sábado, 22 de julho de 2023

A Orla de Bragança, Pará: alguns registros do passado e de agora.

Por Dário Benedito Rodrigues*

          Paisagem obrigatória na relação do bragantino com a cidade (e daqueles que a visitam), a Orla de Bragança ganhou uma nova roupagem, numa obra de grande impacto e que em parte retoma o sentimento de orgulho do povo de Bragança. A população tem marcado presença e, não de repente, a frente da cidade passou a compor com mais força, a memória visual registrada nas poses e fotos presentes nas redes sociais dos bragantinos e de turistas.


Foto 01: Orla de Bragança, 2023. (Raoni Figueiredo). Fonte: Agência Pará.

          Os registros históricos dão conta que o primeiro projeto de urbanização do espaço do cais, área que atualmente se conhece por Orla de Bragança data de 1899, quando o engenheiro Maurício Pereira apresentou os custos da obra, orçada em 137:481$118 (mais de 137 mil réis). O projeto consta no volume 2, do Relatório da Administração Geral do Pará, de 1899.


Foto 02: Orla de Bragança, déc. 1940 (Autor desconhecido). Fonte: Almanach Bragantino (1940).

          Já em 1951, o Ministério da Viação e Obras Públicas publicou a portaria n.º 263, de 14 de março, aprovando a construção do cais de proteção de Bragança, no valor de Cr$ 9.141.665,80 (mais de 9 milhões de cruzeiros). A notícia pode ser encontrada no Jornal do Caeté de 03 de junho daquele ano. Era prefeito de Bragança durante a obra da o senhor Simpliciano Fernandes de Medeiros Júnior. Essa construção foi inclusive registrada pelos fotógrafos que na década de 1950 compuseram acervos para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), hoje chamado Acervo Cidades.


Foto 03: Vista da cidade de Bragança, déc. 50. (Tibor Jablonsky). Fonte: IBGE.

Foto 04: Frente da cidade de Bragança, déc. 50. (Tibor Jablonsky). Fonte: IBGE.

Foto 05: Construção do cais de Bragança, déc. 50. (Tibor Jablonsky). Fonte: IBGE.

Foto 06: Construção do cais de Bragança, déc. 50. (Tibor Jablonsky). Fonte: IBGE.

         Na década de 1980, um novo projeto foi feito na área, após a construção da Praça Fernando Guilhon, título oficial do espaço, nome que é praticamente desconhecido por muitos bragantinos. Juntou-se à calcada em cimento e ao monumento-placa dos 3 peixes a chamada Feira da Farinha (de 1982-1983), motivação que de fato não logrou êxito, pois o local não abrigou espaços de venda deste produto.

         Ao contrário do que se imaginou, a construção serviu para boxes de venda de peças de embarcações, revistaria, bares e outros usos. Neste tempo, a orla foi ponto de realização de diversas programações juvenis, como gincanas, desfiles de moda e concursos de beleza.


Foto 07: Detalhe da Orla de Bragança ainda com calçamento em pedra, de 1963. Acervo de pesquisa. Fonte: Coleção Katarina Real, 2004.

Foto 08: Orla de Bragança, entre 1970 e 1980. (Autor desconhecido). Acervo de pesquisa.

Foto 09: Orla de Bragança, fim dos anos 1990. (Autor desconhecido). Acervo de pesquisa.

           Entre 2003 e 2004 a Prefeitura de Bragança fez a obra da calçada da orla, mas não finalizou o projeto que também incluía a contenção em arrimo do rio. Foi a última obra do mandato de José Diogo. A calçada e a escada foram inauguradas em 31 de dezembro de 2004. Mantida desde então, a orla foi compreendida pelo povo apenas como o calçadão e a escadaria que davam acesso à beira do rio. Um detalhe foi que mesmo com legislação que regulamentou e disciplinou o uso do espaço, diversas embarcações continuaram a atracar na calçada próximo ao cais.


Foto 10: Orla em vista aérea, de 2005. (Autor desconhecido). Fonte: Acervo de pesquisa.

Foto 11: Orla de Bragança, 2013. Fonte: Agência Pará.

Foto 12: Orla de Bragança, 2013. Fonte: Agência Pará.

Foto 13: Orla de Bragança, s/d. (Daniela Torres). Fonte: Acervo da autora.

Foto 14: Orla de Bragança, s/d. (Autor desconhecido). Fonte: Mapio.net.

Foto 15: Orla de Bragança, s/d. (Autor desconhecido). Fonte: Blog Web Archives.

         A configuração pensada e o projeto atual foram iniciados pela Prefeitura de Bragança ainda em 2017, amadurecido e depois concluído em 2021, sendo conduzido pela Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação Geral com o investimento do Governo do Estado do Pará no valor de R$ 4.897.605,25, tendo a contrapartida da prefeitura.

         A estrutura atual conta com 12 mil metros quadrados e cerca de 400 metros de comprimento, com calçamento em pedra (no chamado estilo português), ciclovia, quiosques, pequena área de lazer para crianças, área de atividades físicas, palco para eventos e um espaço arborizado para passeio e lazer. O projeto foi assinado pelo arquiteto Cidenei Lima. E assim, a orla vai recuperando seu lugar na vida social e na memória afetiva do povo de Bragança e dos que visitam essa cidade. A obra foi inaugurada no dia 8 de julho de 2023, pelo Governador do Estado do Pará, Helder Barbalho e pelo prefeito de Bragança, Raimundo Nonato de Oliveira, com a presença de diversas autoridades e com maciça participação popular.


Foto 16: Orla de Bragança em construção, 2022. Fonte: Agência Pará.

Foto 17: Orla de Bragança, 2023. Fonte: Agência Pará.

Foto 18: Orla de Bragança, 2023. Fonte: Blog Minha Cidade.

Foto 19: Orla de Bragança, 2023. Fonte: SEDOP.

Foto 20: Orla de Bragança, 2023. Fonte: Agência Pará.

Referências e fontes:

- Acervo Cidades, IBGE.

- Jornal do Caeté, Edição de 03.06.1951.

- PARÁ. Relatório e Balanço da Diretoria Geral do Tesouro Público (1899), apresentado ao Exmo. Sr. Dr. José Paes de Carvalho, Governador do Estado do Pará por Bernardino de Sena Pinto Marques, Diretor do Tesouro Público. Pará: J.Chiatti & Cia., 1899.

*Dário Benedito Rodrigues é bragantino, historiador e professor da Faculdade de História, na Universidade Federal do Pará em Bragança.

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