sábado, 10 de dezembro de 2011

Rememorando a História do Tiro de Guerra 08/002 de Bragança

O Tiro de Guerra (TG) é uma instituição militar do Exército Brasileiro, encarregada de formar reservistas para o Exército. Os TG’s são estruturados de modo que o convocado possa conciliar a instrução militar com o trabalho ou estudo. É organizado num acordo entre Prefeituras e o Comando da Região Militar. O Exército fornece instrutores, fardamento e equipamentos e a Administração Municipal fornece as instalações. Existem hoje mais de 200 TG’s distribuídos pelo território brasileiro.

Tiro de Guerra no Brasil e em Bragança – A origem do Tiro de Guerra remonta ao início do século XX, no ano de 1902, quando se fundou no Rio Grande do Sul uma sociedade de tiro ao alvo com finalidades militares. A partir de 1916, no impulso da pregação de Olavo Bilac em prol do Serviço Militar obrigatório, transformou-se com o apoio do Poder Municipal, num tipo de organização militar essencial à formação de reservistas para o Exército brasileiro.

Em Bragança, o Tiro 596 foi fundado no ano de 1918 (cf. Revista “Bragança Ilustrada”, n.º 4, Ano I, junho de 1951, p. 15), com mais de 250 alunos, comandados pelo Tenente João Franco da Silva, mais tarde capitão e prefeito (ocupou o cargo duas vezes, por cerca de sete meses entre os anos de 1933 e 1934). Na época, era prefeito Simpliciano Fernandes de Medeiros.

Entre os alunos do Tiro de Guerra de Bragança, nº 596 estavam Propércio Oliveira, Rodrigues Pinagé (tenente graduado, orador e poeta paraense), Oscar Ferreira, Moacir Ferreira, Enéas Oliveira, Joaquim Mescouto, Mansueto Mesquita, Raimundo Sousa, Dornelas Bittencourt, Pedro Sousa (gráfico), Magno Sousa, Pedro Araújo, Manuel “Jejú” e Antônio Ramos Júnior (dentista). Realizaram diversas excursões pelo interior de Bragança (Mirasselvas, Tracuateua, Urumajó, Caratateua e Campos). Essas informações estão na Revista “Bragança Ilustrada”, n.º 4, Ano I, junho de 1951, p. 15).

A Pesquisa – A quantidade de fontes impressas e de imagens dá conta de como é possível acessar algumas informações sobre o Tiro de Guerra antes de sua formação com o título 08/002, na segunda metade do século XX, num mosaico de relações entre sujeitos sociais, experiências, opiniões, lutas, desejos e exaltação ao serviço da entidade, muito presente no texto.

Esses dados também se constituem em informações de como estava organizada a agremiação à época, através de um grupo social que se integrava aos objetivos de melhor aparelhamento da segurança e de formação de pessoal capacitado ao Serviço Militar no período da 1ª República.

“Editaes” – Edital de convocação de eleição para diretoria (presidente, vice-presidente e conselho fiscal do Tiro de Guerra 596, no jornal “A Cidade”, de 21.06.1918. Note-se que a sede da entidade localizava-se à Rua General Gurjão, esquina da Travessa Vigário Mota, próximo ao prédio da Intendência Municipal (hoje Palacete Augusto Corrêa).

Alguns Fatos – Em 1928, como ainda não estava organizado o Desfile Cívico de 7 de setembro, os soldados do Tiro de Guerra desfilaram em Belém, com garbo e disciplina, impressionando as autoridades militares de então, o que gerou um ofício de agradecimento e carinho. No mesmo ano, que iniciava as atividades instrucionais em 1º de novembro, os candidatos a soldados foram convidados a participarem da formatura dos soldados concluintes em Belém, no dia 19 de novembro de 1929, para a qual prestariam juramento à Bandeira Nacional. Essas informações estão no “Bragança Jornal”, Órgão Oficial do Município, Ano IV, n.º 166 e 168, de outubro de 1928.

Na década de 30, após a suspensão das atividades dos Tiros de Guerra no Governo Vargas, na circunscrição militar do Norte, terminada no dia 13 de outubro de 1933, o ano de instrução do novo Tiro de Guerra 596 se iniciou em 1º de novembro daquele ano. A comunicação foi feita pelo ofício n.º 245, de 16 de outubro de 1933, pelo 1º Ten. Osmar Pacheco Dilon, Inspetor Regional ao prefeito de Bragança, já capitão João Franco da Silva, que trabalhou junto ao Exército para a reativação dos trabalhos da entidade.

No ano de 1945, pela Portaria ministerial nº. 8.747 de 31 de outubro, todos os Tiros de Guerra existentes no país foram extintos e, pela mesma portaria foram criados aqueles que os substituíram.

Em Bragança, o Tiro n.º 596 deu lugar ao Tiro de Guerra n.º 273, criado pela Portaria n.º 16, de 17 de janeiro de 1951. Foi instalado em 28 de novembro de 1951, há 60 anos e teve como primeiro Diretor o 2º Tenente Anacleto Rodrigues Madeira e Instrutor o 3º Sargento Fernando Gomes da Silva. Só depois, os prefeitos locais passaram a ser diretores dos Tiros de Guerra do Brasil.

Inaugurado o Tiro de Guerra 273 – Notícia da instalação do Tiro de Guerra n.º 273, de Bragança, na Revista “Bragança Ilustrada”. Faziam parte do Tiro de Guerra 167 alunos.

