Poucos bragantinos e
interessados na História de Bragança conhecem esse hino e o seu significado. Trata-se
de uma canção com letra do insigne professor Bolívar Bordallo da Silva e música
de Manoel Belarmino da Costa, escrita e musicada especialmente para as comemorações
da fundação da Vila de Bragança, fato que se reporta a 11 de outubro de 1753. O
hino encontra-se no livro inédito de Bordallo intitulado Cronologia Bragantina, de onde extraímos esta
publicação.
Essa data era considerada
pela geração de Bolívar Bordallo como aparecimento da expressão “Bragança” nos
documentos oficiais, cuja fonte é a carta do governador Francisco Xavier de
Mendonça Furtado ao rei de Portugal com a intenção de organizar a vila de
Bragança no antigo lugar da Vila Souza do Caité (antiga forma de escrita da
palavra hoje grafada por “Caeté”).
A letra é uma exaltação ao ethos
bragantino, especialmente quando se analisam as peculiaridades econômicas,
culturais e sociais, além dos fatos do século XX. A cidade ainda se percebia recebendo
uma grande influência da capital do Estado do Pará, ligada por uma via férrea, com
um comércio diversificado, com serviços urbanos em amplo crescimento, com uma forte
indústria de café (as antigas torrefações), com a comercialização do tabaco.
À época, a cidade contava
também com respeitáveis noticiosos, revistas, jornais e forte uma vocação literária
e musical, enfim, um sentimento baseado nos respingos da modernidade tão divulgada
e vivenciada no início do século XX era o motivo principal do apego de parte da
sociedade bragantina ao seu passado e sua História.
É de se notar a grande
vinculação da letra escrita por Bolívar Bordallo às práticas culturais dos
povos indígenas, relacionando-se com os índios tupis que por aqui se chamaram “caités”,
da nação Tupinambá, além da exaltação da natureza da cidade.
Eis a letra do hino:
Hino do 2º Centenário
da Fundação de Bragança
Letra: Prof. Bolívar
Bordallo da Silva
Música: Tenente Manoel Belarmino
da Costa
Terra bravia de uma raça altiva!
Pátria indomável de viril nação!
Ouve o fragor de luta primitiva
ao sussurrar a briza uma canção.
Tambores, maracás e tangapemas,
arcos, flechas, com vigor brandidos;
retinem na floresta, entre pocemas,
gritos de guerra c’o altivez erguidos...
Brava terra brasílica, tupi,
estende o manto verde e ubertoso
das matas vicejantes do Curi
às alvas praias do Caité formoso!
Pátria indomável de viril nação!
Símbolo de riqueza e de esperança!
Guarda contigo, bem no coração,
o nome lusitano de Bragança.
Em 31 de dezembro de 1954.
Glossário:
Altivez: nobreza,
elevação, brio, orgulho, amor-próprio.
Bravia: bruto,
selvagem, bravo agreste, silvestre.
Fragor: ruído muito
forte, estrondo, estampido.
Pocemas: gritos de
guerra, cantos selvagens.
Tangapema: do Tupi,
quer dizer espada de ferro, feminino de tacape.
Ubertoso: abundante.
Vicejante: que viceja,
que tem viço, vegetar com opulência, que viça.
Foto: Orla de Bragança, de Tibor Jabonsky. Acervo: IBGE
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