Sendo o filho após Armando, Bolívar
Bordallo da Silva não foi tão conhecido como seu antecessor, até porque o seu
tempo de vida não permitiu inserções outras no campo dos estudos históricos que
empreendia. Sua maior contribuição para a sociedade em geral, fruto de suas
observações foi, com certeza o livro Cronologia
Bragantina – um capítulo na História da Amazônia, que ficou sem lançamento
e continua inédito.
Foto 1: Armando e Bolívar Bordallo da Silva, ainda
crianças.
Há mais de trinta anos, ao ter seu nome
escolhido para ser uma das maiores escolas públicas do Pará, muitas pessoas
devem ter ficado surpresas por não terem ouvido falar sobre Bolívar Bordallo da
Silva, ou mesmo não o conhecessem, nem soubessem de sua trajetória como
professor, sua dedicação à educação e ao conhecimento.
Bolívar, como muitos outros, não só
por ter lutado pelos interesses econômicos, culturais e educacionais da região
Bragantina, mas por ter sido professor em muitas instituições de ensino de sua
época, exerceu o ofício de advogado, e também historiador, garimpando em variados
registros as informações necessárias para escrever uma parte interessante história
de Bragança, como um atento observador.
A história de Bolívar começa em 25
de setembro de 1907, filho de Sebastião José da Silva e de
Maria do Céu Bordallo da Silva, assim como
Armando e a irmã Almira. Com a família recebeu a mesma base: uma boa formação
escolar com as professoras de Bragança e, em seguida, em Belém no Colégio
Progresso Paraense. Mas, tudo isso aconteceu graças à visão ampla de seu pai
Sebastião José da Silva, que, apesar de ter concluído apenas o primário, era um
autodidata que amava os livros e o saber. Sebastião, que era dono de uma casa
comercial no bairro da Aldeia e era também poeta e escrevia artigos para
diversos jornais em Bragança e Belém, sabia do valor da educação na vida do indivíduo.
Assim, ele quis que todos os seus filhos viessem continuar seus estudos em
Belém.
Foto 2: Bolívar Bordallo da Silva, na foto de sua
formatura.
Antes de se formar Bolívar, foi
convidado a ser professor do Colégio Progresso Paraense lecionando inicialmente
Matemática e, posteriormente, Direito Comercial, Geografia Geral e Corografia
do Brasil.
Em 1932 foi convidado pelo Dr. João
Dias da Silva, diretor do Ginásio Paraense, para o cargo de secretário desse
ginásio, onde permaneceu por 08 (oito) anos de total dedicação. Mas, ainda
assim encontrou forças e empenho para, no ano de 1936 organizar o primeiro
Curso Ginasial Noturno de Belém que funcionou na Rua Gaspar Viana, escolhendo
cuidadosamente desde o edifício, o mobiliário a ser utilizado, à orientação
pedagógica e professores que comporiam seu quadro docente.
Em 1939 apresentou a tese “Gênese da
Ideologia Republicana no Brasil” para concurso de Docente-Livre de História da
Civilização no Ginásio Paraense “Paes de Carvalho”, nomeado em abril do mesmo
ano e, em 1945, novo concurso, desta vez para Professor Catedrático de História
Geral. Para tal, apresentou a tese “Fatores dos Descobrimentos e das Conquistas
no Século XV”, tendo sido o primeiro bragantino a pertencer ao quadro oficial deste
renomado colégio, fato que o deixou, sem dúvida, muito orgulhoso.
Em 1949, Bolívar foi convidado para
lecionar História da América na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Belém, ainda em organização. Porém, não pôde aceitar o convite por se encontrar
impossibilitado de locomoção pela doença que o estava deixando paralítico desde
1947. Assim, encerrou suas atividades em todos os estabelecimentos de ensino
onde lecionava: Colégio Paes de Carvalho, Escola Técnica do Comércio da Fênix
Caixeiral Paraense, Curso de Ciências e Letras, do Ginásio Santa Catarina,
Ginásio Pará-Amazonas, Escola Técnica de Comércio do Pará, Faculdade de
Ciências Econômicas e Colégio Nossa Senhora do Carmo.
Bolívar dedicou-se por vinte e dois anos
consecutivos ao Magistério. E, mesmo após esses anos todos, não ficou
totalmente desligado da Educação, pois ainda trabalhou como secretário no
Colégio Nossa Senhora do Rosário de Fátima que pertencia à sua irmã Almira Bordallo
e que funcionava na casa onde moravam na Avenida 14 de março, em Belém, até o
ano de 1972 quando a escola foi fechada.
Esta foi a sua atividade
profissional, mas, não podemos esquecer que ainda como estudante, Bolívar,
Armando e outros amigos bragantinos, fundaram em 07 de janeiro de 1928 o Centro
Social Estudantino, em Belém sendo o seu primeiro orador. Os
estatutos da entidade foram publicados na Revista Bragantina de 01 de janeiro
de 1929.
