domingo, 27 de fevereiro de 2011
Hoje, nos despedimos de Benedito Nunes
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
1ª Unidade Regional de Educação com nova Direção

DIÁRIO OFICIAL Nº. 31860 de 22/02/2011
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO - CCC
PORTARIAS DIVERSAS
Número de Publicação: 206186
Número de Publicação: 206119
DISPENSAR:
Portaria nº.: 1577/11 de 21/02/2011
Nome: NILZA MARIA SANTIAGO MESQUITA
Matrícula: 683698/1 – Tipo de Gratif.: GED-5 (Diretor)
Cargo/Lot.: Prof.AD-4/1ªURE/Bragança
Período: a partir de 21/02/2011.
DESIGNAR:
Portaria nº.: 1580/11 de 21/02/2011
Nome: GLEIDSON CESAR MIRANDA SILVA
Matrícula: 57176000/2 – Nível: GED-5 (Diretor)
Cargo/Lot.: Tec.Educação/1ª URE/Bragança
Período: a partir de 21/02/2011, até ulterior deliberação.
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Seleção do Mestrado em Linguagens e Saberes na Amazônia (UFPA Campus de Bragança) publica homologações de inscrição
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Religião, política e negócios no Grão-Pará (Jornal Beira do Rio/UFPA)

Religião, política e negócios no Grão-Pará
Por: Vitor Ramon Gemaque
Foto: Manoel Neto
A colonização portuguesa trouxe diversos atores sociais para o Brasil e para o Pará. Além de colonos portugueses, vieram ordens de missionários católicos incumbidos de catequizar os indígenas e, posteriormente, vieram escravos negros da África para transformar a colônia em uma terra produtiva. Entre esses diversos atores, a Companhia de Jesus, cujos membros eram denominados de jesuítas ou inacianos, e o marquês de Pombal foram dois personagens históricos que influenciaram diretamente o processo de colonização no século XVIII.
O conflito entre a Companhia de Jesus e o Estado Português, representado pelo marquês de Pombal, levou ao rompimento das relações entre ambos e à expulsão da Ordem de Portugal e de todos os domínios portugueses em 1759. No Brasil, a expulsão teve início nos Estados do Grão-Pará e Maranhão de onde cinco jesuítas haviam sido expulsos ainda em 1755. A campanha movida por Pombal se espalhou por outros países europeus, como Espanha e França, de onde os jesuítas também foram expulsos, culminando, em 1773, com a extinção da Companhia de Jesus pelo Papa Clemente XIV.
Entender esse processo no cotidiano paraense da segunda metade do século XVIII foi o objetivo de José Alves de Souza Júnior, professor da Faculdade de História da Universidade Federal do Pará (UFPA), em sua Tese Tramas do Cotidiano: religião, política, guerra e negócios no Grão-Pará do setecentos. Um estudo sobre a Companhia de Jesus e a política pombalina. "Meu objetivo era tentar resgatar a atuação dos jesuítas no Grão-Pará, a partir da relação que a Ordem teve com o marquês de Pombal, a qual foi estremecendo a ponto de culminar com a expulsão", explica o professor.
A Companhia de Jesus teve grande influência na Corte Portuguesa nos reinados de Dom João IV e Dom João V. Um exemplo disso é o papel do padre jesuíta João Baptista Carbone, no reinado de João V, como conselheiro e confessor da família real, estando por trás das decisões da Corte.
Jesuítas acumulam patrimônio e ganham independência
A Ordem, que esteve à frente dos aldeamentos ou missões de catequização dos índios, acumulou um expressivo patrimônio material no Grão-Pará, com 448 fazendas, criação de gado, plantações de cacau, salsa e cravo para exportação e empréstimos de dinheiro a juros. Por meio dos aldeamentos, os jesuítas tinham a mão de obra indígena à disposição para todos os seus empreendimentos.
