quinta-feira, 21 de abril de 2011

No feriado de Tiradentes, 3 inconfidentes serão sepultados no Panteão da Inconfidência em Ouro Preto/MG

Foto: Panteão da Inconfidência em Ouro Oreto/MG. Por: Sylvana Lobo, Ascom/Ibram

Três inconfidentes serão sepultados no Panteão em Ouro Preto (MG)

Mais de 200 anos após suas mortes no exílio, na África, três inconfidentes – José de Resende Costa, Domingos Vidal Barbosa e João Dias da Mota – ganharão lugar no Panteão do Museu da Inconfidência, em Ouro Preto (MG), juntando-se aos 13 inconfidentes já sepultados no monumento. O sepultamento será feito nesta quinta-feira (21/4), Dia de Tiradentes, com a presença da presidenta Dilma Rousseff; da ministra da Cultura, Ana de Hollanda; e do presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram/Ministério da Cultura), José do Nascimento Junior, além do governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, e do diretor do museu, Rui Mourão.

Na última sexta-feira (15/4), o Instituto Brasileiro de Museus (ao qual o museu é vinculado) anunciou a identificação das ossadas dos três mineiros. A confirmação das ossadas exigiu anos de estudos e uma parceria entre história e ciência. Com o trabalho de especialistas em odontologia legal da Unicamp, o Museu da Inconfidência – que desde 1980 realizava pesquisas históricas sobre o caso – pôde comprovar que os ossos, repatriados da África para o Brasil nos anos 1930, são mesmo dos três inconfidentes. Os estudos foram realizados por equipe da Unicamp chefiada pelo professor Eduardo Daruge, doutor em odontologia legal.

Os inconfidentes identificados:

José de Resende Costa, pai (1728-1798) – Era capitão do Regimento de Cavalaria Auxiliar da Vila de S. João e fazendeiro em Arraial da Laje, hoje chamado Resende Costa (MG). José de Resende Costa foi preso em 1789, junto com seu filho de mesmo nome, e condenado à morte com outros inconfidentes. No degredo, foi contador e distribuidor forense até 1798, quando morreu. Seu filho voltou ao Brasil em 1803.

João Dias da Mota (1744–1793) – Nasceu em Vila Rica. Foi capitão do Regimento da Cavalaria Auxiliar da Vila de S. João e fazendeiro. Era amigo de Tiradentes. Morreu em setembro de 1793, nove meses após chegar a Cacheu, de uma epidemia que assolou a região.

Domingos Vidal de Barbosa (1761-1793) – Nasceu em Capenduva, de família abastada. Estudou medicina em Bordeaux, na França. Participou de forma discreta na conspiração. Encontrou-se com Thomas Jefferson (então embaixador na França e depois presidente americano) na Europa, quando teria obtido apoio à causa dos inconfidentes.

Os 13 inconfidentes já sepultados no Panteão do Museu da Inconfidência:

Inácio José de Alvarenga Peixoto, Tomaz Antônio Gonzaga, João da Costa Rodrigues, Francisco Antônio de Oliveira Lopes, Salvador Carvalho do Amaral Gurgel, Vitoriano Gonçalves Veloso, Vicente Vieira da Mota, Antônio Oliveira Lopes, José Aires Gomes, Luiz Vaz de Toledo Pisa, Domingos de Abreu Vieira, Francisco de Paula Freire de Andrada e José Álvares Maciel.

Histórico da identificação das ossadas:

Depois da execução brutal de Tiradentes, condenado à morte, enforcado e esquartejado em 21 de abril de 1792, os outros inconfidentes foram exilados para Portugal e África. Entre eles estavam os mineiros José de Resende Costa (pai), João Dias da Mota e Domingos Vidal de Barbosa.

Os três foram enviados para Lisboa em junho de 1792. De Portugal, seguiram para o degredo na África — dois para Cabo Verde e outro (João Dias da Mota) para a Vila de Cacheu, Guiné Portuguesa, uma região inóspita onde viviam algumas tribos.

Conforme documentos históricos, Domingos Vidal de Barbosa e João Dias da Mota faleceram logo depois, em 1793. José de Resende Costa, em 1798. De acordo com informações prestadas pelas tribos, os três brasileiros foram enterrados ao lado de uma pequena igreja da vila.

Em 1932, os despojos foram exumados na Vila de Cacheu, a pedido do cônsul brasileiro em Dakar, e identificados como sendo dos três degredados. A identificação, no entanto, baseava-se em informações prestadas por uma indígena, que havia ouvido de seus pais e avós a história de que naquele local estavam enterrados três brasileiros exilados.

Os restos mortais foram repatriados para o Brasil, ficando no arquivo histórico do Itamaraty, no Rio de Janeiro. Eles foram colocados juntos em uma única urna, em condições precárias.

Em 1936, o presidente Getúlio Vargas assinou decreto determinando o repatriamento dos despojos de todos os inconfidentes mortos nos degredos de Portugal e África. No mesmo ano, as urnas de outros 13 inconfidentes chegaram ao Rio de Janeiro e, pouco depois, foram enviadas para Ouro Preto. Em 1942, seria criado o Panteão dos Inconfidentes, para onde foram então levados.

