Hoje se recorda o centenário de nascimento de João Alves
da Mota, uma grande personalidade da história recente, que marcou a política e
sociedade de Bragança no século XX, como político muito popular e como um sábio
que deixou sua marca na memória da cidade até os dias de hoje. Tive o
privilégio de conviver com ele em muitos momentos de minha adolescência, amigo
que sou de seu neto João Mário. Ele manteve com meu avô Manoel Paes Rodrigues
(1916-1998) uma grande amizade, inclusive por conta da convivência de Dona
Sinhá com minha avó Joana, amigas de infância e da mesma idade.
João Mota, como era conhecido, nasceu em 08 de
setembro de 1922, em Emboraí Grande, zona rural de Bragança, filho do cearense
Raimundo Alves da Mota e da rio-grandense do Norte Maria Fernandes da Mota. Sua
família teve ainda sete irmãos, sendo quatro homens e três mulheres. Em 1924,
sua família precisou residir em Fortaleza (CE), onde o seu pai trabalhou em
comércio varejista em frente à praia litorânea de Iracema. A família retornou depois
a Bragança, residindo na localidade interiorana do Maranhãozinho, em seguida mudando-se
para a sede do município.
Em 11 de setembro de 1948 casou-se com Raimunda Maria
da Mota, conhecida como Dona Sinhá Mota, tendo com ela cinco filhos, sendo
Nonato, Elizabeth, José Antônio, João Nazareno Mota e Paulo Jorge. João Mota foi
também atleta do futebol de campo e trabalhou como comerciante. Criou outros três filhos, sendo Sérgio Murilo, Socorro Lisboa e Celso Monteiro.
Entrou para a política em 1945, por contatos com
líderes como Magalhães Barata, Joaquim Lobão da Silveira, com quem manteve convívio. João Mota manteve na política o olhar e o interesse voltado à
coletividade e aos pobres, nunca interesses pessoais. Seus correligionários do
interior retribuíam seu trabalho com voto nas eleições que concorreu. A eles
providenciou muitas vezes apoio e orientação jurídica, colaborando com as suas
instituições, sindicatos e/ou associações.
Foi por duas vezes vereador, sempre solicitando providências
voltadas à zona rural. Nas gestões de Jorge Daniel de Sousa Ramos e Antônio da
Silva Pereira assumiu a função de Vice-Prefeito de Bragança, assumindo a função
de Prefeito Municipal por três vezes. Seus mandatos foram de 06.02.1965 a
06.03.1965, de 01.02.1983 a 31.12.1988 e de 01.01.1993 a 31.12.1996.
No momento da retirada de Jorge Ramos do Poder Executivo
Municipal, em 1965, pela pressão política da ditadura civil-militar e por
conta de problemas da Prefeitura com prestação de contas de convênios com a
extinta Superintendência de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA, depois SUDAM),
ao assumir o cargo escolheu não continuar como gestor e voltou a sua função
de vereador. Houve uma eleição indireta apoiada pelos militares, na qual foi
eleito José Maria Machado Cardoso, sem a participação de João Mota como
candidato. A atuação política de Mota foi sempre muito aberta aos anseios da
população, que se identificou bastante com seu modo simples de viver.
Destaca-se, entre tantas de suas obras, a interiorização
da Educação no território de Bragança, construindo escolas nas comunidades
afastadas do centro urbano da cidade e proporcionando dando oportunidades de instrução
escolar para os habitantes do interior. Talvez a sua obra mais eloquente seja a
construção com recursos próprios da Prefeitura de Bragança, da Escola Municipal
Dom Eliseu Maria Coroli, que foi doada completamente à Universidade Federal do
Pará, na gestão do Reitor Prof. Dr. José de Seixas Lourenço, que constituiu o
Núcleo Universitário de Bragança (hoje Campus)
em 1987, o que completou 35 anos no último dia 04 de agosto, fruto das
intenções do antigo Programa de Interiorização.
Outras obras são a construção das escolas municipais Prof.ª
Júlia Quadros, Jorge Ramos e Theodomira Lima, a construção do Cemitério Público
Campo da Saudade, da Praça da Bíblia, a iluminação pública das avenidas Barão
do Rio Branco e Nazeazeno Ferreira, também completamente construída em cimento,
a construção de ponte sobre o furo do Taici na Rodovia Bragança-Ajuruteua, a
construção da Escola Estadual Mário Queiroz do Rosário em convênio com o Governo
do Estado.
