Por Dário
Benedito Rodrigues*
Nascido na província de Castelnuovo,
Piacenza, na Itália, em 1900, Eliseu Ferdinando Coroli absorveu os preceitos
religiosos de sua família, especialmente de sua mãe, Maria Molinari de forma
profunda, tanto que aos seis anos de idade a surpreendeu com um questionamento
inusitado de ser missionário e tornar-se sacerdote.
Para muitos de seus contemporâneos e
biógrafos, talvez nesse momento iniciou a vida religiosa de expoente na
história recente de Bragança (século XX).
Sendo considerado pelos seus companheiros da
Ordem dos Clérigos Regulares de São Paulo (Barnabitas) como um “intrépido e
incansável arauto do Evangelho”, o italiano se tornou uma das figuras mais
importantes da recente história de Bragança, como um marco balizador de
empreendimentos que são considerados atualmente como exemplos nas áreas de
Educação, Saúde e Religiosidade.
Foto 01: Dom Eliseu Maria Coroli, com cerca de 80 anos. Fonte: Acervo IST
O início...
No início do século XX, no dia 09 de
fevereiro de 1900, nasce Elias Eliseu Ferdinando Coroli, em Castelnuovo,
pequena povoação da província de Piacenza, na Itália. Quinto filho do casal de
camponeses Anacleto Ludovico Coroli e Maria Molinari, que trabalhavam no campo.
Seus pais, mesmo proprietários de terras, viviam humildemente e necessitavam
garantir alimentos em grande quantidade para uma extensa prole. Plantavam quase
tudo e só compravam o que não podiam cultivar.
Depois de concluir o quinto ano primário,
Eliseu foi para o seminário. Seu pai o conduziu à Escola Apostólica São
Bartolomeu dos Armânios, em Gênova, da Congregação dos Padres Barnabitas
(Congregação religiosa e missionária fundada por Santo Antônio Maria Zaccaria
inspirada na obra do missionário São Paulo, conhecida pela sigla CRSP –
Clérigos Regulares de São Paulo), por engano, pois seu intento era conduzi-lo a
uma escola de formação diocesana e não específica de uma congregação religiosa.
Mesmo assim, entregou-o nessa instituição em 11 de outubro de 1911. Foi uma
maneira de vê-lo inserido naquilo que o menino Eliseu mais desejava: tornar-se
sacerdote.
Foto 02: Eliseu Coroli criança. Fonte: Acervo IST
Ficou interno na Escola Apostólica para
estudos religiosos e cursou o equivalente ao ginásio, no Colégio Vittorino de
Feltre, ambos dos padres Barnabitas. O objetivo desta última escola era a formação
integral do homem, propondo estudos que congregavam a educação física, moral,
estética e intelectual. Foi uma das primeiras escolas particulares da Itália de
orientação laica.
Vaias anotações de Dom Eliseu, pertencente ao
Arquivo Coroli relatam essas experiências com a Escola Vittorino de Feltre,
como o caderno de n.º 24 onde Eliseu relembrou detalhes, nomes e ambientações
de sua escola na Itália, quase um perfil do lugar, enfatizando algumas de suas características:
a alegria na formação de adolescentes, a eficácia do aprendizado, a rigidez da
disciplina e da conduta moral recebidos dos Padres Barnabitas.
Eliseu ainda relembra passagens desse tempo,
quando foi considerado a “peste” do convento, no sentido figurado do termo, por
seu despojamento e envolvimento com as atividades escolares.
“quando eu jogava bola era pra vencer! E não
admitia um colega em meu time que não se esforçasse pela vitória... Jogava-se
como se tivéssemos fogo nas pernas e, como é natural, no jovem, há o desejo de
soberba; de acusar os outros quando perde, e querer desforrar-se”. (Cf.
COLARES, Terezinha. O Missionário Feliz. Paragominas: Gráfica e Editora São
Marcos: 1997. p. 13).
Concluídos os cinco anos de ginásio na Escola
Apostólica de São Bartolomeu, Eliseu pediu aos pais permissão para entrar no
noviciado em Monza, passando o ano em provas e, em seguida, admitido à
profissão dos votos perpétuos em 22 de novembro de 1916. Este foi o último ano
em que a Igreja Católica concedeu fazer-se a profissão perpétua nesta idade.
Em suas anotações pessoais encontram-se
escritos sobre o que para ele representou a Escola Apostólica, um lugar de
aprendizado profundo e rigoroso, mas cheio de alegria e prosperidade. Anos
depois foi enviado a Lodi para fazer o curso Liceu (equivalente ao 2º grau), mas
teve que interrompê-lo para servir ao Exército em 21 de abril de 1918.
