Em 10 de fevereiro de 1937,
nasceu na localidade do Almoço, Montenegro, em Bragança, o pequenino Jocelino
Nonato da Silva, nome grafado errado por problemas cartoriais, mas que sempre
foi um de seus orgulhos... Não Juscelino, mas Jocelino.
Filho de Raimundo Nonato da Silva
e de Raimunda Maria Francisca da Silva, foi o último filho do casal, irmão de
09 irmãos. De estatura mediana, o jovem Jocelino acompanhou a sua família nas
lidas da vida. Acontecimento que sempre lembrou com certo pesar foi o
falecimento de seu pai, Raimundo, quando ainda tinha 7 anos... exatamente na
mesma idade que o perdi.
Quando da mudança da família
para a sede de Bragança, ainda na década de 1950, Jucelo – ou Celo - como era chamado
por alguns familiares, veio morar com os irmãos e com a mãe em Bragança, ajudando
no que foi possível, em casa e com os irmãos. Sempre foi alguém ligada à sua família,
em muitos os sentidos. Sua devoção por sua mãe e dela por ele foram marcantes. Disso
eu sou testemunha. Veio morar, inclusive ao seu lado, na casa onde moro até hoje.
Como muitos rapazes de sua
época, foi criada em moldes bem diferentes dos dias atuais, com bastante
respeito por aspectos e tradições familiares que sempre estiveram na sua
caminhada familiar.
Estudou no Instituto Santa
Teresinha, foi aluno de Dom Eliseu Coroli, na disciplina Matemática, o que
contava com emoção, ao se destacar em algumas oportunidades pela perspicácia
com os assuntos e exercícios em sala de aula. Não concluiu, no entanto, o
ensino de 2º grau. Ele tinha uma personalidade muito forte, de às vezes
impressionar pelas reações, isso é fato. Acho que nós, filhos, herdamos alguma
coisa desse jeito, cada um com um traço especial e que sabemos, na memória, que
é dele, que veio dele e que o imortaliza na nossa caminhada.
Atuou, basicamente no
comércio, em firmas comerciais até ter a sua própria, J. Silva Comércio e
Transportes, quando passou a transportar cargas e mercadorias, de Bragança para
diversos lugares do Pará. Amigos de hoje lembram bastante desses momentos, como
Antônio Moreira de Bastos, companheiro de muitos caminhos. Uma coisa sua era o
gosto por viagens, por muitas viagens.
Conheceu minha Mãe, Socorro
Rodrigues, nos idos de 1974, na saída do Instituto Santa Teresinha. Namoraram e
ficaram noivos em 30 de maio de 1975, nas Bodas de Prata de meus avós maternos Manoel
Baxeira e Joana Rodrigues. Casaram-se na Catedral de Nossa Senhora do Rosário
em 06 de dezembro de 1975, abençoados pelo Pe. Luciano Brambilla, seu amigo pessoal.
Por ser maçom, sempre carregou certo desapontamento com o amigo sacerdote por
não ter tido a oportunidade de comungar em seu matrimônio. Mas, enfim...
Tiveram três filhos, Danilo
Augusto, Dário Benedito e Jocelino Filho, único a quem escolheu o nome, sem
discussões. Tinha muito orgulho de ter tido três filhos homens, como ele
dizia... “melhor do que eu esperava”.
Foi eleito para o mandato
legislativo da Câmara Municipal de Bragança, no final da década de 1970, sendo
colega de parlamento do próprio irmão, algo bem característico para a época. O
tino político de alguns poucos membros era notória à época, como a de sua irmã,
Maria Nonato da Silva, a primeira mulher eleita como vereadora de Bragança.
