Mais um exemplo da incapacidade
total de cuidar do Patrimônio Histórico de Bragança é o descaso, desrespeito e
abandono do Coreto Pavilhão Senador Antônio
Lemos, na atual Praça Antônio Pereira. Recordo que o coreto foi
tombado como patrimônio histórico municipal por força do decreto n.º 010/2008,
de 15 de janeiro de 2008 (artigo 1º, item IV), sendo assim de interesse e identidade
cultural bragantina e merecendo conservação por parte do Poder Executivo Municipal.
Faço um pequeno apanhado da histórica
construção. Eis:
O conjunto construído com o
coreto foi erguido no início do século XX, comprado pelo intendente Simpliciano
Fernandes de Medeiros em 1908 e só montado pelo intendente Antônio da Costa Rodrigues,
sendo inaugurado em 18 de dezembro de 1910. Tem uma relação direta com o
patrimônio cultural e arquitetônico da cidade, por ser um dos equipamentos influenciados
pelas diretrizes de urbanização do fim do século XIX e início do século XX, que
se convencionou chamar de Belle-Époque, um período de auge do ciclo econômico da
borracha (hevea braziliensis).
Na época, o coreto foi
adquirido como muitos exemplares iguais de catálogos disponíveis, especialmente da fundição Sarancer Foundry, de Glasgow (Escócia), pertencente à firma Walter Macfarlne & Companhia, que fabricava peças em ferro fundido. Da Europa, a estrutura metálica foi
transportada de Belém pelo trem da Estrada de Ferro de Bragança.
Considero que essa peça, a praça
(antiga Praça Marechal Deodoro e antigo Paço Municipal) e o Palacete Augusto Corrêa
formam um conjunto patrimonial da memória republicana da cidade, além de estar
num dos locais mais aprazíveis, bucólicos e arborizados de Bragança, onde outrora
aconteciam eventos políticos, culturais (como concertos, exposições e até o
Carnaval e corridas hípicas) e onde ainda circulam pessoas e suas memórias.
A situação atual é bem
diferente. Até bem pouco tempo, estava em estado razoável de conservação, mesmo
necessitando de reparos estruturais, como o forro em madeira, estrutura e partes
de alguns adornos de sua cúpula metálica. Porém, a situação do bem não é nada
se comprada há poucos anos (vide as fotos antigas abaixo, sendo uma delas do
acervo de Lúcio Coutinho).
Sua estrutura metálica está
deteriorada e mal conservada. Forro com alçapão aberto há meses. Parte de uma
coluna simplesmente subtraída (não se sabe como e nem quem fez). Muita
ferrugem. Corrimãos destruídos. Isso sem contar com a desarmonia da pintura
alegórica e que em nada se coaduna com o conjunto arquitetônico e com a
ocupação do bem, em nada protegido, seja do lixo acumulado dentro e fora do
coreto, seja de vândalos e pessoas abandonadas que ali fazem seu lugar de
descanso e pouso.
Deixo, além da tristeza em ver e registrar esse abandono, algumas perguntas para
nossa reflexão:
a) Como consolidar uma política
púbica de cultura e conservação dos equipamentos públicos e urbanos construídos
nesse caso?
b) Essa é mesmo “uma cidade que
renasce” ou que morre a cada dia refletida na morte de sua cultura e de seus
ricos exemplares identitários?
c) Essa é a história que se
quer deixar de exemplo?
d) Existe algum departamento ou
ente público capaz e responsável de cuidar disso?
Fotos antigas do
Coreto (diversos anos)
Fotos Atuais do Coreto
(02.10.2015. Acervo pessoal)
O que revolta mais ainda é ver que ao invés de buscar recursos para sua recuperação, a administração municipal resolve pintá-lo feito um tambor de marujada (sem ofensa ao instrumento e à Irmandade), apagando sua pintura original! Porque não contrata uma equipe de restauradores, já que há verba bastante para gastar com aluguéis de palcos, arquibancadas e estruturas metálicas desnecessárias?
ResponderExcluir