Por Wanderil Santos, publicado no Recanto das Letras em 23/04/2007
Código do texto: T460612
Lindanor,
se linda flor eu te mandar
pudesse, para aplacar teu tédio
nessa imensa Paris (teu voluntário exílio),
mandaria um buquê de flores de pau d'arco
amarelas,
desse amarelo ouro dos nossos tesos e brejos.
Se outros mimos eu te mandar
pudesse
que te servissem como lenitivo – remédio
amparo, auxílio -,
mandaria o Caeté,
um barco a vela,
e, talvez, uma pêra de caranguejos
colhidos durante o entrudo de fevereiro...
Se outras prendas eu te mandar
pudesse
para teu consolo nas horas de tristeza,
mandaria uma garrafa de vento
(desse que vem das bandas de Ajuruteua
e passa em Caratateua,
Vila Cuera
e Bacuriteua).
Mandaria
uns litros de sururu,
tucupi, goma, camarão,
torresmo prensado,
pratiqueira gorda,
chouriço caseiro,
manga carlota,
abricó, taperebá,
marajá do azedinho,
cajarana, ingá de metro,
pupunha, camapu,
murici, ajiru,
caju-açu (já preparado)...
Mandaria também
uns assovios finos de mãe d’água,
um chapéu de maruja
cheio de cantigas de roda e fitas de São Benedito,
um espelho com moldura de aguapé
e águas do Ora Bolas refletindo o luar...
Como vês,
mesmo que isso tudo eu te mandasse
haveria ainda de faltar tanta coisa
que melhor seria te mandar Bragança.
Como não posso,
porque ela nos faz falta,
É preferível que venhas ter conosco.
Vem!
Vem até aqui!
Pois ainda há Marujada
e cavalhada,
(só não sei por quanto tempo mais).
Há pirilampos vadios
que na tela escura da noite
deixam os seus efêmeros,
mas encantados, traços de luz.
Ainda há noites de lua
e uns poucos seresteiros...
Há, também, os solitários galos madrugadores
que cantam anunciando o dia.
No cais os barcos ancorados
parecem esperar por ti.
As folhas das palmeiras imperiais,
farfalhando ao sabor do vento da tarde,
parecem acenar languidamente para ti
convidando-te.
Vem Lindanor!,
Vem ficar conosco
só mais um pouco,
pois, embora não saibas,
também é nosso
esse tédio imenso
que Paris derrama sobre ti
e inunda a tua alma cabocla,
definitivamente cabocla
e bragantina por vontade própria...
Então vem!...
Bragança, dezembro de 1977)
LINDANOR CELINA, escritora paraense, nascida em Castanhal/PA e que residiu parte da sua vida em Bragança, cidade que a adotou como filha dileta e onde tinha grandes amigos. Faleceu em Paris, em 03 de março de 2003.
Imagem: Lindanor Celina. Fonte: TUPIASSÚ, Amarílis (et all.) Lindanor, a menina que veio de Itaiara. Belém: SECULT, 2004.
Fonte: http://recantodasletras.uol.com.br/poesiasdedicatorias/460612
Uma belíssima poesia, uma declaração de amor incondicional a Bragança e aos nossos costumes amazônicos.
ResponderExcluirEu também gostaria de ter mandado um bilhete a Lindanor, pedir que ficasse mais um pouco. mas ela se foi e ficaram as saudades e os escritos.
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