corrêa, 62, é a capitoa. Ela está radiante porque recebeu a notícia que em 2009 vai ganhar perna nova, uma prótese a ser adquirida com dinheiro da venda das telas de Ofir Oliveira, em torno de R$ 3 mil, como disse o artista. Diabética, Aracilda perdeu a perna esquerda após picada de inseto. Sua perna foi amputada dia 8 de setembro de 2007. Há quatro anos foi eleita capitoa.

Conta ela que achou bonita a marujada após uma “olhada na dança no barracão”, quando tinha 28 anos. Assumiu a posto de vice-capitoa aos 35 anos, graças a sua performance no salão e devoção à irmandade. Assumiu o posto de capitoa após a morte da capitoa anterior.

Romaria – A festividade de São Benedito de Bragança é gigante. A procissão é uma das mais belas demonstrações de fé do povo paraense. A Polícia Militar estimou que este ano cerca de 40 mil pessoas, a maioria absoluta vestida de maruja e marujo, acompanharam o cortejo do festejado Santo Preto, por várias ruas da cidade. A roupa vermelha e branca dominou a cena. “Quem nunca viu tem que vê, é impressionante”, comentou um turista apressado.

Entre as pessoas ilustres, estiveram no cortejo, o secretário de Estado de Cultura, Edílson Moura, a secretária de Estado de Desenvolvimento Urbano e Regional, Suely Oliveira e a diretora-geral da Escola de Governo do Estado do Pará, Edilza Fontes. Quem também visitou Bragança paraense pela primeira vez foi o prefeito de Bragança de Portugal, Antônio Jorge Nunes.

O prefeito se mostrou feliz e não resistiu, caiu na dança com as marujas no Teatro Museu da Marujada. Foi o primeiro natal longe da família. Aceitou o convite do prefeito paraense, Edson Oliveira, após já ter conhecimento de Bragança por informações da jornalista paraense Anete Ferreira e da professora da Universidade Federal do Pará, Nazaré Paz de Carvalho. “Vim conhecer um povo irmão e encontrei uma grande família”, comentou sorridente.

Nunes comentou que em Bragança, no seu país, existem festas tradicionais seculares, com características similares, com trajes ricos em cores, cantos e instrumentos tradicionais, como a gaita de fole. “O importante é conhecer o diferente”, ressaltou, dizendo que convidou Edson Oliveira para visitar sua Bragança, na terceira semana de fevereiro. Antônio Nunes está em seu terceiro mandato na prefeitura de Bragança portuguesa.

A agente administrativa, Marli Matos, aceitou o convite de uma prima bragantina após manifestar curiosidade e não pensou duas vezes, comprou a indumentária e se vestiu à caráter de maruja. “Fiquei encantada com a fé, devoção e com a multidão, é maravilhoso, fui cativada para sempre”, ratificou.

