Serapião
Manoel da Mota, era um preto velho muito estimado por toda Bragança. Nunca fora
escravo, porque seu nascimento ocorrera depois da Lei Imperial do “Ventre
Livre”.
Dedicou-se a
domar pôdros, transformando esses cavalos novos em verdadeiros animais de sela,
esquiadores, na época em que as magnatas do comércio, industrias e da política
partidária, aos domingos, feriados e dia santificados, à tarde, transformavam
as nossas vias públicas em pistas de corridas, aparelhados com outros
companheiros, todos com seus cavalos vistosos, bem encilhados, ajaezado com
bonitos arrêios e selim, vindos da Inglaterra, ou aqui mesmo, caprichosamente,
confeccionados, pois nesses remotos tempos o Pará não sabia o que era um jeep,
camionete e nem automóvel.
Cada senhor
respeitável possuía seu cavalo de sela, bem tratados, na cocheira de Serapião,
para seu passeio e corridas domingueiras.
Serapião era
muito devoto de São Benedito e fazia parte da Irmandade desse santo tão querido
do nosso povo. Na procissão beneditina, envergava, com orgulho a roupa parda
dessa irmandade, como também, tomava arte da “Marujada”, ou tocando o tambor, ou também, rodopiando com os
demais, tanto nas ruas da cidade, quando a “Marujada”
ia para as casas dos juizes da festa, ou vinham para o arraial da Igreja, como
na barraca dançava o “lundú”, o “chorado” e o “retumbão”.
Um certo dia
de janeiro de 1925, depois da festa do Santo Moreno, que terminava a 26 de
dezembro, quando éramos Oficial do Registro Civil de Nascimento, entrou em nosso Cartório, o
Serapião. Notamos, ele, pensativo e sério, quando sempre o víamos risonho...
Dando o
“bom-dia” costumeiro, o Serapião pediu “um
particular”. Queria falar, a sós, conosco. Fomos para o interior do
Cartório onde a Serapião explicou-se:
- Tivera, na
noite anterior, um sonho. São Benedito apareceu-lhe, abençoou-o e disse: “Serapião, eu gosto muito de ti. Tu és o mais
devoto dos meus crentes. Gosto de te vêr na minha “Marujada”. Como tu sabes
dançar bem, e como cantas bonito tocando o tambor! Serapião, muda teu nome para
Benedito. Olha, a família que tiver um filho com o meu nome, será sempre feliz,
porque eu protegerei essa família”.
E São Benedito
desapareceu. Serapião afirmou que viu o Santo, já não estava mais dormindo, e
que rezou o resto da madrugada toda!
Queria, o
Serapião, que nós registrássemos novamente, ele, com o nome de Benedito.
Estivera com o Padre Borges de Sales, Vigário da Paróquia, e não conseguira uma
retificação no seu batistério, mas, lembrara-se, que nós poderíamos no Registro
Civil, atendê-lo nesse seu grande desejo.
Explicamos ao
Serapião, abrindo o velhíssimo livro de Termos de Nascimento, que a Lei,
considerava imutável o prenome, o que queria dizer: não pode ser mudado. Mas,
no assento do nascimento dele, de vez, que, antigamente, eram os registros
feitos somente com o prenome de registrando, não sendo exigido o nome
sobrenome, ele poderia requerer ao juiz de Direito, não retificação, mas que
mandasse averbar, no termo de Nascimento dele, para que figurasse depois do
prenome Serapião, o nome Benedito e o sobrenome Mota, não usando mais o nome de
Manoel.
Alegremente,
pediu que fizéssemos a petição e está assinada e junta a certidão onde constava
somente o prenome Serapião, ele mesmo levou ao Juiz, Dr. Borborema, que
deferiu.
Depois de
averbado no Termo a adoção do nome Benedito e sobrenome Mota, o Serapião já
sorridente, levou a certidão onde já constava o que ele queria e também a São
Benedito:
Serapião
Benedito da Mota!
- E, de fato,
foi sempre feliz, na sua humildade de preto velho, o Serapião Benedito da Mota
que criou seu filho Hilário Benedito da Mota, no mesmo ofício de domador de
pôbro, ensinando cavalo chotão a esquipador.
Fonte:
CEZAR PEREIRA, Benedito. Sinopse da
História de Bragança.
Belém:
Imprensa Oficial, 1963. p. 221-223.
Foto: Acervo de pesquisa.
Essas histórias engrandecem nossa tão amada festa e nosso amor por este santo preto.
ResponderExcluirFoi muito bom pra mim conhecer a história de vida do Preto Serapiao, trabalho com este velhos nunca tinha ouvido falar dele, para mim é uma frota efetiva da minha espiritualidade. Grato pelo Blog
ResponderExcluirEntão se tem o preto velho Serapião e Benedito?
ResponderExcluirSão pretos velhos diferentes?
Pois não conhecia o Preto velho Serapião