domingo, 10 de fevereiro de 2013

Parabéns, Papai. Jocelino Nonato da Silva (in memoriam), em 10 de fevereiro...




Em 10 de fevereiro de 1937, nasceu na localidade do Almoço, Montenegro, em Bragança, o pequenino Jocelino Nonato da Silva, nome grafado errado por problemas cartoriais, mas que sempre foi um de seus orgulhos... Não Juscelino, mas Jocelino.
Filho de Raimundo Nonato da Silva e de Raimunda Maria Francisca da Silva, foi o último filho do casal, irmão de 09 irmãos. De estatura mediana, o jovem Jocelino acompanhou a sua família nas lidas da vida. Acontecimento que sempre lembrou com certo pesar foi o falecimento de seu pai, Raimundo, quando ainda tinha 7 anos... exatamente na mesma idade que o perdi.

Quando da mudança da família para a sede de Bragança, ainda na década de 1950, Jucelo – ou Celo - como era chamado por alguns familiares, veio morar com os irmãos e com a mãe em Bragança, ajudando no que foi possível, em casa e com os irmãos. Sempre foi alguém ligada à sua família, em muitos os sentidos. Sua devoção por sua mãe e dela por ele foram marcantes. Disso eu sou testemunha. Veio morar, inclusive ao seu lado, na casa onde moro até hoje.

Como muitos rapazes de sua época, foi criada em moldes bem diferentes dos dias atuais, com bastante respeito por aspectos e tradições familiares que sempre estiveram na sua caminhada familiar.

Estudou no Instituto Santa Teresinha, foi aluno de Dom Eliseu Coroli, na disciplina Matemática, o que contava com emoção, ao se destacar em algumas oportunidades pela perspicácia com os assuntos e exercícios em sala de aula. Não concluiu, no entanto, o ensino de 2º grau. Ele tinha uma personalidade muito forte, de às vezes impressionar pelas reações, isso é fato. Acho que nós, filhos, herdamos alguma coisa desse jeito, cada um com um traço especial e que sabemos, na memória, que é dele, que veio dele e que o imortaliza na nossa caminhada.

Atuou, basicamente no comércio, em firmas comerciais até ter a sua própria, J. Silva Comércio e Transportes, quando passou a transportar cargas e mercadorias, de Bragança para diversos lugares do Pará. Amigos de hoje lembram bastante desses momentos, como Antônio Moreira de Bastos, companheiro de muitos caminhos. Uma coisa sua era o gosto por viagens, por muitas viagens.

Meu pai serviu ao Tiro de Guerra de Bragança e participou de muitas coisas da vida social de Bragança. Claro que teve, como esses amigos e como os rapazes da sua época, uma vida social bastante movimentada, entre os ambientes em que o lazer e a vida boêmia era peculiar. Fez parte de entidades como a Sociedade Esportiva e Cultural Time Negra, do Clube Nove Balões, da Loja Maçônica Conciliação Bragantina, do Lions Clube de Bragança, conhecimento que o alçou, anos mais tarde – e como seu irmão, Edu Nonato da Silva – à vida política.
Conheceu minha Mãe, Socorro Rodrigues, nos idos de 1974, na saída do Instituto Santa Teresinha. Namoraram e ficaram noivos em 30 de maio de 1975, nas Bodas de Prata de meus avós maternos Manoel Baxeira e Joana Rodrigues. Casaram-se na Catedral de Nossa Senhora do Rosário em 06 de dezembro de 1975, abençoados pelo Pe. Luciano Brambilla, seu amigo pessoal. Por ser maçom, sempre carregou certo desapontamento com o amigo sacerdote por não ter tido a oportunidade de comungar em seu matrimônio. Mas, enfim...

Tiveram três filhos, Danilo Augusto, Dário Benedito e Jocelino Filho, único a quem escolheu o nome, sem discussões. Tinha muito orgulho de ter tido três filhos homens, como ele dizia... “melhor do que eu esperava”.
Foi eleito para o mandato legislativo da Câmara Municipal de Bragança, no final da década de 1970, sendo colega de parlamento do próprio irmão, algo bem característico para a época. O tino político de alguns poucos membros era notória à época, como a de sua irmã, Maria Nonato da Silva, a primeira mulher eleita como vereadora de Bragança.
Jocelino era um homem de costumes simples, de sorriso largo, de amizades duradouras – cito o nome do casal Adiel e Zitinha Oliveira – a quem sempre acompanhou com zelo. Uma coisa inesquecível, que ele deixou na nossa memória e a de meus irmãos, era a sua preferência por um sobrinho em especial, entre tantos, Edu Filho – o Edinho – além de Elizabeth Nonato, sua comadre, madrinha de Danilo Augusto. As aventuras com Edinho são homéricas... o seu carinho por ele era bem específico. Um sobrinho e amigo. Claro que por muitos sobrinhos isso era especial, tanto que ajudou as famílias dos irmãos por algum tempo em muitos aspectos. De seus irmãos, aliás, pelo que lembro falando era de ter muita saudade e impressões marcantes sobre a perda de um deles.
Lembro de uma passagem que pra mim é a coisa mais marcante, além dos momentos tristes de sua doença e partida. Quando minha Mãe ia trabalhar à noite, na Escola Professor Paixão, um certo dia, ficamos os quatro reunidos. Papai brincou conosco a noite toda, chegamos a “destruir” a ordem da casa. E ao final, esgotados que estávamos, dormimos os quatro juntos na cama. Quando Mamãe chegou, a cena foi uma trapalhada de risos. Seu carinho, seu cheiro, sua presença, sua abnegação e sua dedicação aos filhos era tal que ia, por muitas vezes, ao Instituto Santa Teresinha nos deixar, pela manhã... e até mesmo “esquecer” por um dia, eu e o Danilo Augusto, na casa das Irmãs Missionárias. Pouco tempo pra ele, mas uma eternidade agoniada para Mamãe.
Os bailes de Carnaval infantil eram momentos em que ele deixava transparecer essa dedicação. Nos arrumamos uma vez, junto com a Vovó Joana, para irmos à sede dos Nove Balões... Papai acompanhou isso tudo e lembro de sua alegria ao participar desse momento conosco.
O único momento que participou da vida escolar de seus filhos – eu e o Danilo Augusto – foi a formatura do Jardim de Infância, no IST, em 1982, coisa que guardo para sempre nos poucos “flashes” de recordação que tenho daquele dia. Uma alegria e uma saudade imensa de ficar no seu colo e até de vê-lo descansar, na rede, ou almoça na cabeceira da mesa... sempre procurando olhar o que comíamos e da forma como agíamos.
Meu Pai não era um pai de repressões ou de sanções, isso ficou a cargo da Mamãe, que disciplinava as coisas. A única coisa que ele fazia era “olhar”... e esse olhar já dizia tudo. Um fato que quase ninguém conhece é que uma carta de Danilo Augusto foi sorteada no programa de tevê do grupo infantil Balão Mágico, em 1983, o que causou uma emoção muito grande em Papai, quando a apresentadora Simony leu o nome. Até hoje, guardamos os LP’s com muito carinho, afinal, meu Pai participou disso tudo. 


