Minuto da Universidade
Turismo alternativo, distribuição de renda e valorização do patrimônio.
18.01.2011 - Por Uriel Pinho
Ao observarmos o modo de vida das pessoas que estão nas grandes cidades, é possível perceber que momentos que de alguma forma proporcionam a “fuga” do espaço urbano são cada vez mais supervalorizados. Pode-se dizer, então, que atividades como viagens de férias, finais de semanas em um ambiente rural ou em um espaço que proporcione o contato com a natureza, são momentos de ruptura mesmo que momentânea com o lugar onde se vive e até mesmo com o tempo cotidiano.
Dessa maneira, e observando que as atuais formas de produção capitalista estão sempre examinando o que tem potencial para a venda ou aquilo que envolve desejos, cada vez mais íntimos, dos consumidores em potencial, o Turismo tem se firmado com um dos mercados mais lucrativos do mundo.
Apesar dessa lógica, não podemos perder de vista o papel das atividades desse segmento, inclusive, para o desenvolvimento de uma região. Há certas ações turísticas que promovem mudanças em comunidades carentes ou que vivem em locais considerados desvalorizados ou valorizados somente pela lógica mercadológica.
É o caso do projeto de extensão “Roteiros Geoturísticos: conhecendo o centro histórico de Belém na Amazônia” que propõe a criação e implantação de roteiros turísticos no bairro da Cidade Velha, o mais antigo de Belém, priorizando a memória e as referências culturais dos moradores do próprio bairro, a partir de conhecimentos da Geografia, História, Arquitetura e Turismo.
A proposta do projeto é resultado dos estudos e debates realizados no grupo de pesquisa em Geografia do Turismo - “Turismo e Desenvolvimento sócio-espacial na Amazônia”, coordenado pela professora Maria Goretti da Costa Tavares, da Faculdade de Geografia e Cartografia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFPA. O principal objetivo é a efetiva participação da sociedade local, por meio do resgate da memória socioespacial dos moradores, promovendo a valorização desses conhecimentos e despertando nessas pessoas a necessidade de preservar o patrimônio histórico e cultural do bairro,
A acumulação em pesquisa, desde o ano de 2002, levou o grupo a constatação de que as “rugosidades” de Belém, ou seja, o patrimônio material e as marcas culturais remanescentes dos processos histórico-sociais da cidade que é marco da colonização amazônica, ainda são pouco valorizadas. Conseqüentemente, esse patrimônio não é utilizado de maneira estratégica para educar e gerar renda por meio da atividade turística.
Além de bolsistas de extensão o grupo conta com a colaboração de membros de instituições como a Universidade do Estado do Pará (UEPA), Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) e Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
RENDA – Por meio de oficinas e palestras, realizadas no Infocentro Fábrica Esperança, no Bairro do Reduto, vizinho à Cidade Velha, a equipe do projeto busca sensibilizar os moradores da área para a importância da história e cultura evocadas pelos espaços do bairro. A partir desse intercâmbio, são estruturados roteiros temáticos que incluem visitações ao bairro, a pé ou pelo rio, guiadas tanto pelos professores e alunos do projeto como pelos moradores. A primeira edição de um roteiro produzido pelo projeto foi percorrida no último dia 12 de Janeiro, aniversário da cidade de Belém.
A partir de ações como essa, cria-se a possibilidade de gestão comunitária desses roteiros, desenvolvidos a partir das comunidades da Cidade Velha e não implantados de acordo com interesses externos. Interesses que muitas vezes contribuem para a formação de estereótipos sobre pessoas e lugares, desconstroem sua espontaneidade, além de não propiciarem ao turista a vivência das dinâmicas de tempo e espacialidade autênticas das populações locais.
A proposta não é oferecer o turismo como solução de todos os problemas de um bairro e muito menos de uma cidade. Mas primeiramente sensibilizar os atores sociais do bairro para o valor histórico e social de onde vivem e permitir que a história e o significado da cidade sejam contados a partir da trajetória de vida de seus habitantes.
FONTE: http://www.portal.ufpa.br/interna_minutodauniversidade.php
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