Fez a abertura das estradas Emboraí Grande, onde João Mota
nasceu, em direção ao Cacoal do Peritoró e de lá para 9ª Travessa do Montenegro,
rodovia Dom Eliseu. Foi um dos responsáveis pela organização da Secretaria
Municipal de Agricultura e da então Ação Social, hoje Secretaria Municipal de
Trabalho e Promoção Social. Nesse trabalho, adquiriu quatro residências que
passaram a funcionar como as antigas creches-casulo, programa pioneiro do tipo
em Bragança.
Em sua gestão foi municipalizada as diversas ações da
Secretaria Municipal de Saúde, com a celebração de convênios com o Sistema Único
de Saúde (SUS) e Secretaria de Estado de Saúde Pública (SESPA), com atenção aos
deficientes físicos e ação dos agentes comunitários de Saúde. Já como Deputado
Estadual, solicitou a construção do Terminal Rodoviário do município de Capanema.
Manteve um relacionamento próximo com políticos como o
hoje Senador Jader Fontenele Barbalho, que o indicou como candidato oficial ao
Palacete Augusto Corrêa em 1992, contrariando possíveis candidatos locais que
tinham a pretensão de obter o apoio do então Governador Jader Barbalho.
Como um político simples e que tratava a política como
um trabalho de interesse coletivo também foi vítima de denúncias que solicitaram
o seu afastamento do cargo de Prefeito Municipal. Muitos bragantinos recordam até
hoje da manifestação feita no Coreto Pavilhão Senador Antônio Lemos, com nomes
da política local e ex-assessores, contra João Mota, que assistiu a tudo de sua
casa, na época na esquina esquerda ao lado do prédio da prefeitura. Alguns vereadores
também participaram do ato, que contou com a presença de quase cem pessoas,
incluindo alguns de seus assessores que o traíram politicamente.
João Mota teve uma atitude republicana com seus antecessores
e sucessores. Ele participou de todas das transferências de cargo, ao assumir
ou deixar o poder, como no dia em que passou o cargo a José Joaquim Diogo, na
Praça Marechal Deodoro (hoje Antônio Pereira) e ao final de sua participação foi
ofensivamente vaiado por apoiadores do prefeito que tomava posse no cargo.
Foi patrono e padrinho de diversas solenidades de formatura
em nível médio, profissionalizante e superior de escolas bragantinas e da UFPA no
decorrer de sua vida, sempre com um discurso que valorizava a Educação, um de
seus legados para a cidade de Bragança.
Seu processo de adoecimento foi assistido pelos
bragantinos e por seus correligionários políticos com muito carinho e atenção,
sempre tendo na pessoa de João Mota um amigo da população. Ele manteve, até
perto de ficar acamado, uma rotina de andar livremente pelo centro da cidade, de
ir e vir à Feira Livre, sem o auxílio de seguranças e com seus cumprimentos singulares
e inusitados a todos os seus amigos.
Um detalhe interessante neste tempo. João Mota foi
quem primeiro fez uma manifestação pública do Poder Público (Executivo
Municipal) acerca da Festividade do Glorioso São Benedito e a Marujada de
Bragança, iniciando as celebrações festivas de 190 anos em 1988. Muitos ainda
recordam do cartaz que mandou confeccionar com a foto dos azulejos do painel da
agência do Banco do Brasil para a comemoração daquela 190ª festa.
João Alves da Mota faleceu em 06 de março de 2001 e
deixou uma grande saudade em todos os seus familiares. Escreveu seu nome na
história de Bragança, por frases e “causos” que vivenciou e até mesmo pelo que nunca
falou, mas que fazem parte da memória dos bragantinos. João Mota em seu
centenário vive na memória e na história de Bragança, de um jeito simples e
humilde de levar a vida, seu cumprimento alegre e com sua coalhada matinal e
sua Pepsi-Cola na hora do almoço. Que bom estar vivendo no mesmo tempo em que
ele viveu.
Uma prece por sua memória com muitas saudades, seu
João!
Prof. Dário Benedito Rodrigues, historiador
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