Como uma das cidades mais importantes do Nordeste do Pará, referenciando-se pela população hospitaleira, o comércio, a agricultura, a organização socioeconômica e sua posição geográfica entre o Pará e o Maranhão, Bragança instituiu uma sociedade baseada na educação portuguesa, o que influenciou nos hábitos, costumes e na vida social de seus habitantes, observando-se, ainda hoje, tais padrões nos casarões revestidos de azulejos importados, com aspectos nitidamente lusitanos, instalados nas áreas urbanas centrais. Pode-se observar que a cidade no começo do século XX era um município próspero, organizado, com um setor comercial que já alcançava todos os ramos e estava prestes a ser ligada à ferrovia.
Antes da implantação da Estrada de Ferro de Bragança, em 1908, as relações com Belém e São Luís eram feitas através de viagens marítimas, demoradas e perigosas; ou então pela via do Guamá, onde metade da viagem era feita por terra, a pé ou a cavalo, a outra metade em embarcações, rio abaixo, até a cidade de Belém. Anos mais tarde, esse trajeto foi feito em pequenos navios da Companhia Costeira do Maranhão. Por essa circunstância criou-se uma sociedade estável por suas relações comerciais e socais com a capital do Estado e com o Maranhão.
O catolicismo na história de Bragança foi nitidamente leigo em sua organização e liderança. As decisões envolvendo os assuntos das festas religiosas passavam pela importante influência dos leigos, divididos em várias irmandades religiosas, como “irmãos” e como administradores do patrimônio religioso da cidade. As decisões dali emanadas encontravam sempre na autoridade religiosa, os Padres, um acréscimo de contribuição para com a realização das festas que marcam até os dias de hoje, as grandes procissões de atos religiosos bragantinos.
Os jornais da época constituíram-se em fontes que desenharam para nós um quadro social bastante característico, que incrementaram um mosaico de relações sociais de sujeitos tão diversos, formando opiniões e se relacionando com o quotidiano, dando a grande impressão de como estava organizada a comunicação (jornais escritos e impressos em Bragança) à época, feita por uma elite que se “endinheirava” e se integrava física e materialmente com Belém, pelos trilhos da Estrada de Ferro.
Essa interseção com Belém não se deu apenas com os aspectos sociais, e para retornar ao mote deste trabalho, recordamos que a mesma ordem religiosa que administrava o mais santuário de devoção popular de Belém, o de Nossa Senhora de Nazaré, também coordenava o de Bragança. Em mais de duzentos e vinte anos de Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, os Padres Barnabitas foram os que mais empreenderam as maiores intervenções neste segmento.
Também em Bragança, um turbilhão de fé arrasta milhares de pessoas que em caminhada sob o sol escaldante da Pérola do Caeté, homenageiam e cultuam Maria, mãe de Jesus. Os quilômetros que separam a pequena Igreja de São Benedito da Catedral de Nossa Senhora do Rosário, no centro da cidade, testemunham um mistério que só pode ser compreendido pela linguagem da fé e um fenômeno que desafia todos aqueles que tentam desvendar a paixão inexplicável e justificada somente pelo Evangelho e pela própria história do catolicismo que considerou a jovem Maria de Nazaré uma figura decisiva na vida de Jesus Cristo.
Em Belém, a tradição do Círio como procissão e costume português de se levar uma imagem religiosa de um local ao outro, se inicia em 1793, quando as autoridades eclesiásticas e políticas entendem por bem homenagear os feitos e a religiosidade popular devotada
Certamente, como uma festa religiosa e centenária nas terras bragantinas, a presença de ordens religiosas se remonta à fundamental e preciosa intervenção desses religiosos no curso da vida social e cultural do povo bragantino. Segundo relatos orais, anteriormente recolhidos, mesmo com a organização da a famosa e participada festa de Nossa Senhora do Rosário, padroeira municipal e diocesana, a circularidade cultural de tradições religiosas pode explicar também a instituição do Círio de Nazaré nas terras do Caeté.
Se Bragança possui um dos Círios do Pará mais festejados e antigos, isso se deve à organização empreendida pelos Padres Barnabitas (Ordem dos Clérigos Regulares de São Paulo) que iniciaram o controle do catolicismo bragantino pelos idos anos 30 do século XX, quando da chegada e instalação desses padres. Mas o Círio antecede esse fato. Como a Igreja Matriz de Bragança estava sob a administração eclesiástica da Diocese de Belém, os Vigários colados eram as figuras que melhor interagiam com a população, em nome da religiosidade, morando entre os populares, sendo muito benquistos.
Vários fatos se confundem com as fontes jornalísticas e talvez fosse a oportunidade de afirmar que o Círio de Bragança possui bem mais que os cem anos anunciados em 2003, pela simples análise da fonte apresentada naquele ano (2003), cujos jornais anunciavam o costume do itinerário, daí mesmo, ao se aplicar o rigor historiográfico, que se o cortejo tinha data, hora e percurso, não se trata então do centésimo Círio, mas da fonte mais antiga encontrada a relatar a realização da procissão.
O tema norteador da festa deste ano lembrará a História de Bragança e o patrimônio histórico bragantino, com o slogan “Mãe de Deus, ajuda-nos a amar a História de Bragança”. Bragança tem uma forte tradição religiosa, pela presença há muito tempo da Igreja Católica. Padres e historiadores estão conversando para organizar um levantamento histórico dos momentos mais marcantes na trajetória religiosa do povo católico bragantino a fim de publicar até 2013. Enquanto isso, relíquias importantes sob a guarda da Diocese de Bragança podem ser destacadas, como a primeira berlinda do Círio de Nazaré do Pará, trazida de Belém pela Sra. Benedita (Beni) Ferreira e a primeira réplica da imagem de Nossa Senhora de Nazaré que percorre o Círio, confeccionada na Itália, a pedido do então Vigário da Basílica, hoje bispo emérito de Bragança, Dom Miguel Giambelli. Neste ano, muito se falou sobre patrimônio histórico aliando a religiosidade e cultura do povo caboclo da Amazônia de Bragança e da região circunvizinha. É esperar e rezar para que o que resta de nosso patrimônio, memória, arquitetura e cultura sejam conservados.
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