Jocelino era um homem de
costumes simples, de sorriso largo, de amizades duradouras – cito o nome do
casal Adiel e Zitinha Oliveira – a quem sempre acompanhou com zelo. Uma coisa
inesquecível, que ele deixou na nossa memória e a de meus irmãos, era a sua preferência
por um sobrinho em especial, entre tantos, Edu Filho – o Edinho – além de Elizabeth
Nonato, sua comadre, madrinha de Danilo Augusto. As aventuras com Edinho são homéricas...
o seu carinho por ele era bem específico. Um sobrinho e amigo. Claro que por
muitos sobrinhos isso era especial, tanto que ajudou as famílias dos irmãos por
algum tempo em muitos aspectos. De seus irmãos, aliás, pelo que lembro falando
era de ter muita saudade e impressões marcantes sobre a perda de um deles.
Lembro de uma passagem que pra
mim é a coisa mais marcante, além dos momentos tristes de sua doença e partida.
Quando minha Mãe ia trabalhar à noite, na Escola Professor Paixão, um certo
dia, ficamos os quatro reunidos. Papai brincou conosco a noite toda, chegamos a
“destruir” a ordem da casa. E ao final, esgotados que estávamos, dormimos os
quatro juntos na cama. Quando Mamãe chegou, a cena foi uma trapalhada de risos.
Seu carinho, seu cheiro, sua presença, sua abnegação e sua dedicação aos filhos
era tal que ia, por muitas vezes, ao Instituto Santa Teresinha nos deixar, pela
manhã... e até mesmo “esquecer” por um dia, eu e o Danilo Augusto, na casa das
Irmãs Missionárias. Pouco tempo pra ele, mas uma eternidade agoniada para
Mamãe.
Os bailes de Carnaval infantil
eram momentos em que ele deixava transparecer essa dedicação. Nos arrumamos uma
vez, junto com a Vovó Joana, para irmos à sede dos Nove Balões... Papai
acompanhou isso tudo e lembro de sua alegria ao participar desse momento
conosco.
O único momento que participou
da vida escolar de seus filhos – eu e o Danilo Augusto – foi a formatura do Jardim
de Infância, no IST, em 1982, coisa que guardo para sempre nos poucos “flashes”
de recordação que tenho daquele dia. Uma alegria e uma saudade imensa de ficar
no seu colo e até de vê-lo descansar, na rede, ou almoça na cabeceira da mesa...
sempre procurando olhar o que comíamos e da forma como agíamos.
Meu Pai não era um pai de
repressões ou de sanções, isso ficou a cargo da Mamãe, que disciplinava as
coisas. A única coisa que ele fazia era “olhar”... e esse olhar já dizia tudo.
Um fato que quase ninguém conhece é que uma carta de Danilo Augusto foi sorteada
no programa de tevê do grupo infantil Balão Mágico, em 1983, o que causou uma
emoção muito grande em Papai, quando a apresentadora Simony leu o nome. Até
hoje, guardamos os LP’s com muito carinho, afinal, meu Pai participou disso
tudo.
Jocelino adoeceu em 1980, de
miocardiopatia, que fez com que iniciasse um tratamento desgastante e bastante
difícil, que envolveu esforços e recursos, correligionários, familiares e até
personalidades políticas. Aqui devo citar meu padrinho Luís Gonzaga da
Silveira, os motoristas de Papai (Coelho e Boneco, por exemplo), que foram mais
que amigos tão somente. Esteve em vários centros de tratamento cardíaco, como
em São Paulo, quando procedeu à investigação das causas de sua doença, sem
tanto tratamento à época. Uma sugestão era o transplante de coração, o que não
chegou a acontecer.
Falei com meu Pai, pela última
vez, na casa da Tia Iolanda, no início de setembro de 1984, em data que não
recordo exatamente, dizendo que estava e que ficaria bem. Foi operado para colocação
de um marcapasso pelo médico Manoel Maneschy, no antigo Hospital São Marcos, em
Belém, no dia 18 de setembro de 1984, a mesma data em que nasceu minha prima
Ana Cristina Rodrigues.
Depois de ficar bem, alguns
dias, Jocelino faleceu às 8 da manhã, de uma quarta-feira, dia 26 de setembro
de 1984, partindo após o café da manhã e sem a oportunidade de ver os filhos
crescerem – aliás cabe aqui uma observação... meu Pai queria um filho médico,
um engenheiro ou arquiteto e outro militar... tudo bem diferente do que
aconteceu.
