Traços biográficos
Maria Lúcia Fernandes de Medeiros, Maria Lúcia ou
simplesmente Lucinha, nasceu em Bragança, em 15 de fevereiro de 1942. Apaixonada
por sua terra natal, morou em Bragança até os 12 anos, quando se mudou com
parte da família para Belém, onde graduou-se em Licenciatura Plena em Letras,
pela Universidade Federal do Pará, aonde atuou como pesquisadora e docente. Sempre
que podia, visitava seus conterrâneos e distribuía carinho e conversas à tarde
com seus amigos.
Foi a primeira professora de Redação e de
Literatura Infanto-juvenil, disciplina que ajudou a inserir no desenho
curricular do Curso de Letras da Universidade Federal do Pará, à época. Era também
uma grande colaboradora da Universidade da Amazônia (UNAMA) em Belém, envolvida
em projetos e palestras, chegando a publicar textos de sua autoria na revista da
UNAMA intitulada Asas da Palavra,
desde 1995.
Sobre Bragança, Maria Lúcia deixa uma pista em seu
depoimento no documentário intitulado A
Escritura Veloz, de Mariano Klautau Filho (produção independente,
em VHS, de 1994):
“Eu nasci em Bragança,
uma cidade simples do interior, com um trem de ferro e um rio na frente. Tive,
portanto, uma infância bem brasileira: quintal, primos, frutas, tios, igreja,
cinema Olympia. Em Belém já cheguei quase adolescente e meus fantasmas viviam
sob as mangueiras, nas ruas largas, na arquitetura imponente de uma cidade de
250 mil habitantes que era Belém dos anos 50.
Quando descobri os
livros, descobri um outro jeito de viver. Personagens, situações, lugares
ajudavam meu aprendizado do mundo. Ler para mim sempre foi uma salvação. Agora,
escrever, acho que sempre escrevi. Lembro que muito menina eu me recolhia e
escrevia, escrevia para mim”.
Imagem 1: Maria Lúcia Medeiros, em outubro
de 2002. Acervo pessoal.
A escritora, a pesquisadora, a professora e a bragantina
Com sua seriedade foi uma escritora de excelente
produção literária, além da função de professora e poeta. Reconhecida como uma
das maiores contistas paraenses. Tornou-se um dos mais importantes ícones literários
do Pará.
Seus livros falam de sentimentos, entre eles a angústia
e a solidão, com destaque para o viés emocional e da personalidade da escritora
bragantina e são ambientados numa época chamada por ela de “modernidade”. Um
exemplo disso é o livro Horizonte Silencioso,
em que se destaca uma linguagem de enorme nostalgia, quando Maria Lúcia abordava
a mudança do tempo, aspectos de sua infância e adolescência.
Seus textos eram fortes e quase autobiográficos. Sua
escrita marcante era facilmente descoberta por seus leitores e admiradores da
sua obra. Entre seus livros mais lidos estão os contos em Velas por quem? e Zeus ou a Menina e os Óculos.
Imagem 2: Capa de Zeus ou a Menina e
os Óculos, livro de Maria Lúcia Medeiros, com arte de Valdir Sarubi. Acervo
pessoal.
Em sua atuação como professora, ajudou a realizar o
processo de registro e de tombamento em nível de Estado da Residência da família
Medeiros, situada em Bragança, local onde ela costumava se hospedar nas suas visitas
à terra natal.
Alguns de seus livros já foram listados entre as leituras
obrigatórias de processos seletivos da UFPA, assim como em salas de aulas do
Ensino Médio por todo o Estado. Lucinha também ajudou a fundar a Casa da Linguagem,
sendo uma de suas consultoras.
Foi homenageada na Feira Pan-Amazônica do Livro no
ano de 2004, com um sarau intitulado “O elemento fabuloso da narrativa de Maria
Lúcia Medeiros”. No mesmo evento, o curta-metragem Chuvas e Trovoadas, filme baseado na obra homônima
de Lucinha foi apresentado, sob a direção de Flávia Alfinito. No filme
ambientando em Belém, quatro moças são estudantes de corte e costura em algumas
tardes do período da Belle-Époque amazônica.
A película de Flávia Alfinito, produzida de forma
independente, conta com a narração do ator José Mayer e a participação das atrizes
Patrícia França, Suzana Faine, Andréia Rezende, Andreia Paiva e Francis, recebendo
o prêmio de Melhor Fotografia no Festival de Gramado, principal premiação do
cinema brasileiro, em 1995.
O último texto escrito por Maria Lúcia Medeiros, na
Ilha de Mosqueiro, em abril de 2005, tinha como título Don Quixote veio de trem, momento em que
ela já estava bastante doente e com boa parte de seus movimentos comprometidos
(clique
aqui para ler o texto).
Em suas passagens por Bragança, sempre visitava
amigos e conversava com seus contemporâneos, além de participar de eventos. Entre
esses eventos, participou da VII Feira de Ciências da EEEFM Bolívar Bordallo da
Silva, acompanhada da Prof.ª Mariana Bordallo, mantendo contato com professores
e alunos daquele estabelecimento de ensino, em especial, no Projeto Revivendo Bragança.
Imagem 3, 4 e 5: Alunos e professores
durante a apresentação do projeto Revivendo Bragança, na VII Feira das Ciências
da EEEFM Bolívar Bordallo da Silva, em outubro de 2002. Acervo pessoal.
A apresentação do projeto foi orientada e
coordenada pelos professores de História Dário Benedito Rodrigues e Conceição
Ribeiro e a participação de 24 alunos do 2º ano do Ensino Médio (Turmas N, O,
P, Q e R) do 2º turno da escola. Maria Lúcia ficou bastante emocionada com tudo
o que viu e chegou a fazer uma linda homenagem, dias depois, aos alunos e
professores do referido projeto no Encontro Bragantino de Estudantes de Letras.
Morte
Maria Lúcia Medeiros foi acometida por uma doença
degenerativa conhecida como esclerose lateral amiotrófica, por alguns anos
antes de seu falecimento, que paralisou gradativamente seus movimentos,
impedindo-a de falar e se expressar, mesmo mantendo a lucidez, o que lhe causou
uma situação de séria debilidade. Internada por mais de trinta dias, faleceu às
15 horas de 08 de setembro de 2005, uma quinta-feira, em Belém, aos 63 anos. Deixou
3 filhos.
Seu velório aconteceu no Núcleo de Artes da UFPA,
na Praça da República. Seu corpo foi cremado no cemitério Max Domini, no dia 08
de setembro e no dia 11 do mesmo mês, seus familiares depositaram suas cinzas
pela Ilha de Mosqueiro, região metropolitana de Belém, um dos lugares
prediletos da escritora.
Foi uma das escritoras paraenses homenageadas pelo
Instituto de Artes do Pará na edição do Prêmio IAP de Artes Literárias de 2011,
na categoria Contos.
Algumas obras de Maria Lúcia Medeiros
Velas, por quem? Belém: CEJUP, 1991.
O Lugar da errância. In: D’INCAO, Maria Angela, SILVEIRA, Isolda
Maciel da (Org.). A Amazônia e a crise da modernização. Belém: MPEG, 1994.
Quarto de hora. Belém: Cejup, 1994.
Horizonte
silencioso.
Boi Tempo, 2000.
Céu Caótico. Belém: SECULT, 2005.
Observações importantes: A reprodução total e/ou parcial dos textos e
imagens contidos nessa postagem devem ter a autorização expressa do autor do
blog. O não cumprimento dessa premissa está sujeito às penalidades da legislação
em vigor.
Maria Lúcia Medeiros é a maior contista paraense e uma da maiores desse género do Brasil. Estudo sobre Maria Lúcia Medeiros desde 2005 quando fiz meu TCC.
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