O “povo” de Bragança
repercutiu nas redes sociais e no quotidiano diário desses últimos três dias após
a exibição do novo quadro “Dança da Galera”, no Domingão do Faustão (TV Globo).
A cidade de Bragança perdeu por 3 votos a 1 na competição das coreografias com
a cidade paranaense de Prudentópolis.
Não para concluir as
observações acerca desse fato, coloco à disposição de todos o texto de Ana Diniz,
jornalista, que expõe opiniões particulares sobre o ocorrido, referindo muito à
edição, às peculiaridades da cidade, as imagens de Bragança que foram
mostradas, etc.
Para quem esteve de fora,
muitas dúvidas ficaram... quem participou, pode fazer um julgamento mais
acertado. Após debater essas colocações nas redes sociais em que estou
inserido, precisamos ser mais cuidadosos com os comentários, sem infringir em
oposição sistemática às coisas de Bragança, mas é preciso ser honesto e
reconhecer conscientemente as coisas que aconteceram e até onde pudemos ir.
Bom, foi, logicamente. Quem
não foi capaz de reconhecer nada de bom e só traçar comentários até mesmo
infundados, não está usando o mínimo de inteligência necessária para essas considerações,
sem “paixonices” ou “bragantinismo”... Acontece...
1. A quantidade de falhas (“buracos”),
na coreografia foi considerável... deu pra ver tudo direitinho na televisão.
2. Um pouco de ausência dos
bragantinos em participar do quadro e as ausências aos ensaios, o que dificultou
repassar a coreografia, foi sentida... nossa cidade é bem mais populosa do que
a outra. Mesmo com tanta mobilização e preocupação nas votações, uma série de
problemas de conexão de internet, de recepção de mensagens telefônicas via SMS
e de ligações de telefone fixo foram detectadas... normal em se tratando dos
investimentos em Bragança e das cobranças que não houveram no sentido de melhoramentos
para aquele dia e para a vida diária.
3. No primeiro dia do
ensaio, com a renomada coreógrafa brasileira Renata Vieitas (seu currículo
inclui por exemplo a abertura dos Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro, 2007),
foi pedido a ela que “voltasse ao Rio de Janeiro”, pela atitude de cobrança que
ela fez junto a alguns participantes na execução da coreografia. No entanto,
fez uma pesquisa detalhada, mas teve que fazer uma escolha. A música da Banda Calypso,
paraense mesmo, foi a escolha da projeção nacional de parte da cultura do Pará
em âmbito nacional e até mesmo internacional. Por acaso, a música da cidade
concorrente é música regional ou parananese? Não... claro!
4. O assédio ao ator e apresentador
de Bragança Joaquim Lopes foi excessivo e quase enlouquecedor, chegando a
montarem um esquema de segurança para sua presença e permanência em Bragança, o
que impressionou parte da equipe que esteve no Pará. Acho que ele se envolveu
com a nossa cultura, na culinária especialmente. Mas esqueceu de ler um pouco
mais sobre a farinha mais famosa do mundo, a farinha de Bragança é de mandioca
e não de milho ou trigo, como ele disse, salvo engano.
5. O povo de Bragança e seus
críticos precisam aprender a aceitar suas limitações, suas características e peculiaridades
regionais, suas perdas e ganhos sem pensar em lamentações umbilicais.... e,
claro, participar mais das coisas da cidade. Como coletivo, acho que a dedicação
não foi do tamanho e da importância do evento.
6. A questão do outro povo
ser lindo, loiro, “civilizado”, “mais educado e disciplinado” (fato exposto e
confirmado pela outra atriz e apresentadora da cidade paranaense é démodé demais.
Há muito. A comparação cultural não é um caminho justo, absolutamente, já que
Bragança completará 400 anos da mesma cultura europeia, ocidental, portuguesa,
demonstrada como menor e menos nos textos e comentários que li nas redes
sociais e ouvi de algumas pessoas. O nosso país, mesmo com as diferenças regionais
e de oportunidades, que são inegáveis ao olhar dos que podem usar o mínimo de inteligência,
deixou de ser um país único, mas diversificado
7. A outra cidade é bem menor
que Bragança e o número de participantes foi maior. Muitos dos participantes
paranaenses participam há anos de corpo de baile, devido à cultura ucraniana
enraizada na cidade. Deve ter isso mais fácil aprender e dedicar-se à
coreografia, como foi demonstrado. Porém, em dança (dança, mesmo!) Bragança fez
mais bonito, inegavelmente, a alegria do nosso povo e sua cara foram evidentes.
As nossas belezas naturais talvez não tenham sido exploradas com maior preocupação.
No entanto, deu pra ver a cidade de Bragança como ela é, de verdade, sem máscaras,
sem fantasias ou enganos. Somos isso, somente? Não sei. Precisamos repensar práticas,
projetos e iniciativas e ir adiante.
8. Bragança, seus pontos positivos,
negativos, atrativos naturais, eventos culturais, sua gente também são parte do
Brasil, o mesmo Brasil de Roberto Carlos, de Fagner, de Jota Quest, de Calypso,
de quem quer que seja, com a leitura, clara e límpida, que se fez na edição do programa,
em mostrar a cara do povo. Eu vi Bragança assim. Exatamente como ela é... mas
bem que as sugestões que tentei dar e que não foram recebidas sequer por parte
da equipe de produção consideravam aspectos culturais bem melhores e lugares em
Bragança (praia, campos, paisagens outras etc.) para a realização da
coreografia não no estádio onde ela ocorreu, e que para mim, foi só um detalhe.
