quinta-feira, 8 de setembro de 2022

João Alves da Mota (in memoriam) 100 anos

Hoje se recorda o centenário de nascimento de João Alves da Mota, uma grande personalidade da história recente, que marcou a política e sociedade de Bragança no século XX, como político muito popular e como um sábio que deixou sua marca na memória da cidade até os dias de hoje. Tive o privilégio de conviver com ele em muitos momentos de minha adolescência, amigo que sou de seu neto João Mário. Ele manteve com meu avô Manoel Paes Rodrigues (1916-1998) uma grande amizade, inclusive por conta da convivência de Dona Sinhá com minha avó Joana, amigas de infância e da mesma idade.

 

Foto 01: João Alves da Mota (in memoriam) 100 anos. Fonte: Acervo da família Mota.

 

João Mota, como era conhecido, nasceu em 08 de setembro de 1922, em Emboraí Grande, zona rural de Bragança, filho do cearense Raimundo Alves da Mota e da rio-grandense do Norte Maria Fernandes da Mota. Sua família teve ainda sete irmãos, sendo quatro homens e três mulheres. Em 1924, sua família precisou residir em Fortaleza (CE), onde o seu pai trabalhou em comércio varejista em frente à praia litorânea de Iracema. A família retornou depois a Bragança, residindo na localidade interiorana do Maranhãozinho, em seguida mudando-se para a sede do município.

 

Foto 02: João Mota e sua esposa Dona Sinhá Mota. Fonte: Acervo da família Mota.

 

Em 11 de setembro de 1948 casou-se com Raimunda Maria da Mota, conhecida como Dona Sinhá Mota, tendo com ela cinco filhos, sendo Nonato, Elizabeth, José Antônio, João Nazareno Mota e Paulo Jorge. João Mota foi também atleta do futebol de campo e trabalhou como comerciante. Criou outros três filhos, sendo Sérgio Murilo, Socorro Lisboa e Celso Monteiro.

 

Foto 16: Dona Sinhá Mota (ao centro) e seus filhos Elizabeth, Paulo Jorge, José Antônio e João Mota Filho em recente aniversário. Fonte: Acervo da família Mota.

 

Entrou para a política em 1945, por contatos com líderes como Magalhães Barata, Joaquim Lobão da Silveira, com quem manteve convívio. João Mota manteve na política o olhar e o interesse voltado à coletividade e aos pobres, nunca interesses pessoais. Seus correligionários do interior retribuíam seu trabalho com voto nas eleições que concorreu. A eles providenciou muitas vezes apoio e orientação jurídica, colaborando com as suas instituições, sindicatos e/ou associações.

 

Foto 04: João Mota como jovem político. Fonte: Acervo da família Mota.

 

Foi por duas vezes vereador, sempre solicitando providências voltadas à zona rural. Nas gestões de Jorge Daniel de Sousa Ramos e Antônio da Silva Pereira assumiu a função de Vice-Prefeito de Bragança, assumindo a função de Prefeito Municipal por três vezes. Seus mandatos foram de 06.02.1965 a 06.03.1965, de 01.02.1983 a 31.12.1988 e de 01.01.1993 a 31.12.1996.

 

Foto 05: João Mota na solenidade do fogo simbólico, na Semana da Pátria. Fonte: Acervo da família Mota.

 

No momento da retirada de Jorge Ramos do Poder Executivo Municipal, em 1965, pela pressão política da ditadura civil-militar e por conta de problemas da Prefeitura com prestação de contas de convênios com a extinta Superintendência de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA, depois SUDAM), ao assumir o cargo escolheu não continuar como gestor e voltou a sua função de vereador. Houve uma eleição indireta apoiada pelos militares, na qual foi eleito José Maria Machado Cardoso, sem a participação de João Mota como candidato. A atuação política de Mota foi sempre muito aberta aos anseios da população, que se identificou bastante com seu modo simples de viver.

 

Foto 06: João Mota recebendo homenagem da 8ª Região Militar do Exército Brasileiro. Fonte: Acervo da família Mota.

 

Destaca-se, entre tantas de suas obras, a interiorização da Educação no território de Bragança, construindo escolas nas comunidades afastadas do centro urbano da cidade e proporcionando dando oportunidades de instrução escolar para os habitantes do interior. Talvez a sua obra mais eloquente seja a construção com recursos próprios da Prefeitura de Bragança, da Escola Municipal Dom Eliseu Maria Coroli, que foi doada completamente à Universidade Federal do Pará, na gestão do Reitor Prof. Dr. José de Seixas Lourenço, que constituiu o Núcleo Universitário de Bragança (hoje Campus) em 1987, o que completou 35 anos no último dia 04 de agosto, fruto das intenções do antigo Programa de Interiorização.

 




Fotos 07, 08, 09 e 10: João Mota na entrega do prédio do Núcleo Universitário de Bragança (hoje Campus). Fonte: Acervo pessoal.

 

Outras obras são a construção das escolas municipais Prof.ª Júlia Quadros, Jorge Ramos e Theodomira Lima, a construção do Cemitério Público Campo da Saudade, da Praça da Bíblia, a iluminação pública das avenidas Barão do Rio Branco e Nazeazeno Ferreira, também completamente construída em cimento, a construção de ponte sobre o furo do Taici na Rodovia Bragança-Ajuruteua, a construção da Escola Estadual Mário Queiroz do Rosário em convênio com o Governo do Estado.

