quinta-feira, 24 de junho de 2010

24 de junho de 1883: assentados os primeiros trilhos da Estrada de Ferro de Bragança

No dia 24 de junho de 1883 foi sentado o primeiro trilho da Estrada de ferro de Bragança. Iniciava-se assim, a fartura que se prenunciava, “através das organizações agrícolas que iam ser fundadas e trabalhadas com ajuda dos colonos estrangeiros” (no caso da Zona Bragantina, a ocupação de povos portugueses e espanhóis contribuiu para agilizar a colonização agrícola, como há também a regulação para sua presença).

A correspondência em tela esclarecia que a empresa estava disposta a iniciar os trabalhos da ferrovia, conforme contrato estabelecido anteriormente e que a nova empresa desejava assumir nos novos termos. Entretanto, o Presidente provincial discordava da idéia alegando que o referido contrato já havia caducado e que o Império não manifestou fianças à garantia de juros. Certificado da importância da ferrovia para a região, o visconde de Maracaju se manifestou disposto em firmar contrato adicional, caso a empresa aceitasse as condições orçamentárias aprovadas pelo dirigente da Província, o que não deveria exceder a 30 contos de réis por quilômetro construído.

Aceita a proposta pela empresa, que também tinha seus interesses, o contrato foi assinado em 16 de junho do mesmo ano. Para dar início a obra, a referida empresa fez uso de 10% (dez por cento) do capital disponível, para fazer frente às despesas iniciais dos trabalhos de construção. Para começar a obra tornava-se indispensável, entre outros, os seguintes fatores: preparação do terreno e do leito da estrada, aterros, colocação dos trilhos sobre os dormentes, canalização da água, construção de pontes, drenagem de pântanos, além dos problemas relativos à segurança, como cercas, telegrafias, etc.

Em Bragança, na área urbana foi adquirido um terreno medindo 1.960 m² (c Conforme Escritura Pública lavrada com nota do Tabelião Antônio Diniz sob o n.º 1.850, de 11 de abril de 1935). O adquirente do referido terreno foi a Estrada de Ferro de Bragança. Quanto ao uso não se tem conhecimento em que foi empregado, sabe-se, entretanto, que o mesmo foi adquirido com todas as suas benfeitorias, servidões e acessos dentro da zona urbana, e que as suas medidas eram bastante extensivas.

O material utilizado na construção era de fabricação internacional, já que os equipamentos empregados eram de alta tecnologia e por essa razão deveriam ser importados, visto não existir no Brasil produtos similares. Aqui chegaram desde o mais simples grampo, parafuso com porca, arruelas até as complicadas locomotivas.

E assim a ferrovia bragantina, uma das primeiras estradas de penetração construída no Brasil e no Pará, foi responsável pelo desmatamento de grande parte dessa área amazônica, contribuindo tanto para o progresso da região como para a transformação do espaço geográfico. Isso teve início a 24 de junho de 1883 com a colocação dos primeiros trilhos.

Conforme relato de historiadores paraenses acima citados como Ernesto Cruz, o visconde de Maracaju e outras autoridades provinciais presenciaram a cerimônia de fixação dos primeiros trilhos, realizada pelos engenheiros Batista, Weower, Moura e Campos. Os trilhos foram colocados sobre dois dormentes de mármore, nos quais estavam registrados os seguintes dizeres:

“Estrada de Ferro de Bragança, primeira estrada de ferro construída na Província do Pará, inaugurada em 24 de junho de 1883, sendo presidente o Ex.mo. Sr. General visconde de Maracaju – Estrada de Ferro de Belém Bragança – Organizada e construída por B. Caymari, sendo engenheiro chefe M. B. Batista; 1º engenheiro H. E. Weower; engenheiro Ignácio B. de Moura, A.O.R. da Costa, F. Martins; auxiliar H. Sholl; contador Elkin Hime Júnior; diretores Barão de Mamoré, Otto Simon e Michel Calogeras”.

Os primeiros trilhos foram firmados com oito pregos de bronze prateados, sendo este gesto realizado pelas autoridades que se fizeram presentes ao evento, entres eles encontravam-se Dom Antônio de Macêdo Costa, Bispo Diocesano do Pará, o General Tibúrcio, Comandante das Armas, o Chefe de Polícia Tenente-coronel João Diogo, o Presidente da Câmara Municipal de Belém, Conselheiro Tito Franco, Joaquim Cabral e o jornalista Joaquim Lúcio.

Dentro do panorama capitalista o caminho de ferro traria para a região benefícios inigualáveis, visto ser essencial para a implantação da indústria e da agricultura. Aos poucos iam se instalando os trilhos por onde passariam os trens com a idéia de levar prosperidade e desenvolvimento.

A escassez de produtos de primeira necessidade levou o governo da Província a pensar na colonização da região, assentando ao longo da ferrovia colonos oriundos de diversos países do mundo. Porém, com a chegada desses colonos, foram surgindo os problemas de adaptação motivados por vários fatores, desde a vida árdua até as doenças que contraíam. Poucos foram os que se alimentaram e permaneceram na zona rural. Entre os imigrantes haviam os provenientes de alguns estados brasileiros, em especial, nordestinos, que se dirigiram para Bragança, aliciados pelas propagandas que eram feitas dos seringais e o que provocou a escassez dos gêneros de primeira necessidade.

Referência do texto: NONATO DA SILVA, Dário Benedito Rodrigues. Ao apito do trem: uma história social e política da Estrada de Ferro de Bragança. (Inédito). Bragança: 2006. Artigo apresentado ao Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia, da UFPA Belém, alusivo ao centenário de inauguração da Estrada de Ferro de Bragança (1908-2008).

Imagem: Estação da Estrada de Ferro de Bragança. Fonte: Acervo particular de Manoel Aviz de Castro.

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