As ossadas dos degredados exumados em Cacheu, porém, por motivos desconhecidos, não foram juntadas às demais em Ouro Preto, no Panteão. Elas permaneceram no arquivo do Itamaraty, o que aumentou as dúvidas dos historiadores sobre a identidade dos mortos.

Só em 1992 as ossadas dos três chegaram a Ouro Preto, ficando na Igreja Antonio Dias até que fosse realizada pesquisa sobre sua identidade. Desde 1980, o diretor do Museu, Rui Mourão, e a equipe de pesquisadores da instituição vinham estudando a autenticidade das ossadas.

O diretor do museu solicitou a colaboração científica da equipe do Curso de Pós-Graduação do programa de Odontologia Legal e Deontologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) para examinar as ossadas.

Em junho de 1993, a equipe da Unicamp, chefiada pelo professor doutor Eduardo Daruge, recebeu o material e começou a separar as peças ósseas. Havia fragmentos de ossos, terra, pedras, pedaços de jornal, fios de cabelo e outros materiais. Os materiais foram separados e armazenados. Analisando cada fragmento de osso pela cor, espessura, relação de continuidade com outras peças encontradas e características anatômicas, a equipe conseguiu separar materiais referentes a três pessoas diferentes.

As peças ósseas de cada um foram submetidas a exames de densitometria óssea, exame radiográfico que mede a densidade dos ossos e pode indicar a idade do organismo.

No caso dos inconfidentes, havia grande diferença de idade entre eles. Resende Costa nasceu em 1728. João Dias da Mota, em 1744, e Domingos Vidal de Barbosa, em 1761. Os resultados indicados pela densitometria coincidiam com as idades estimadas dos inconfidentes, ao morrer.

Reconstituição facial

Havia uma grande quantidade de fragmentos ósseos de um crânio que, pelas suas características anatômicas, deveriam pertencer à porção cefálica de um único indivíduo. As outras duas ossadas possuíam apenas alguns fragmentos ósseos da calota craniana, impossibilitando a sua reconstituição. A equipe conseguiu reconstruir o crânio com a montagem de mais de 140 fragmentos de ossos. As partes perdidas na terra durante a exumação foram reconstruídas em cera branca esculpida. Após os estudos radiográficos e de densitometria óssea, a equipe concluiu que o crânio pertencia a José de Resende Costa.

Uma tomografia computadorizada possibilitou a reconstituição da imagem do crânio em três dimensões. Com a colaboração da University College London, da Inglaterra, obteve-se a imagem computadorizada da possível face do indivíduo. Para isso, usou-se um programa especial para reconstituição facial.

A imagem foi comparada à face de um trineto de Resende Costa, e percebeu-se a coincidência de vários caracteres fisionômicos, como tipo facial, forma e disposição da porção nasal, forma e disposição das regiões orbiculares, forma e disposição da região inferior da face e outras características que indicaram grande semelhança entre os dois.

O Museu da Inconfidência: localizado na antiga Casa de Câmara e Cadeia de Ouro Preto, o museu foi inaugurado em 1944 para preservar, pesquisar e divulgar objetos e documentos relacionados à Inconfidência Mineira. No Museu está o Panteão dos Inconfidentes, monumento criado em 1942. O Panteão tem 14 lápides funerárias, 13 delas ocupadas pelas ossadas dos inconfidentes repatriadas da África e uma vazia, dedicada aos participantes cujos corpos não foram localizados. Nesta lápide serão sepultadas as ossadas de José de Resende Costa (pai), João Dias da Mota e Domingos Vidal de Barbosa. O Museu integra a estrutura do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram/Ministério da Cultura).

Fonte: http://blog.planalto.gov.br

Registro:

O Panteão do Museu da Inconfidência fica localizado na histórica cidade de Ouro Preto e já recebeu os restos mortais de 13 inconfidentes já sepultados, após suas mortes no degredo na África. Havia uma grande quantidade de fragmentos ósseos de um crânio que, pelas suas características anatômicas, deveriam pertencer à porção cefálica de um único indivíduo.

Esses restos mortais enriquecem o acervo do museu, que conta a partir de hoje com 16 inconfidentes sepultados que tiveram suas ossadas repatriadas na década de 1930. Os despojos de 10 dos inconfidentes não possuem paradeiro conhecidos, inclusive do próprio Tiradentes (Joaquim José da Silva Xavier), considerado mártir do movimento.

A identificação desses ossos só pode ser concluída 80 anos depois, devido a uma longa e criteriosa pesquisa histórica e científica que pudesse comprovar a legitimidade dos ossos. Desde a década de 80, pesquisadores e especialistas em Odontologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Museu da Inconfidência estudaram esses restos mortais. Após as análises e informações técnicas, a precisão da pesquisa indica a certeza em 98% a 100% de que as ossadas pertencem mesmo aos inconfidentes.

Fonte: http://www.cultura.gov.br/site/2011/04/15/ossadas-de-inconfidentes

Foto: Ossadas em processo de reconstituição e identificação. (Blog do Planalto)

Foto: Ossadas em processo de reconstituição e identificação. (Blog do Planalto)

Foto: Reconstituição facial e reconstituição da ossada de Resende Costa. (Ministério da Cultura)

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