A Região Amazônica possui 80% dos recursos hídricos
do País. Desses, infelizmente, grande parte não está própria para o uso humano.
Neste mês de julho, as praias são os destinos mais procurados pelas pessoas que
querem aproveitar o seu período de férias, e a qualidade das águas se torna uma
das grandes preocupações, em se tratando de saúde. A professora Simone de
Fátima Pinheiro Pereira, da Faculdade de Química e coordenadora do Laboratório
de Química Analítica e Ambiental (Laquanam) da Universidade Federal do Pará
(UFPA), traça um panorama da qualidade da água no Estado e dá dicas de como se
proteger de contaminação nas férias de julho.
Segundo a professora, Belém não trata o esgoto que
produz. A Baía do Guajará e o Rio Guamá recebem toda a carga poluidora gerada
por mais de dois milhões de habitantes da Região Metropolitana. “O Igarapé do
Tucunduba , os Canais do Una e do Galo, todas essas bacias interiores que, por
vezes, fazem Belém lembrar a cidade de Veneza, só servem para que sejam
jogados, dentro dele, esgoto e lixo" , analisa Simone Pinheiro.
"Há uma legislação sobre a balneabilidade de sistemas hídricos no País, a
qual regula um limite máximo de coliformes fecais presentes em uma amostra.
No Estado, alguns rios e igarapés estão com
coliformes muito acima deste limite, o que é um grande problema”, alerta. A
professora assegura que esta situação se reflete em rios que possuem praias,
nas quais são esperados milhares de veranista, no mês de julho.
Sem condições - Este ano, as Praias do
Cruzeiro, em Icoaraci, e da Baía do Sol, em Mosqueiro, foram consideradas, pela
Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) de Belém, impróprias para os banhistas.
A Semma colheu amostras da água em diversas praias de Mosqueiro, Outeiro e
Icoaraci para os testes. As coletas dos distritos foram encaminhadas ao
Laboratório Central do Estado do Pará (Lacen). “Existem praias que, todos
os anos, são consideradas impróprias para o banho, mas o município não toma
nenhuma providência para reverter o quadro. Por exemplo, a Praia do Cruzeiro,
quase todos os anos, é classificada como imprópria.”
Segundo a professora Simone, a má qualidade da água
está, intrinsecamente, ligada à ação predatória do homem em relação ao meio
ambiente. “O homem, com suas atividades antrópicas, principalmente aqui, na
Amazônia, tem mudado drasticamente os ecossistemas, poluindo-os e
contaminando-os. No caso da água, os elementos químicos danosos, como os metais
pesados, provenientes de efluentes domésticos e industriais, acabam
entrando no ciclo hidrológico, permanecendo lá por tempo indeterminado.”
Ultimas posições - “O Pará está nas
últimas posições em se tratando de saneamento básico, mesmo sendo um Estado
localizado na maior bacia hidrográfica do planeta. Mais de 50 % da população
não têm água encanada em casa, e os que possuem têm uma a água de péssima
qualidade”, afirmou Simone.
Laquanam - O Laboratório de Química
Analítica e Ambiental da UFPA é um dos poucos laboratórios da Região Norte que
trabalha com as questões ambientais, principalmente com a análise de metais
pesados em rios, rochas, solos, plantas e outras matrizes. O Laquanam trabalha
em parceria com vários órgãos públicos, atuando na Delegacia do Meio Ambiente
(DEMA), no Ministério Público Federal, na Defensoria Pública Federal, entre
outras instituições, e tem o intuito de identificar possíveis agressões ao meio
ambiente, principalmente contaminações provenientes de indústrias. “Já
atuamos em Barcarena, no Estado do Amapá. Praticamente, todos os
principais rios da Amazônia já foram analisados pela equipe, entre eles, os
Rios Tocantins, Tapajós, Xingu e Amazonas.”
A professora conta que já analisou amostras de água
potável em Belém e no interior. Em muitos lugares, foram encontradas 100% de
amostras impróprias para o consumo. “O Laquanam fez um trabalho em conjunto com
o Lacen, no Arapari, em Abaetetuba e em Breves. Nesta última, 100% das
amostras estavam contaminadas, principalmente por coliformes fecais”.
Precauções - A professora Simone
alerta que o perigo de ter contato com água contaminada não é apenas pelos
coliformes fecais. Outros micro-organismos, chamados de patogênicos, podem
transmitir doenças sérias, como hepatite, leptospirose, cólera, entre outras
enfermidades.
Tentar escolher balneários mais distantes dos
grandes centros urbanos e escolher as praias de mar são orientações da
professora Simone para diminuir as chances de contaminação. “Neste veraneio, as
pessoas devem procurar praias afastadas das grandes cidades e banhadas por
oceano, que, em comparação com as praias de rio no nosso Estado, têm índice
muito menor de contaminação.
A pesquisadora também alerta que é necessário ter
muito cuidado com a água usada para preparar a comida, como saladas e
outros alimentos consumidos crus, como as frutas; além de atenção redobrada na
preparação de sucos e cuidado especial com o gelo usado nas bebidas, pois esta
água pode estar contaminada por coliformes. O uso de algumas gotas de
hipoclorito na água de uso doméstico pode evitar problemas de saúde,
principalmente em idosos e crianças, que são os dois grupos mais suscetíveis a
doenças de veiculação hídrica.”
Texto: Helder Ferreira –
Assessoria de Comunicação da UFPA
Fotos: Alexandre Moraes
Link: http://www.portal.ufpa.br/imprensa/noticia.php?cod=6322
Publicado em: 13.07.2012 18h
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