Segundo José Alves Júnior, isso aconteceu porque os jesuítas perceberam que o acordo feito entre a Igreja e o Estado Português para sustentar os padres e as missões de catequese não vingaria. A partir daí, a Companhia organizou o financiamento de seu empreendimento religioso com as riquezas que começou a acumular. "Eles conseguiram formar um expressivo patrimônio e ficaram independentes, tanto da coroa portuguesa quanto do papado", explica o professor.
No processo de colonização, foi constante o conflito entre os diferentes atores sociais que se relacionaram aqui. Jesuítas, colonos e outras ordens católicas disputavam a mão de obra indígena já que só se permitia a escravização dos índios inimigos, também chamados de gentios de corso, os quais não aceitavam a aproximação com os portugueses.
Enquanto os colonos portugueses criavam pretextos para escravizar os índios e usar seu trabalho na produção, os jesuítas pregavam a catequização do índio e a manutenção de sua "liberdade". Por vezes, os ânimos se acirraram devido às denúncias, da Companhia de Jesus, de escravizações ilegais dos índios pelos colonos. "Quanto mais índios estivessem nas mãos dos colonos, menor a possibilidade dos jesuítas concretizarem seu projeto salvacionista", ressalta José Alves.
A crescente resistência indígena foi outro fator importante no cotidiano das lutas na capitania. A união entre tribos inimigas, fugas e a oposição à catequese são exemplos disso.
Pombal extingue poder temporal de religiosos
Ao fugirem dos aldeamentos, os índios organizavam mocambos ou quilombos, onde também se refugiavam negros escravos fugitivos, mestiços e homens brancos, pobres desertores das tropas. Os mocambos tornavam-se espaços de socialização desse grande contingente de despossuídos. Essa nova identidade social – de oprimidos e explorados – está visível nas inúmeras rebeliões, como a Cabanagem.
A subida de Dom José I ao trono de Portugal e a nomeação do marquês de Pombal para a Secretaria da Guerra e de Negócios Estrangeiros reconfiguraram o poder em Portugal e no Grão-Pará. Este é um dos pontos centrais na pesquisa de José Alves. O historiador tenta demonstrar como foi a intervenção da metrópole portuguesa na Amazônia, no século XVIII, principalmente, no período em que Pombal esteve à frente da Secretaria e modificou profundamente as condições de vida e de trabalho de suas populações indígenas.
A nova política, conhecida por pombalina, tinha o objetivo de tornar o Estado laico, reduzindo a influência de religiosos no governo, além de tornar a Amazônia fonte de riqueza para a metrópole e reorganizar a colonização. Pombal criou a Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, proibiu o trabalho escravo indígena e extinguiu o poder temporal dos religiosos nos aldeamentos.
Diante da restrição do poder missionário nos aldeamentos, os jesuítas começaram a sabotar o Projeto Pombalino, dificultando o acesso dos colonos e das autoridades coloniais à mão de obra indígena e criando obstáculos à demarcação dos limites estabelecidos pelo Tratado de Madri, assinado por Espanha e Portugal em 1750.
As dificuldades criadas ao governador do Estado do Grão-Pará e Maranhão, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, provocaram a expulsão dos primeiros jesuítas em 1755. Diante disso, os colonos portugueses se viram livre do maior empecilho à escravização indígena. Sem os missionários, a exploração dos índios aumentou na Amazônia.]
Prêmio Benedito Nunes
A Tese Tramas do Cotidiano ganhou a primeira edição do Prêmio Professor Benedito Nunes, sob a coordenação da Propesp. A premiação é bianual. Podem candidatar-se autores de teses de doutorado defendidas nos programas de pós-graduação dos Institutos de Ciências da Arte (ICA), de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e de Letras e Comunicação (ILC) da UFPA, docentes ou técnico-administrativos que defenderam suas teses em programas de outras universidades reconhecidas pelo MEC, lotados nos institutos mencionados. Para José Alves, ganhar o Prêmio foi “uma grande felicidade”.
