O reitor Carlos Maneschy gravou depoimento para vídeo que será apresentado durante as comemorações.
Para o historiador francês Jacques Le Goff, "A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro". Tal afirmação, presente em sua obra História e Memória (1988), já se insere em uma mudança de perspectiva na historiografia contemporânea, que passou a dar mais relevância à história oral e à memória como fenômenos e fontes históricas.
E foi, justamente, o uso desses métodos que nortearam o anseio da professora Edilza Joana Oliveira Fontes, da Faculdade de História da UFPA, por registrar e mostrar a memória da Universidade Federal do Pará (UFPA). Desse anseio, surgiram dois projetos de pesquisa coordenados pela docente. O primeiro deles foi o "UFPA 50 anos: Histórias e Memórias", realizado entre os anos de 2005 e 2007, que culminou com a publicação de livro com o mesmo título do projeto para comemorar os 50 anos da Instituição.
O segundo, chamado "UFPA uma Universidade Multicampi: 25 anos de ensino superior regionalizado no Pará", foi elaborado como uma continuação do primeiro projeto e trata de um tema mais específico da história da UFPA: o processo de implantação dos campi da Universidade, que, em 2011, completa 25 anos. "Queremos provocar a discussão sobre as histórias e memórias desse processo de interiorização do ensino superior público no Pará: Como surgiu essa iniciativa? Como se deram as discussões pedagógicas em torno disso? Quais foram as etapas para construir o corpo docente? Estas, entre muitas outras questões", ressalta a coordenadora Edilza Fontes.
Processo de interiorização priorizou as licenciaturas
Iniciado no âmbito da gestão do ex-reitor José Seixas Lourenço (gestão de 1985 a 1989), o processo de implantação dos campi da UFPA no interior do Estado focou, primeiramente, os cursos de licenciatura, no chamado "I Projeto Norte de Interiorização", executado em 1986, em convênio com o governo do Estado e municípios. Somente na década de 1990, o processo de interiorização foi assumido pelo Ministério da Educação (MEC) e recebeu verbas no orçamento da Universidade.
Com esse I Projeto, foram instalados os cursos de Letras, Matemática, História, Geografia e Pedagogia em oito municípios escolhidos em cada mesorregião do Estado, no intuito de diminuir a carência de professores licenciados nas redes estaduais e municipais na época. "Foi nessa ocasião que a UFPA consolidou a tradição dos cursos intervalares, quando, nos meses de julho, janeiro e fevereiro, os professores da Universidade saíam da capital para o interior e, assim, garantiam o corpo docente dos cursos ofertados. Houve muita dificuldade no início, mas foi uma iniciativa que deu certo, tanto é que, dessa experiência, surgiram duas universidades federais: a Universidade Federal do Oeste do Pará e a futura Universidade do Sul e Sudeste do Pará", complementa Edilza Fontes.
Atualmente, a UFPA conta com 11 campi localizados nos municípios de Abaetetuba, Altamira, Bragança, Breves, Cametá, Castanhal, Marabá, Santarém, Soure, Capanema e Tucuruí, e os cursos ofertados nos campi priorizam vocações econômicas locais.
Documentos oficiais e depoimentos de antigos gestores
Para contar a história da implantação dos campi da UFPA no interior do Estado, a equipe do Projeto vem trabalhando com registros de memória e com documentações oficiais. Já foram catalogadas as atas dos conselhos superiores desde 1986, no que diz respeito a todo o debate que se travou sobre a interiorização da Universidade, e as atas do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFPA. Está sendo concluído o levantamento de documentos oficiais do Instituto de Ciências da Educação da UFPA e do Centro de Processos Seletivos. A pesquisa documental envolve, também, os registros fotográficos da interiorização da UFPA.
No que diz respeito aos registros de memórias, o objetivo é coletar 100 depoimentos a partir de entrevistas com professores, servidores e egressos que estiveram envolvidos no processo de implantação e consolidação dos campi do interior. Em outubro, foi finalizada a coleta dos primeiros depoimentos, os quais foram registrados em vídeo, com o auxílio técnico da produtora Academia Amazônia. "Nos 25 primeiros depoimentos, nós priorizamos os ex-reitores, os dirigentes e os coordenadores dos campi nestes 25 anos. Então, tratamos mais da memória da Instituição do ponto de vista das suas gestões", explica a professora Edilza Fontes.
Lançamento – Para o lançamento desse material, será realizada uma programação no dia 15 de dezembro deste ano, no Centro de Convenções da UFPA, com quatro mesas--redondas, as quais contarão com a presença de ex-reitores e atuais dirigentes da UFPA e dos seus campi. Entre os temas que serão debatidos, estão: "Implantação dos campi, o seu corpo docente, os cursos intervalares e a pesquisa: valeu a experiência?" e "Reuni e Parfor como política de consolidação dos campi da UFPA".
As próximas atividades do Projeto serão disponibilizar os documentos coletados e os vídeos produzidos em um site na internet, com previsão de lançamento para março de 2012, e, em julho do mesmo ano, lançar um livro, sob o selo da Editora da UFPA, com os resultados da pesquisa.
"Com o site, queremos que os servidores também contribuam com materiais pessoais que possam ajudar na construção da memória da Universidade, pois a memória, hoje, é uma possibilidade de releitura e de documentação para a escrita da história. Esperamos que, a partir dessa experiência, a UFPA busque estabelecer um centro de pesquisa e documentação para registrar a forma como a Universidade contribui para o desenvolvimento da ciência e tecnologia no nosso Estado", finaliza a professora Edilza Fontes.
Texto: Igor Souza
Fotos: Alexandre Moraes
Fonte: Jornal da Universidade Federal do Pará . Ano XXV Nº 99, Novembro de 2011
Link: http://www.ufpa.br/beiradorio/novo/index.php/leia-tambem/1273-memorias-e-historias-da-interiorizacao
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