Segundo a Ir. Terezinha Colares, religiosa da
Congregação fundada por ele e de suas principais biógrafas, “o padre Marino
Conti, dialogando sobre D. Eliseu, diz que ele pertenceu a uma geração forjada
nas dificuldades da guerra, saindo revigorado, com alma de escola”.
Terminada a Primeira Guerra Mundial em 1919,
continuou com seus estudos e conseguiu a maturidade clássica (equivalente ao
vestibular atual) em junho de 1920 no Liceu, de Pietro Verri, em Lodi, seguindo
para Roma onde ingressaria no estudantado.
Foto 03: Santa Teresinha do Menino Jesus, aos 23 anos. Fonte: Acervo
IST
Em uma de suas raras visitas à família,
conheceu o livro “Conselhos e Lembranças”, com os pensamentos de Teresinha de
Lisieux (Francisca Teresa Martin, santa católica, nascida na França, religiosa
da Congregação das Carmelitas descalças, do carmelo de Lisieux é mundialmente
venerada pelos ensinamentos dispostos em sua autobiografia denominada “História
de uma alma”), que se tornaria um modelo de espiritualidade. Imitando a santa
francesa, se adaptou o método particular de registros em um caderno, acerca de
seus propósitos pessoais e pensamentos. Seus cadernos encontram-se na posse das
Irmãs Missionárias de Santa Teresinha, cuidadosamente conservados e analisados
pela Igreja Católica para o seu processo de beatificação, iniciado em 10 de
agosto de 1996 por Dom Luís Ferrando, atual bispo diocesano de Bragança.
Vinda para o Brasil
Com o término do curso de Teologia e
Filosofia, foi ordenado sacerdote em 15 de março de 1924, se dispondo às
missões, no que foi atendido por seus superiores e enviado ao Brasil para o
Colégio dos Barnabitas, no Rio de Janeiro.
Chegou ao Porto de Santos em 22 de dezembro
de 1924 e apresentou-se a seu superior no Colégio Zacarias, no dia 24 do mesmo
mês, na Rua do Catete, 113, onde permaneceu como Vigário (pároco) Coadjutor na
Paróquia de Nossa Senhora de Lorêto, em Jacarepaguá, subúrbio do Rio de
Janeiro, assim como em atendimento a capelas distantes. Sendo o mais novo
naquela comunidade, transparecia grande vitalidade e ânsia pela missão assumida
em terras estrangeiras, pois “por aqueles trabalhos coadjutorias, mostrou que
seria capaz de empreendimentos de máxima envergadura”, como declarou para a
irmã Terezinha Colares o padre José Meireles Sisnando, um de seus alunos em
Jacarepaguá e contemporâneo de Eliseu.
Foto 04: O jovem padre Eliseu Coroli
(o último em pé, à direita) e padres Barnabitas em viagem para o Brasil. Fonte: Acervo IST
Chegada ao Pará, em Bragança e sua missão
Depois
de estabelecer-se no Rio de Janeiro, por cinco anos, trabalhando no Colégio
Apostólico e com a criação da Prelazia de Nossa Senhora da Conceição do Gurupi,
que ficou sob a administração dos Barnabitas, em 14 de abril de 1928, pelo Papa
Pio XI, com território desmembrado da Arquidiocese de Belém, Eliseu é destinado
à Amazônia.
Interinamente,
até a sua chegada ao território da recém-organizada prelazia, o Arcebispo Dom
Irineu Jofylli, assume a administração da nova área de evangelização. Daí em
diante, padre Eliseu Coroli chega ao Pará em 22 de dezembro de 1929.
O
também padre Aldo Fernandes, sem eu texto de 29 de julho de 2010, publicado no
site da Diocese de Bragança nos diz que “chegado a Ourém na primeira
fraternidade barnabítica da então Prelazia do Guamá, acompanhando Monsenhor
Francisco Richard, padre Ângelo Moretti e padre Roque Carenzi, o padre Eliseu
Coroli foi mostrando sua dedicação apaixonada por Cristo e pelos nativos, pela
cultura e pelo sofrimento daquela gente (...) Eram os primeiros anos da
Prelazia do Guamá, que lhe seria confiada pelo Papa, após sua ordenação
episcopal a 13 de outubro de 1940”.
