Há sete anos começava a experiência
olímpica brasileira, desde que o Brasil foi escolhido como sede da edição de n.º
31 dos Jogos Olímpicos da Era Moderna.
De lá pra cá, muito investimento, problemas
de execução, incapacidades de gerenciamento e até mesmo o medo de não conseguir
sediar um evento de tal magnitude. Disso resultou um esforço de todo o Brasil,
desde os governos até os voluntários e patrocinadores.
No dia que o Brasil foi anunciado
como país-sede, tendo como epicentro a cidade do Rio de Janeiro, eu torci para
que tivesse condições de participar dos Jogos Olímpicos, do jeito que fosse. E
com a proximidade, veio a preparação financeira para isso. Daí, com a abertura
da venda de ingressos olímpicos, a perspectiva de participar estava à frente.
Comprei ingressos e veio a oportunidade de participar mais efetivamente do evento.
A possibilidade de conduzir a chama
olímpica se abriu à minha frente, junto com minha mãe Socorro Rodrigues,
indicados como condutores desde o ano de 2015, notícia secreta que guardei com
ela a sete chaves. E não é que deu certo? Mesmo sendo ofendido em parte por
quem jamais entenderá o que houve, aceitei a indicação e completei a tarefa de justificar
o motivo desse mérito, sem desconsiderar as mazelas sociais do Brasil, mas creditando
a esse presente um fôlego a mais: de novo o de ser bragantino e ter algum
motivo de sorrir e de fazer bonito, pelo melhor do mundo.
Conduzir a tocha olímpica em Belém foi
indescritível. Para mim, um privilégio. Recordei, entre tantas emoções
diferentes, os que já conduziram o mesmo símbolo pelo mundo em vários tempos,
mas a imagem de Muhammad Ali, doente com Parkinson, acendendo a pira olímpica nos
Jogos Olímpicos de Atlanta em 1996, foi a que mais invadiu o meu pensamento,
não só pela superação, mas pelo exemplo daquele desportista, que se tornou um
dos símbolos de lutas pelos direitos civis e contra a desigualdade e o racismo.
A minha tocha, a de n.º 018, do dia 44 do revezamento, ficará entre minhas
relíquias mais valiosas, que pude partilhar com tantos que vieram até em casa
ver e fotografar esse símbolo. E a amizade do grupo n.º 01 do revezamento
ficará entre as tantas já construídas.
Ver minha mãe Socorro conduzindo uma
tocha olímpica, por seu exemplo de mãe e mulher, foi dignificante e emocionante.
Uma superação também de dentro de casa, exemplada naqueles 200 metros mais
longos da vida dela, tudo devidamente registrado na memória e nas imagens que
guardarei para sempre. Foi realmente um momento digno de aplauso e das lágrimas
incontidas. Não posso deixar de mencionar o outro bragantino, o chef Ophir
Oliveira, que também conduziu a chama olímpica em Belém, somando-se assim três
bragantinos nesse circuito.
Depois foi planejar a ida ao Rio,
escolher um bom local, comprar passagens e participar da emoção de viver no
Brasil a experiência olímpica. Alessandro me ajudou lá de São Paulo. A internet
também. E tudo foi até mais barato do que imaginei ao princípio. Fiquei hospedado
num hostel bacana a uma quadra da famosa praia de Ipanema (que indico aos
amigos que por lá quiserem ficar, o Terrase Hostel Ipanema).
Vi de perto muitas
mazelas sociais do Rio de Janeiro, mas percebi ainda quão criativo, acolhedor e
esforçado é o povo brasileiro. Sabe receber bem quem vem de fora, esforça-se ao
máximo pelo que deseja e faz festa, mesmo com tantos problemas a enfrentar, de
todas as ordens. Conheci muita gente... muita gente da gente do mundo.
Ao chegar ao Estádio do Maracanã, completamente
tomado horas depois, para a Cerimônia de Abertura, fui tomado da mesma emoção
de Belém. Aquela cerimônia, elogiada pela mídia nacional e internacional, foi o
nosso 7 x 1 (engolido forçosamente na derrota da Copa do Mundo de 2014)
devolvido à La Brasil. Os artistas e desportistas que se apresentaram e
representaram o Brasil e o Rio de Janeiro deram o tom daquela abertura das
Olimpíadas do país tropical. Acompanharam-me na emoção Arthur, Cláudia e
Patrícia ao meu lado.
Muitas cenas da abertura ficarão
eternizadas na memória. Desde Gisele, musa, desfilando ao som de Garota de
Ipanema, até o lindo e apoteótico momento do acendimento da Pira Olímpica, tudo
estava magistral. O contar de uma história do Brasil – mesmo com tanta
controvérsia – foi lindo, com índios, negros e mestiços fazendo a nação
brasileira, trazendo mais alegria e cor ao mundo. Inesquecível pelo brilho e
orgulho nacional diante do mundo, com o voo do 14-Bis de Santos Dumont ou as
cores brasileiras, ao som das escolas de samba do Rio de Janeiro.
