sábado, 9 de outubro de 2010

Matéria sobre a Festa da Chiquita no Diário do Pará

Sábado, 09/10/2010, 03h03

Festa da Chiquita: tradição e polêmica se renovam

A Festa da Chiquita nunca se importou de chamar a atenção. Evento símbolo do orgulho gay em Belém desde a década de 1970, o evento levava às ruas intelectuais, boêmios e homossexuais, em celebração ao lado profano do Círio. Homens travestidos e a entrega do prêmio “Veado de Ouro” ao homossexual mais atuante da cidade davam o tom da festa que crescia a revelia do maior evento católico do país. Atualmente, a Chiquita se firma como um mega-espetáculo que atrai anualmente cerca de 40 mil pessoas, de acordo com os organizadores. Acabou entrando para história como uma das mais irreverentes celebrações do calendário religioso brasileiro. Em 2004, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) incluiu a Festa da Chiquita no processo de tombamento do Círio como patrimônio imaterial da humanidade.

Mas o escracho não poderia passar incólume. Na manhã da ultima quinta-feira (7), durante a montagem do palco da festa que há 31 anos ocupa a Rua da Paz - via de acesso ao Bar do Parque e ao Theatro da Paz, na Praça da República - a Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb) embargou o local. Exigiu que a festa fosse realizada em outro ponto da Praça da República, além da diminuição do palco.

A organização da Chiquita exigiu os habituais 18 metros para montagem do palco, que inclui uma passarela, e camarim. Foi cedida apenas uma área de 7 por 9 metros, afastada da calçada de pedras portuguesas da Rua da Paz.

De acordo com o órgão ligado à Prefeitura Municipal de Belém, as mudanças propostas partiram da Diretoria da Festa do Círio, que reclama do estreitamento da via de acesso à procissão na Avenida Presidente Vargas, parcialmente tomada pelo palco. A medida seria uma maneira de garantir a segurança dos cerca de dois milhões de romeiros que participam do Círio de Nazaré.

A mudança não foi bem aceita pelos organizadores da festa. Segundo o cantor Eloy Iglesias, diretor do evento, a exigência foi uma forma de retaliação. “A Igreja não quer entender que a Chiquita é um fato social. Existe uma forma de homofobia velada por traz dessa ação. O que atrapalha o fluxo de pessoas realmente é a arquibancada montada ao redor da praça, colada na rua. O palco não fica nem na calçada”, afirma.

Realizada no sábado à noite, a festa da Chiquita começa a partir do momento em que a Berlinda que leva a imagem de nossa Senhora de Nazaré na trasladação, procissão que antecede o Círio, passa pelo Bar do Parque. Se o evento que, quando começou, pequeno, incomodava pelo desvairo de seus participantes, hoje é visto com desconforto pelo volume de pessoas que atrai.

A difícil relação entre a festa e a vizinhança é agravada pelos inconvenientes que um evento do porte da Chiquita proporciona. Na edição passada, as ruas foram tomadas também por sujeira e urina e a polícia teve dificuldade de conter as diversas brigas que surgiam na multidão.

Por estar em uma área que integra o centro histórico da cidade, o cerco se fecha cada vez mais contra a Chiquita. Em especial pela vizinhança ilustre: o Theatro da Paz, edifício construído em 1878, que este ano ficou fechado para reforma por seis meses, pela queda do forro do hall de entrada do prédio.

Entretanto, como atenta Flávio Carvalho, diretor do Departamento de Patrimônio Histórico Artístico Cultural (Dephac), do Governo do Estado, mudanças na estrutura da festa são um desrespeito ao próprio patrimônio que se está tentando conservar.

“Já que o Círio é tombado pelo patrimônio histórico, a Chiquita tem seu resguardo como acontecimento ligado ao Círio. Toda e qualquer mudança deve ser pensada e repensada de antemão, pois senão se perde todo o referencial cultural e histórico do evento”, explica. “Agora, o que não se pode é culpar a Chiquita pelos problemas nos arredores. A festa passou pela vistoria e, tanto o som quanto a estrutura, estão dentro das nossas exigências. O que falta agora é vistoria dos órgãos competentes e diálogo entre todas as partes envolvidas”, conclui.

CELEBRANDO AS DIVAS

Para a sua 32º edição, a Festa da Chiquita escolheu como tema “As Divas” em homenagem à Mara Rúbia, vedete paraense, que fez sucesso nacionalmente durante os anos 50. O homenageado do “Veado de Ouro” será o estilista André Lima. Já o Prêmio Walter Bandeira, criado no ano passado, para homenagear a personalidade paraense de maior destaque, vai para Marina Belém, filha de Fafá de Belém, ganhadora do ano passado. A festa ainda conta com a tradicional desfiel de travestis e apresentação do grupo de carimbó Borboletas do Mar, de Marapanim. (Diário do Pará)

Fonte: http://diariodopara.diarioonline.com.br/N-115160-FESTA+DA+CHIQUITA++TRADICAO+E+POLEMICA+SE+RENOVAM.html

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