Fez a abertura das estradas Emboraí Grande, onde João Mota nasceu, em direção ao Cacoal do Peritoró e de lá para 9ª Travessa do Montenegro, rodovia Dom Eliseu. Foi um dos responsáveis pela organização da Secretaria Municipal de Agricultura e da então Ação Social, hoje Secretaria Municipal de Trabalho e Promoção Social. Nesse trabalho, adquiriu quatro residências que passaram a funcionar como as antigas creches-casulo, programa pioneiro do tipo em Bragança.

Em sua gestão foi municipalizada as diversas ações da Secretaria Municipal de Saúde, com a celebração de convênios com o Sistema Único de Saúde (SUS) e Secretaria de Estado de Saúde Pública (SESPA), com atenção aos deficientes físicos e ação dos agentes comunitários de Saúde. Já como Deputado Estadual, solicitou a construção do Terminal Rodoviário do município de Capanema.

Manteve um relacionamento próximo com políticos como o hoje Senador Jader Fontenele Barbalho, que o indicou como candidato oficial ao Palacete Augusto Corrêa em 1992, contrariando possíveis candidatos locais que tinham a pretensão de obter o apoio do então Governador Jader Barbalho.

 

Foto 11: João Mota em reunião política, entre alguns políticos como Edu Nonato da Silva, Dr. José Guarany Medeiros, Luís Maria de Jesus Soares e Raimundo Ramos de Lima. Fonte: Acervo na internet.

 

Como um político simples e que tratava a política como um trabalho de interesse coletivo também foi vítima de denúncias que solicitaram o seu afastamento do cargo de Prefeito Municipal. Muitos bragantinos recordam até hoje da manifestação feita no Coreto Pavilhão Senador Antônio Lemos, com nomes da política local e ex-assessores, contra João Mota, que assistiu a tudo de sua casa, na época na esquina esquerda ao lado do prédio da prefeitura. Alguns vereadores também participaram do ato, que contou com a presença de quase cem pessoas, incluindo alguns de seus assessores que o traíram politicamente.

João Mota teve uma atitude republicana com seus antecessores e sucessores. Ele participou de todas das transferências de cargo, ao assumir ou deixar o poder, como no dia em que passou o cargo a José Joaquim Diogo, na Praça Marechal Deodoro (hoje Antônio Pereira) e ao final de sua participação foi ofensivamente vaiado por apoiadores do prefeito que tomava posse no cargo.

Foi patrono e padrinho de diversas solenidades de formatura em nível médio, profissionalizante e superior de escolas bragantinas e da UFPA no decorrer de sua vida, sempre com um discurso que valorizava a Educação, um de seus legados para a cidade de Bragança.

 

Foto 12: João Mota em formatura no Instituto Santa Teresinha, ladeado por Ir. Oneide Freitas Rotterdam, Celso Orlando da Silva Leite e Celso Monteiro da Silva (Celso Saruby). Fonte: Acervo da família Mota.

 

Seu processo de adoecimento foi assistido pelos bragantinos e por seus correligionários políticos com muito carinho e atenção, sempre tendo na pessoa de João Mota um amigo da população. Ele manteve, até perto de ficar acamado, uma rotina de andar livremente pelo centro da cidade, de ir e vir à Feira Livre, sem o auxílio de seguranças e com seus cumprimentos singulares e inusitados a todos os seus amigos.

 

Foto 16: João Mota discursando na inauguração do anexo do Rex Bar, com Arlindo Maximino da Silva Lima, Bibiano Cardoso e Fabiano Maria Cardoso da Silva. Fonte: Acervo na internet.

 

Um detalhe interessante neste tempo. João Mota foi quem primeiro fez uma manifestação pública do Poder Público (Executivo Municipal) acerca da Festividade do Glorioso São Benedito e a Marujada de Bragança, iniciando as celebrações festivas de 190 anos em 1988. Muitos ainda recordam do cartaz que mandou confeccionar com a foto dos azulejos do painel da agência do Banco do Brasil para a comemoração daquela 190ª festa.

 

Foto 14: João Mota dançando mazurca no Barracão da Marujada de Bragança. Fonte: Acervo da família Mota.

 

João Alves da Mota faleceu em 06 de março de 2001 e deixou uma grande saudade em todos os seus familiares. Escreveu seu nome na história de Bragança, por frases e “causos” que vivenciou e até mesmo pelo que nunca falou, mas que fazem parte da memória dos bragantinos. João Mota em seu centenário vive na memória e na história de Bragança, de um jeito simples e humilde de levar a vida, seu cumprimento alegre e com sua coalhada matinal e sua Pepsi-Cola na hora do almoço. Que bom estar vivendo no mesmo tempo em que ele viveu.

 

Foto 16: João Mota em reportagem do extinto jornal O Imparcial de 1992 sobre a instalação da Universidade Federal do Pará em Bragança. Fonte: Acervo pessoal.

 


Foto 16: João Mota em caricatura com sua famosa frase. Fonte: Acervo na internet.

 

Uma prece por sua memória com muitas saudades, seu João!

 

Prof. Dário Benedito Rodrigues, historiador

 

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