Regina Casé até
ensaiou com a plateia uma espécie de “Treme-Treme” bem paraense. Emocionante
pelo que fizemos enquanto cidadãos a defender – repito, com todas as mazelas e
encarando a corrupção do golpe – um importante marco para o Brasil, mesmo com a
favela pensada por Fernando Meireles. Para guardar no coração para sempre, como
tantas belas lembranças de uma vida, após a narração de estrelas como Fernanda
Montenegro e Judi Dench.
Depois, os jogos, as arenas, o
parque olímpico, o contato de perto com muita gente do esporte me fez pensar o
quanto ainda temos que vencer desafios para galgar passos mais largos em pódios
e destaques. Precisamos “medalhar” na Educação e na confluência entre o
desenvolvimento de estratégias educativas e esportivas conjuntamente, aliado à
cidadania, à luta contra a corrupção que nos golpeia (em sentido literal), ao
aumento dos investimentos para atletas (como os programas que nasceram no
governo Lula), o reconhecimento de nossas limitações, a melhoria do quadro das
federações esportivas, a ampliação e proliferação de centro de treinamentos
pelo país (mudando o eixo) para atender a tantos talentos que ficam muitas
vezes na invisibilidade.
Assistindo aos esportes dentro
daquela semana no Rio de Janeiro, a torcida foi o que mais encantou, com todas
as características do povo brasileiro, que grita, que sofre, que celebra, que
também xinga, mas que sobretudo sabe viver as emoções proporcionadas pelo
esporte. No futebol, torcendo contra rivais históricos a todo custo. Na
natação, assisti a quebras de recordes. Na ginástica artística, fiquei impressionado
com tudo. Nos cantos onde fui e naquilo que vi tudo estava sempre no estilo
brasileiro, com a cara do Brasil. Nada esteve escondido (a não ser naquilo que
foi acertado para ser escondido), incluindo os graves problemas de exclusão do Brasil
nos exemplos cariocas.
Visitei ainda pontos turísticos do
Rio, como o majestoso Cristo Redentor (onde prometi voltar), a praia de
Copacabana, o Pão de Açúcar, a Lapa, o Boulevard Olímpico, a Candelária,
centro comercial entre tantas idas e vindas. Não consegui ir a um morro ou
favela, pois realmente não deu tempo. E numa pausa de Olimpíadas, assisti ao
espetáculo Amargo Fruto, produzido pela amiga e também bragantina Vitória
Furtado, que me recebeu emocionada no Teatro Carlos Gomes, junto com seus
familiares.
E após esses 17 dias, uma parte vivida
lá no Rio de Janeiro, outra assistida pela televisão, com a cerimônia de
encerramento, que acabou de acontecer, voltei a me emocionar ao sentir-me parte
desse momento. Recebi com Mamãe, por último, um certificado de participação (com o nome Dário Benedito da Silva) como condutor oficial da chama olímpica, que fará parte desse momento e daqui
por diante.
O mundo que voltou os olhos ao
Brasil nestes últimos 17 dias volta a girar em seu eixo, mas o legado das
Olimpíadas deve ficar, como exemplo de não nos conformarmos somente com tudo o
que o esporte ganhou em medalhas, mas como ponto focal para buscarmos uma maior
dignidade cidadã para todos, dos pequenos aos mais velhos, lutarmos contra as desigualdades
e fazermos um país que respeite mais seu povo. Por agora, cabe um olhar do
mérito do evento, assim como uma reflexão sobre o que ele representou e sobre
como cada um de nós, do seu jeito, teve a sua experiência olímpica.
As Olimpíadas encerraram ao som do
mais genuíno samba brasileiro, com uma homenagem apoteótica à cultura
brasileira coordenada por Rosa Magalhães e com a emoção que de novo tomou conta
do Maracanã, um dia após o Ouro inédito do futebol do Brasil. A Pira Olímpica
se apagou com água, como exemplo de renovação. Os aplausos e méritos recebidos –
por autoridades civis, esportivas e milhares de voluntários – encerraram o momento.
E a passarela do Maracanã ficou pequena para tanta festa e para tanto colorido,
avermelhado pela próxima cidade anfitriã – Tóquio. Talvez tenha saído tudo como
foi planejado, mas falta mais ao nosso Brasil brasileiro, que não pode ser só a
pátria do jeitinho e a terra de samba e pandeiro.
Agora é celebrar os Jogos Paralímpicos do Rio 2016, em setembro e para os atletas mais que especiais. E mesmo apesar de todos os pesares,
viva o Brasil! Aquele abraço...
Fotos: Acervo pessoal e dos sites dos Jogos Rio 2016 e site
Olympics.
Perfeitas as suas colocações e observações, amigo Dário. O que ficou marcado pra mim, na cerimônia de ontem, foi a vinda do Primeiro Ministro do Japão e a ausência (que preencheu uma grande lacuna) das "autoridades" federais.
ResponderExcluir