segunda-feira, 23 de julho de 2012

Bolívar Bordallo da Silva (*25.09.1907, +23.07.1973)

            Sendo o filho após Armando, Bolívar Bordallo da Silva não foi tão conhecido como seu antecessor, até porque o seu tempo de vida não permitiu inserções outras no campo dos estudos históricos que empreendia. Sua maior contribuição para a sociedade em geral, fruto de suas observações foi, com certeza o livro Cronologia Bragantina – um capítulo na História da Amazônia, que ficou sem lançamento e continua inédito.

Foto 1: Armando e Bolívar Bordallo da Silva, ainda crianças.

            Há mais de trinta anos, ao ter seu nome escolhido para ser uma das maiores escolas públicas do Pará, muitas pessoas devem ter ficado surpresas por não terem ouvido falar sobre Bolívar Bordallo da Silva, ou mesmo não o conhecessem, nem soubessem de sua trajetória como professor, sua dedicação à educação e ao conhecimento.
            Bolívar, como muitos outros, não só por ter lutado pelos interesses econômicos, culturais e educacionais da região Bragantina, mas por ter sido professor em muitas instituições de ensino de sua época, exerceu o ofício de advogado, e também historiador, garimpando em variados registros as informações necessárias para escrever uma parte interessante história de Bragança, como um atento observador.
            A história de Bolívar começa em 25 de setembro de 1907, filho de Sebastião José da Silva e de Maria do Céu Bordallo da Silva, assim como Armando e a irmã Almira. Com a família recebeu a mesma base: uma boa formação escolar com as professoras de Bragança e, em seguida, em Belém no Colégio Progresso Paraense. Mas, tudo isso aconteceu graças à visão ampla de seu pai Sebastião José da Silva, que, apesar de ter concluído apenas o primário, era um autodidata que amava os livros e o saber. Sebastião, que era dono de uma casa comercial no bairro da Aldeia e era também poeta e escrevia artigos para diversos jornais em Bragança e Belém, sabia do valor da educação na vida do indivíduo. Assim, ele quis que todos os seus filhos viessem continuar seus estudos em Belém.

Foto 2: Bolívar Bordallo da Silva, na foto de sua formatura.

            Antes de se formar Bolívar, foi convidado a ser professor do Colégio Progresso Paraense lecionando inicialmente Matemática e, posteriormente, Direito Comercial, Geografia Geral e Corografia do Brasil.
            Em 1932 foi convidado pelo Dr. João Dias da Silva, diretor do Ginásio Paraense, para o cargo de secretário desse ginásio, onde permaneceu por 08 (oito) anos de total dedicação. Mas, ainda assim encontrou forças e empenho para, no ano de 1936 organizar o primeiro Curso Ginasial Noturno de Belém que funcionou na Rua Gaspar Viana, escolhendo cuidadosamente desde o edifício, o mobiliário a ser utilizado, à orientação pedagógica e professores que comporiam seu quadro docente.
            Em 1939 apresentou a tese “Gênese da Ideologia Republicana no Brasil” para concurso de Docente-Livre de História da Civilização no Ginásio Paraense “Paes de Carvalho”, nomeado em abril do mesmo ano e, em 1945, novo concurso, desta vez para Professor Catedrático de História Geral. Para tal, apresentou a tese “Fatores dos Descobrimentos e das Conquistas no Século XV”, tendo sido o primeiro bragantino a pertencer ao quadro oficial deste renomado colégio, fato que o deixou, sem dúvida, muito orgulhoso.
            Em 1949, Bolívar foi convidado para lecionar História da América na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Belém, ainda em organização. Porém, não pôde aceitar o convite por se encontrar impossibilitado de locomoção pela doença que o estava deixando paralítico desde 1947. Assim, encerrou suas atividades em todos os estabelecimentos de ensino onde lecionava: Colégio Paes de Carvalho, Escola Técnica do Comércio da Fênix Caixeiral Paraense, Curso de Ciências e Letras, do Ginásio Santa Catarina, Ginásio Pará-Amazonas, Escola Técnica de Comércio do Pará, Faculdade de Ciências Econômicas e Colégio Nossa Senhora do Carmo.
            Bolívar dedicou-se por vinte e dois anos consecutivos ao Magistério. E, mesmo após esses anos todos, não ficou totalmente desligado da Educação, pois ainda trabalhou como secretário no Colégio Nossa Senhora do Rosário de Fátima que pertencia à sua irmã Almira Bordallo e que funcionava na casa onde moravam na Avenida 14 de março, em Belém, até o ano de 1972 quando a escola foi fechada.
            Esta foi a sua atividade profissional, mas, não podemos esquecer que ainda como estudante, Bolívar, Armando e outros amigos bragantinos, fundaram em 07 de janeiro de 1928 o Centro Social Estudantino, em Belém sendo o seu primeiro orador. Os estatutos da entidade foram publicados na Revista Bragantina de 01 de janeiro de 1929.
            No mesmo percurso, em 19 de março de 1933, ele e seus contemporâneos fundaram o Grêmio Social Bragantino, que pugnava os interesses da cidade de Bragança, onde Bolívar assumiu diversos cargos e ainda foi responsável pela criação e execução da Revista Bragantina e do Almanaque, que traz em seus números uma preocupação pela Educação. Através de carta escrita ao Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio em 1929, o Centro Social, requereu a criação de um Patronato, escola agrícola, destinado aos agricultores da região. O Grêmio, participando da Cruzada Nacional da Educação, fundou em 29 de setembro de 1935 a Escola José Paulino no Chumucuí.