Por Lázaro Araújo / Secom

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Nosso São Benedito glorioso

Feições fechadas de olhares cerrados, lacrimosos, em rostos de pele negra e morena, com roupas multicoloridas e chapéus turbantes de penas e adornados com fitas esvoaçantes de vários tamanhos e matizes, ao som de tambores “negróides” do lundu. Marujos e marujas caracterizados para reavivar suas memórias marcadas pela fundação da sua irmandade, a do Glorioso São Benedito de Bragança, em 03 de setembro de 1798. Filhas de uma tradição medieval européia, essa irmandades objetivavam o culto e a devoção coletiva a algum santo católico, organizando grupos de “irmãos” em celebrações e festas, além de construírem vários templos religiosos, reunindo em seus quadros elementos étnicos, pobres, caboclos das praias, campos e vilas, que viam nelas uma oportunidade de lazer e liberdade. O dia de trabalho era trocado pela noite num ambiente de congraçamento, com festança que ia até o raiar das primeiras luzes do dia, provavelmente o 26 de dezembro, na Vila de Bragança, nordeste da Província do Grão-Pará, que despontava no cenário provincial paraense como um pólo abastecedor de matérias-primas até para a capital do Estado. Na sombra de quase dezesseis horas da tarde, a efígie de São Benedito, amarrada com fitas vermelhas e num andor todo ornado com flores naturais e com muito verde, saía em solene procissão à brisa do vento vindo do rio Caeté, entre cantos e palmas, fogos e rufar de sons típicos da época para mais um espetáculo de fé. Muitos se acotovelavam para carregar a dita imagem nos ombros: a de um negro, frei franciscano, de aproximadamente setenta centímetros, carregando um menino branco, em resplendores, alfaias e coroas de prata, vestido como pequeno rei. Em suas mãos, de um lado, a imagem ostenta um pão, do outro o próprio menino. A ordenação do passeio vespertino, na festividade e naquela tarde, eram definidas pela ordem da própria procissão, presença do Clero, indumentária característica e ritos mais ligados a uma tradição popular leiga, como nos cantos, nas danças e nos gestos, um ambiente onde exala o sagrado como cheiro característico de seu povo. Essa religiosidade popular amazônica é um fenômeno que acontece em quase todas as cidades interioranas do Pará. É um tempo em que essa cidades se agitam, se enfeitam, o povo regozija, os devotos chegam, enfim, a rotina diária é alterada com muita satisfação por aqueles que vêem na festa religiosa um momento de religiosidade e de descontração. Essa delimitação no mundo da Festividade de São Benedito, em Bragança, parecia comportar dois espaços diferentes e integrados na mesma identidade cristã, aí compreendidos entre os conceitos de popular e eclesiástico, como um caráter particular na história desta manifestação. Em nossa cultura há uma ambigüidade fundamental: a de sermos um povo latino, de herança cultural européia, mas etnicamente mestiço, situado no trópico, influenciado por culturas primitivas, ameríndias e africanas . Esta ambigüidade se insurge em outra articulação, que sob o ponto de vista da História, considere o folclore acerca do culto a São Benedito algo tão popular ou realmente espontâneo, quase natural. Nessas ocasiões festivas vemos os vários trabalhadores, sujeitos transeuntes, que folgam ou mudam seus horários quotidianos para homenagear o padroeiro, batucar, conversar, rezar, dançar e também louvar o seu Deus em motivações da reza cantada em latim arcaico, um mundo mais em sintonia do que em contraste, que revela a influência entre as religiões dos povos indígenas (na figura do caboclo) e do cristianismo (introduzido pelos portugueses e brancos), um exemplo de cultura popular. O argumento que mais chama a atenção é observarmos de forma itinerante e participante o culto popular que se insere nos casos, não tão raros, de santos “canonizados” pelo povo, em geral, mais humilde e empobrecido. Essas variáveis vemos em Bragança: a formalização das promessas, o banquete, os fogos, as ofertas de ex-votos, as disputas, os lugares, as pessoas e sua satisfação em entender-se dentro de um contexto onde o milagre dita o rumo da vida. Nisso, buscamos as origens de São Benedito, muito ligada à história de sua devoção na Igreja Católica, como trabalhador, filho de escravos, experimentando a pobreza, milagroso em favor dos humildes e empobrecidos. É latente a identificação da história de vida do frei franciscano com a do povo, como entrar no centro da devoção para com São Benedito, e traduzir, de um modo útil e duradouro nossa própria devoção. Neste caso em particular é bom recordar que os santos negros, chamados santos da escravidão, contribuíram para amenizar a consciência da espoliação sem embotar a consciência da liberdade dos escravizados, como Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, cultos espalhados pelos recônditos rurais e urbanos do Sudeste do Brasil . Esse fato explica a intensidade de seu culto em São Paulo e Minas Gerais no século XIX, mesmo com a sua posterior carnavalização, costume que só agora declina e não acompanha o apogeu da mestiçagem em que se vive. O certo é que em muitas cidades São Benedito tomou o seu lugar diante do povo e da vida do povo. Um lugar de cidadão, um lugar de “gente da gente”, como ocorreu em Bragança , com o feriado e legislação pertinente que apóia e justifica o culto. Outra informação parece factível de análise. A questão dos milagres citados por muitos dos seus devotos. A figura de São Benedito é como que um monumento erguido por seus milagres , que mais parecem lendas ou mitos, sem uma regra ou modelo de entendimento, como fatos dogmáticos, mas sempre abundante entre pobres e desvalidos socialmente. É no milagre que o devoto revive o sublime e a ligação afetiva com o santo, uma união quase familiar. E o povo alcança dele suas graças e milagres. Como informação, três anos após a morte de frei Benedito, o Tribunal Eclesiástico responsável por seu processo de beatificação já contabilizava 27 milagres atribuídos ao frei negro. A