Jocelino adoeceu em 1980, de miocardiopatia, que fez com que iniciasse um tratamento desgastante e bastante difícil, que envolveu esforços e recursos, correligionários, familiares e até personalidades políticas. Aqui devo citar meu padrinho Luís Gonzaga da Silveira, os motoristas de Papai (Coelho e Boneco, por exemplo), que foram mais que amigos tão somente. Esteve em vários centros de tratamento cardíaco, como em São Paulo, quando procedeu à investigação das causas de sua doença, sem tanto tratamento à época. Uma sugestão era o transplante de coração, o que não chegou a acontecer.
Falei com meu Pai, pela última vez, na casa da Tia Iolanda, no início de setembro de 1984, em data que não recordo exatamente, dizendo que estava e que ficaria bem. Foi operado para colocação de um marcapasso pelo médico Manoel Maneschy, no antigo Hospital São Marcos, em Belém, no dia 18 de setembro de 1984, a mesma data em que nasceu minha prima Ana Cristina Rodrigues.
Depois de ficar bem, alguns dias, Jocelino faleceu às 8 da manhã, de uma quarta-feira, dia 26 de setembro de 1984, partindo após o café da manhã e sem a oportunidade de ver os filhos crescerem – aliás cabe aqui uma observação... meu Pai queria um filho médico, um engenheiro ou arquiteto e outro militar... tudo bem diferente do que aconteceu.
O sofrimento ainda me faz chorar muito e a sentir, como até hoje, muita saudade dele. Mas não é e nunca será maior do que o brilho dos olhos e a destruir a esperança de que será o meu Pai a me receber, noutra dimensão, em algum tempo. É dele que eu quero o primeiro e mais longo e saudoso abraço quando o meu tempo, aqui, passar.
Meu Pai faria hoje 76 anos...

E aqui está, de maneira resumida, o meu Jocelino, o meu Pai, o meu primeiro amor, o meu herói para sempre, o meu anjo da guarda, o homem da minha vida... Tudo o que fiz, pensei nele... aonde fui, dediquei a ele... ao que fui destinado pela vida, ele esteve junto... Como criança, cheguei a culpar Deus pela partida de meu Pai. Sério... não acreditava ser possível perder alguém tão necessário como o pai da gente.

Mas isso passou. Ele permanece na memória... na lida diária nesses 28 anos de saudades. Nunca mais o meu Dia dos Pais foi igual, claro, obviamente, com a mesma lágrima de saudade e com o mesmo querer. E nada, nem ninguém por mais crível que seja, denodará a imagem do meu Pai... ninguém mesmo, nem aqueles que pugnaram, recentemente, sujar sua memória e transformá-lo no que queriam. Não é possível alterar o passado tanto assim, viu?
Hoje, meu dia é dele! Meu amor sempre, minha gratidão, meu abraço imaginado e tão nosso, minha saudade e minha vida, que é dele e de Mamãe! Eu queria tanto que Você tivesse visto tudo o que me tornei – até os meus limites – e aonde fui, também por Você, mas... vou prestar contas um dia para Você, e riremos juntos...com os nossos abraços, e eu no teu colo, de novo e para sempre.
Aonde estiver, e sei que o encontrarei um dia, Parabéns Papai!
Teu, sempre teu... Dário Benedito Rodrigues, teu filho do meio.


3 comentários:

  1. Que memória eih professor? Quantas coisas lindas. Também perdi minha mãe enquanto ainda era criança e um dia contarei a história dela no meu blogger. Nossos amores, nossas vidas.
    Um abraço.
    Hádila A.

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  2. Lindo texto, primo! Infelizmente, só conheço teu pai pelas histórias que minha mãe contava e pelas fotografias que encontrei. Sem dúvida, foi um homem notório e predestinado, pela vida que teve e por tudo que plantou. Com certeza, está muito orgulhoso dos filhos que criou e que hoje dão continuidade à sua história.
    Muito bom ter conhecido mais um pouco a respeito dele.
    Um abraço!

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  3. rapaz historia muito bonita! me emocionei pois perdi meu pai aos doze anos e tb queria que ele tivesse aqui agora pra ver o que sou dentro dos limites que a vida me deu. nesse caso entendo a saudade e sua historia vivificou a historia da minha família nas décadas de 1970 e 1980. abcs seu amigo itamar gaudencio

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