Foto 3: Da esquerda para a direita Franco Mátyres, Armando Bordallo da Silva, Bolívar Bordallo da Silva e Luiz Paulino Mártyres.

            No mesmo ano, em 10 de dezembro, o Grêmio Bragantino reuniu diversas autoridades e personalidades na Prefeitura Municipal de Bragança para lançar as bases do que viria a se tornar a Associação Comercial de Bragança, formando uma Comissão de Organização da futura entidade, com João da Cruz Pacheco (não aceitando a indicação, foi substituído por Filenilo da Silveira Ramos), Carivaldo Ribeiro, José Cardoso Pereira, Mário Antunes da Silva, Severiano Maia, Julião Risuenho e Juvenal Oliveira. A apresentação dos motivos foi feita pelo Prof. Dr. Bolívar Bordallo da Silva, secretário do Grêmio Bragantino, à época.
            Duas atividades do Grêmio Bragantino ganharam importância pela abrangência quando foram realizadas. Em 15 de abril de 1934, a inauguração da Escola de Aprendizes Artífices de Bragança, de acordo com o Caeté Jornal dessa data e em 13 de maio de 1936, numa integração à Campanha Nacional de Educação e por iniciativa da entidade, que participava da Cruzada Bragantina de Educação, a construção e inauguração da Escola Professor José Paulino dos Santos Mártyres, próximo ao rio Chumucuí.
            Bolívar era membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Belém, tendo sido seu orador por quatro anos, entre 1940 a 1944, deixando inúmeros discursos. Junto com Armando e outros intelectuais de Belém, foi membro fundador do Instituto de Antropologia e Etnologia do Pará que funcionava no Museu Paraense Emílio Goeldi em 1947, além de membro da fundação da Comissão Paraense de Folclore em 1950, também criada no museu.

Foto 4: Capa do livro “Fatôres dos Descobrimentos e Conquistas do Século XV”, de Bolívar Bordallo da Silva, publicado em 1946, em Belém.

            Muitos ainda desconhecem de quem os irmãos Armando e Bolívar Bordallo da Silva promoveram em sua residência na capital do Estado, no dia 14 de outubro de 1950, uma reunião para tratar da constituição de uma sociedade rádio difusora que seria chamada de Rádio Bragança Ltda. Segundo informações da família e do acervo Bordallo, dessa reunião foi marcada outra, para o dia 28 de outubro do mesmo ano, quando foram examinados os orçamentos e propostas apresentadas pela Philips do Brasil S/A para o fornecimento e montagem da emissora. Devido não ter reunidos os trinta sócios pensados para o projeto da rádio, a ideia foi abandonada.
            Sua vida foi dedicada à Educação e à produção do conhecimento, tendo Bolívar assumido com fervor a tarefa de educar, como missão pessoal, a fim de promover e elevar a condição cultural, social e econômica das pessoas, especialmente de Bragança. Mas, o conhecimento, o amor aos livros e à História, era algo que ele passava a todos sem distinção, além da sua gentileza e tratamento da família em ocasiões onde estava com irmãos, sobrinhos e parentes.
            A sua condição de saúde levou-o a uma aposentadoria imposta. A deficiência o deixou totalmente incapaz para o trabalho. Apesar da dificuldade, Bolívar continuou suas pesquisas sobre a cultura e sobre a História de Bragança, nos legando um registro que vai desde a conquista e posse do Brasil, até o ano de 1954, já que sua obra era alusiva comemoração do 2° Centenário da fundação da Nova Vila de Bragança em 1754 e do 1° Centenário de sua elevação à categoria de cidade em 1854.
            Faleceu aos 65 anos, no dia 23 de julho de 1973, em Belém, cidade onde desenvolveu a maior parte de seu trabalho. Suas obras, seus textos e seus livros são patrimônios bem guardados, com muito zelo no Acervo Bordallo, pela Prof.ª Mariana Thereza Athayde Bordallo da Silva. Desta maneira, na linguagem da história, o fato se torna uma marca da impressão do tempo, manifestando-se e convivendo com o presente. Já seus autores permanecem ancorados no passado preenchido exatamente pelo que nos legaram, sua vida e sua obra.

Fonte e Fotos: Acervo Bordallo.

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