Por Dário Benedito Rodrigues*
Paisagem obrigatória na relação do bragantino com a cidade (e daqueles que a visitam), a Orla de Bragança ganhou uma nova roupagem, numa obra de grande impacto e que em parte retoma o sentimento de orgulho do povo de Bragança. A população tem marcado presença e, não de repente, a frente da cidade passou a compor com mais força, a memória visual registrada nas poses e fotos presentes nas redes sociais dos bragantinos e de turistas.
Os registros históricos dão conta que o primeiro projeto de urbanização do espaço do cais, área que atualmente se conhece por Orla de Bragança data de 1899, quando o engenheiro Maurício Pereira apresentou os custos da obra, orçada em 137:481$118 (mais de 137 mil réis). O projeto consta no volume 2, do Relatório da Administração Geral do Pará, de 1899.
Já em 1951, o Ministério da Viação e Obras Públicas publicou a portaria n.º 263, de 14 de março, aprovando a construção do cais de proteção de Bragança, no valor de Cr$ 9.141.665,80 (mais de 9 milhões de cruzeiros). A notícia pode ser encontrada no Jornal do Caeté de 03 de junho daquele ano. Era prefeito de Bragança durante a obra da o senhor Simpliciano Fernandes de Medeiros Júnior. Essa construção foi inclusive registrada pelos fotógrafos que na década de 1950 compuseram acervos para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), hoje chamado Acervo Cidades.
Na década de 1980, um novo projeto foi
feito na área, após a construção da Praça Fernando Guilhon, título oficial do
espaço, nome que é praticamente desconhecido por muitos bragantinos. Juntou-se à calcada em
cimento e ao monumento-placa dos 3 peixes a chamada Feira da Farinha (de
1982-1983), motivação que de fato não logrou êxito, pois o local não abrigou
espaços de venda deste produto.
Ao contrário do que se imaginou, a construção
serviu para boxes de venda de peças de embarcações, revistaria, bares e outros
usos. Neste tempo, a orla foi ponto de realização de diversas programações juvenis,
como gincanas, desfiles de moda e concursos de beleza.
Entre 2003 e 2004 a Prefeitura de Bragança fez a obra da calçada da orla, mas não finalizou o projeto que também incluía a contenção em arrimo do rio. Foi a última obra do mandato de José Diogo. A calçada e a escada foram inauguradas em 31 de dezembro de 2004. Mantida desde então, a orla foi compreendida pelo povo apenas como o calçadão e a escadaria que davam acesso à beira do rio. Um detalhe foi que mesmo com legislação que regulamentou e disciplinou o uso do espaço, diversas embarcações continuaram a atracar na calçada próximo ao cais.
A configuração pensada e o projeto atual
foram iniciados pela Prefeitura de Bragança ainda em 2017, amadurecido e depois
concluído em 2021, sendo conduzido pela Secretaria Municipal de Planejamento e
Coordenação Geral com o investimento do Governo do Estado do Pará no valor de R$ 4.897.605,25,
tendo a contrapartida da prefeitura.
A estrutura atual conta com 12 mil metros quadrados e cerca de 400 metros de comprimento, com calçamento em pedra (no chamado estilo português), ciclovia, quiosques, pequena área de lazer para crianças, área de atividades físicas, palco para eventos e um espaço arborizado para passeio e lazer. O projeto foi assinado pelo arquiteto Cidenei Lima. E assim, a orla vai recuperando seu lugar na vida social e na memória afetiva do povo de Bragança e dos que visitam essa cidade. A obra foi inaugurada no dia 8 de julho de 2023, pelo Governador do Estado do Pará, Helder Barbalho e pelo prefeito de Bragança, Raimundo Nonato de Oliveira, com a presença de diversas autoridades e com maciça participação popular.
Referências e fontes:
- Acervo Cidades, IBGE.
- Jornal do Caeté, Edição de
03.06.1951.
- PARÁ. Relatório e Balanço da
Diretoria Geral do Tesouro Público (1899), apresentado ao Exmo. Sr. Dr. José
Paes de Carvalho, Governador do Estado do Pará por Bernardino de Sena Pinto
Marques, Diretor do Tesouro Público. Pará: J.Chiatti & Cia., 1899.
*Dário Benedito Rodrigues é bragantino, historiador e professor da Faculdade de História, na Universidade Federal do Pará em Bragança.
Observação: Qualquer utilização desse material sem a prévia consulta ao autor não está autorizada e se constitui em crime sujeito às penalidades da legislação brasileira.
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