Fonte: BEIRA DO RIO. Jornal da Universidade Federal do Pará. Ano XXIV Nº 91, Fevereiro de 2011
Legenda da Foto: Colégio e Igreja de Santo Alexandre foram sede da Companhia de Jesus em Belém.
sábado, 12 de fevereiro de 2011
Entrevista exclusiva com Dom Erwin Kräutler, bispo do Xingu
Entrevistei o bispo do Xingu, na oportunidade em que esteve em Bragança/PA, aceitando o convite das Irmãs Missionárias de Santa Teresinha, para pregar um seu retiro anual. A entrevista foi articulada com antecedência por mim e pelas irmãs Margarida Pantoja e Cilene Miranda. Dom Erwin me recebeu no final da manhã de 02 de fevereiro, no Sitio Nossa Senhora da Glória e aceitou falar sobre assuntos relacionados à sua luta contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, em Altamira/PA.
O bispo da Prelazia do Xingu falou ainda do processo que está acontecendo na cidade, das perspectivas de resistência à hidrelétrica, dos impactos ambientais, sociais e culturais de sua construção, a visão daqueles que pretendem construir Belo Monte e a divulgação de ideais equivocadas sobre o projeto, além de relatar com exclusividade os detalhes de sua trajetória episcopal, marcada pelo respeito e carinho do povo de Altamira e de como lida com as ameaças a sua própria vida.
Presenteei Dom Erwin Kräutler com uma cruz peitoral e com uma imagem de São Benedito, a qual agradeceu revelando-se devoto desse grandioso santo. Por razões de segurança, não posso transcrever os trechos dessa parte da entrevista.
Prof. Dário: Fale sobre a sua impressão do que está acontecendo e sobre essa recente chamada licença específica prévia de construção de Belo Monte na semana passada e quais as perspectivas de luta futura para resistência do movimento contra a usina hidrelétrica no Xingu? O que isso (licença) atingirá de fato o movimento de resistência?
Dom Erwin: A primeira coisa é que a licença prévia já foi dada em fevereiro do ano passado (2010). Também essa licença prévia implica em quarenta condicionantes, quer dizer, a obra só pode se tornar realidade quando quarenta condicionantes forem cumpridas. Por isso, a nossa surpresa, a nossa indignação e nossa revolta em relação a essa licença, que chamam de específica ou de parcial para a implantação do canteiro de obras. Primeiro, essa figura não existe na legislação ambiental brasileira. Não existe nada disso. Inventaram mais uma coisa contra os próprios parâmetros legais da legislação ambiental. O próprio Ministério Público Federal entrou com a contestação e estamos esperando a decisão do juiz. Mas tem que olhar como se chegou a isso. O IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), naquele tempo, quando foi publicada a licença prévia era outro presidente, Messias é o nome dele. Depois ele renunciou ao cargo e foi exonerado. Chegou outro. Ele se demitiu há pouco tempo. Dizem que é por razões de ordem pessoal, o que ninguém acredita. Antes dele, também, antes da licença prévia, dois cientistas, dois membros do IBAMA, no campo mais cientifico, que dizer, não eram cargos políticos, eram cargos técnicos, eles também se demitiram. E tudo está relacionado a Belo Monte. E agora de repente, vem esse substituto ou interino, que por pressão do governo solta essa tal de licença especial ou parcial. Não é admissível. Isto é inadmissível. A não ser que se mude toda a legislação, mas essa legislação não foi mudada até hoje. Então não é razão ou motivo para nós largarmos essa luta, dizendo que agora nós vamos “ensacar a viola” e dizer “olhe aqui, tá resolvido” e “pronto”. Eles dizem, o próprio interino fala que só se trata de um “canteirinho” de obras. Sabe, de Brasília é muito fácil falar. Brasília é um planalto a mil metros acima do nível do mar e nós estamos aqui em Altamira sofrendo as consequências desse projeto megalomaníaco. Vai acontecer o que? Se realmente se implantar esse canteiro de obras, é o efeito dominó. Se implantar o canteiro, é lógico que não vão parar com isso. Então de antemão a gente já sabe, isso é só o início da coisa. Mas, uma vez implantado o canteiro de obras vão parar? Vão nada! Vão continuar do mesmo jeito. Depois, implantando-se Belo Monte, o próprio Lula falou, que ia ser apenas uma única represa, uma única barragem. Isso é uma falácia. Porque o Xingu – ele sempre se fala em 11.400 mega watts – não tem capacidade, não tem volume d’água o ano inteiro para fazer funcionar as turbinas. Então praticamente no pique ela vai produzir talvez 11.400 mega watts, mas terão talvez quatro meses ao ano, ou cinco que seja.
