sábado, 19 de março de 2011

Leia e reflita sobre o tema da Campanha da Fraternidade 2011

Tema: Fraternidade e Vida no Planeta

Lema: “A criação geme em dores de parto” (Rm 8,22)

1 – Uma Campanha da Fraternidade na Quaresma

No próximo dia 9 de março, Quarta-feira de Cinzas, a Igreja Católica em nossa Nação, através da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, abrirá a Campanha da Fraternidade, cujo tema será Fraternidade e Vida no Planeta e o lema: “A criação geme em dores de parto” (Rm 8,22). Na mesma ocasião, a Igreja celebrará a abertura da Quaresma, Tempo Forte no Ano Litúrgico para que os Fiéis se preparem – pela Oração, o Jejum, a Esmola e a Oração – para celebrar, sempre mais convertido a Jesus Cristo, Palavra Viva do Pai, a Páscoa, vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, realizada por meio de Sua Morte e Ressurreição.

2 – CARTAZ DA CF-2011

O Cartaz da CF-2011 está composto por uma arte em dois planos: uma fábrica ao fundo e no alto, com suas chaminés lançando fumaça na atmosfera, polui e degrada o ambiente; a água do rio que está mais abaixo está escura e suja, visivelmente devastada; uma mureta separa os dois planos do cartaz: o plano inferior e mais vivo mostra uma pequena árvore com suas raízes coladas na mureta, ao lado de outra árvore mais verde dá o exemplo de resistência às devastações e denuncia que a criação geme em dores de parto (Rm 8,22). A borboleta mostra que ainda existe esperança, mesmo com vida curta, cumpre seu importante papel no ciclo natural do planeta.

3 – JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DO TEMA

A perspectiva da escolha do tema da Campanha da Fraternidade (feita há dois anos atrás pelo CONSEP – Conselho Episcopal de Pastoral – CNBB) situou-se na percepção das mudanças climáticas e do aquecimento global. O tempo está mudando: segundo dados do IPCC (Programa Intergovernamental de Mudanças Climáticas, da ONU – 1988), de 1750 até 2005 a temperatura média do planeta subiu de 2º C. Caso não haja alteração no avanço da emissão de dióxido de carbono na atmosfera, subirá até 4º C até 2050. Em geral, parece pouco, mas foi o suficiente para: derreter geleiras antárticas, desertificar grandes áreas, alagar com enchentes, chuvas mais intensas e ácidas, elevação dos níveis do oceano com avanço da água sobre o território, muito calor, migrantes do clima (hoje 700 milhões no planeta), savanização de grandes partes da Amazônia.

As causas destas alterações não são simplesmente de ordem natural; resultam de ações humanas sobre os recursos naturais. A biodiversidade está se modificando: florestas sendo queimadas, muito petróleo em combustão, gás metano usado em larga escala, A atmosfera está comprometida com os gases que produzem o efeito estufa.

Os raios solares (infravermelhos – que produzem calor – e ultravioletas que produzem irradiação) não atingem em 100% a superfície da terra; 40% é refletida e volta ao espaço; a outra parte é absorvida e refletida também. A atmosfera, com o gás ozônio e outros gazes como dióxido de carbono, óxido nitroso, clorofluorcarmonetos, e partículas de água, absorve o calor do raios infravermelhos e produz um calor que, em excesso, altera os biomas terrenos.

Causas antrópicas definem estes fenômenos: a cosmovisão moderna vê o homem centrado em si mesmo e separado da natureza. A ciência moderna neutraliza a vida e relativiza o seu valor, reduzindo-a à matéria utilizável para demonstrações empíricas.

As agressões ao meio ambiente vão da produção de lixo descartado na natureza até à produção de gases venenosos e de longa duração no meio ambiente. Estão em crise as condições de vida para a biodiversidade no planeta! O momento de agir é agora. Adiar medidas e decisões significa tornar as condições de vida ainda mais comprometedoras.

4 – EFEITO ESTUFA E AQUECIMENTO GLOBAL

O fenômeno do aquecimento global se dá por causas naturais e, em maior escala, pelas atividades do processo de industrialização. A emissão de Dióxido de Carbono, Óxido Nitroso, Gás Metano, dentre outros, tem causado o efeito estufa e aquecido a temperatura no planeta, influenciando de modo determinante nos ecossistemas marinhos, atmosféricos, geográficos e com marcas na fauna e na flora, sobretudo na produção de alimentos e de condições para a vida humana, vegetal e animal saudável.

