Por Dário Benedito
Rodrigues*, especialmente para o blog**.
A história do Instituto Santa
Teresinha e a da educação nas regiões de Bragança e do Guamá se
confundem desde que a organização eclesiástica da então Prelazia de Nossa
Senhora do Rosário do Guamá foi confiada à administração dos padres Barnabitas,
tendo à frente o padre Eliseu Coroli, que percebeu o enorme déficit educacional
por que passava essa região nas primeiras décadas do século XX.
Imagem 1: Santa Teresinha, patrona e primeira “ecônoma” do
IST.
Fonte: Acervo pessoal
Para o padre Eliseu
Coroli a educação e a saúde foram questões preocupantes. Nascido na Itália, em
09 de fevereiro de 1900, em Castelnuevo (Piacenza), alimentou desde tenra idade
o desejo de se tornar missionário. Aos 11 anos, ingressou na Escola Apostólica
dos Padres Barnabitas, em Gênova, cumprindo as escalas normais de formação,
chegando logo em 1917 a professar, em caráter perpétuo, seus votos.
Imagem 2: Dom Eliseu Coroli, em aniversário de ordenação
sacerdotal.
Fonte: Acervo IST
Daí, até se tornar
sacerdote, faltava pouco. Foi ordenado presbítero em 15 de março de 1924,
acoplando o nome “Maria” ao seu, como regra barnabítica. No mesmo ano, em
dezembro, vem ao Brasil em missão, ficando no Rio de Janeiro até 1929, como
Vice-reitor da Escola Apostólica dos Barnabitas naquela cidade, até ser
destinado em 1930 como missionário para a Amazônia, na cidade de Ourém, no
Pará. Em 1934, a sede da Prelazia é transferida para Bragança, sendo o Padre
Eliseu nomeado seu Administrador Apostólico. Finalmente, chega a Bragança em 05
de agosto de 1938. Dois anos depois, é sagrado Bispo, em 13 de outubro.
Ainda no início,
somente com o talento de professores das primeiras letras, Dom Eliseu, sentindo
a necessidade de irmãos religiosos que o ajudassem em tão árdua tarefa,
mobiliza forças e muita persuasão no alcance das Irmãs do Preciosíssimo Sangue,
que começam a trabalhar no mesmo ano.
Imagem 3: Chegada das Irmãs Preciosinas em Bragança.
Fonte: Acervo IST
A ideia da fundação de
uma escola de formação de professoras, em Bragança, surgiu com a falta de
pessoas que servissem de catequistas na região da Prelazia do Guamá. Seu
primeiro passo de administrador apostólico concretizou a ideia de arranjar
auxiliares que preparassem as novas professoras e catequistas. As irmãs
Preciosinas, sem dúvida, foram de muita importância neste precioso trabalho.
Até que uma visita
inesperada do Prefeito Augusto Corrêa, do Juiz Dr. Duarte Montenegro e do Sr.
Lobão da Silveira, suscitou no Padre Eliseu a árdua missão. Logicamente,
prometeram-lhe todo o apoio necessário a essa investida. Viagens e visitas
foram agenciadas. Dirigiu-se ao Interventor do Pará na época, Sr. José da Gama
Malcher, requerendo a equiparação dos cursos Normal e Primário para a sua
escola. Com a presença do Padre Afonso de Giorgio, Vigário da Basílica e do Sr.
Miguel Pernambuco Filho, Diretor de Educação, ficaram acertados detalhes de
praxe a serem cumpridos, e o despacho favorável do então interventor foi
publicado no dia 23 de novembro de 1938, data oficial de fundação do Instituto
Santa Teresinha, então confiado à Administração Apostólica do Guamá.
Imagem 4: A Catedral de Nossa Senhora do Rosário, tendo ao
fundo o atual e ao lado direito o primeiro prédio onde funcionou o Colégio
Santa Teresinha.
Fonte: Acervo IST
A partir daí, a tarefa
de Padre Eliseu se tornou mais difícil. A manutenção da 2ª Escola Normal do
Pará deveria ser uma cruz muito mais pesada. A constituição da primeira turma,
a filosofia cristã, a formação cívica, respeitando a época e os costumes, o
teor religioso do ensino e a obrigação em obter respostas favoráveis desses
primeiros alunos, tudo se constituía num sonho que irá se tornar realidade
quando da primeira turma de Normalistas sai também a primeira Missionária de
Santa Teresinha, a recém-formada Prof. Edith Almeida de Sousa, também co-fundadora
da Congregação.
Imagem 5: Prédio à direita, onde primeiro funcionou o
Colégio Santa Teresinha.
Fonte: Acervo IST
Padre Eliseu começa a
equipar o educandário com carteiras, móveis e infraestrutura possível naquele
tempo, até comprar o prédio da Praça da Matriz em 1939, onde seria a Escola
Normal, confiada à proteção de Santa Teresinha, padroeira das Missões, e santa
a quem padre Eliseu dedicava expressiva admiração.
A primeira prova da
missão realizou-se em 07 de janeiro de 1939, com vinte candidatos. Já no dia 15
de fevereiro começaram as aulas nos cursos Primário e Normal, funcionando em
locais diferentes, mas tudo sob os olhares das irmãs Preciosinas e do Padre
Eliseu.
Imagem 6: Lançamento da pedra fundamental de construção do
prédio do IST em julho de 1940, tendo ao lado direito de Dom Eliseu o então prefeito
Augusto Corrêa.