No
mesmo percurso, em 19 de março de 1933, ele
e seus contemporâneos fundaram o Grêmio Social Bragantino, que pugnava os
interesses da cidade de Bragança, onde Bolívar assumiu diversos cargos e ainda
foi responsável pela criação e execução da Revista Bragantina e do Almanaque,
que traz em seus números uma preocupação pela Educação. Através de carta
escrita ao Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio em 1929, o Centro
Social, requereu a criação de um Patronato, escola agrícola, destinado aos
agricultores da região. O Grêmio, participando da Cruzada Nacional da Educação,
fundou em 29 de setembro de 1935
a Escola José Paulino no Chumucuí.
Foto 3: Da esquerda para a direita Franco Mátyres,
Armando Bordallo da Silva, Bolívar Bordallo da Silva e Luiz Paulino Mártyres.
No mesmo ano, em 10 de dezembro, o Grêmio Bragantino reuniu diversas autoridades e personalidades na
Prefeitura Municipal de Bragança para lançar as bases do que viria a se tornar
a Associação Comercial de Bragança, formando uma Comissão de Organização da
futura entidade, com João da Cruz Pacheco (não aceitando a indicação, foi
substituído por Filenilo da Silveira Ramos), Carivaldo Ribeiro, José Cardoso
Pereira, Mário Antunes da Silva, Severiano Maia, Julião Risuenho e Juvenal
Oliveira. A apresentação dos motivos foi feita pelo Prof. Dr. Bolívar Bordallo
da Silva, secretário do Grêmio Bragantino, à época.
Duas atividades do Grêmio Bragantino
ganharam importância pela abrangência quando foram realizadas. Em 15 de abril
de 1934, a inauguração da Escola
de Aprendizes Artífices de Bragança, de acordo com o Caeté Jornal dessa data e
em 13 de maio de 1936, numa integração à Campanha Nacional de Educação e por
iniciativa da entidade, que participava da Cruzada Bragantina de Educação, a
construção e inauguração da Escola Professor José Paulino dos Santos Mártyres,
próximo ao rio Chumucuí.
Bolívar era membro efetivo do
Instituto Histórico e Geográfico de Belém, tendo sido seu orador por quatro anos,
entre 1940 a 1944, deixando inúmeros discursos. Junto com Armando e outros
intelectuais de Belém, foi membro fundador do Instituto de Antropologia e
Etnologia do Pará que funcionava no Museu Paraense Emílio Goeldi em 1947, além
de membro da fundação da Comissão Paraense de Folclore em 1950, também criada
no museu.
Foto 4: Capa do livro “Fatôres dos Descobrimentos e Conquistas
do Século XV”, de Bolívar Bordallo da Silva, publicado em 1946, em Belém.
Muitos ainda desconhecem de quem os irmãos
Armando e Bolívar Bordallo da Silva promoveram em sua residência na capital do
Estado, no dia 14 de outubro de 1950, uma reunião para
tratar da constituição de uma sociedade rádio difusora que seria chamada de
Rádio Bragança Ltda. Segundo informações da família e do acervo Bordallo, dessa
reunião foi marcada outra, para o dia 28 de outubro do mesmo ano, quando foram
examinados os orçamentos e propostas apresentadas pela Philips do Brasil S/A
para o fornecimento e montagem da emissora. Devido não ter reunidos os trinta sócios
pensados para o projeto da rádio, a ideia foi abandonada.
Sua vida foi dedicada à Educação e à
produção do conhecimento, tendo Bolívar assumido com fervor a tarefa de educar,
como missão pessoal, a fim de promover e elevar a condição cultural, social e
econômica das pessoas, especialmente de Bragança. Mas, o conhecimento, o amor
aos livros e à História, era algo que ele passava a todos sem distinção, além
da sua gentileza e tratamento da família em ocasiões onde estava com irmãos, sobrinhos
e parentes.
A sua condição de saúde levou-o a
uma aposentadoria imposta. A deficiência o deixou totalmente incapaz para o
trabalho. Apesar da dificuldade, Bolívar continuou suas pesquisas sobre a
cultura e sobre a História de Bragança, nos legando um registro que vai desde a
conquista e posse do Brasil, até o ano de 1954, já que sua obra era alusiva comemoração
do 2° Centenário da fundação da Nova Vila de Bragança em 1754 e do 1°
Centenário de sua elevação à categoria de cidade em 1854.
Faleceu
aos 65 anos, no dia 23 de julho de 1973, em Belém, cidade onde desenvolveu a
maior parte de seu trabalho. Suas obras, seus textos e seus livros são
patrimônios bem guardados, com muito zelo no Acervo Bordallo, pela Prof.ª
Mariana Thereza Athayde Bordallo da Silva. Desta maneira, na linguagem da
história, o fato se torna uma marca da impressão do tempo, manifestando-se e convivendo
com o presente. Já seus autores permanecem ancorados no passado preenchido
exatamente pelo que nos legaram, sua vida e sua obra.
Fonte e Fotos:
Acervo Bordallo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário