segunda-feira, 3 de maio de 2010

Armando Bordallo da Silva (*03.05.1906, +04.04.1991)

Uma visão de construção historiográfica e folclorista que militou na segunda metade do século XX destacaria, como referência obrigatória, dois nomes que bem representaram o momento vivido na década de 30: Armando Bordallo da Silva e Bolívar Bordallo da Silva. Talvez não os mais criativos de todos os renomes bragantinos, mas que produziram em seu tempo ensaios, cartas, livros e deixaram um legado de sua impressão e preocupação com o desenvolvimento da Região Bragantina e que defendiam o “país dos Caetés” com forte bairrismo e inteligência. Mas hoje cabe aqui um registro especial sobre o Dr. Armando Bordallo da Silva, ilustre bragantino que tive o imenso prazer de conhecer em 1987, em companhia de seus netos, amigos contemporâneos de infância.

Foto: Armando Bordallo da Silva / Fonte: Arquivo Bordallo

Armando Bordallo da Silva era bragantino, nascido em 03 de maio de 1906, filho de Sebastião José da Silva e Maria do Céu Bordallo da Silva. Teve dois irmãos, Bolívar e Almira Bordallo da Silva. Estudou o Curso Primário no Grupo Escolar Monsenhor Mâncio Ribeiro e posteriormente no Colégio Progresso Paraense, do Dr. Arthur Porto, em Belém, para onde se transferiu para estudar, o quinto e o sexto ano, respectivamente. O Curso Secundário foi concluído no Colégio Progresso Paraense, tendo feito seus exames de preparatórios no Ginásio Paes de Carvalho.

Desde criança já percorria o município de Bragança, convivendo com a população, demonstrando ser um grande observador e ao mesmo investigador de tudo a seu alcance. Esquadrinhou desde jovem o que estava relacionado com os hábitos, costumes, superstições e crenças de seus conterrâneos bragantinos, a quem não escapava comentários e elogios, como “gente simples, boa e hospitaleira”.

Foto: Armando e Bolívar Bordallo ainda crianças / Fonte: Arquivo Bordallo

Entre 1918 e 1924 consolidou sua vocação literária e poética, dedicada àquela a quem chamou de “Bela Jovem”, dedicando parte do seu tempo estudantil a incentivar a premiação dos se destacavam em atividades culturais nos colégios por onde estudou, por meio dos grêmios estudantis que fundou e atuou. Tornou-se médico sanitarista e por esta área doutorou-se em 1931, ocupando vários cargos e assumindo diversas funções pertinentes à disciplina que abraçou.

Em 1927 formou-se em farmacêutico pela Faculdade de Farmácia do Pará, sendo orador oficial da turma. Em 1930 formou-se em médico pela Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará e doutorou-se em Medicina, defendendo a tese "Das Vitaminas e das Avitaminoses", aprovado com distinção, sendo nesta ocasião o orador oficial da turma. Em abril de 1931 foi nomeado Inspetor Médico Sanitário de Bragança.

Em 29 de dezembro de 1937, casou-se com Marilda Medeiros de Athayde, tendo o casal seis filhos que são Luiz Fernando, Alberto José, Benedito Sebastião, Maria Rosa, Paulo Emílio e Mariana Tereza.

Foto: Armando e Marilda Bordallo e seus filhos / Fonte: Arquivo Bordallo

Em 1940 fez um curso de especialização na Escola de Educação Física e Desportos, da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. De 1931 a 1951 exerceu várias funções públicas como médico da Secretaria de Saúde Pública do Estado do Pará. Em 20 de março de 1951 foi nomeado pelo governo do Pará, Diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi.

Com um grupo de amigos, entre eles seu irmão e historiador Bolívar Bordallo da Silva e Luiz Paulino dos Santos Mártires, que viria a se tornar prefeito em Bragança, fundam o Grêmio Estudantino. Nas diversas atividades que realizaram, uma delas se refere à carta enviada pelo grêmio ao Presidente da República solicitando a implantação de uma escola para filhos de agricultores, o que foi atendido anos mais tarde.

Foto: Franco Mártires, Armando, Bolívar e Luiz Paulino Mártires, fundadores do Grêmio Estudantino / Fonte: Arquivo Bordallo

A atuação desse grupo ao qual Armando Bordallo fazia parte rendeu-lhes, inclusive a presidência da Campanha Nacional de Educação em Belém, exercida pelo companheiro Luiz Paulino Mártires. Em seus trabalhos, um especial chama atenção pela atualidade: uma campanha em defesa do meio ambiente, com a distribuição de panfletos educativos sobre a preservação e conservação das áreas de manguezal em Bragança. Como fundador da Comissão Paraense de Folclore, em 1949, já era possuidor de um vasto conhecimento na área, posto que suas pesquisas foram concretizadas em Bragança, pela riqueza do que podia ser registrado para a posteridade, uma preocupação constante em seus escritos.

Em fins de 1954 promoveu, junto ao Governo do Estado e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, a realização de um convênio para que o Museu fosse administrado por aquele Instituto, o que finalmente foi conseguido, sendo assinado esse acordo em 07 de dezembro de 1954. Em 1955 foi empossado Catedrático de Antropologia da Faculdade de Filosofia do Pará e posteriormente da Universidade Federal do Pará, até 1976, quando foi aposentado. Aposentou-se em 1967, como pesquisador em Ciências Sociais e Humanas, da Divisão de Antropologia do Museu Paraense Emílio Goeldi.

