A festa de Corpus Christi em Bragança (Catedral) foi participada à medida de sua mobilização.
Os setores envolvidos estavam, como em anos anteriores, dispersos e a maioria não fez questão de participar, tanto na preparação das ruas, quanto na procissão. É algo que passa pelos valores atuais e pela desarticulação e renúncia aos aspectos religiosos na vida quotidiana. Não estou falando de respeito, estou falando do significado do evento para muitos, não para todos! E que fique bem claro esse posicionamento, em nada contrário à existência de nenhum outro evento, promoção, festa, etc. Mas respeitando a história e o passado e fazendo memória disso. Basta colher comentários e avaliar, o que aliás não tem sido feito necessariamente nesse caso.
Além do barulho, predominaram em Bragança as festas de todos os tipos, abertura de arraial junino, promoções diversas e até mesmo a disputa com outras cidades, aliado à falta de significado para uma boa parcela da juventude acerca da data. Seria necessário, a meu ver, uma mobilização que fosse além do envio de cartas ou expedientes convidando pastorais, escolas, instituições públicas e organizações não-governamentais (aliás, o que foi feito com esmero!), mas a definição de um tema, de uma convocação geral desses setores, uma decisão política por parte da Igreja Católica e da sociedade, em consonância com o Poder Público, para que a festa não se torne mais do que um costume e sim tenha mais significado, pelo menos como se via em décadas anteriores.
Vamos aos argumentos, ao menos os que eu tenho conhecimento.
1. Quem coordena a Festa de Corpus Christi? É a Igreja , nas suas paróquias. Mas existe uma pessoa, grupo ou equipe que vai até as escolas, reúne com entidades, decide sobre percurso, uso de material, trânsito e tráfego antes da realização da festa? Acredito que não. Não tenho nenhuma referência a isso.
2. Itinerário da Procissão do centro: mais um aspecto que precisa passar por um crivo avaliativo. Por onde passa a procissão? Vamos ao itinerário: saindo da Catedral, rua 13 de maio, travesa Sen. José Pinheiro, rua Dr. Justo Chermont, praça Antônio Pereira, travessa Estácio de Queiroz, orla do rio Caeté, avenida Barão do Rio Branco, centro comercial, travessa João XXIII, de novo rua 13 de maio, avenida Nazeazeno Ferreira chegando ao Complexo Poli Esportivo Dom Eliseu Maria Coroli, onde é celebrada a missa de chegada. Esse itinerário contempla, para a arrumação à noite do dia anterior ruas e perímetros sem a menor iluminação possível, em alguns trechos sem movimentação urbana, sem residências em muitos deles, portanto, sem a mobilização para a sua ornamentação, o que pode cada vez aumentar, dado o crescimento do núcleo urbano e delimitação do espaço a atingir com a procissão. Poderia contemplar perímetros onde existam melhores condições, de tráfego, de condições estruturais melhores e de segurança. Outro dado importante é o horário em que se faz a arrumação e os enfeites das ruas, a partir das 20h e em casos que duram até a 01h da manhã ou mais. Vários grupos fizeram isso, deixando, claramente pelo cansaço e trabalhos outros, de participar da procissão no dia seguinte.
3. O sentido do feriado e do dia anterior: em se tratando de um feriado no calendário civil e religioso, o dia anterior foi aproveitado para diversas atividades que não estavam em consonância com a festa de Corpus Christi. Porém, em várias cidades históricas e até em cidades de menos de 100 anos, a data é mobilizada com toda a sociedade e, para além da festa religiosa, a data se transforma em evento cultural e até mesmo turístico, onde é exaltada a religiosidade, assinalado o caráter de cidade histórica, atraindo visitantes e turistas, que acabam participando, divulgando e retornando a essas cidades, quando as coisas são bem preparadas.