Prof. Dário: E a viabilidade econômica e energética? Existe?
Dom Erwin: Aí que a gente entra. Os cientistas hoje, que são cientistas de ponta, de renome nacional e internacional, já alertaram para isso. Belo Monte não é viável do ponto de vista ambiental, do ponto de vista social e do ponto de vista financeiro. Gastar e aplicar 30 bilhões de reais para uma hidrelétrica que só funciona alguns meses durante o ano é um desperdício louco de recursos, inclusive dos nossos impostos. Bem, em não se cumprir as condicionantes, então, de antemão, a gente deveria dizer que não se pode ir adiante. Mas uma vez eu digo, o efeito dominó é isso. Se faz o canteiro de obras, se aumenta a obra.
Prof. Dário: A represa?
Dom Erwin: E depois essa única represa, eu estava dizendo, é também uma falácia, porque não é possível, não rende. E então é muito fácil resolver o problema quando se faz mais uma represa, e mais outra e mais outra. E aí todo o Xingu é sacrificado e todas as áreas indígenas ao longo do Xingu, nas margens do Xingu, serão invadidas por água, inundadas com absoluta certeza. São áreas indígenas demarcadas e homologadas. Um verdadeiro golpe. “Ah... tem decreto, pode fazer uma”. Decreto que o presidente emana pode ser revogado por qualquer coisa. A Dilma pode dizer “olhe, naquele tempo nós pensamos assim, mas revogo as disposições em contrário”. E acabou-se o papo. E o Xingu todo está sacrificado então.
Prof. Dário: Quais são os encaminhamentos?
Dom Erwin: Em relação ao povo atingido, mesmo esse povo que seria atingido por esse tal de canteiro de obras, é menos povo que o que será atingido depois com a barragem, mesmo o lago artificial. Mas esse povo, vão colocar aonde? Ninguém sabe. Ninguém falou nisso.
Prof. Dário: Não tem um plano de remanejamento?
Dom Erwin: Nada, nada, nada. Depois remanejar colono, como é que vai fazer? Remanejar índio, a mesma coisa. Mas o colono, por exemplo, um agricultor, uma família que mora lá na grande volta do Xingu desde o tempo do bisavô, eles são acostumados com a roça, plantam milho, arroz, feijão e mandioca, vivem disso, tem a sua criação, tem porco, tem pato, tem galinha e, não vivem de luxo, mas vivem bem, nunca teve fome. Agora vai ser arrancado do seu habitat, de sua roça que ganhou de seus ancestrais. Vai ser colocado aonde? Ninguém responde. Certamente o plano é colocar eles numa casinha, uma gaiola daquelas que eles vão fazer. É uma gaiola, que não cabe uma família morar. Geralmente são famílias grandes que tem muitos filhos. E depois, nem um quintal que preste eles tem. De que esse moço, essa família, essa mulher, essa criançada vai sobreviver? De que? Ele não é professor, ele não é bancário, ele não é pedreiro, não é marceneiro, ele não tem nenhuma profissão liberal. A profissão dele é agricultor. Dela é agricultora. Então, são tirados compulsoriamente de seu habitat e jogados não sei onde. Isso é primeiro. A respeito desse canteiro de obras, dessa tal licença específica ou parcial. Mas a segunda coisa, que vai mais longe, isso já antes dessa licença. Até nas condicionantes, deveria ser feito