As dificuldades que encontraram em muitas,
dentre elas o analfabetismo, a ignorância religiosa, a dispersão da população e
a falta de catequistas, fatores que o levaram a iniciar um trabalho missionário
nesta região e um desafio para o qual organização e estratégia eram
fundamentais.
Segundo o padre José Ramos das Mercês, no
artigo “Barnabitas 450 anos”, publicado na página 3 do jornal Voz de Nazaré (da
Arquidiocese de Belém), de 22 de janeiro de 1984, os direcionamentos dos
trabalhos dos Barnabitas “não poderiam ser continuados sem que houvesse um
espaldar com a participação das forças locais, que trabalhassem junto aos
missionários”.
Foto 05: Padre Eliseu Coroli em missão. Fonte: Acervo
IST
Em 03 de fevereiro de 1934, um decreto anexa
definitivamente mais três paróquias à prelazia (São Miguel do Guamá, São
Domingos do Capim e Santana do Capim) e o encarregado dos trabalhos, Monsenhor
Richard, nomeia o padre Eliseu Coroli, o responsável por essas três paróquias.
Este decreto mudou também o nome, a sede e a padroeira da prelazia, passando a
se chamar Prelazia de Nossa Senhora do Rosário do Guamá, com sede em Bragança.
Não obstante a facilidade de seu diálogo com
as instituições políticas e de governo da época, Eliseu Coroli começou a
trabalhar e a requerer ajuda de outra congregação missionária, agora feminina,
para o trabalho em Bragança. Em 30 de junho de 1937, em uma de suas viagens à
Itália quando esteve doente, junto com o padre Idelfonso Maria Clerici,
visitaram a Madre Geral das Irmãs do Preciosíssimo Sangue, conhecidas por seu
zelo e trabalho na Educação, expondo condições da prelazia e solicitando a coadjutoria
das freiras, o que foi bem recebido pela madre e analisado mais tarde.
No dia 9 de dezembro de 1937, o Vaticano nomeou
padre Eliseu Coroli como Administrador Apostólico da Prelazia de Nossa Senhora
do Rosário do Guamá (nova denominação da Prelazia do Gurupi), tomando posse no
dia 30 de dezembro do mesmo ano. Foi sagrado bispo em 13 de outubro de 1940.
Foto 06: Sagração episcopal de Dom Eliseu Coroli. Fonte: Acervo IST
Eliseu Coroli e sua primeira obra – o Instituto Santa Teresinha
Foi por intermédio do prefeito municipal
Augusto Corrêa e do juiz de Direito, que padre Eliseu resolveu iniciar o
processo de fundação de uma Escola Normal. Ele visitou o interventor federal do
Pará, José Carneiro da Gama Malcher, solicitando a equiparação dos cursos
Primário e Normal do pequeno Colégio Santa Teresinha às escolas do Estado,
obtendo resposta positiva.
No dia 23 de novembro de 1938, o interventor
Gama Malcher assinou o decreto de fundação do Colégio Santa Teresinha,
equiparado à condição de Escola Normal, notícia festivamente recebida pelos
bragantinos, que antes enviavam seus filhos para a capital do Estado para os
estudos. Três dias depois, Eliseu enviou carta a várias famílias noticiando a
fundação da escola e solicitando apoio dos bragantinos à obra educacional, fato
noticiado no Jornal O Bragantino, de 11 de dezembro de 1938.
Foto 07: Prédio onde funcionou primeiramente o Instituto Santa
Teresinha, na Praça da Catedral, em Bragança. Fonte:
Acervo IST
O Colégio Santa Teresinha era a terceira
Escola Normal do Pará, depois da de Belém e de Santarém. Logo após a
equiparação, ele comprou móveis, utensílios e materiais para o funcionamento do
colégio e, para isso, organizou um internato.
Algumas professoras dos cursos primários
foram as primeiras colaboradoras diretas de Eliseu, no Colégio Santa Teresinha,
como Theodomira Raimunda da Silva Lima e Isabel Ribeiro de Almeida, professoras
conceituadas pela disciplina e rigor técnico, que trabalharam para ele sem
nenhuma remuneração.
Foto 08: Chegada das irmãs Preciosinas em Bragança em 1939. Fonte: Acervo
IST
O Prelado conseguiu depois junto à madre das
Irmãs Preciosinas na Itália, o envio de cinco delas para a Amazônia, vindo com
ele e sendo recebidas em Bragança com grande festa no dia 12 de agosto de 1938.