O sofrimento ainda me faz chorar
muito e a sentir, como até hoje, muita saudade dele. Mas não é e nunca será
maior do que o brilho dos olhos e a destruir a esperança de que será o meu Pai
a me receber, noutra dimensão, em algum tempo. É dele que eu quero o primeiro e
mais longo e saudoso abraço quando o meu tempo, aqui, passar.
Meu Pai faria hoje 76 anos...
E aqui está, de maneira resumida, o meu Jocelino, o meu Pai, o meu primeiro amor, o meu herói para sempre, o meu anjo da guarda, o homem da minha vida... Tudo o que fiz, pensei nele... aonde fui, dediquei a ele... ao que fui destinado pela vida, ele esteve junto... Como criança, cheguei a culpar Deus pela partida de meu Pai. Sério... não acreditava ser possível perder alguém tão necessário como o pai da gente.
Mas isso passou. Ele permanece na memória... na lida diária nesses 28 anos de saudades. Nunca mais o meu Dia dos Pais foi igual, claro, obviamente, com a mesma lágrima de saudade e com o mesmo querer. E nada, nem ninguém por mais crível que seja, denodará a imagem do meu Pai... ninguém mesmo, nem aqueles que pugnaram, recentemente, sujar sua memória e transformá-lo no que queriam. Não é possível alterar o passado tanto assim, viu?
E aqui está, de maneira resumida, o meu Jocelino, o meu Pai, o meu primeiro amor, o meu herói para sempre, o meu anjo da guarda, o homem da minha vida... Tudo o que fiz, pensei nele... aonde fui, dediquei a ele... ao que fui destinado pela vida, ele esteve junto... Como criança, cheguei a culpar Deus pela partida de meu Pai. Sério... não acreditava ser possível perder alguém tão necessário como o pai da gente.
Mas isso passou. Ele permanece na memória... na lida diária nesses 28 anos de saudades. Nunca mais o meu Dia dos Pais foi igual, claro, obviamente, com a mesma lágrima de saudade e com o mesmo querer. E nada, nem ninguém por mais crível que seja, denodará a imagem do meu Pai... ninguém mesmo, nem aqueles que pugnaram, recentemente, sujar sua memória e transformá-lo no que queriam. Não é possível alterar o passado tanto assim, viu?
Hoje, meu dia é dele! Meu amor
sempre, minha gratidão, meu abraço imaginado e tão nosso, minha saudade e minha
vida, que é dele e de Mamãe! Eu queria tanto que Você tivesse visto tudo o que
me tornei – até os meus limites – e aonde fui, também por Você, mas... vou
prestar contas um dia para Você, e riremos juntos...com os nossos abraços, e eu
no teu colo, de novo e para sempre.
Aonde estiver, e sei que o
encontrarei um dia, Parabéns Papai!
Teu, sempre teu... Dário Benedito Rodrigues, teu filho
do meio.
Que memória eih professor? Quantas coisas lindas. Também perdi minha mãe enquanto ainda era criança e um dia contarei a história dela no meu blogger. Nossos amores, nossas vidas.
ResponderExcluirUm abraço.
Hádila A.
Lindo texto, primo! Infelizmente, só conheço teu pai pelas histórias que minha mãe contava e pelas fotografias que encontrei. Sem dúvida, foi um homem notório e predestinado, pela vida que teve e por tudo que plantou. Com certeza, está muito orgulhoso dos filhos que criou e que hoje dão continuidade à sua história.
ResponderExcluirMuito bom ter conhecido mais um pouco a respeito dele.
Um abraço!
rapaz historia muito bonita! me emocionei pois perdi meu pai aos doze anos e tb queria que ele tivesse aqui agora pra ver o que sou dentro dos limites que a vida me deu. nesse caso entendo a saudade e sua historia vivificou a historia da minha família nas décadas de 1970 e 1980. abcs seu amigo itamar gaudencio
ResponderExcluir