sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Instituto Santa Teresinha: 80 anos construindo histórias e educando para a vida

Por Dário Benedito Rodrigues*, em 23 de novembro de 2018**.

A história do Instituto Santa Teresinha e a da educação nas regiões de Bragança e do Guamá se confundem desde que a organização eclesiástica da então Prelazia de Nossa Senhora do Rosário do Guamá foi confiada à administração dos padres Barnabitas, tendo à frente o padre Eliseu Coroli, que percebeu o enorme déficit educacional por que passava essa região nas primeiras décadas do século XX.

Imagem 1: Santa Teresinha, patrona do Instituto Santa Teresinha.
 Fonte: Acervo pessoal

Para o padre Eliseu Coroli a educação e a saúde foram questões preocupantes. Nascido na Itália, em 09 de fevereiro de 1900, em Castelnuevo (Piacenza), alimentou desde tenra idade o desejo de se tornar missionário. Aos 11 anos, ingressou na Escola Apostólica dos Padres Barnabitas, em Gênova, cumprindo as escalas normais de formação, chegando logo em 1917 a professar, em caráter perpétuo, seus votos.

Imagem 2: Dom Eliseu Coroli, fundador do Instituto Santa Teresinha.
 Fonte: Acervo IST

Daí, até se tornar sacerdote, faltava pouco. Foi ordenado presbítero em 15 de março de 1924, acoplando o nome “Maria” ao seu, como regra barnabítica. No mesmo ano, em dezembro, vem ao Brasil em missão, ficando no Rio de Janeiro até 1929, como Vice-reitor da Escola Apostólica dos Barnabitas naquela cidade, até ser destinado em 1930 como missionário para a Amazônia, na cidade de Ourém, no Pará. Em 1934, a sede da Prelazia é transferida para Bragança, sendo o Padre Eliseu nomeado seu Administrador Apostólico. Finalmente, chega a Bragança em 05 de agosto de 1938. Dois anos depois, é sagrado Bispo, em 13 de outubro.
Ainda no início, somente com o talento de professores das primeiras letras, Dom Eliseu, sentindo a necessidade de irmãos religiosos que o ajudassem em tão árdua tarefa, mobiliza forças e muita persuasão no alcance das Irmãs do Preciosíssimo Sangue, que começam a trabalhar no mesmo ano.

Imagem 3: Chegada das Irmãs Preciosinas em Bragança.
 Fonte: Acervo IST

A ideia da fundação de uma escola de formação de professoras, em Bragança, surgiu com a falta de pessoas que servissem de catequistas na região da Prelazia do Guamá. Seu primeiro passo de administrador apostólico concretizou a ideia de arranjar auxiliares que preparassem as novas professoras e catequistas. As irmãs Preciosinas, sem dúvida, foram de muita importância neste precioso trabalho.
Até que uma visita inesperada do Prefeito Augusto Corrêa, do Juiz Dr. Duarte Montenegro e do Sr. Lobão da Silveira, suscitou no Padre Eliseu a árdua missão. Logicamente, prometeram-lhe todo o apoio necessário a essa investida. Viagens e visitas foram agenciadas. Dirigiu-se ao Interventor do Pará na época, Sr. José da Gama Malcher, requerendo a equiparação dos cursos Normal e Primário para a sua escola. Com a presença do Padre Afonso de Giorgio, Vigário da Basílica e do Sr. Miguel Pernambuco Filho, Diretor de Educação, ficaram acertados detalhes de praxe a serem cumpridos, e o despacho favorável do então interventor foi publicado no dia 23 de novembro de 1938, data oficial de fundação do Instituto Santa Teresinha, então confiado à Administração Apostólica do Guamá.
Solicitando apoio à sua obra educacional, Pe. Eliseu enviou uma carta a várias famílias noticiando a equiparação da escola e contou com a colaboração das primeiras professoras do colégio - Prof.ª Theodomira Lima e Prof.ª Isabel Ribeiro - que já eram bastante conceituadas em Bragança e que trabalharam de forma voluntária naqueles primeiros passos do Instituto Santa Teresinha.

Imagem 4: A Catedral de Nossa Senhora do Rosário, tendo ao fundo o atual e ao lado direito o primeiro prédio onde funcionou o Colégio Santa Teresinha.
 Fonte: Acervo IST

A partir daí, a tarefa de Padre Eliseu se tornou mais difícil. A manutenção da 3ª Escola Normal do Pará deveria ser uma cruz muito mais pesada. A constituição da primeira turma, a filosofia cristã, a formação cívica, respeitando a época e os costumes, o teor religioso do ensino e a obrigação em obter respostas favoráveis desses primeiros alunos, tudo se constituía num sonho que irá se tornar realidade quando da primeira turma de Normalistas sai também a primeira Missionária de Santa Teresinha, a recém-formada Prof. Edith Almeida de Sousa, também co-fundadora da Congregação.