9. É preciso reinventar o
nosso povo bragantino, no bom sentido do termo. Criar, fomentar, tirar da alçada
tão somente das instituições, das iniciativas (e que são muitas e positivas) e
caminhar no nível do melhoramento e da qualidade, doa discussão da identidade
cultural, da valorização interna dessa identidade, do amor dos bragantinos
pelas coisas da sua cidade. Chegou de ouvir bragantinos só divulgando as “desgraças”
de Bragança... e as coisas boas... não concordo com esse pessimismo
derrotista... foi uma competição de dança e de conjunto... e o conjunto e estética
visual da cidade concorrente foi melhor... Fico com Bragança pela sua garra e
pela sua força natural... pelas coisas que conheço de Bragança. Bragança é o
nosso chão, e como disse Jorge Ramos, parafraseando-lhe o poema, nós “somos árvores
dessa terra”...
10. Bragança precisa se
impor de outra maneira. Que venham os 400 anos... vamos aproveitar a coincidência
do dia 22 de abril (conquista do território do Brasil em 1500 pela nação portuguesa),
para descobrir Bragança de novo! Desafio de todos...
Fica abaixo uma excelente
reflexão de Ana Diniz, do seu blog, sobre o evento. Link abaixo do texto.
Dois Brasis,
ao vivo e a cores
Quem soube ver, viu, no domingo passado, ao vivo e
em cores, os dois Brasis descritos por Roger Bastide há 50 anos. No Domingão do
Faustão, a competição entre Bragança, no Pará, e Prudentópolis, no Paraná,
revelou muito mais que a simples pluralidade brasileira, ou o marketing mexendo
com as cidades, ou o poder de fogo da Globo.
Prudentópolis, limpíssima, arrumadíssima, pronta
para a tevê. Uma cidade bem educada. Se ela é assim todos os dias, não sei;
mas, se não é, a sua prefeitura providenciou para que se apresentasse impecável
para o Brasil ver. A imagem era de um rico polo rural.
Bragança suja, precária, desordenada. Uma imagem do
cortejo da pobreza: mercado a céu aberto, métodos de trabalho primários,
cartazes com pinturas irregulares, barracas por toda parte. É assim todos os
dias, não dá para fazer melhor, proclamava a cidade. Somos isso, e nada mais.
Os câmeras, em Prudentópolis, sucederam closes em
lindas adolescentes louras. Ricos rostos bem tratados de olhos claros. Os
câmeras, em Bragança, ignoraram solenemente os lindos rostos de traços índios
que surgiam fugazmente nas imagens. As morenas de olhos amendoados e pele de
cobre, longos e lisos cabelos negros, foram trocadas por barrigudos peixeiros
de camisa aberta. O contraste revela claramente que o estereótipo continua a
ser a lourice europeia: os profissionais da imagem não encontraram beleza
alguma naqueles rostos de Ceci.
As tomadas feitas em Bragança não fizeram justiça
ao município: nem mar, nem os canais do mangue mereceram referência. As tomadas
de Prudentópolis aproveitaram ao máximo a paisagem serrana. Lá, quem fez o
documentário pensava em turismo. Aqui, aparentemente nem passou perto a ideia
de aproveitar um programa campeão de audiência, em rede nacional, para atrair
visitantes.
Os dois Brasis mostraram-se inteiros.
Em Prudentópolis, o Brasil desenvolvido mostrou-se
disciplinado, organizado e discreto. Em Bragança, bagunçado e ansioso. Em
Prudentópolis, um Brasil bem vestido e bem tratado. Em Bragança, um Brasil em
roupinhas de 1,99, gastas sandálias de dedo e poucos dentes, ansioso para dizer
“estou aqui”.
Em Prudentópolis, delicadas sombrinhas; em
Bragança, palhas de açaí, quase de graça.
À vontade, a apresentadora de Prudentópolis mostrou
facilmente a cidade e seu povo. Constrangido, o apresentador de Bragança não
conseguiu sequer se informar direito: se tivesse perguntado, saberia que
Bragança faz a melhor farinha de mandioca do país – farinha que ele disse ser
de milho. A apresentadora levou o filho para Prudentópolis: valia a viagem. O
apresentador de Bragança demonstrou que aquilo era só um trabalho. Ele
traduzia, simplesmente, a leitura que o Brasil desenvolvido faz do outro
Brasil: uma terra estranha, pobre e feia, onde se tem que fazer cara boa para a
câmera, por obrigação.
A rica Prudentópolis levou o prêmio maior,
resultado correto pelas regras da competição. A pobre Bragança ficou com o
menor. No mesmo dia, o poderio de Minas Gerais fez-se sentir, obrigando a Globo
a dar para Diamantina premio igual ao que deu para a cearense Aracati, que
vencera seu duelo.
O Brasil rico apresenta-se melhor, lógico. Quanto
ao Brasil pobre, um prêmio de consolação lhe basta.
Fonte/Link: http://amdiniz.blogspot.com.br/2012/04/dois-brasis-ao-vivo-e-cores.html?spref=bl
Como sempre ... Uma visão crítica e bem apresentada por você, Parabéns !!!
ResponderExcluirAmei suas conclusoes ...nossa conversa deu frutos....Bragança vcs foram maravilhosos. Muitas pessoas acharam vcs melhores, inclusive TODA minha familia...gente levem p lado bom. Nao ha preconceitos aqui nada disso...houveram falahsa tecnicas por faltas de elenco nos ensaios e na gravacao so isso!!!
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