Essas colaboradoras seriam responsáveis pelas chamadas gremistas de Santa
Teresinha, pelos doentes, pelos estudos da Língua Portuguesa, pelos serviços de
cozinha, além de aulas de pintura e bordado com as alunas internas do recém-fundado
Colégio Santa Teresinha (hoje Instituto Santa Teresinha).
No dia 1º de dezembro de 1939, uma reunião
dos padres Barnabitas decidiu pela edificação do prédio próprio para sediar o
colégio, conforme registros documentais. Para isso, Eliseu Coroli iniciou a
compra dos terrenos no quadrilátero onde se situa atualmente o Instituto Santa
Teresinha, entre a Praça da Bandeira à frente, travessa Padre Gerosa por trás,
avenida Nazeazeno Ferreira à direita e rua Treze de maio à esquerda, no centro
de Bragança.
Em 1940, Eliseu Coroli encontrou na sua
congregação de origem o apoio para a construção do Colégio, firmando um
convênio interno que especificava que a prelazia concedeu aos Barnabitas a
responsabilidade de construir um colégio na cidade de Bragança. Mesmo apoio
encontra na sociedade bragantina, pelo seu fácil entrosamento com autoridades e
famílias.
O lançamento da pedra fundamental do
Instituto Santa Teresinha foi realizado numa celebração no dia 05 de julho de
1940, com a participação do prefeito Augusto Corrêa em uma vasta programação,
que foi inicialmente um de seus apoiadores.
Foto 09: Benção da pedra fundamental do prédio do Instituto Santa
Teresinha, em 1940, em Bragança. Fonte: Acervo IST
Eliseu Coroli e a saúde
Em 1945, o coronel Aluízio Ferreira
acompanhado do então prefeito Joaquim Lobão da Silveira propuseram a dom Eliseu
Coroli a criação de uma maternidade a ser construída com auxílios particulares
e do Governo ficando, a mesma, de propriedade da então Prelazia do Guamá. Com a
aceitação do bispo, Aluízio Ferreira doou o terreno e encaminhou a dom Eliseu 100
mil cruzeiros, mil sacas de cimento para a construção e comprometeu-se a
angariar outras ofertas para a obra.
No início do ano de 1946, o bispo remeteu ao
Departamento Nacional da Criança, o projeto da maternidade para aprovação e
visando conseguir algum auxílio. No dia do aniversário do presidente da
República general Eurico Gaspar Dutra, em 18 de maio de 1946, foi lançada a
pedra fundamental da maternidade em homenagem a esse chefe de Estado. Desde
1948, em reunião com seus padres consultores, Eliseu Coroli explicou que a
construção da maternidade seria gradativa, conforme a obtenção de verbas e que
o já deputado federal Aluízio Ferreira insistia para que a Prelazia também se
encarregue da construção de um hospital. Para isso, o político pleiteou junto
ao Governo recursos no orçamento federal para a sua realização.
Eliseu escreveu então um ofício ao Ministério
da Educação e Saúde, confirmando o compromisso de construir em Bragança um
hospital com vinte e oito leitos, segundo o que recomendava o ministério, porém
com o auxílio anteriormente ofertado pelo Governo Federal. Ainda nesse mesmo
ano, o contrato para liberação de recursos e construção do prédio foi assinado
por Aluízio Ferreira, no ministério, de acordo com o que ele mesmo solicitou.
Foto 10: Maternidade Nsa. Sra. da Divina Providência e Hospital Sto.
Antônio Ma. Zaccaria, em Bragança. Fonte: Acervo IBGE
A Prelazia se comprometeu em prestar contas
da aplicação da verba recebida com a apresentação regular de relatórios e
documentos. Porém, em janeiro de 1952, as obras foram paralisadas devido ao
corte de parte dos auxílios federais referentes ao ano anterior.
Mediante a crise econômica vigente, os padres
consultores concordaram em colocar em funcionamento os dois prédios destinados
à área de saúde sob os cuidados das recém-organizadas irmãs Missionárias de
Santa Teresinha, de forma provisória, sem contrato ou pagamento algum.
Em julho de 1952, dom Eliseu enviou a Belém
para treinamento de enfermagem as irmãs Ângela Rigamonti (prima do padre Miguel
Giambelli), Amélia Torres e a postulante Antônia Albuquerque. Em seu retorno,
em outubro de 1952 e mesmo precariamente, iniciaram os trabalhos da Maternidade
Nossa Senhora da Divina Providência, com a parturiente Jarina Fonseca. Ela foi a
primeira mulher a dar à luz o seu primeiro filho, que recebeu o nome de Antônio
Maria, em homenagem a Santo Antônio Maria Zaccaria, patrono do hospital e
fundador dos Barnabitas.