4. A procissão: às 08h10, na frente da Catedral, enquanto aguardava-se o início do cortejo, contavam-se menos de 350 pessoas, isso mesmo, trezentas e cinquenta pessoas (ou até menos!). Às 07h30 esse número não passava de 100 pessoas, excetuando-se quem estava assistindo a primeira missa do dia, celebrada no interior da Catedral. Mas a procissão saiu, com a participação expressiva de membros e dirigentes de comunidades pastorais, comunidades eclesiais, movimentos e instituições públicas, escolas (contavam-se nos dedos os estudantes de escolas tradicionais da cidade), entidades, além do povo em geral. Outro ponto é a decisão permanente e indiscutível de algumas entidades e escolas em não se fazerem presentes, mas somente em alguns eventos, ligados muito mais a aspectos como mídia do que à participação religiosa, no caso, posicionando-se em locais estratégicos apenas, às vezes para serem só vistos naquela oportunidade e naquele horário. Isso pode ser modificado, pois os eventos religiosos precisam da participação de todos, todos os grupos podem e são capazes de fazer o serviço de decoração e de mobilizar seus membros, mas querem? Eis a dúvida! E nem toquei no assunto da permanência, em vários pontos do percurso, de diversos automóveis que estavam estacionados.
5. A procissão: em se tratando de um evento que precisa da mobilização em geral e que se fala tanto de Deus, em que se ora e reza, onde se pregam valores como a paz, o respeito e uma relação íntima e pessoal com a Eucaristia, a animação ficou por conta de um único carro-som e da esforçada equipe, que inclusive participa de outras procissões do gênero, porém, o referido sistema de som não é capaz de fazer sozinho com amplitude todo o percurso e atingir os fieis, numerosos, que participaram rezando e cantando. Um convite e um apelo aos demais grupos e pastorais, assim como para empresários da comunicação, para ajudarem nesse aspecto. Não custa muito, basta disposição para colaborar. É possível? Claro que sim.
6. Abertura às mudanças e disposição para ajudar: seria bem recebida por muitos católicos uma avaliação sobre eventos desse tipo (procissão de Corpus Christi, procissão do Encontro, procissão do Senhor Morto, procissão do Recírio, etc.), sobre o ponto de vista de não apontar somente os aspectos nem tão positivos, mas de sugerir, de pensar, de organizar, de mobilizar, de reunir antes, de convocar a sociedade, de utilizar melhor a mídia e o trabalho da imprensa, de solicitar ao Poder Público uma melhor estrutura dos espaços (tráfego, iluminação, trânsito, segurança...) que são ornamentados, de uma escolha da sociedade por divulgar melhor a Festa de Corpus Christi numa cidade que está (pelo menos em discurso) preparando-se para comemorar 400 anos - de novo repito, quatrocentos anos - e que se diz e se avalia como uma cidade histórica. É preciso agir, certamente. A intenção dessas linhas não é ficar apontando defeitos, ou criticar dirigentes, religiosos, padres, coordenadores de pastoral, etc., mas de expor, por esse meio, aspectos que pude observar e que podem prejudicar a realização da festa religiosa para a posteridade.
Estou disposto a ajudar, dentro do limte de tempo que tenho e nos afazeres como professor. Me disponho a ser mais um e a me esmerar na recuperação desses aspectos da valorização do significado religioso e cultural que tanto precisamos para reafirmar identidades culturais, sentimentos de pertença e elevar mais o nível de apreensão do sagrado na lida diária. Dá tempo de rever tudo isso. Ou de propor essa revisão. Eu mesmo o farei aos nossos dirigentes, quando oportuno. Espero a concordância de todos? Não, logicamente. E nem por isso vou deixar de fazer a parte que me cabe, convidando, rezando e festejando Jesus, que se dá por Alimento a todos na Eucaristia, mistério insondável da fé humana, que nos impele a ver Cristo nos outros e a viver por isso e por boas causas.
Eu creio nos bons propósitos e sou mais um otimista, não só falando do que não foi positivo, mas entendendo e me solidarizando com as condições que temos em Bragança na atualidade para fazermos bem esse evento e marcarmos mais ainda a cidade de Bragança como uma cidade de fé, sombreada por tantos outros eventos religiosos e culturais (todos!) que a caracterizam entre as demais cidades históricas do Brasil e da Amazônia.
Fica a análise...
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