o saneamento básico de toda a cidade. Nada foi feito. Nada. Outra coisa, pelos cálculos de cientistas, Altamira vai dobrar com o tiro de largada para a obra. E já está chegando gente. Já está chegando gente! Altamira aumentou nos últimos meses e nós estamos ultrapassando 100 mil pessoas (referindo-se à população de Altamira). E agora quando vê isso “agora vai sair, agora vai sair”, já se soltou fogos e o povo de tudo quanto é canto do Brasil, esse povo que está aí caçando emprego vai chegar lá, porque lá vai ganhar emprego. Vai multiplicar, senão vai duplicar, mas é quase isso. E Altamira não tem nem a infraestrutura necessária para atender a demanda do povo que está vivendo aí agora. Então? Como que vai ser? Vai ser um Apocalipse. E pela experiência de Porto Velho, que recebemos informações, lá também está desse jeito. Não sabe mais o que fazer. Tudo aumentou, criminalidade aumentou, prostituição aumentou, tudo, o pessoal está pasmo, está amedrontado, está apavorado. Mas está previsto nas condicionantes que “a gente vai sanar essa situação antes de começar”. Nada está feito. Então, nós estamos recebendo uma mentira atrás da outra. Os governos não estão “nem aí”.
Prof. Dário: E como fica com a construção de Belo Monte?
Dom Erwin: Altamira vai pro fundo. Agora. Depois vai inundar Altamira, vai inundar lá para onde se fala hoje na baixada. Então vira uma península. Ora, esse lago é um lago morto, é um lago podre. E os cientistas já disseram isso, dos vários gases que serão expelidos para esse lago pela vegetação que apodrece lá nos fundos.
Prof. Dário: E a memória da vida das pessoas, será colocada debaixo d’água?
Dom Erwin: Sim. Sim. Claro que não vão alagar as casas com as famílias dentro. Vão ter que transferir. Mas ninguém sabe até hoje pra onde. Ninguém sabe. O governo simplesmente se cala, o setor energético se cala. E não diz. São em torno de trinta mil pessoas serão diretamente atingidas. Não se sabe para onde vai esse povo. E o governo insiste que tem que sair para salvar o Brasil do apagão. E tudo é mentira. Primeiro, o que eles tem que prever é energia para o setor metalúrgico, para lingotes de alumínio, aproveitar a bauxita que eles tem aqui no Pará, então eles precisam de muita energia para a confecção de lingote. Mas é para isso. Belo Monte vai servir para isso e não para...
Prof. Dário: E não é para abastecer as comunidades?
Dom Erwin: Que nada. Isso é mentira! Estão falando até, ameaçando o brasileiro, “olha que se a gente não fizer Belo Monte, não vai poder assistir a novela das oito”, e pros sulistas se diz “olha seu banho vai ficar antigo, o chuveiro elétrico não funciona sem energia”...
Prof. Dário: Nesse contexto atual, nós temos a CNBB chamando atenção para a questão ambiental e para o respeito à natureza e à vida, através da Campanha da Fraternidade 2011. E o senhor vê uma relação de colaboração e de correspondência a essa questão de Belo Monte? E a Campanha da Fraternidade de 2011 pode suscitar um apelo formal da Igreja do Brasil ao povo brasileiro com relação a lutar pela não construção de Belo Monte?