Mas somente em 06 de novembro de 1952, foram
inaugurados a Maternidade e o Hospital, com o objetivo de trabalhar com a saúde
em uma área desprovida desses recursos. O primeiro médico do hospital foi
Pascoal Pontrandolf, que veio de Belém para trabalhar como clínico e cirurgião,
de forma intermitente, sem residir em Bragança. A partir de 1954, o hospital
começou a formar o seu quadro clínico residente na cidade. Em 1955, chegaram à
cidade três médicos italianos, Caetano Scalese, Mário Lordi e Alberto.
E no dia 19 de março de 1955, dedicado na
Igreja Católica a São José, esposo de Maria, foi inaugurado oficialmente o
Hospital Santo Antônio Maria Zaccaria, hoje parte das Obras Sociais da Diocese
de Bragança.
Eliseu Coroli e a comunicação
A Rádio Educadora de Bragança contou com o
empenho particular de Eliseu Coroli, com o apoio inconteste do também barnabita
padre Miguel Giambelli. Inaugurada em 12 de novembro de 1960, transmitiu
primeiramente o Círio de Nazaré em Bragança, evento pioneiro na comunicação da
região. A entidade contou com os trabalhos de importantes nomes do rádio
paraense e se tornou um marco na comunicação de Bragança, por diversos
trabalhos, entre eles o educacional e o esportivo.
Foto 11: Prédio da Fundação Educadora de Comunicação em Bragança.
Fonte: Acervo Fila.com
A partir da fundação da Rádio Educadora foi
criado o SERB, em parceria com o padre Miguel Giambelli, que se tornou seu
primeiro diretor. O Sistema Educativo Radiofônico de Bragança teve sua origem
em 27 de janeiro de 1958, quando os padres da Prelazia do Guamá, numa reunião
plenária em que examinaram os vários aspectos do assunto, aprovaram por
unanimidade a organização do sistema. Naquela oportunidade foi escolhido o
padre Miguel Giambelli para coordenar todas as iniciativas necessárias à
realização do empreendimento.
Com a fiel colaboração de Giambelli, Eliseu
coordenou os primeiros trabalhos do Sistema Educativo Radiofônico a partir de 1961.
Cada paróquia da prelazia se prontificou a dar uma parte de suas economias
para possibilitar a aquisição do equipamento da Rádio Educadora e dos primeiros
150 receptores cativos, destinados às escolas radiofônicas.
Para
conhecer melhor seu novo compromisso, o padre Miguel Giambelli realizou vários
estágios, entre os quais merece um destaque especial o de Natal/RN, onde teve
oportunidade para estudar a eficiente organização das rádios-escola pelo então
cônego Eugênio Sales.
Em dia
17 de setembro de 1960, o padre Miguel compôs a primeira Equipe Central do
SERB, a qual se dedicou a organizar cursos para monitores nas várias paróquias
da Prelazia. A primeira aula radiofônica ocorreu no dia 17 de abril de 1961,
voltada para 1.508 alunos, distribuídos em 107 rádios-postos.
Eliseu
Coroli participou, em 21 de março de 1961, juntamente com dom José Távora de
Araújo, dom Eugênio Sales e dom Alberto Ramos, da assinatura do Decreto n.º
50.370, do presidente Jânio Quadros, que cria o Movimento de Educação de Base –
MEB. Naquela época, o SERB era o Sistema pioneiro de toda a Amazônia Legal atuando
em tele-educação.
No
início de 1962, o SERB começou a receber ajuda do MEB, sobretudo com receptores
cativos Philips, que nos permitiram ampliar nossa rede de escolas radiofônicas,
tanto que, naquele ano, chegamos a ter 362 rádios-postos, com 6200 alunos.
Em
janeiro de 1965, o padre Giambelli deixa a direção executiva do SERB – embora
permanecendo presidente jurídico – para transferir-se a Belém como vigário da
Basílica de Nazaré, na qual permaneceu até o dia 19 de abril de 1971, data em
que reassumiu o executivo da residência do SERB.
Durante
os seis anos em que o padre Miguel esteve afastado do SERB, surgiram, na equipe
do MEB nacional, elementos políticos e ideológicos contrários aos princípios
que norteavam o sistema. As divergências ideológicas foram sentidas, ao ponto
de dom Eliseu, no ano de 1970, desligar oficialmente o SERB do MEB "pelo
tempo em que continuar na direção do MEB a atual equipe nacional", como
disse textualmente o prelado de Bragança, em seu ofício a dom José Távora, Presidente
Nacional do MEB.