O equilíbrio da simbiose entre árvores e homens assegura a produção do dióxido de carbono em níveis suficientes e necessários para o benéfico efeito estufa; todavia, a emissão feita de dióxido de carbono pelas queimadas, pela combustão de petróleo e do óxido nitroso feito pelos gases usados nas fertilizações no agronegócio: tudo isso aumenta a temperatura pelo efeito de estufa que eles causam, pela quantidade de absorção de calor dos raios infravermelhos do sol.

5 – ATIVIDADES HUMANAS QUE MAIS EMITEM GAZES DE EFEITO ESTUFA

Destes gases, 80% são emitidos pelas matrizes energéticas: a combustão de petróleo e seus derivados, de queimadas de florestas e de gazes metanos. A cadeia de produção de energia atômica e agro-energias (pró-álcool), bem como das hidrelétricas, produzem impactos ambientais que aumentam o efeito estufa.

Outros fatores: desmatamentos, concentrações humanas, número de reses (gado) no planeta (1 cabeça de gado para 4 pessoas = quase 2 bilhões de cabeças de gado no mundo), a industrialização dos alimentos (antecipação de amadurecimentos de animais e vegetais), a manufatura de elementos químicos para conservação de alimentos e temperos, bem como a produção de bebidas; a produção de sprays… o uso abusivo de elementos químicos na extração de minérios e do petróleo, bem como na produção de energia, a construção de hidrelétricas (com grandes áreas de alagamentos – produtoras de metano liberado pelas espécies fossilizadas), a emissão de ácido sulfúrico e de dióxido de enxofre das erupções vulcânicas.

6 – QUESTÃO POLITIZADA

Há outras teorias que explicam o fenômeno do aquecimento global: processo natural que ocorre com o sol (grande máximo ou grande mínimo – períodos de aquecimento e resfriamento naturais da terra em virtude das explosões solares) que com a mudança axial do eixo da terra em sua rotação… Há interesses antagônicos de quem defenda esta teoria em confronto de quem procura explicar o aquecimento global com a emissão de gases de efeito estufa. Quem produz a problemática tem interesse nela pelos lucros que ela lhe permite obter, e tem como se defender dos efeitos da problemática do aquecimento global. Quem sofre os efeitos do fenômeno não tem como se defender e olha para a questão sob a ótica da fé e da honestidade com a lei natural e divina.

7 – MATRIZES ENERGÉTICAS POLUENTES E NÃO-POLUENTES

As matrizes energéticas que mais poluem a atmosfera e emitem mais gases de efeito estufa são as que a queimam combustíveis fósseis, gazes e a floresta. Precisaria contrapor a estas matrizes as que não poluem: energia eólica (do vento), solar (captação dos raios solares), geotérmica (calor das camadas interiores da terra); oceânica (energia captada da força das ondas marinhas e marés); hidrelétrica (captada da força do curso dos rios e represa); biomassa (combustão do bagaço da cana).

8 – JULGAR A REALIDADE A PARTIR DA PALAVRA E DA MENTALIDADE DO CRIADOR DO COSMOS

Nosso Deus é o Deus da vida! A Bíblia é iniciada pela vitória de Deus sobre o caos, criando e organizando tudo em vista do bem. Ele mesmo dá a medida da visão de cada coisa: Ele viu que tudo era bom!

A ordem de submeter a terra e dominá-la, sugere cultivo, ânimo, harmonia de convivência. A dominação que tem explorado os recursos naturais até seu exaurimento revela a distorção do plano divino de felicidade e glória.

No Livro do Deuteronômio 20,19 – cuidar das árvores, mesmo em situação de guerra e de sítio ao inimigo (ecologia no Antigo Testamento). Dt 23,3-14 – fazer fossas (esgoto e saneamento); Is 10,14 – critica o domínio assírio, denunciando a devastação da terra e das pessoas.

Tudo o que desumaniza as pessoas e o meio ambiente se opõe a Deus e seu desígnio de amor. Torna-se pecado por matar a vida, e a motivação maior é a da valorização da mercadoria e do ganho.