Dom Erwin: Sem dúvida. Aliás, a CNBB Regional Norte II já fez uma parte. Nossa CNBB do Pará e do Amapá já se manifestou contra. Quando viram a luta que a gente está travando lá em Altamira, se manifestaram contra. A CNBB em nível nacional, a presidência assinou um documento manifestando-se contra mais essa agressão de destruição para a Amazônia. Então já foi feito. Mas a própria Campanha da Fraternidade é um momento privilegiado, um momento específico em que a gente trata desses assuntos. Nós não abrimos mão, nós não “penduramos a chuteira”, nós vamos continuar a lutar, sem dúvida. Porque uma coisa é estar lá em Brasília e claro que, no setor energético, são homens casados e tem filhos, mas não vai atingir a famílias deles, nem os filhos nem os netos. E estão falando do povo de Altamira em termos de estatística: “o que são 30 mil pessoas em comparação com 200 milhões de brasileiras e brasileiros?” Agora essa estatística não funciona, porque essas 30 mil pessoas são crianças que eu conheço, são mulheres, são homens, são idosos que moram lá e tem o futuro comprometido. Não sabem o que vai acontecer. Então é muito fácil decretar, determinar, decidir coisas em relação a um povo que eu não conheço. São indígenas, são ribeirinhos, são migrantes, são quilombolas que tem aí. Tudo vai ser atingido. E esses migrantes que vieram também, nas décadas de 80 e 90, vieram pra cá e que estão vivendo aí. Altamira hoje é uma composição de todas as raças, línguas povos e nações. Tem o branco, tem o negro, tem o indígena, tem todos os tipos, descendentes de indígenas, descendentes de negro, tem os brancos que vieram do Sul, que são descendentes de alemão, de polaco, de italiano. Está todo mundo lá.
Prof. Dário: Altamira tem uma identidade cultural própria no Pará?
Dom Erwin: Altamira não tem mais isso. Não tem mais não. De paraense nunca teve. Não era nem uma cidade, vamos dizer assim, genuinamente paraense, porque foi fundada pelos nordestinos na época da borracha.
Prof. Dário: Nós sabemos que a sua luta ela gerou uma grande enorme polêmica com relação à posição de alguns conglomerados econômicos, inclusive, com ameaça e atentado à sua vida. Como é viver dessa maneira, tão amedrontado, no seu próprio lugar de trabalho, na sua vida pessoal e no seu trabalho episcopal? Como é viver essa realidade?
Dom Erwin: A data... desde 29 de junho de 2006 estou sob proteção policial da Polícia Militar do Pará, por decisão de Brasília, e não foi decisão daqui. O projeto é de Brasília. Isso já diz tudo. O governo decidiu que eu devo estar sob proteção policial. Dia e noite. (Não revelarei detalhes do que me disse Dom Erwin sobre a questão, pois esses dados não podem ser revelados por razões de segurança). Mesmo o próprio governo está preocupado, já que a nossa área é uma região muito conflitiva então não pode excluir taxativamente mais um atentado, mais uma morte, mas um assassinato. E já aconteceram tantos. Inclusive na casa onde eu vivo. Então o governo tomou essa precaução para não acontecer isso, no fim das contas ia ser notícia que ultrapassa a própria fronteira brasileira.
Prof. Dário: E como o senhor se sente? Como convive com isso?
Dom Erwin: Bem, eu não fiz algo de errado. Eu sempre me coloquei do lado do povo. Defendi a vida e a possibilidade de sobrevivência dos povos que lá estão. Estou convicto daquilo que falei, da minha posição, a que tomei não é equivocada, viu. Estou convicto que é isso mesmo. E nunca vou tirar uma palavra, uma vírgula, daquilo que falei. Nunca. Agora se a consequência é essa, tem duas possibilidades. Uma é “cair fora”. Agora, vou lhe dizer...
Prof. Dário: A Igreja não lhe pediu para sair do Xingu para preservar a sua vida?