Em 12
de julho de 1971, o SERB renovou o convênio com o MEB, este sob a presidência
de dom Luciano José Cabral Duarte, que proclamou em alto e bom som seguir uma
orientação totalmente diferente da administração anterior, a qual causara o desligamento
entre os dois segmentos. Foram mantidos seus 34 funcionários, dentre os quais
19 estavam ligados ao MEB nacional, circunstância que fez do sistema bragantino
o legítimo representante do MEB na região. A escola conta hoje com alcance em ondas média e onda tropical e reúne
mais de 100.000 alunos em toda a sua história.
Eliseu Coroli e suas obras religiosas
Auxiliado por seu irmão, padre Paolo Coroli,
construiu e organizou o Seminário Santo Alexandre Sauli, fundado em 20 de maio
de 1962 para a formação dos futuros padres e que homenageou o bispo barnabita e
italiano Alexander Sauli, uma referência de vocação ao sacerdócio entre os
barnabitas.
Foto 12: Prédio do Seminário Santo Alexandre de Sauli em
Bragança. Fonte: Acervo Fila.com
Atento às necessidades da religiosidade e da
ausência sentida de suas primeira colaboradoras (da Congregação do
Preciosíssimo Sangue, chamadas de irmãs Preciosinas), Eliseu Coroli também
fundou a Congregação das Irmãs Missionárias de Santa Teresinha em 25 de março
de 1954, para colaborar com os padres na assistência religiosa e na Educação.
Essa congregação tem sede em Bragança e como superiora Geral a Ir. Raimunda
Alves de Sousa. As Missionárias estão espalhadas por diversas residências pelo
Brasil e no exterior, com destaque às missões em território africano.
Foto 13: Dom Eliseu e Missionárias de Santa Teresinha quando da
fundação da congregação. Fonte: Acervo IST
Morte
Após uma longa trajetória, que lhe rendeu
cansaços e agruras físicas, dom Eliseu Coroli morreu às 16h30 de uma
quinta-feira, dia 29 de julho de 1982, na unidade de tratamento intensivo da Clínica
SOCOR em Belém, depois de cinco dias de diversas complicações devido à idade, uma
forte insuficiência e infecção renal, além da parada cardiorrespiratória que
lhe ceifou a vida. Junto a seu leito de morte estavam diversas missionárias de
Santa Teresinha, como a primeira, Irmã Edith Almeida de Souza, que acompanhou
seus instantes finais.
Muitos de seus ex-alunos, religiosos e
religiosas, bispos, padres colaboradores e amigos estiveram na clínica para
verificar o estado de saúde e testemunhas os últimos momentos da vida do bispo
Coroli. No hospital, quatro dias antes, recebeu o sacramento da unção dos
enfermos das mãos do então arcebispo coadjutor dom Vicente Joaquim Zico. Seu
corpo foi preparado e colocado numa urna especial às 18h daquele mesmo dia. No
caixão, haviam desenhos que representavam liras e vários ramos de trigo,
símbolos que coincidentemente faziam parte da espiritualidade do bispo Coroli.
Às 20h30 horas, o carro com seu corpo partiu de Belém em direção a Bragança,
enfrentando uma chuva torrencial no percurso, segundo os relatos das
missionárias que estavam presentes, as irmãs Maria Janete Torres e Maria do
Carmo Mazzoni.
Na chegada do ataúde a Bragança, pelas ruas e
avenidas uma grande multidão aguardava o carro com o corpo de dom Eliseu
Coroli, aglomerada próximo ao prédio do Instituto Santa Teresinha e da Catedral
de Nossa Senhora do Rosário, cujos sinos badalavam de forma fúnebre. Uma sirene
do antigo DER (Departamento de Estradas e Rodagens) do Pará anunciou a chegada
do corpo. Primeiramente, foi à capela do Instituto Santa Teresinha para um
velório privativo das irmãs Missionárias de Santa Teresinha, seguidas de
centenas de pessoas que prestaram suas homenagens ao bispo falecido. Enquanto
isso, na Rádio Educadora, de meia em meia hora, era lida a biografia de dom
Eliseu Maria Coroli, seguida de uma programação fúnebre, como é de costume na
emissora.