O Shabbat, o Sábado, é o dia de descanso da pessoa. Na Lei de Javé, a posse e uso da terra ganhava repouso no ano sabático ou do Jubileu, a cada 49 anos, um era de repouso e devolução ao dono original. O verdadeiro dono da terra continua sendo Deus. As tentações a que Jesus foi submetido revelam o uso de Deus para a supervalorização do que não precisa ter tanto valor: comida, o prestígio e o prazer e poder (político ou religioso).

As atitudes que se contrapõem à Lei de Deus devem ser rejeitadas pelo cristão, denunciadas e combatidas.

O Sábio reza: concede-me apenas minha porção de alimento, para que – saciado – eu não tenha que me esquecer de Ti, Senhor (Provérbios 30,7-9). Voltar ao essencial, ao suficiente, com sacrifícios, é cada vez mais o ideal que se vislumbra.

9 – JUÍZO QUE VEM DA MISSÃO EVANGELIZADORA DA IGREJA

O valor da vida no planeta é tal e se impõe de modo que países europeus estão tendo que reformular sua economia e organização social: a força de trabalho da juventude local não existe mais como antes; a população envelhece; aumenta a migração com substituição dos europeus pelos migrantes até em cargos políticos. Tudo isso, associado à crise econômica que se agrava pelos países europeus, preocupa a todos.

A Igreja, em seu Compêndio de Doutrina Social adverte continuamente para a valorização de Deus e o desenvolvimento O coloque como critério e fundamento, em vista do bem estar de todos os homens, sobretudo os mais desprotegidos, com respeito à natureza e seus recursos vitais. Bento XVI, na Caritas in Veritate adverte que sem Deus no centro e na motivação mais profunda e primeira, o desenvolvimento humano se torna cego e escravo de tiranias sociais e econômicas.

No Brasil, Bispos da CNBB e as Comunidades de todas as nossas Dioceses, bem como os homens de boa vontade e senso ecológico constituem a Sociedade organizada que grita pela natureza agonizante: um S.O.S. para que o Planeta seja respeitado e consiga garantir as condições de vida para todos. Enquanto não houver uma reforma dos costumes e das políticas ecológicas nas pessoas e nos grupos, nos governos e nas empresas, a Terra vai continuar produzindo efeitos auto-defensivos, hostis à humanidade, como os que ultimamente tem se tornado apenas um alerta do quanto mais poderá acontecer.

10 – AGIR EM COMUNHÃO

Os grupos de defesa ao meio ambiente e as organizações governamentais precisam construir uma agenda comum. Não basta que cada um faça se conforme em fazer sua parte, por vezes desvinculada do apoio dos demais. A ação reconciliadora com a mãe terra há de ser familiar, de homens e mulheres unidos em vista do mesmo ideal: para que a terra e a humanidade pare de gemer, ou mesmo que os gemidos atuais sejam ouvidos para que uma nova realidade surja quando cessarem as agressões violentas contra a natureza criada.

Belo Monte e outras obras do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, a transposição do Rio São Francisco, mas também as práticas de desmatamento para garantir o pasto para o gado, e a terra para o cultivo de monoculturas (soja, milho, etc.), são ações a serem normatizadas com rigorosa fiscalização governamental, e incentivo para a justa distribuição das riquezas e recursos da produção para os mais pobres. As desigualdades sociais e econômicas, corroboradas pela inércia culposa do sistema político, egocêntrico em nosso país, contribuem para a geração destas catástrofes naturais cuja causa antrópica é bem mais cínica e interesseira do que se critica e publica.

Ou todos se convertem para ouvir este grito de Cristo que fala pela Obra criada pelo Pai para o bem dos homens, comprometendo-se seriamente em acordos a todos os níveis, ou estes mesmos homens serão as vítimas da escalada dos desastres reveladores da rebelião da obra criada, que se defende das agressões daqueles que deveriam ser os seus fiéis e sábios administradores e beneficiários – os homens e mulheres a quem Deus entregou a terra para que a dominassem para torná-la um berço de vida!

Belém, 6 de Março de 2011.

Pe. Aldo Fernandes

Diretor do Instituto de Pastoral Regional

CNBB-IPAR (Belém do Pará)

Fonte: Site da Diocese de Bragança/PA

http://www.diocesedebraganca.com/osdb

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