Dom Erwin: Não. A Polícia é que fez essa proposta. Não é a Igreja. Em 2006, fizeram a proposta “o senhor não pode ser transferido?” Eu disse “posso, se eu pedir.” Mas não vou pedir. Porque é isso que eles querem. Iriam soltar fogos. É uma máfia, é um consórcio mínimo. Não é o povo de Altamira, não é. O povo que eu conheço lá, o povo que vive lá, que conheço há 45 anos desde que estou lá, esse povo está ao lado do bispo. E nunca tive nenhuma cisma a respeito disso. Pelo contrário, quando fui ameaçado colocaram faixas nas Igrejas até hoje, como “A sua dor é a nossa dor”, “Nós te amamos”. Nunca recebi tanta declaração de amor como depois disso, entende? Então eu vou dar as costas para esse povo por causa dos que querem isso? De jeito nenhum. Não vou, não. Se tiver que acontecer, paciência. Eu não procuro, não procuro. Eu quero viver.
Prof. Dário: O senhor está fazendo o papel de missionário...
Dom Erwin: Claro. O que eu vou fazer? Agora eu vou viver assim. A coisa impressionante é o seguinte: que a vítima está sendo presa e os sem-vergonha, os agressores, estão à solta. Inverteu a ordem. E não posso sair de casa a não ser acompanhado de policiais, mesmo atravessando a praça para ir para a Catedral, não tem nenhuma missa que reze sem eles. São muito mais piedosos ainda do que muitos, porque esses assistem uma vez, no dia de domingo, uma única missa, eles assistem duas, às vezes três missas. Para mim não é uma questão tão desagradável.
Prof. Dário: Isso lhe incomoda?
Dom Erwin: Incomoda porque você está cerceado em tua liberdade, é claro. E eu não tenho nada a esconder, mas em todo caso. E cada passo que dou, estou acompanhado. Eu me dou muito bem com eles (outros detalhes dos policiais que fazem a segurança pessoal de Dom Erwim não podem ser revelados). A gente se relaciona muito bem, são muito discretos. Não tenho nenhuma queixa deles.
Prof. Dário: O senhor escolheu pessoalmente esses policiais?
Dom Erwin: Não. Foi a Polícia que escolheu. Agora, esses policiais que tenho não podem ser requisitados para outra coisa. Você não pode viver eternamente com medo, com pavor, você fica refém de uma coisa que não fez. (Dom Erwin falou sobre a sua relação fraterna com eles e de todos os procedimentos de sua segurança pessoal, mas esses detalhes não podem ser revelados).
Prof. Dário: O senhor está na Diocese de Bragança, conhecendo um pouco de nossa realidade, através também do trabalho missionário das Irmãs Missionárias de Santa Teresinha. Deixe uma mensagem para os nossos leitores e para os nossos diocesanos.
Dom Erwin: Bem... Estou aqui e não invadi esse território (risos). O bispo está sabendo que eu fui convidado. E o que a gente diz pro povo é sempre a mesma coisa que Dom Luís (referindo-se a Dom Luís Ferrando, Bispo Diocesano de Bragança/PA) certamente também diz nos sermões dele. Que continuem na batalha, na luta por um mundo diferente. Acredito que outro mundo é possível, mas ele não cai do céu. O Reino de Deus está próximo, sim, mas existe também o nosso empenho. E o empenho não é só do bispo, do padre ou da irmã, o empenho é de todas as mulheres e homens que se dizem cristãos. Então, tem que lutar para esse mundo acontecer, esse mundo diferente que nós sonhamos de fraternidade, de solidariedade, de justiça e paz. É isso que nós esperamos. E isso depende também de cada uma e de cada um de nós, tanto em Bragança como no Xingu.
Prof. Dário: Muito obrigado, Dom Erwin Kräutler, pela entrevista. Fico muito honrado com essa entrevista e com a oportunidade que o senhor nos deu.
Dom Erwin: Muito obrigado também.
Traços biográficos
Dom Erwin Kräutler é austríaco, nascido em Koblach em 12.07.1939, missionário da Congregação do Preciosíssimo Sangue. Ordenado sacerdote em julho de 1965, foi enviado ao Brasil, mais precisamente ao Pará, onde seu tio Dom Eurico Kräutler já era bispo.