Foto 14: Velório de dom Eliseu Coroli, no Ginásio do IST. Fonte: Acervo IST
Às seis horas da manhã do dia 30 de julho de
1982, sexta-feira, a primeira missa de corpo presente foi realizada, na capela
do colégio. Em seguida seu caixão foi levado à Catedral de Nossa Senhora do
Rosário, quando dom Miguel Giambelli concelebrou com inúmeros sacerdotes mais
uma missa de corpo presente. Varias celebrações litúrgicas foram feitas na
Catedral, uma delas celebrada por dom Alberto Ramos, arcebispo metropolitano de
Belém. Até as 15h, seu corpo permaneceu na Catedral, sendo levado depois para o
Ginásio Santa Teresinha, em mais uma missa presidida por dom Miguel. Na
celebração, deram seus testemunhos e prestaram suas homenagens o padre Luciano
Brambilla, representando os padres Barnabitas e a irmã Oneide Rotterdam, pelas
missionárias de Santa Teresinha.
Seu enterro foi realizado em seguida, no
local onde foi construída a capela mortuária no interior da Catedral de Nossa
Senhora do Rosário, ao lado esquerdo (visão de frente) do presbitério e do
sacrário. Somente religiosas e sacerdotes assistiram a esse momento.
Após a morte de Eliseu Coroli
Após o sepultamento, começaram diversas peregrinações,
com pessoas rezando e pedindo graças através do bispo, como se dá em vários
exemplos de tradição católica. Porém, “somente a Igreja pode proclamar a
autenticidade das virtudes heróicas praticadas por aqueles que partiram desta
vida, deixando aos que ficam o testemunho de uma vida santa”, como afirma a
irmã Marilda Teixeira, hoje responsável pelo memorial de dom Eliseu Coroli, no
gabinete n bispo, dentro do Instituto Santa Teresinha.
Em 1994, seu sucessor na administração da já
rebatizada Diocese de Bragança, dom Miguel Giambelli, enviou à Sagrada
Congregação da Causa dos Santos, no Vaticano (Roma), alguns escritos, livros e
documentários que comprovam a vida de santidade de Dom Eliseu. Após estudos e
análises da sede da Igreja Católica em Roma, recebeu a declaração de que
poderia ser aberto um processo de canonização do já então declarado Servo de
Deus dom Eliseu Maria Coroli.
Em 10 de agosto de 1996, o atual bispo de
Bragança dom Luís Ferrando, fez a abertura da fase diocesana do processo de beatificação
de Eliseu Coroli. Para isso, foi nomeado um tribunal para ouvir testemunhas,
analisar escritos, fazer pesquisas sobre a vida e virtudes do bispo italiano.
Os trabalhos foram concluídos, em nível diocesano,
no dia 29 de julho de 2004, quando se deu por encerrado o processo diocesano e
os estudos foram encaminhados à Sagrada Congregação da Causa dos Santos, no
Vaticano. Os textos do processo foram traduzidos para o Italiano, organizados
em livros e analisados por especialistas.
Em oitenta e dois anos de vida, cinquenta e dois
deles dedicados à Região Bragantina, Eliseu Coroli construiu o que chamamos hoje
de “patrimônio Coroli”, não só físico como demonstram suas obras, mas também
espiritual, o propósito de sua missão na Amazônia e sua vida e obra marcaram
para sempre a cidade, a memória e a história de Bragança no século XX.
Foto 15: Página de artigo agosto de 1982, de autoria Antonio Coutinho
de Campos, sobre a morte de dom Eliseu Coroli. Fonte: Romyel Cecim
* Dário Benedito Rodrigues é
bragantino, ex-aluno e ex-professor do Instituto Santa Teresina. Historiador,
pesquisador e docente da Faculdade de História na Universidade Federal do Pará,
em Bragança.
Observação importante: Qualquer publicação
desse material sem a prévia consulta ao autor não está autorizada e se constitui
em crime sujeito às penalidades da legislação brasileira.
Referências:
- BARNABITAS NO BRASIL 100 Anos.
Belém, SOBRAC – Sociedade Brasiliense de Ação e Cultura (Província dos
Barnabitas do Norte); Agência Ver Editora, 2003. 140 p.
- BRAMBILLA, Luciano; MEIRELES,
Vera Maria de Barros; SILVA, Leida Almeida da. Vocação.
Belém: s.e., 2003.
- COLARES, Terezinha. O Missionário Feliz. Paragominas: Gráfica e
Editora São Marcos, 1997.
- DOM ELISEU MARIA COROLI:
Fundador da Congregação das Irmãs Missionárias de Santa Teresinha. Bragança, 11
mai. 1997. 110 p. mimeo.