devoção à intercessão a São Benedito espalhou-se e formou-se de tal modo que em 1743 o Papa Bento XIV autorizou seu culto público, fato extraordinário já que a Igreja não permite essa prática sem provas santificadoras. Em 1807, duzentos e dezoito anos depois de sua morte, Pio VII o canonizou depois de o povo tê-lo feito. Sua vida e milagres tão excepcionais e admiráveis pareciam alegorias e atributos da devoção que o atribuiriam anos mais tarde. O culto a São Benedito chegou às margens e cercanias através pelas mãos do povo. No Brasil, São Benedito obteve imediata aceitação, uma vez identificado com os negros escravos necessitados de socorro e consolação. Santo de pai africanos, tinha na Itália fama de taumaturgo, fama que chegou às senzalas. Mesmo antes de morrer e de ser canonizado, já era grande essa devoção . Cedo tornou-se santo milagroso e glorioso dos negros, também dos brancos, também dos mestiços, também nosso. Zito Cezar (Pereira) descreveu em seu Sinopse como as pessoas comuns e vários senhores bem-nascidos acorreram aos quadros desta Irmandade bragantina, dando até mais importância ao Santo Negro do que a já aprovada padroeira de Bragança, Nossa Senhora do Rosário, já que Dom Miguel de Bulhões, da ordem religiosa dos dominicanos, tinha grande devoção a esse título de Maria, sugerindo a freguesia que o escolhesse como onomástico da posterior paróquia e até 1754, com a elevação do povoado à categoria de Vila. Esse ensaio, em particular, tenta interpretar um mundo em torno do culto a São Benedito, presente em Bragança, num ambiente de cultura pulsante. Pensando numa abordagem mais ampla, o que nos encanta é a sinceridade de quem vive essa devoção como parte central de um movimentado dia-a-dia amazônico. Neste espaço plural – popular e oficial –, o povo reinventa o sagrado, onde em nome de São Benedito, a vida flui, o ethos, a visão de mundo. Isso desde a chegada da pequenina imagem de madeira talhada a um tempo de enorme significado. O santo que vem das águas, fator de grande influência na história da Amazônia exige de nós uma percepção e a re-elaboração do sagrado em nossas próprias vida de penitentes: uma fé que nos remodela e cristianiza, numa cultura popular de sentimento, de resistência e de atualização, no terreno que começou conflituoso e virou palco de lutas e identificação: a escravidão. A visão do historiador passa a versar o/sobre passado, num conceito de termos, nós todos, o costume em comum , o marco identificador de nossa integração a São Benedito glorioso, nobilíssimo membro de nossas comunidades: famílias, empresas, cozinhas, escolas, altares, sempre ligado à vida dos populares, onde há sons, sinos, barulho de povo, um burburinho de gente, um cheiro de terra pisada a pés descalços. O santo agigantou-se na geografia de Bragança, que nestes mais de dois séculos ainda influencia, emociona e percorre três regiões distintas e cheias de devotos, desde a forma que toma o trânsito até a maneira de existir do bragantino. São Benedito participa da vida do povo de Bragança, no Pará, como seu amigo ilustre e fiel intercessor: o santo de nossa devoção. O catolicismo como religião do povo foi também o espaço das manifestações culturais intrínsecas na vida desse povo religioso. Tantas vezes a exteriorização dessas devoções ganhou caráter especial, reforçando a vida comunitária, baseada na fé católica, a esperança desse povo interiorano. Falar de catolicismo popular é buscar entender o jeito que o povo encontrou, mesmo perto das cúrias quase inexistentes, para perseverar na fé ou para vivenciar seus rituais, mesmo desconsertando a moral exigida no exercício de funções especiais, como a que significava ser Juiz de São Benedito. No que se refere a sua organização econômica, as irmandades possuíam várias fontes de renda: taxas de admissão, contribuições dos oficiais das festas, as esmolas que eram pedidas por irmãos devidamente autorizados, os anuais, as doações dos benfeitores, os aluguéis de propriedades e de terras, os leilões de víveres e animais, etc. Era preciso também controlar quem administraria todos esses bens e recursos materiais. Não só pela situação de estarem bem próximo de construírem sua própria igreja, mas também de contar com o apoio da autoridade do clero. A construção de prédios bem equipados e ornamentados, revela a importância das igrejas para os negros e para as irmandades, enquanto símbolo de prestígio e espaço de vivência religiosa e social disputado em Bragança pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e pela IGSBB. Quanto ao templo, sua troca foi efetivada em 1872 , doze anos antes do início do processo em que nos debruçamos. As festas religiosas, os pomposos funerais, o socorro aos irmãos mais necessitados também eram indicativos da habilidade das irmandades para gerenciar os seus bens. Para isso cercavam-se de vários cuidados e estabeleciam várias normas para regular a atividade do tesoureiro e do procurador, como encontramos nas páginas do segundo Compromisso da IGSBB. O que também chama a atenção é que dentro da IGSBB, os negros, quer libertos, quer cativos, não podiam exercer liderança nos cargos dispostos pelos estatutos (em todos os dois compromissos, tanto o de 1798 quanto o de 1853) tomando parte apenas nas deliberações como integrantes. Os escravos e ex-escravos sempre estavam associados a algum tipo de serviço interno (andadores, rezadores, esmoladores, sacristãos) seja para a Irmandade, seja para a parte religiosa da festa, sem direcionar os rumos da confraria, a mando dos Juizes e Juízas, cargos de maior preponderância. Já foi dito que uma das principais tarefas do historiador é desfazer as teias do silêncio. É dar um sopro vital a sujeitos e vozes de um passado encoberto pelas tramas secretas e artimanhas da história. É não deixar que estes sujeitos se transformem em simulacros de deuses mortos, objetos de um futuro incerto que os reservam apenas o lugar do excêntrico.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Falecimento de Marcelo Oleto Júnior (+23.12.2009)