Imagem 5: Prédio à esquerda, onde por primeiro funcionou o Colégio Santa Teresinha.
Fonte: Acervo IST

Padre Eliseu começa a equipar o educandário com carteiras, móveis e infraestrutura possível naquele tempo, até comprar o prédio da Praça da Matriz em 1939, onde seria a Escola Normal, confiada à proteção de Santa Teresinha, padroeira das Missões, e santa a quem padre Eliseu dedicava expressiva admiração.
A primeira prova da missão realizou-se em 07 de janeiro de 1939, com vinte candidatos. Já no dia 15 de fevereiro começaram as aulas nos cursos Primário e Normal, funcionando em locais diferentes, mas tudo sob os olhares das irmãs Preciosinas e do Padre Eliseu.

Imagem 6: Lançamento da pedra fundamental de construção do prédio do IST em julho de 1940, tendo ao lado direito de Dom Eliseu o então prefeito Augusto Corrêa.
 Fonte: Acervo IST

Dessa forma, começou o primeiro ano letivo, com as matérias de Ditado / Leitura, Composição, Português, Aritmética, Geografia, História, Tabuada e Ciências, que correspondiam ao currículo básico daquele tempo para as séries iniciais. Na segunda, terceira e quarta séries, as matérias eram Linguagem / Redação, Ciências, Ditado, Aritmética, Geografia, História, Geometria, Composição, Leitura, além de Catecismo. Quanto ao Curso Normal, as disciplinas eram Português, Geografia, Religião, Aritmética, Ciências, Prendas do Lar, Francês, Ginástica, Desenho e Canto.
Nesta situação, a Escola Normal passa mais um tempo, até que em 05 de julho de 1940, em meio a uma cerimônia magnânima, é lançada a pedra fundamental do prédio onde funciona o Instituto Santa Teresinha, construído graças a doações e esforços de Padre Eliseu. Com as obras em andamento, a educação é desenvolvida nestes moldes apresentados. Em 1941, já se encontrava preparado o Curso Primário completo, com as suas três séries.

Imagem 7: Prédio do Instituto Santa Teresinha em construção.
 Fonte: Acervo IST

Em meados da 2ª Guerra Mundial, o prédio do Instituto Santa Teresinha é desapropriado para as instalações militares da 8ª Região Militar e do 35º Batalhão de Caçadores. Depois de desapropriado, terminado, vendido e pago, Dom Eliseu entrega o prédio ao Exercito, com muita tristeza, mas confiado na providência de negociações, como a da filha do Presidente Vargas, Ivete Vargas, que desfechariam na devolução do prédio ao já Bispo do Guamá, em 06 de março de 1944. Deste ano em diante, o Instituto Santa Teresinha passou a celebrar ininterruptamente as comemorações do mês de maio.

Imagem 8: Quadro de formatura da primeira Turma do IST de 1943.
 Fonte: Acervo IST

Mas antes disso, em 30 de dezembro de 1943, a primeira turma da Escola Normal recebe o grau de Professor. São eles, pela ordem do convite: Olgarina Vieira, Maria Letícia Sousa, Geralda Almeida, Wilson Sousa, Raimunda Fonseca, Irene Vasconcelos, Maria José Maia, Cirene Vasconcelos, Maria do Rosário Antunes, Arlinda Loureiro, Hilta Sousa, Margarida Pereira, Hilda Gomes, Maria Viganó (religiosa preciosina), Ana Marcy Oliveira, Zarife Sales, Ruth Pereira, Orlandina Lobão e Edith Almeida de Sousa.

Imagem 9: Dom Eliseu, professoras, padres e alunos da primeira Turma do IST.
 
Fonte: Acervo IST

E assim a educação de Dom Eliseu não parou mais. Seus cursos e necessidades de adequação de 1946 foram todos seguidos. Houve a organização do Curso Ginasial, também, em 1946, e a fundação da Congregação das Irmãs Missionárias de Santa Teresinha, em 1948, cujo reconhecimento oficial por Roma ocorreu em 1954. Tudo como resultado do processo formativo da primeira turma. O Colégio é, então, o berço das Missionárias de Santa Teresinha.