- RAMOS, D. Alberto Gaudêncio. Cronologia Eclesiástica da Amazônia. Manaus:
Tipografia Fênix, 1952.
- NONATO DA SILVA, Dário
Benedito Rodrigues. Configuração Histórica do
Período de fundação da Congregação das Irmãs Missionárias de Santa Teresinha.
Artigo para a semana jubilar das Missionárias de Santa Teresinha. Bragança, 25.
dez. 2003. mimeo.
- OLETO, Leila S. Rotterdan. Eliseu Coroli, o Educador de Educadores.
(Monografia). Trabalho de Conclusão de Curso em Pedagogia. UFPA: Bragança,
2004.
- FERNANDES, Aldo. Contributo de Dom Eliseu Maria Coroli para o Sistema
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(Monografia). Trabalho de Conclusão de Curso de Ciências da Religião.
Universidade Estadual Vale do Acaraú: Belém, 2003.
- MERCÊS, José Maria Ramos das. Barnabitas 450 anos. (artigo) Voz de Nazaré,
Belém, 22 jan. 1984.
- O ALPHABETO e a palavra de
Deus nas selvas brasileiras. Jornal A Tarde, Rio de Janeiro, 22 ago. 1939.
- OS CINQÜENTA ANOS do Instituto Santa Teresinha. Bragança, 1988. 106 p. mimeo.
- OS CINQÜENTA ANOS do Instituto Santa Teresinha. Bragança, 1988. 106 p. mimeo.
- TRADUÇÃO DOS ESCRITOS DE DOM
ELISEU recolhido do Arquivo da Cúria Generalícia dos Padres Barnabitas, em
Roma, pelo Irmão Gianfranco – Bta. Bragança, 2001. 131 p. mimeo.
- UMA DATA MEMORAVEL PARA OS
BRAGANTINOS. 5 de julho – Lançamento da Pedra do Colégio Santa Teresinha – As
Solenidades – Entusiasmo e Regosijo – Teatro de amadores. Jornal O Bragantino.
Bragança, 14 jul. 1940. n. 97.
Dário, sua pesquisa a respeito de Servo de Deus Dom Eliseu Maria Corole foi de uma sensibilidade e esclarecimento. Peço que podia fazer uma pequeno livro de meditação sobre a vida destes homem de Deus, dividido em nove capítulos que poderá ser transformado em novena, quem sabe. Bem que comecei a escrever um roteiro de meditação, mas percebo que você tem mais propriedade para isso. Espero que o Espírito Santo te ilumine.
ResponderExcluirAmigo Dário!
ResponderExcluirSeu blog a cada postagem se supera. Porém essa postagem aqui é um apanhado histórico riquissimo. Sei que ainda vem muita coisa boa por aí. Sucesso sempre e fica com Deus.
Lela
Muito bem elaborada a história de vida de Dom Eleseu Maria Coroli, pois é sempre bom ter um historiador, para recordar a história de um grande homem que serviu a Deus e aos homens.
ResponderExcluirEu gostei muito, pois fez eu recordar o tempo que estudei no "Sistema Educativo Radiofônico de Bragança", também estudei no colégio "Instituto Santa Teresinha" e também de uma forma especial você foi meu Professor de História do Brasil la no IST.
Boa sorte pra você Professor no seu lindo e belo trabalho.
Ivo dos Santos Lima.
Muito bom o seu blog, fiquei muito feliz em ver como a história de Dom Eliseu é rica. Parabéns!!!!!
ResponderExcluirhttp://bercarionatural.blogspot.com
Parabéns, Dário por seu belo trabalho! Graças a Deus que você é mais um a difundir a vida de nosso querido Dom Eliseu. O que Deus operou através dele deve ser conhecido, pois Jesus fala que nossa luz deve brilhar para que as pessoas vendo nossas obras glorifiquem a Deus. O brilho que o Servo de Deus, Dom Eliseu deixou no mundo testemunha a ternura infinita que o nosso Pai celeste tem por cada um de seus filhos e filhas.
ResponderExcluirO Espírito Santo esteja sempre em sua mente e m seu coração e nossa Mãezinha, a Virgem Maria o acompanhe a cada instante.
Irmã Maria de Fátima Tavares
Que Deus nos abençoe e que as memórias de Bragança possam servir sempre ao crescimento humano, social e espiritual de todos nós.
ExcluirParabéns!! Fico feliz de ler histórias que nos alimentam de lutas com sabedorias.
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