Por Ricardo Mioto (de São Paulo), 03/04/2011 - 10h42
“Não precisa! Os meus meninos tomam aquela merda no grito!”
A frase é atribuída ao general Zenóbio da Costa, um dos comandantes da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra, sobre a necessidade de mais treinamento e planejamento para ir lutar contra os alemães.
A posição ajuda a explicar a falta de preparo dos brasileiros que foram lutar na Itália, conforme novas pesquisas estão revelando. Elas mostram que os pracinhas mal sabiam usar as armas que recebiam do exército americano. Deixam claro, ainda, que os aliados chegaram a ficar preocupados com a pouca experiência dos colegas que chegavam para lutar na guerra.
“No Brasil, achava-se que uma semana no mato equivalia a treinamento de combate. Muitos acreditavam que a fanfarronice encenada em campanhas nas coxilhas ou nos tiroteios contra estudantes paulistas destreinados bastasse para enfrentar o Exército alemão”, diz o historiador Cesar Campiani Maximiano, da PUC-SP.
Ele está lançando o livro “Barbudos, Sujos e Fatigados”, pela Editoria Grua. Maximiano entrevistou 98 veteranos num período de 20 anos e levantou documentos históricos em arquivos civis e militares no Brasil e nos Estados Unidos.
Um desses documentos mostra que, em 1945, os americanos reclamavam que as deficiências de treinamento dos brasileiros causavam baixas desnecessárias às forças aliadas.
A motivação da bronca tinha sido um erro pueril cometido em 12 de dezembro de 1944 por um grupo de combate da FEB. Os brasileiros invadiram uma casa cheia de alemães, matando todos os inimigos.
Partiram, no entanto, sem inspecionar o porão. Um único soldado alemão ficara escondido por lá. Após a “lamentável negligência”, ele, sozinho, metralhou 17 brasileiros pelas costas, matando todos eles.
Imagem: José Gonçalves/Divulgação. Pelotão da FEB em Camaiore, na Toscana (Itália); cidade foi a primeira a ser conquistada pelos brasileiros em 1944.
Falta de motivação
Outros relatos dão conta de combatentes brasileiros brincando com minas antitanque em pleno acampamento militar, tentando descobrir o que era aquilo --por sorte, ninguém se feriu. Apesar desses casos, a tutela americana funcionou: os brasileiros acabaram tendo sucesso na maioria das 445 missões na Itália que executaram entre 1944 e 1945, fazendo mais de 20 mil prisioneiros inimigos.
Mas, talvez tanto quanto o seu treinamento militar, as motivações de muitos dos brasileiros para ir à guerra não eram muito fortes. O veterano paulista Américo Vicentini, por exemplo, relatou ter ido para a guerra porque via nela uma chance de ir embora de Mato Grosso, sede do quartel para onde tinha sido transferido.
“Era um calor tremendo, de noite ficava mais quente do que de dia. Além disso, tinha tanta mosca que não tinha jeito de dormir. Aí pediram voluntários para ir para a Itália. Eu me apresentei. Aliás, todos os paulistas lá do quartel se apresentaram.”
Um médico do Exército estimou que metade dos soldados não sabia dizer por que o Brasil estava em guerra.
A falta de motivação, no entanto, tinha outros motivos. Os pracinhas encontraram vários problemas ao chegar na Itália, como o frio, a comida ruim e, principalmente, as péssimas condições de higiene, em especial no front.
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