Cumpro o dever de comunicar a todos do falecimento do jovem Marcelo Oleto Júnior (*02.06.1988; +23.12.2009), filho do casal amigo e meus compadres Marcelo Oleto e Leila Rotterdan Oleto, irmão de Odilardo Neto e Nathalia Rotterdan, tio de Yasmin e Julius, ocorrido em Belém/PA na tarde dessa quarta-feira. Marcelo foi meu aluno particular de História na preparação para o Vestibular da Universidade Federal do Pará, onde obteve aprovação no Curso de Medicina na turma de 2008, nos trazendo grande orgulho e felicidade. De uma família amiga, Marcelo sempre demonstrou zelo e cuidado com a sua família, além de um exemplo de filho e irmão. Na sua jornada como estudante, sempre tão zeloso, cuidadoso, aplicado, exigente consigo mesmo e esforçado. Com os amigos, a serenidade, a timidez, mas o sorriso e a palavra amiga e incentivadora. De jeito tranquilo e ao mesmo tempo radiante, Marcelo Jr. cativou amigos entre vários círculos sociais e acadêmicos. Isso vai nos causar uma grande saudade. Era o meu 3º aluno a se tornar estudante de Medicina. E ainda meu companheiro de academia, quando nos encontrávamos com tempo para essa prática. Me encontro sofrido e extremamente triste pela sua perda tão repentina. Mas confio na misericórdia de nosso Deus, na salvação encontrada em Jesus pelo Espírito Santo e no conforto nos braços de Maria Santíssima, nossa Mãe. Um abraço à família, com nossos votos de condolências nesse momento de dor e perda irreparável. Vá em paz. Rezaremos por você. Lembraremos sempre de você. Do amigo, professor e admirador...

Feliz Natal de verdade!

Viver o Natal necessariamente não significa apegar-se às compras de fim de ano e dar ênfase demais ao comércio e aos produtos que aparecem nas propagandas. Deve-se lembrar de que a festa do Natal é a festa do aniversário de Jesus. Basta? Não! É preciso fazer com que a festa seja solidária, fazendo o bem aos demais seres humanos que nos rodeiam, amenizando a dor e o sofrimento de quem estiver ao nosso alcance. Por certo, algumas palavras nesse dia serão repetidas em nosso vocabulário, como "Feliz Natal" especialmente na troca de presentes, mas diga de coração para o mundo inteiro ouvir... Feliz Natal de verdade!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Falecimento de Manoel Messias da Cruz Monteiro Júnior

Comunico do falecimento do aluno Manoel Messias da Cruz Monteiro Júnior (*08.07.1990 / + 22.12.2009), ocorrido ontem, às 16h20, em Belém/PA. Seu velório será no Centro São José, no bairro do Morro e o sepultamento na Comunidade de Santo Antônio dos Monteiros, às 16h. Nós, amigos e companheiros consternados, nos solidarizamos com a dor de sua família, escola e LEO Clube de Bragança.
Prof. Dário Benedito Rodrigues, professor e companheiro LEO.