Chegou a Altamira em 21.12.1965, onde até hoje reside. Foi nomeado bispo por João Paulo II em 07.11.1980, coadjutor da Prelazia do Xingu. Em 02.09.1981 assumiu como bispo prelado do Xingu/PA, função até hoje exercida. Foi presidente do Conselho Indigenista Missionário (1983-1991); membro da Comissão Episcopal de Pastoral da CNBB, responsável pela dimensão missionária (1995-1998).
Dom Erwin atuou com a irmã Dorothy Stang e prossegue na mesma luta pelos direitos das comunidades camponesas e indígenas e pela preservação ambiental na região amazônica; denunciou a exploração sexual de adolescentes por políticos; denunciou a emasculação e assassinato de meninos no estado; vem denunciando a atuação de latifundiários, grileiros, madeireiros e fazendeiros com práticas de trabalho escravo e de destruição ambiental; tem aberto espaço na sua diocese para o debate sobre a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que ameaça atingir comunidades indígenas e camponesas, mas, segundo ele, é de interesse de madeireiros e grandes empresários.
Segundo o bispo, é comum ouvir em Altamira que, enquanto ele viver, a usina não sai. Ele também acredita que há pessoas diretamente ligadas ao assassinato da irmã Dorothy que também estão envolvidos no empreendimento. Dom Erwin vem sendo ameaçado e agredido inúmeras vezes há muitos anos devido à sua atuação. Em 1987, um suspeito acidente de carro quase lhe tirou a vida numa rodovia, ceifando a vida do Padre Salvatore Deiana, que o acompanhava. Suspeita-se que este acidente tenha sido forjado. Atualmente, Dom Erwin Krautler é presidente do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e vive sob a proteção de policiais militares do Estado.
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Uma caracterização histórica de Bragança
O Atlas Digital da América Lusa informa que a então Capitania do Caeté foi doada por Filipe III (de Portugal) a Gaspar de Souza, ex-governador geral do Brasil, em 9 de fevereiro de 1622, como recompensa pela expulsão dos franceses do território. A confirmação dessa doação é uma carta de 21 de maio de 1739, onde constam documentos antigos em seus anexos. Este território iam do rio Turi (Açu) até o rio Caeté.
A Coroa decidiu, em 1618, transformar o Maranhão e Grão-Pará em Estado independente devido à extrema dificuldade de comunicação desta região com o Governo Geral do Brasil, instalado na Bahia. Com isso, ficou demarcado que as divisas do novo Estado iriam do Ceará à fronteira setentrional ainda indefinida do Pará. Francisco Coelho de Carvalho foi seu primeiro governador, assumindo o cargo no ano de 1626
Desmembramentos geográficos ocorridos a partir da criação de Bragança
Ano
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Lei / Decreto
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Motivos
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1852
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Decreto Imperial n.º 639, de 12/06/1852.
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Capitania do Caeté foi anexada à Província do Maranhão.
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1856
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Lei n.º 301, de 22 de dezembro de 1856.
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Criação do Município de Viseu.
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1879
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Lei n.º 934, de 31 de julho de 1879.
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Criação do Município de Quatipuru.
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1955
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Lei n.º 1227, de 11 de março de 1955.
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Criação do Município de Urumajó (atualmente Augusto Corrêa).
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1961
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Lei n.º 2460, de 29 de dezembro de 1961.
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Parte da área desmembrada para a composição do Município de Augusto Corrêa.
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1991
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Lei n.º 5688, de 13 de dezembro de 1991.
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Parte da área desmembrada para a criação do Município de Santa Luzia do Pará.
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1994
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Lei n.º 5858, de 29 de setembro de 1994.
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Parte da área desmembrada para a criação do Município de Tracuateua.
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OLIVEIRA, Luciana de Fátima. Projetos de consolidação de um território: da Vila de Souza do Caeté à Vila de Bragança: 1740-1760. Dissertação de Mestrado em História. UFG: Goiânia, 2008.
REIS, Arthur Cézar Ferreira. Síntese de história do Pará. São Paulo: Amazônia Edições Culturais, 1972.