Imagem 10: Um dos desfiles cívicos do Instituto Santa Teresinha.
 Fonte: Acervo IST

A trajetória da Escola Estadual Santa Teresinha está vinculada ao Instituto, desde sua fundação. De acordo com documentos oficiais, surgiu a Escola Primária em Regime de Cooperação Santa Teresinha, por um de 04 de fevereiro de 1970, firmado entre a Secretaria de Educação do Pará e a Ir. Edith Almeida de Sousa, representante da escola. As atividades iniciais contaram com a oferta de 06 (seis) turmas, 01 (uma) secretária e 06 (seis) professores para atender gratuitamente 180 (cento e oitenta) alunos.
Depois evoluiu para Escola em Regime de Convênio e em 29 de janeiro de 2014, a SEDUC termina o convênio e pela portaria n.º 06 de 2014 autoriza a mudança do nome da escola para Escola Estadual de Ensino Fundamental Santa Teresinha, passando a integrar a rede pública de ensino na esfera estadual, funcionando no prédio do Instituto Santa Teresinha.

Com todas as suas obras, a ampliação do Instituto Santa Teresinha é iniciada, para atender a demanda que crescia na região. A entrega do quarteirão atrás do colégio e o fechamento autorizado da rua datam de outubro de 1949, após muita discórdia em torno do fechamento da rua e da construção do muro que unificou as duas quadras. A nova ala, construída ao lado do prédio e idealizada pelo Padre Luciano Brambilla, auxiliar de Dom Eliseu, só foi inaugurada, porém, em 1974, com todas as suas especialidades reconhecidas: Magistério, Técnico em Contabilidade, Técnico em Saúde, Curso Ginasial, Primário e Jardim de Infância.

Imagem 11: D. Eliseu Coroli e Ir. Edith Almeida e Sousa no pátio interno do colégio.
Fonte: Acervo IST


Foram 15 diretores, sendo:
- Fundador e 1º Diretor: Dom Eliseu Maria Coroli, de 1938 a 1940 (particular).
- 2º Diretor: Padre Luiz Maria Gonzaga Freire de Almeida, de 1941 a 1944 (particular).
- 3ª Diretora: Irmã Clementina Colnago, em 1945 (particular).
- 4º Diretor: Padre Zelindo Maria Saavedra, de 1946 a 1949 (particular).
- 5ª Diretora: Irmã Zarife Noronha Sales, de 1950 a 1957 (particular).
- 6ª Diretora: Irmã Maria Pereira Bragança, de 1957 a 1958 (particular).
- 7º Diretor: Padre Vitaliano Maria Vari, de 1959 a 1960 (particular).
- 8ª Diretora: Irmã Edith Almeida de Sousa, de 1961 a 1989 (particular e no regime de cooperação com a SEDUC).
- 9ª Diretora: Irmã Oneide Freitas Rotterdam, de 1990 a 1995 (particular) e 1990 a 1991 (no regime de cooperação com a SEDUC).
- 10ª Diretora: Irmã Maria da Ascenção Lemos da Silva, de 1996 a 2002 e desde 2011 a diretora atual (particular).
- 11ª Diretora: Professora Vilma de Araújo Pinheiro, de 2002 a 2011 (particular).
- 12ª Diretora: Irmã Francisca Pantoja da Silva, de 1992 a 2011 (no regime de cooperação com a SEDUC).
- 13ª Diretora: Irmã Benedita Vieira de Sousa, de 2012 a 2014 (no regime de cooperação com a SEDUC).
- 14º Diretor: Professor Luís Fernando Pereira Ribeiro, de 2014 a 2016 (no regime de cooperação com a SEDUC).
- 15ª e atual Diretora: Professora Andreia do Socorro Cruz Costa, em exercício desde 2017 (no regime de Escola Estadual da SEDUC).

O Instituto Santa Teresinha nasceu sob a autoridade da Administração Apostólica do Guamá, logo depois Prelazia do Guamá. Em seguida, no ano de 1951, passa a ser propriedade da Congregação dos Barnabitas. Somente em 1966, o Superior Geral dos Barnabitas, Padre Giovanni Bernasconi, doa o Instituto Santa Teresinha às Irmãs Missionárias, como forma de garantir a sustentação da congregação, e a título de justiça pelos seus relevantes trabalhos neste Colégio, que desde lá vem se esmerando na aplicação fiel da sua filosofia de que “educar não é somente instruir; é preparar para a vida!”, propósitos do próprio Dom Eliseu Maria Coroli, o grande responsável por essa obra magnífica nos rincões da Amazônia.

E essa história vem sendo escrita, contada e homenageada em 80 anos de contribuição à Educação do Instituto Santa Teresinha, um legado a celebrar, uma parte inconteste da História de Bragança.

Dário Benedito Rodrigues é bragantino, ex-aluno e ex-professor do Instituto Santa Teresina. Historiador, pesquisador e docente da Faculdade de História na Universidade Federal do Pará, Campus de Bragança.

** Observação importante: Qualquer publicação desse material sem a prévia consulta ao autor não está autorizada e se constitui em crime sujeito às penalidades da legislação brasileira.

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