Na década de 1970 conheceu Portugal, onde estagiou no Instituto de Alta Cultura daquele país, com bolsa de estudos, logo depois sendo agraciado com várias comendas. Deveu parte das influências no campo do folclore a extrema amizade ao irmão, Bolívar Bordallo da Silva, advogado e historiador, inclinando-se ao estudo do folclore e antropologia.

Figura de largo conceito na classe médica paraense e centros culturais de Belém, Armando foi empossado em 31 de maio de 1969 como sócio efetivo e perpétuo na Academia Paraense de Letras, na cadeira de nº. 23, que tem como patrono João Marques de Carvalho. Integrou uma geração que vai se extinguindo, na qual a decência sempre foi uma exigência íntima de cada um, no contexto de uma sociedade de princípios rígidos, na edificação de monumentos eternos de moral ou pelo menos duráveis.

Na vida associativa, integrou o Instituto Histórico e Geográfico do Pará, o Instituto de Antropologia e Etnologia do Pará, a Sociedade Médico-cirúrgica do Pará, o Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura, a Fundação Cultural de Bragança e a Comissão Paraense de Folclore, onde ficou como presidente de honra até sua morte.

Foto: Capa do livro Contribuições de Armando Bordallo da Silva / Fonte: Acervo pessoal

Sua obra Contribuição ao Estudo do Folclore Amazônico na Zona Bragantina encontra-se publicada em duas edições. A primeira, pelo Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, na edição nº. 05, Série Antropologia, pela Falangola Editora, em 1959. A nova roupagem foi lançada em 1981 pela mesma editora e sob o mesmo título. Nesta obra, Armando Bordallo da Silva teceu considerações sobre algumas manifestações folclóricas bragantinas, em ciclos, como as festas do Divino Espírito Santo, Serra-a-velha, Boi-Bumbá, Chin-ching, Tum-dum-dum, Marujada, Retumbão, Cavalhada e Putirum. Na obra, Armando dedica um carinho especial, com a Festa de São Benedito, descrevendo-a em suas origens, citando esperança, fé e folclore como sendo sentimentos que se deviam preservar, pois necessários pelo fato de consolidarem “o amor à terra, à família, à sociedade”.

Foto: Armando sendo reverenciado pela última vez pela Marujada de Bragança / Fonte: Arquivo Bordallo

É Armando Bordallo um desses autores que se tornou referência constante para os estudos que sucederam o seu, dentre esses os destinados a monografias de conclusão de curso em vários âmbitos das Humanidades, deixando evidente sua notoriedade. Em Contribuições sua intenção era a criar uma ligação íntima entre as manifestações culturais e a exaltação do sentimento de pertença ao adjetivo bragantino. Bordallo da Silva identificou positivamente a cidade de Bragança e suas tradições como festas, populares e católicas, locais de construção do povo caboclo e ainda mais o “povo” do Caeté, tendo como marco cultural os festejos beneditinos, mas ampliando o olhar a outros folguedos bragantinos, como o Carnaval, Festa de Reis, Festa do Divino Espírito Santo entre outros.

Contudo, é singular em Bordallo a descrição da Marujada. Como um de seus grandes admiradores, ele apreciava a dança, os rituais, a reza, a indumentária, os instrumentos e até a tradição da hierarquia nos quadros de seus dirigentes (especificamente as capitoas, mulheres que comandam o ritual). Mesmo que essas especificidades digam respeito ao passado descrito pelo autor, elas estavam bem vivas e presentes na época em que o seu livro foi escrito e publicado, o que orgulhava Bordallo pela recuperação de relíquias desse passado bragantino.

Foto: Eu, Simone Morgado, Diana Ramos, Marilda Bordallo e Rosa helena Oliveira, na solenidade de 100 anos de Armando Bordallo da Silva, na Academia Paraense de Letras, em 2006 / Fonte: Acervo pessoal

Ao morrer em Belém, no dia 04 de abril de 1991, deixou órfã uma imagem de cultura bragantina frutífera, recheada de produtos culturais, jornalísticos, estilísticos, sem tantos contrastes e a perpetuação de suas palavras, escritos e testemunhos sobre cultura, folclore e sociedade

Suas obras, seus textos e seus livros são patrimônios bem guardados, com muito zelo no Arquivo Bordallo, trabalhado pela Prof.ª Mariana Thereza Athayde Bordallo da Silva. Desta maneira, na linguagem da história, o fato se torna uma marca da impressão do tempo, manifestando-se e convivendo com o presente. Já seus autores permanecem ancorados no passado preenchido exatamente pelo que nos legaram, sua vida e sua obra.

Fonte: http://www.amazon.com.br/~bordallo/biografia.htm

3 comentários:

  1. Tenho um premio para seu blog me visite e pegue o seu

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  2. Ótima descrição deste grande homem, personagem ilustre do cabedal histórico bragantino.
    Me lembro muito bem dele quando ia muito em sua residência em Belém, pois tenho parentesco com sua família.
    Valeu Dário, por resgatar personagens que fizeram e ainda fazem história

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  3. sou estudante de história, e estou concluindo o curso de história, e gostaria de saber mais informações referentes a Almira Bordalo, trata-se de uma propaganda referente a um curso infantil em 1952, em anuncio no jornal a pronvíncia do Pará. meu email(icnan89@hotmail.com).

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