Fonte: Acervo IST
Dessa forma, começou o
primeiro ano letivo, com as matérias de Ditado / Leitura, Composição,
Português, Aritmética, Geografia, História, Tabuada e Ciências, que
correspondiam ao currículo básico daquele tempo para as séries iniciais. Na
segunda, terceira e quarta séries, as matérias eram Linguagem / Redação,
Ciências, Ditado, Aritmética, Geografia, História, Geometria, Composição,
Leitura, além de Catecismo. Quanto ao Curso Normal, as disciplinas eram
Português, Geografia, Religião, Aritmética, Ciências, Prendas do Lar, Francês,
Ginástica, Desenho e Canto.
Nesta
situação, a Escola Normal passa mais um tempo, até que em 05 de julho de 1940,
em meio a uma cerimônia magnânima, é lançada a pedra fundamental do prédio
onde funciona o Instituto Santa Teresinha, construído graças a doações e
esforços de Padre Eliseu. Com as obras em andamento, a educação é desenvolvida
nestes moldes apresentados. Em 1941, já se encontrava preparado o Curso
Primário completo, com as suas três séries.
Imagem 7: Prédio do Instituto Santa Teresinha em construção.
Fonte: Acervo IST
Em meados da
2ª Guerra Mundial, o prédio do Instituto Santa Teresinha é desapropriado para
as instalações militares da 8ª Região Militar e do 35º Batalhão de Caçadores.
Depois de desapropriado, terminado, vendido e pago, Dom Eliseu entrega o prédio
ao Exercito, com muita tristeza, mas confiado na providência de negociações,
como a da filha do Presidente Vargas, Ivete Vargas, que desfechariam na devolução
do prédio ao já Bispo do Guamá, em 06 de março de 1944. Deste ano em diante, o
Instituto Santa Teresinha passou a celebrar ininterruptamente as comemorações
do mês de maio.
Imagem 8: Quadro de formatura da primeira Turma do IST de
1943.
Fonte: Acervo IST
Mas antes
disso, em 30 de dezembro de 1943, a primeira turma da Escola Normal recebe o
grau de Professor. São eles, pela ordem do convite: Olgarina Vieira, Maria
Letícia Sousa, Geralda Almeida, Wilson Sousa, Raimunda Fonseca, Irene
Vasconcelos, Maria José Maia, Cirene Vasconcelos, Maria do Rosário Antunes,
Arlinda Loureiro, Hilta Sousa, Margarida Pereira, Hilda Gomes, Maria
Viganó (religiosa preciosina), Ana Marcy Oliveira, Zarife Sales, Ruth Pereira,
Orlandina Lobão e Edith Almeida de Sousa.
Imagem 9: Dom Eliseu, professoras, padres e alunos da
primeira Turma do IST.
Fonte: Acervo IST
E assim a
educação de Dom Eliseu não parou mais. Seus cursos e necessidades de adequação
de 1946 foram todos seguidos. Houve a organização do Curso Ginasial, também, em
1946, e a fundação da Congregação das Irmãs Missionárias de Santa Teresinha, em
1948, cujo reconhecimento oficial por Roma ocorreu em 1954. Tudo como resultado
do processo formativo da primeira turma. O Colégio é, então, o berço das
Missionárias de Santa Teresinha.
Imagem 10: Um dos desfiles cívicos do Instituto Santa
Teresinha.
Fonte: Acervo IST
Com todas as
suas obras, a ampliação do Instituto Santa Teresinha é
iniciada, para atender a demanda que crescia na região. A entrega do quarteirão
atrás do colégio e o fechamento autorizado da rua datam de outubro de 1949,
após muita discórdia em torno do fechamento da rua e da construção do muro que
unificou as duas quadras. A nova ala, construída ao lado do prédio e idealizada
pelo Padre Luciano Brambilla, auxiliar de Dom Eliseu, só foi inaugurada, porém,
em 1974, com todas as suas especialidades reconhecidas: Magistério, Técnico em
Contabilidade, Técnico em Saúde, Curso Ginasial, Primário e Jardim de Infância.
Imagem 11: D. Eliseu Coroli e Ir. Edith Almeida e Sousa no
pátio interno do colégio.
Fonte: Acervo IST
O Instituto Santa
Teresinha nasceu sob a autoridade da Administração Apostólica do Guamá, logo
depois Prelazia do Guamá. Em seguida, no ano de 1951, passa a ser propriedade
da Congregação dos Barnabitas. Somente em 1966, o Superior Geral dos
Barnabitas, Padre Giovanni Bernasconi, doa o Instituto Santa Teresinha às Irmãs
Missionárias, como forma de garantir a sustentação da congregação, e a título
de justiça pelos seus relevantes trabalhos neste Colégio, que desde lá vem se
esmerando na aplicação fiel da sua filosofia de que “educar não é somente
instruir; é preparar para a vida!”, propósitos do próprio Dom Eliseu Maria
Coroli, o grande responsável por essa obra magnífica nos rincões da Amazônia.
E essa história vem
sendo escrita, contada e homenageada em 75 anos de contribuição à Educação do
Instituto Santa Teresinha, um legado a celebrar, uma parte inconteste da
História de Bragança.
Imagem 12: Homenagem aos 75 anos do Instituto Santa Teresinha.
Fonte: Acervo pessoal
* Dário
Benedito Rodrigues é
bragantino, ex-aluno e ex-professor do Instituto Santa Teresina. Historiador,
pesquisador e docente da Faculdade de História na Universidade Federal do Pará,
em Bragança.
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