Circular de 16 de fevereiro de 1937 – comunicação da posse da Diretoria do Tiro de Guerra 596 de Bragança ao Prefeito Municipal à época, Sr. Augusrto Pereira Corrêa. Na diretoria empossada em 15 de fevereiro de 1937, estão nomes como Benedito César Pereira, Mário Queiroz do Rosário, Manoel Julião Garcia Castanho, Affonso Lourenço Blanco, Lamberto Bittencourt de Sousa e de Manoel Paes Rodrigues, bragantinos que se interessaram pela entidade e deram continuidade a seus trabalhos.

As Sedes – No início, a sede do Tiro de Guerra ficava na Rua General Gurjão, na esquina da Travessa Vigário Mota, próximo ao Palácio da Intendência e da Praça Deodoro da Fonseca. A segunda sede foi em frente à Praça da Bandeira, depois na sede da Sociedade Beneficente Artística Bragantina, na Rua São Benedito (hoje Rua 13 de maio).

A quarta sede foi na Travessa João XXIII, onde depois funcionou o prédio da SUCAM (hoje Associação Nacional de Saúde). Desde 1983, na gestão do prefeito João Alves da Mota, o Tiro de Guerra passou a sua sede própria, na Avenida Polidório Coelho, no Taíra.

Tiro de Guerra 273 - localização da quarta sede do Tiro de Guerra de Bragança.

Tiro de Guerra 08/002 - localização atual do Tiro de Guerra de Bragança.

De todos os eventos, os mais marcantes do Tiro de Guerra são, sem dúvida, o Desfile Cívico do 7 de Setembro, a cerimônia de apresentação de uma nova turma, com juramento à Bandeira Nacional e a solenidade de encerramento do ano de instrução. Ressalta-se que o Tiro de Guerra 08/002 e a Escola Luiz Paulino Mártires são as únicas instituições bragantinas a participar de todos os Desfiles da Semana da Pátria no Município.

Desfile do Tiro de Guerra 08/002 – desfile no dia 07 de setembro, com banda marcial, década de 70.

2º Ten. Nobre Braga e autoridades em solenidade no Tiro de Guerra 08/002 – solenidade de formatura, década de 80.

1º. Ten. Huet Bacelar e atiradores em solenidade no Tiro de Guerra 08/002 – desfile no dia 07 de setembro, década de 90.

Notas e Agradecimentos – Essa é uma pequena parte das pesquisas que estamos desenvolvendo em parceria com o Tiro de Guerra 08/002 para futura publicação no ano de 2012, sobre a memória e a História dessa instituição em Bragança. Apresentei a contextualização da história do Tiro de Guerra 08/002 de Bragança, na solenidade de formatura da Turma de Atiradores 2011 – Turma Montese, na sede do TG, ontem (09.12.2011), momentos que se revestiram de muita emoção e respeito ao trabalho do Exército em nossa cidade.

Na oportunidade, agradeço toda a deferência ao meu trabalho, assim como do respeito e carinho do Exército Brasileiro, através do Tiro de Guerra 08/002 de Bragança, da 8ª Região Militar e 8ª Divisão de Exército, na pessoa do Sub-tenente Ikem Marçal de Oliveira e de todos os Atiradores 2001, pela homenagem recebida ontem, quando pela segunda vez me foi outorgado o Título de Amigo do Tiro de Guerra (2009 e 2011), entregue pelo Sub-tenente Gilberto Cláudio Farias Mendes.

Faço referência e homenagem aos ex-Instrutores do TG presentes à solenidade de ontem, 2º Tenente Raimundo Nobre Braga, 1º Tenente Vicente Huet de Bacelar nior (representando o comando da 8ª R.M. e 8ª D.E.), 2º Tenente Ademir Vargas Martins, e aos demais, como o Tenente Mário Luiz Guerra Amarilho e a todos os que participaram dessa história, assim como à Delegacia da Junta do Serviço Militar de Bragança, na pessoa do Capitão Davi Andrade da Silva e ao funcionário Manoel Laércio Risuenho.

Fonte e Fotos: Acervos de pesquisa, Acervo Armando Bordallo da Silva (UFPA Bragança) e Acervo do Tiro de Guerra 08/002 (Bragança)

* Dário Benedito Rodrigues é bragantino, historiador, pesquisador e docente da Faculdade de História na Universidade Federal do Pará, em Bragança.

** Observação importante: Qualquer publicação desse material sem a prévia consulta ao autor e da instituição Tiro de Guerra 08/002 não está autorizada e se constitui em crime sujeito às penalidades da legislação brasileira.

4 comentários:

  1. Parabéns Prof Dário pelo excelente trabalho, demonstrando o grau de importância da presença do EB representado pelo TG 08/002 na Cidade de Bragança.

    Sub Ten Ikem

    Selva!

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  2. Deve-se relembrar que o instrutor do TG 08/002 quando da mudança para a nova sede, na Polidorio Coelho, foi o então 1º Sgt Jorge Alberto Silva Martins (1977-1984), meu pai, de quem muito me orgulho.

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  3. Olá! Que alegria em me deparar com uma foto do meu pai (Ten. Raimundo NOBRE Braga) na década de 80 em pleno exercício de suas funções como comandante do TG 08/002. Trabalhava por prazer e se orgulhava em pertencer ao Exército Brasileiro. Infelizmente nos deixou em agosto de 2014 na véspera do dia dos pais. Homem brilhante, amigo, atencioso, cumpridor de seus deveres e bom pai e esposo.
    Saudades eternas da esposa, filho, filha, neta. Seu nome sempre será honrado no meu coração. Beijo na alma, meu paizinho querido!
    Regileina Nobre Braga

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  4. Saudades eternas do meu pai Tem. Raimundo NOBRE Braga. Antigo instrutor do Tiro de Guerra 08/002. Nunca te esquecerei paizinho!

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